Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Mês: julho 2015 Page 1 of 2

Quase

Acho que não existe nada mais desesperador do que o Quase. Não falo daqueles que usamos quando uma coisa não aconteceu por pouco. O Quase que consegue ser o verdadeiro vilão da história é aquele que usamos em frases como “Quase lá”, “Quase terminando” ou “Quase acabando”. Esse é o verdadeiro vilão da história.

A espera é um dos piores males que afligem o ser humano. Mas a pior de todas as esperas, aquela que consegue fritar os nervos de qualquer super-homem e faz até o homem mais frio arrancar seus cabelos de nervosismo, é aquela que dura alguns instantes, menos que alguns segundos. A espera do Quase.

O Quase é o suspense da vida real. Maior do que qualquer coisa que o cinema já ousou produzir. Inclusive os suspenses do cinema são responsáveis por boa parte das nossas agonias do mundo real. Acho impossível que exista uma pessoa que nunca ficou com pelo menos uma ponta de ansiedade ao ver uma cena de tensão no cinema, daquelas que a vítima desavisada não vê o assassino/zumbi/monstro/demônio que se aproxima silenciosamente. Onde o pobre espectador no alto de seu nervosismo, impotente diante do que está na tela, deseja ardentemente que o pobre personagem seja logo exterminado e a tensão diminua.

Mas os piores suspenses estão nas coisas mais simples da vida. Basta lembrar dos minutos que antecedem o final daquela aula no último horário ou da ligação que demora a ser atendida. Pequenas partes do circulo das horas que mais parecem horas inteiras. Momentos em que até a batida das asas de um beija-flor passa em câmera lenta diante dos nossos olhos.

O elevador que não chega, o sinal que não abre, o arquivo que não sobe, o download que não termina. O expediente que não encerra, o computador que não sai da tela de “Bem Vindo”, os 5 segundos de propaganda que o youtube te obriga a assistir antes dos vídeos e tantas outras coisas que fritam nossos juízos e consomem a nossa paciência… Inclusive, depois de tanto falar dessas coisas e com o texto quase no fim, decidi abreviar o final e reduzir a tensão do momento terminando tudo da forma mais brusca possível.

Dia de Chuva

Dia cinza, preguiça inexplicável e perda da noção das horas. Na maioria dos casos esses e alguns outros fatores são fortes indicadores de que o dia é um Dia de Chuva. A Chuva é uma coisa que está presente na vida de uma porção considerável da humanidade. Mas o efeito de um chuvisco passageiro ou de um toró inesperado não chega nem perto do ambiente criado por um dia dedicado única e exclusivamente à Chuva.

Em um Dia de Chuva especialmente cinza saí do meu local de trabalho e fui à farmácia  comprar um sorvete de casquinha e enquanto pagava conversei ligeiramente com a moça do balcão. Em meio a uma conversa inacreditavelmente banal sobre o tempo, que durou apenas o tempo que a maquineta levou para realizar a operação do cartão de débito, a moça em questão me revelou a vontade nula de fazer algo diferente de dormir naquele dia feioso de quarta-feira. Depois dessa declaração sincera voltei para o escritório e enquanto tomava meu sorvete matutei sobre os efeitos da chuva.

A primeira coisa que brotou do meu pensamento foi justamente o fato de que desde as nove horas da manhã parecia ser cinco horas da tarde. Hora esta que é extremamente safada por ser perigosamente próxima do final do horário de trabalho. Normalmente o ritmo de trabalho cai progressivamente a partir das cinco horas, atingindo seu ponto mais baixo poucos minutos antes do fim do horário de trabalho. Não é difícil imaginar os efeitos negativos que um dia inteiro com cara de fim de tarde pode fazer.

Mas tudo piora quando começa a chover realmente. O barulho da chuva começa a amaciar o sujeito, que fica ligeiramente sonolento. Aos poucos a temperatura baixa e a umidade do ar começa a subir, nesse ponto o pobre ser humano já está sonhando com a sua cama, que nesse momento desperta mais saudade do que todas as lembranças boas da infância juntas. Esse desejo de retorno ao leito só aumenta ao longo do dia, porém ao se aproximar o término do expediente começa a ser substituído pelo medo de voltar pra casa debaixo de chuva, com o bônus de um transito ruim devido à quantidade de água que cai do céu.

Eu normalmente encaro bem Dia de Chuva, principalmente se as minhas meias estiverem secas. O meu desejo pela minha cama é bem moderado, mas a preguiça ainda se manifesta caso eu tenha uma janela na minha frente.

Mas de todas essas coisas os únicos culpados são nossos ancestrais. Que no tempo da pedra lascada não faziam mais nada em Dia de Chuva do que esperar parar de chover… Chego a conclusão que esperto era o homem da caverna que quando chovia decretava feriado.

Contos de Segunda #8

— Preciso disso pronto pra segunda, Ferreira. Já autorizei as horas extras no sistema. Segunda de manhã, sem adiamento.

Foi isso que Ferreira ouviu antes de uma pilha de papéis aterrissar em sua mesa. Na sexta-feira. Às 17 horas. No exato instante em que o cursor do mouse estava a meio centímetro do botão de desligar. Na última vez em que os olhos dele passaram pelo relógio, o mesmo marcava 23 horas e 58 minutos do domingo. Dois minutos para a segunda-feira e o relatório que o chefe pediu estava bem longe do fim.

Ferreira passou os últimos 5 minutos encarando a tela do computador. Durante esse tempo ele tentou pensar em algum jeito de terminar o trabalho. Como não conseguiu pensar em nenhum, começou a pensar em formas de não terminar o trabalho e ainda assim continuar empregado. O último minuto foi dedicado a dar um jeito de dar uma arrumada no relatório de modo que ele parecesse terminado mesmo sem estar terminado. O que daria tempo para que de fato o relatório fosse terminado, mas essa última solução pareceu tão complicada quanto as outras duas. O relógio marcou 23:59.

Ele não tinha muito tempo, mais duas horas e o cansaço não o deixaria continuar, precisava pensar rápido. Mas só conseguia pensar no desemprego, na crise, na prestação da fritadeira sem óleo e na viagem que faria no fim do ano, que ainda estava sendo paga. Imaginou que talvez pudesse trabalhar com o pai no bar da família, afinal ele nunca gostou do trabalho no escritório. O relógio marcou 00:00 da segunda-feira.

00:00. Ferreira encarou o relógio até ele marcar 00:01. Um sorriso torto nasceu em seus lábios. Ele pendurou a bolsa no ombro, desligou o computador de qualquer jeito e saiu correndo. Chamou um táxi e foi pra casa. Chegando lá pegou alguma coisa pra beber na geladeira e fez um brinde imaginário. Olhou para o relógio na tela do celular e constatou que ele não cometido nenhum engano. Aquela segunda era mesmo feriado.

Maisa Abandona a Infância

Outro dia eu estava na página de notícias que eu visito automaticamente toda vez que eu saio do meu email. Normalmente eu só dou uma olhada nas manchetes, algumas vezes elas são melhores do que as próprias noticias, sendo as noticias sobre famosos as que possuem as melhores dentre as melhores manchetes, principalmente por elas não serem 100% condizentes com o conteúdo das matérias. Eu estou fazendo essa volta enorme só pra dizer que eu estava de bobeira nesse site quando eu vi uma chamada que dizia “Maisa Abandona a Infância”.

Se você leu a matéria deve ter percebido que ela não fala de nenhum abandono da infância de ninguém, muito menos da infância de Maisa. Lembro de ter imaginado como seria uma cena de abandono de infância. Diante do absurdo da cena, percebi que não rola de abandonar a infância.

Crescer demora. Mesmo que passemos a menor parte da nossa vida crescendo, não é uma parada que acontece do dia pra noite, a menos que você seja um personagem de filme da Disney ou um Pokémon. A infância também não é algo que você consegue abandonar, pelo menos não como sugeria a chamada da matéria. Não é como se você pudesse dizer “Já deu, Infância, cansei de você, considere-se abandonada”.

Infância é etapa, pedaço da vida, caminho. Não é algo que você carrega, é o primeiro lugar onde encontramos coisas que valem a pena ser carregadas por toda a vida. Só somos adultos hoje por que antes fomos crianças. Inexperientes, inaptos, infantes. Por mais que alguns queiram esquecer, é impossível não lembrar quando olhamos pra trás. Sem isso seriamos como árvores sem raízes, não teríamos de onde tirar forças para continuar crescendo.

Dia do Amigo

Na ultima segunda-feira, também conhecida como 20 de Julho, foi comemorado o Dia do Amigo. Talvez essa seja uma das datas com a maior disparidade entre o impacto que ela causa dentro e o que causa fora da internet. Isso por que, até onde eu lembro, antes do boom das redes sociais ninguém falava do Dia do Amigo. Por causa disso eu considero válido dizer que hoje esse dia é celebrado graças ao Orkut.

Provavelmente você, caro leitor, tem idade suficiente para se lembrar do Orkut, um dos maiores fenômenos da internet (pelo menos no Brasil) de todos os tempos. Apesar de ninguém ligar mais pro coitado, sua desativação causou uma grande comoção. Eu lembro que na época muita gente corria atrás de aumentar a sua lista de amigos, tanto que atingir a marca de 1000 amigos, e consequentemente não poder adicionar mais ninguém, era motivo de ostentação. Dentro de um ambiente como esse não é difícil acreditar que o Dia do Amigo fosse genuinamente celebrado.

A verdade é que o finado Orkut mudou um pouco a forma de como lidamos com a amizade. Aos poucos fomos acostumados a quantificar nossos amigos, a elevar os conhecidos ao patamar de amigos e  a transformar nossa lista de contatos em uma espécie de galeria de todos que conhecemos. Porém, devido às limitações desse sistema, fomos obrigados a chamar todos os conhecidos, os colegas de trabalho, do curso de inglês, aquele primo que não te vê há 10 anos, ou aquele cara que estudou com você na terceira série de amigos. Provavelmente seja por isso que o Dia do Amigo continua sendo uma data tão celebrada nos ambientes sociais virtuais.

Apesar de não dar tanta bola pro Dia do Amigo, fico pensando aqui com meus botões se futuramente as relações de amizade serão tão rasas quanto essas redes sociais fazem parecer. Se a frase “Vocês são amigos agora” que o Facebook exibe a cada pessoa adicionada à minha lista continuará tão absurda aos meus olhos quanto sempre foi. Se as pessoas vão precisar de uma frase automática do sistema pra saber se alguém se tornou um amigo.

Contos de Segunda #7

Josias era terapeuta. Ao longo dos anos ele percebeu em seus pacientes um ponto em comum. Todos sentiam aversão pela segunda-feira, mas alguns deles possuíam uma espécie de depressão associada ao primeiro dia útil da semana. Ele precisava dar um jeito nisso.

Depois de muita pesquisa e de muitas experiências, ele chegou à conclusão de que a hipnose seria a melhor forma de combater essa depressão. Através de uma série de gatilhos mentais, mensagens subliminares e coisas do tipo, o paciente se tornava incapaz de lembrar coisas associadas à segunda-feira. Coisas como se fosse impossível perceber que era segunda, ou que amanhã seria segunda, ou que ontem foi segunda. Saber que o dia 23 cai no início da semana, mas não saber que isso era uma segunda-feira. Criar esses bloqueios de modo que o paciente não seja prejudicado em sua vida cotidiana foi um verdadeiro desafio, rendendo renome internacional e vários prêmios. Porém Josias escondia um segredo. Na verdade ele mesmo foi o principal motivo para o início das pesquisas. Josias sofria da depressão associada à segunda-feira, mas por algum motivo misterioso ele era imune ao tratamento hipnótico.

Ele tentou com neurologistas e psiquiatras, mas não descobriu como poderia fazer o tratamento funcionar. Pelo menos não de forma tranquila. Cansado de ver pacientes livres de seus traumas, enquanto ele amargava o sofrimento e a tristeza gerada pela segunda, Josias resolveu aumentar a intensidade dos estímulos, ativar vários gatilhos mentais ao mesmo tempo e prolongar o tempo de exposição… Deu resultado… Mas não o resultado esperado.

Atualmente Josias ocupa uma cela no manicômio judiciário. Ele foi preso por ter assassinado um homem após uma discussão onde o mesmo afirmou ser quarta-feira. Para Josias era segunda-feira, assim como em todos os outros dias

Dia do Homem

Na ultima quarta-feira, também conhecida como 15 de Julho foi “comemorado” o Dia do Homem. Eu até poderia explicar o que me levou a colocar entre aspas o “comemorado”, mas um pensamento recorrente nubla minha cabeça e me impede de raciocinar o suficiente para construir meu argumento: Dia do Homem? Sério isso? Tem um Dia do Homem?

Eu não sou feminista, mas tenho a ligeira impressão de que uma data como essa só faria sentido se nossa sociedade fosse dominada por seres extraterrestres e o homem e a mulher ocupassem exatamente o mesmo papel na sociedade humana escravizada pelos aliens. Mas os alienígenas ainda não chegaram e nós ainda vivemos numa sociedade patriarcal que tem uma cultura muito sexista. Na minha cabeça ter um dia pra quem sempre ditou as regras do jogo não tem muita lógica.

Segundo as informações levantadas por mim através de uma pesquisa muito rasa feita em dois ou três links do Google, esse dia serve pra celebrar as contribuições que os homens deram à sociedade, provavelmente por que tudo que conhecemos foi feito pelo macaco conscientizar o homem sobre os cuidados com a sua própria saúde, já que homem não liga de ir pra médico, algumas outras bobagens e para lutar pelo direito dos homens. Essa última parte é tão nada a ver que não cabe nem comentar. Espero que eles estejam falando da licença paternidade que os homens tem em alguns países.

Mas a parte mais legal do Dia do Homem é o fato de ninguém dar a mínima importância pro Dia do Homem. Até o Dia do Amigo, que só ganhou projeção por causa do Orkut, parece mais coerente do que o Dia do Homem. Inclusive não creio que exista um ser humano que não tenha achado estranho a existência do Dia do Homem. Inclusive eu duvido muito que seja uma data conhecida por uma parcela grande da população. Por isso acho justo que comecemos a celebrar todos os dias que são sumariamente ignorados. Hoje, por exemplo, é 17 de Julho, Dia do Protetor das Florestas, que celebra a obra de grandes protetores da floresta como Chico Mendes, Dorothy Stang e o Curupira (sim, ele mesmo). Inclusive eu acho que esse dia é bem mais relevante que o Dia do Homem. Também é aniversário de David Hasselhoff e aniversário do falecimento de Billie Holiday, que eu não sabia que era mulher até um tempo desse. Nesse mesmo dia foi assassinado, juntamente com sua familia, o último czar da Rússia, Nikolai Romanov.

Ideias

Escrever é uma coisa interessante, pelo menos pra mim. Eu normalmente escrevo contos e outras coisas como este texto que você, querido leitor, está lendo nesse momento. Eu não escrevo contos por ter uma boa estória pra contar. Também não escrevo textos como este por ter algum pensamento ou reflexão genial pra dividir com os que me lêem. Não. Existe um motivo puro e simples que me leva a sentar, algumas vezes por horas, na frente de um computador e exercitar meus dedos no teclado: as ideias precisam sair.
Eu gostaria de ter algum processo criativo exótico ou inusitado. Não tenho. O que acontece comigo não tem nenhum mistério: eu tenho uma ideia e essa ideia me incomoda até ser colocada no papel. Normalmente as ideias crescem e amadurecem um pouco antes de seguirem para o papel, mas elas me incomodam desde o nascimento.
Quando eu comecei a escrever sobre assuntos aleatórios, coisas sem a mínima relevância ou aplicação prática, uma ideia que não para de me incomodar, decidi fazer uma lista de ideias para futuros textos. Tive algumas e as coloquei no papel. Assim como a minha lista de ideias para futuros contos, a lista de futuras crônicas não passou de uma lista. Percebi por fim que essas listas nada mais são que uma detenção para minhas queridas ideias. Como eu disse, elas incomodam até irem pro papel, depois disso ficam quietinhas. Agem como se estivessem felizes por viver em um lugar mais tranquilo do que a minha cabeça. Talvez as listas sejam um pouco mais confortáveis do que um ambiente de pensamentos caóticos.
Mas qual o motivo que me levou a ter a ideia pra esse texto?
A resposta é simples: na época em que a versão original dele foi escrita, dois meses haviam se passado e eu não tinha escrito nada. Consequência do tempo empregado em colocar uma certa ideia no papel. Dei vida a mais um personagem, contei sua história e gastei boas horas escrevendo sobre ele… E também gastei várias ideias nessa brincadeira. O resultado disso é que passei muito tempo sem ter sobre o que escrever. Nunca antes havia trabalhado em um personagem que me absorveu tanto. Tanto que não conseguia pensar em escrever mais nada. Não sei se minhas pobre ideias ficaram enciumadas e resolveram tirar férias ou se minha mente entrou de recesso. Mas lembro que foi um período de produção inexistente, mas naquele tempo eu não precisava tanto produzir. Ao contrário de hoje. Por isso faço um convite para as ideias que me abandonaram e para aquelas que ainda não vieram: Venham, podem vir. Sou todo de vocês. Preciso de vocês mais do que nunca

Contos de Segunda #6

Rubens estava deprimido, como em todos os domingos quando terminava o Fantástico. O ultimo suspiro do fim de semana. O primeiro indício da chegada da segunda-feira. De tão tranquilo provavelmente a única coisa que fazia Rubens reclamar era a segunda-feira e tudo que tinha alguma relação com ela. Ele tinha isso bem vivo no pensamento quando tropeçou em uma lâmpada mágica de onde saiu um gênio oferecendo três desejos.

– Eu desejo que não exista mais segunda-feira – disse ele entusiasmado.

– Pense bem – respondeu o gênio – a semana de trabalho tem que começar por algum lugar, se não for a segunda será a terça. Não posso realizar esse tipo de desejo.

– Então acabe com o domingo. No desejo seguinte farei a sexta-feira se tornar um feriado eterno.

– O mal será o mesmo. Os dias mudarão de nome e carregarão o mesmo estigma. Não posso desperdiçar meus poderes cósmicos dessa forma. Não posso realizar esse tipo de desejo.

“Foi-se o tempo em que as coisas de graça eram realmente de graça” pensou Rubens. A suspeita de que o gênio estava tentando dar um jeito de não atender desejo algum. Tinha que ser algo que funcionasse bem e que o gênio não pudesse deixar de fazer. E foi o que aconteceu.

Na noite daquela mesma segunda-feira, Jorge ligou a TV e viu o resultado do seu primeiro desejo: o Fantástico mudara de horário, agora seria exibido nas noites de segunda. Logo depois o resultado do segundo desejo: nos domingos a noite os programas exibidos seriam totalmente aleatórios, impedindo que esses programas fossem de alguma forma associados com o fim do final de semana. Mas e o terceiro?

Bem, o terceiro desejo foi simples. Motivado pela insatisfação, raiva e frustração. Além da vontade de ajudar o próximo ser humano que topasse com o gênio. Rubens desejou que a partir daquele dia mais nenhum desejo podia ser negado. Nunca mais.

 

Me Sinto Responsável

Essa semana eu estava conversando com minha irmã sobre a minha falta de vontade de assistir alguma série de TV nova. Eu tenho o problema de sempre abandonar toda e qualquer série que eu assisto. Não importa se eu gosto ou não, sempre chega uma hora que eu paro de assistir e nunca mais volto, e isso me incomoda bastante. Dividi essa informação com minha irmã e ela foi bem taxativa em dizer que se eu estou pensando assim quer dizer que eu estou trabalhando mesmo sem estar trabalhando. Em seguida ela me falou sobre um vídeo que ela assistiu recentemente tratando desse assunto.

Antes de continuar vale a pena dar uma conferida no vídeo, ele se chama “When Does Play Becomes Work?“ e está em inglês e tem legendas também em inglês. Em resumo o carinha do vídeo fala sobre como a necessidade que criamos de consumir entretenimento faz com que, de certa forma, trabalhemos para os produtores de conteúdo. Ao nos tornarmos consumidores fieis de algum produto de mídia, seja ela qual for, arrumamos uma espécie de emprego. É sobre isso que eu quero falar, mas vou focar na minha experiência pessoal.

É muito difícil assistir/jogar/ler/ouvir 100% daquilo que queremos. Seja por falta de grana pra comprar ou falta de tempo pra consumir, nós vivemos “em débito” com alguma coisa. Não que realmente estejamos devendo, mas nos sentimos como se estivéssemos. Me pesa na consciência quando eu lembro das séries que eu deixei pra lá, mesmo sem nunca perder a vontade de assistir. Também me sinto mal quando olho todos os livros e quadrinhos que estão na minha estante e nunca foram lidos, sem contar os jogos que eu não terminei. Tudo isso me faz sentir responsável, mas pelo quê?

Será que é certo eu me sentir mal por isso? Será que eu estou transformando o meu entretenimento em uma obrigação? Até que ponto minha vontade de assistir, ler e jogar é genuína? A partir de que nível essa vontade se torna uma obrigação que eu criei com as coisas que eu gosto de consumir? Eu só sei que quando a diversão vira obrigação você precisa arrumar alguma outra coisa pra se divertir. Depois dessa divagação toda, gostaria de parafrasear minha irmã e dizer que não devemos nos desanimar por abandonar uma série (ou seja lá o que for), ela sempre acaba voltado pra gente.

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