No longínquo ano de 2017 eu publiquei por aqui um texto apresentando aos meus caros leitores Miles Morales, também conhecido como o Homem-Aranha que vale pra mim. Na época eu estava soltando meus fogos com a possibilidade de uma aparição do meu querido Miles no cinema, mas eis que em 2018 (2019 para os habitantes de Terra Brasilis) eu vi realizado na tela do cinema o meu sonho:
Logo no início do filme o Homem-Aranha que a gente conhece, Peter Parker, falece precocemente e passa o bastão pra um Miles Morales recém mordido por uma aranha radioativa. Mas Miles não está sozinho nessa, um Peter Parker de um universo alternativo e pessoas aranha de diferentes realidades se juntam a ele para impedir o colapso de todo o multiverso.
De maneira geral Homem-Aranha no Aranhaverso não só acerta em muitas coisas, como na caracterização dos personagens, na estética e nas homenagens, mas o filme em si é um grande acerto dada a atual conjuntura dos fatos. Ao contrário do que pode parecer, fazer um filme do Homem-Aranha hoje em dia não é a tarefa mais fácil do mundo: atualmente estamos com a terceira encarnação do Homem-Aranha no cinema, queda de braço entre a Sony e a Marvel sobre o uso do personagem e fãs cheios de expectativa. Então vemos aí o trunfo maior dessa decisão: fazer um filme de animação pra driblar todos esses problemas.
Um filme de animação. Em uma animação ninguém ligaria muito para a cara, ou a voz, dos atores que interpretam os personagens ou encheria o saco pra manter a cronologia dos filmes da Marvel . Além disso era uma oportunidade única de apresentar pro grande público dois dos personagens mais populares dos quadrinhos: Miles Morales e Gwen Aranha.
Quem acompanha minimamente o mercado de quadrinhos de super-heróis sabe que Miles e essa nova versão de Gwen Stacy tomou de assalto o coração de muitos fãs. Os mesmos fãs que sabiam que muita água teria que rolar antes de qualquer um desses dois dar o ar da graça nos filmes da Marvel Studios. Gwen e Miles não teriam outra chance dessas tão cedo. Dito isso, voltamos para o filme.
Aranhaverso é um filme sobre crescimento, a descoberta de uma nova identidade e o que te faz ser o que você é. Ao longo da história não vemos Miles aprendendo a ser muito mais do que apenas um herói. Essa é a história de um garoto aprendendo a ser um Homem-Aranha. Em tempos de caracterizações equivocadas e adaptações que problemáticas temos um filme com seis, eu disse SEIS pessoas aranha na tela (sete se você contar o Homaranha que vai pra vala logo no início do filme), todos com suas próprias personalidades, estéticas e peculiaridades, mas em todos eles é fácil reconhecer o que faz um Homem-Aranha ser um Homem-Aranha.
Apesar de não parecer, o Homem-Aranha é um personagem trágico. Apesar de não ser nascido da tragédia como o Batman e outros similares, o Teioso é marcado pelas tragédias que apareceram no caminho. A perda é algo tão inerente ao personagem quanto a teia ou os poderes aracnídeos, e é justamente a perda que coloca o Homaranha no caminho do heroísmo. E não importa quantas vezes ele é jogado no não, o Homem-Aranha sempre se levanta. Todos eles sempre se levantam. Se tornar um Homem-Aranha é, acima de qualquer coisa, aprender a levantar quantas vezes for preciso.
Aranhaverso foi uma grata surpresa. Arrebatou o coração de muita gente e ganhou um monte de prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme de Animação, e teve resultados bons o suficiente pra garantir uma continuação, que chega em 2022. Por fim dá pra dizer que o futuro de Miles Morales no cinema parece bastante promissor, seja nesse ou em qualquer outro universo.