Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Categoria: Crônicas e Similares Page 1 of 21

Preciso Falar Sobre Nezuko

Demon Slayer é um queridinho dos naruteiros desde 2019. Caso você não seja naruteiro/naruteira ou já tenha sido e não exerça mais a profissão, eu vou dar um contexto.

Demon Slayer é a história desse boy aqui:

Que teve sua família brutalmente assassinada por um monstro comedor de carne e bebedor de sangue. Dá pra traduzir como demônio, mas os onis (monstros comedores de carne e bebedores de sangue) não são bem o que a gente conhece e entende como demônio, na prática eles funcionam mais como vampiros dentro da série. Inclusive eles também não podem sair no Sol. Mas não foi todo mundo da família dele que morreu, teve a irmã dele que, em vez de ser assassinada e parcialmente devorada, foi transformada num monstro comedor de carne e bebedor de sangue.

A menina não é igual a todo mundo e consegue se controlar pra não comer pessoas, mas ela tem que usar essa mordaça de bambu só pra garantir. Só que é desenho de lutinha e tem que ter as lutinhas, por isso que Tanjiro (o boy lá) e Nezuko (a irmã carnívora do boy) se tornam parte do esquadrão de exterminadores que tem como trabalho matar os monstros comedores de CPF. Além da missão principal, que é matar todo mundo que faz gente de petisco, os dois irmãos entram numa jornada pra tentar transformar Nezuko de volta em uma humana normal.

Tudo que eles fazem é de olho nesse objetivo. A  menina quer ser humana e o menino quer salvar a única pessoa que sobrou da família dele. É a motivação dos dois, é o combustível dos dois, não tem nada que eles não façam ou sacrifiquem por causa desse sonho. É por isso que eles enfrentam os onis, é  por isso que eles se arriscam, por isso que eles treinam e ficam mais fortes. Obviamente eles absorvem todo o senso de dever e sacrifício do esquadrão, mas no final é isso que eles querem.

 

ATENÇÃO! A PARTIR DAQUI TEM UNS SPOILERS.

 

Corta pra temporada que saiu esse ano.

 

Último episódio. Os dois irmãos estão numa perseguição ao inimigo principal da temporada. Enfraquecido, o inimigo procura algum humano indefeso de quem ele possa se alimentar e recuperar suas forças. E os encontra, três ferreiros que fugiram do ataque que a vila sofreu. Ele tá fraco, lento, mas forte o suficiente pra dar cabo de três fulanos sem treinamento de combate.

O cenário é uma planície, não tem lugar pra se  esconder.
Tanjiro alcança o inimigo usando suas últimas forças, desfere o golpe fatal e corta a cabeça do vilão. Única forma de matar um oni.

O  vilão foi derrotado. O Sol começa a nascer.

Em todo o resto da série o Sol foi um aliado. Sobreviver até o nascer do Sol era uma garantia de segurança para qualquer exterminador. Até o oni mais forte não pode resistir aos raios do Sol.

O Sol está nascendo. O cenário é uma planície, sem lugar pra se esconder.

Nezuko está lá.

Tanjiro corre até a irmã, precisa protegê-la. Salvá-la da morte certa. Ele vai até ela na esperança de alertá-la sobre o perigo que corre.

Ela ignora o desespero do irmão. Tem algo mais importante acontecendo.

O inimigo não tinha sido derrotado. O corpo sem cabeça se levanta e volta a perseguir os pobres ferreiros. Nezuko tenta desesperada avisar ao irmão (amordaçar a menina não parece uma ideia tão boa agora). Depois de um tempo, Tanjiro finalmente nota o inimigo que não morreu e se prepara para mais um golpe.

O Sol toca a pele de Nezuko.

Ela começa a berrar enquanto a carne é queimada pelos raios da aurora.

Tanjiro a protege da luz. Os outros aliados estão muito longe e muito fracos para ajudar. Ela encolhe o corpo para tentar se proteger melhor na sombra do irmão. Ela geme e se contorce de dor. Enquanto isso, os ferreiros gritam de pavor e clamam por ajuda.

Tanjiro mal consegue respirar. Os exterminadores tiram suas forças das técnicas de respiração  e adquirem um controle absoluto sobre ela. A respiração descontrolada de uma espécie de crise de ansiedade é o maior sinal de desespero.

Ele jurou proteger os indefesos. Ele jurou dar tudo para derrotar os inimigos… Ele prometeu trazer a irmã de volta. Ele era a única coisa que separava a irmã de virar um punhado de cinzas… A única coisa que protegia os pobres camponeses de uma morte violenta.

Não consegue decidir. Ele mal consegue suportar o peso da dúvida.

Os pés saem do chão.

Tanjiro é arremessado no ar. Nezuko lança seu irmão no ar.

A cena é na câmera mais lenta possível. Os dois irmãos se encaram. Nos olhos do menino uma total incredulidade. Nos olhos da menina não há um traço de dúvida. Com um sinal ela diz o que quer que seu irmão faça: derrote os inimigos e salve aquelas pessoas. Naquela fração de segundo toda a jornada dos dois passa em um instante pela mente de Tanjiro. As lágrimas brotam nos olhos quando ele encara a irmã, agora já bastante queimada pelos raios do Sol.

Ela olha de volta. Ela sorri. Ela se despede.

Nezuko sempre foi um personagem a ser protegido. Sua vulnerabilidade ao Sol e algumas restrições provocadas pela falta de consumo de carne e sangue sempre a impediram de ser independente do irmão. Não é tão fácil lembrar o tempo todo dela como uma exterminadora. Como parte do esquadrão, como uma pessoa que está ali no cumprimento do dever. Naquele momento Nezuko foi muito mais exterminadora do que o irmão. Muito mais forte do que o irmão. E essa cena ficou comigo.

Reassistindo a esse trecho do episódio eu me reencontro com a força de Nezuko. Me reconecto com os olhos monstruosos da menina com a carne meio queimada e como ela não hesita em dar a própria vida para proteger os indefesos. Claro que eu sei que ela é um personagem de desenho japonês de lutinha. Claro que o sacrifício de um personagem fictício nem se compara com o sacrifício de uma pessoa de carne e osso. Eu também sei que foi decisão da autora que ela fizesse isso e todas essas coisas… Mas naquele momento, dentro do microcosmo em que só existia eu e a história que eu assistia na tela do meu computador, Nezuko foi mais forte que tudo. Enquanto eu me desesperava junto com Tanjiro e me sentava na ponta da cadeira sem saber o que ia acontecer, Nezuko me jogou no ar, me olhou nos olhos, me mandou lutar e se despediu de mim com um sorriso. Se não são momentos como esse que fazem a ficção valer a pena, não sei mais o que faz.

Era pra Ser Motivacional, Não É, Mas Talvez Seja Mesmo Não Sendo

Outro dia estava eu conversando com minha costela sobre o texto que eu escrevi ano passado quando cheguei à cabalística idade de trinta anos. Caso você, cara pessoa leitora, não tenha passado seus olhos sobre o texto em questão recomendo a leitura, não que seja necessária pra entender o resto do que eu pretendo escrever hoje, mas é uma leitura agradável, pelo menos eu acho. Então entre nesse link aqui, dê uma lida e volte pra continuar a conversa.

Apesar de ser um texto bem otimista a meu ver, a tal publicação temática dos trinta anos deixou minha lady meio pra baixo. Conversando mais um pouco, ela disse que queria que eu escrevesse algo mais pra cima, pra dar uma animada, uma motivada. Em outros tempos, quando a máquina da escrita estava mais lubrificada eu teria aceitado o desafio e escrito alguma coisa, mas a ferrugem consome minhas juntas criativas e a inspiração se faz necessária pra produzir algo que seja realmente legal. Me vi obrigado a negar o pedido.

Mas as engrenagens começaram a se mexer.

Uns dias depois, em um momento de esvaziamento total do pensamento me veio na cabeça uma frase que pra mim é bem familiar: “Onde estão o cavalo e o cavaleiro?”. Se você sofre do mesmo nível de nerdice que eu deve ter reconhecido a citação, se você não sofre precisa de uma dose de contexto. Essa fala pertence ao Rei Théoden, personagem que nos é apresentado no segundo filme, ou no segundo livro, da trilogia O Senhor dos Anéis. Na cena o rei recita alguns versos de uma canção que aparece originalmente nos livros, sendo cantada por outro personagem. A cena inteira você pode ver aqui embaixo.

Caso você não queira assistir essa cena, uma das minhas preferidas da trilogia, ou caso o vídeo não se encontre mais disponível, coisa que acontece com uma certa frequência, eu vou transcrever aqui os versos com uma leve alteração na tradução pra que ninguém fique perdido na conversa.

Onde estão o cavalo e o cavaleiro?

Onde está a corneta que soava?

Eles passaram como chuva nas montanhas

Como vento nas pradarias

Os dias se puseram no Oeste

Por trás das colinas

Dentro das Sombras.

Se tirarmos todo o verniz de ficção fantástica, esquecermos dos elfos, anões, magos, orcs, anéis mágicos e das pessoas de um metro de altura que fazem sete refeições por dia, mas que passam a maior parte da história comendo brownie vegano, não é difícil notar que Senhor dos Anéis é recheado com uma boa dose de melancolia. É uma obra que conta uma história que se passa em um mundo que já não é mais tão mágico quanto já foi um dia e que nunca mais será como já foi, principalmente depois do final da história. Confesso que essa descrição me parece muito familiar.

As coisas passam pelo mundo, o mundo passa pelas coisas e é assim que funciona. Em Senhor dos Anéis temos personagens que enchem suas asas com os ventos da mudança, o primeiro filme começa com o icônico “O mundo mudou” dito pela voz galadriética de Cate Blanchett. Curiosamente os personagens que se apegam ao passado glorioso que não existe faz muito tempo e se recusam a aceitar o novo são os que se perdem, se corrompem, fadados eternamente à prisão do chão com suas asas atrofiadas.

Mas não é linda e maravilhosa a trilha dos heróis da história, assim como não é a trilha de todo aquele que percorre o seu caminho olhando pra frente… Ou pra trás, ou pra qualquer pessoa que percorra qualquer caminho. A esperança é o que muitas vezes acende o coração daqueles que persistem. Muitas vezes o único combustível que resta, ainda assim o que muitas vezes se esgota. Diante da grande sombra que estende seus dedos sobre todas as pessoas, encontramos a fagulha que inflama no inesperado que nos encontra na virada da maré. Em um mundo que nos ensina que só existem vencedores e perdedores, muitas vezes só precisamos lutar até que a luta acabe. Resistir até o sol nascer. Mesmo que a aurora não traga ajuda alguma, um pouco de luz pode fazer toda a diferença.

Não sei exatamente onde eu queria chegar com tudo isso que está escrito nesta breve (mas nem tanto) publicação. Provavelmente consegui chegar em algum lugar, não sei exatamente onde, mas é isso aí. Nos vemos na próxima.

(Finalmente) 300

Este texto está atrasado.

Sim, cara pessoa leitora, este é um texto que saiu muito depois do que deveria. Houve uma época áurea em que este humilde blog tinha a pouco impressionante marca de três publicações por semana. Algo em torno de doze ou treze por mês, perto de cento e cinquenta por ano. Com o primeiro post sendo publicado em junho de 2015, levando em consideração alguns breves hiatos e coisas do tipo, a publicação de número 300 seria lançada na segunda metade de 2017. Mas 2017 foi o ano em que o Cachorros de Bikini desacelerou, em que eu desacelerei. A frequência de publicações passou de um monte de coisa pra quase nada. Mas não se engane, esse não é um lamento, é só uma retrospectiva. Essas coisas acontecem.

Agora imagine minha surpresa ao olhar para o contador do WordPress e ver que eu estava a um post de atingir a nada impressionante marca de 300 publicações.

Pior que quase eu passava direto pelo número 300. Por pouco o número 300 foi o conto que vai sair segunda. Um texto muito legal em que passei os últimos tempos trabalhando. Tá legal, vale a pena ler, mas achei melhor não misturar as coisas. Afinal, 300 é um número que pede, pelo menos, uma decoração especial.


Usar coisas de 300 pra ilustrar esse post é uma escolha meio óbvia. Já que provavelmente ele é o filme que tem apenas um número como título que fez mais sucesso. Eu acho. Deve ser. Vamos dizer que é.


Esse poderia ser um post sobre esse filme que provavelmente só uma parte de quem tava vivo e consciente em 2006 se importa. Só que eu tô com preguiça de ver o filme de novo. A última vez que eu vi 300 faz tanto tempo que eu nem lembro e a vontade de gastar energia pra escrever sobre o filme ou o quadrinho tá tão próxima do zero que vai ficar pra outro dia. Mal aí, galera de Esparta.

Vamos retomar a conversa do início.

Houve uma época em que eu escrevia sempre. Sempre tinha coisa nova por aqui e eu conseguia escoar toda a minha pulsão criativa pra cá. Não sei bem o que aconteceu, mas em algum momento isso não aconteceu mais. Foram dois anos bons e mais três muito agradecido por ter conseguido fazer o que eu fiz por dois anos. E a graça de ter feito isso na internet e de forma escrita, é que tá tudo por aqui. Arquivado, organizado, classificado. Volta e meia eu paro por aqui e dou uma lida numas paradas antigas, nem sempre o que eu leio é muito bom, mas é sempre divertido. Surpreendentemente divertido na verdade. Algumas coisas estão aqui tem tanto tempo que parece que não fui eu quem escreveu. Se você escreve devia fazer isso também, é um exercício interessante.

Houve uma época em que eu escrevia sempre, mas essa época passou. A época atual é uma em que eu escrevo de vez em quando. Num nível de compromisso tão zerado que é mais pra não enferrujar. Ainda é tão bom como sempre, depois que eu termino um texto novo penso que devia fazer mais vezes. Mais ou menos como acontece quando a gente se encontra com uns amigos que a gente quase nunca vê e acaba quase nunca vendo mesmo querendo ver sempre. E mesmo assim cheguei aos 300, quem diria?

40 Anos de Império Contra-ataca

Algumas décadas atrás a indústria do entretenimento, principalmente o cinema, vivia uma realidade muito diferente da atual. Não existiam tantas franquias gigantescas, filmes de grande orçamento e nem tantos filmes com efeitos especiais absurdos. Foi nesse contexto que surgiu o nome que definiu o que é ser uma grande franquia. O filme que mudou a história do cinema, do mercado do cinema. Em 1977 estreou Star Wars, que naquela época era só Star Wars, mas que pouco tempo depois teve seu título mudado para Episódio IV – Uma Nova Esperança, garantindo que teria coisa antes, coisa depois e que qualquer um que caísse de paraquedas no assunto ficasse completamente confuso. Três anos depois saiu o filme que completou quarenta anos na semana passada. Em 21 de maio de 1980 estreava nos Estados Unidos Star Wars Episódio V – O Império Contra-ataca.

Ou o Star Wars preferido de todo mundo.

“Nadavê, Filipe, eu gosto bem mais do Episódio (insira aqui o episódio que você acha que mais gosta)”.


O Império Contra-ataca é Star Wars no seu estado mais puro e lapidado. Tudo que é mais lembrado sobre a primeira trilogia de filmes está nesse filme. Darth Vader como o super vilão temido por seus inimigos e subordinados? Isso só começou aqui. Se você reparar bem em Darth Vader no primeiro filme, vai perceber que ele é um nêmesis pros protagonistas apenas, um agente do Império que age com certa autonomia, mas submetido à autoridade do Governador Tarkin, o homem que comanda a estação bélica apelidada de Estrela da Morte. Vader se torna o carrasco da Rebelião só no Episódio V. O velho Ben Kenobi aparecendo como fantasma? Apesar de soprar um “use a Força” no ouvido de Luke no final do primeiro filme, ele só aparece na sua forma azulada semitransparente aqui. Mestre Yoda? Fez sua estreia aqui, com frases invertidas e os ensinamentos sobre a verdadeira natureza da Força. O romance de Han e Leia? Em meio às brigas, trocas de ofensas e quase total ausência de gentilezas é que floresce o único romance minimamente decente nessa franquia toda. Essa cena aqui…


É do Império Contra-ataca. A cara enrugada do Imperador? Apareceu pela primeira vez, ao vivo e em holograma, nesse filme. E falando em primeiras aparições, além do já citado Mestre Yoda, temos Bobba Fett, pra provar que dá pra ficar famoso só fazendo pose. Também temos outro queridinho dos fãs, Lando Calrissian, fazendo sua primeira aparição nesse universo. Algumas das cenas mais icônicas também estão aqui, como o ataque imperial à Base Echo no planeta Hoth, com a primeira aparição dos AT-AT.

A fuga da Millenium Falcon das marinha imperial, a perseguição pelo campo de asteroides e logo depois todo mundo quase virando comida de verme espacial.

E essa cena aqui.

    Toda a jornada de Luke Skywalker dentro do filme, lentamente se colocando à parte da Rebelião e começando a percorrer um caminho por onde só ele pode andar, o que culmina no Luke que vemos no filme seguinte, é provavelmente o momento mais legal do personagem pra mim. Ele não é mais o garoto da fazenda, mas também não atingiu todo o seu potencial como Jedi, enfrentar o Império junto dos outros rebeldes é importante, mas ainda falta algo para que ele se sinta completo.

Por fim temos outra coisa que ajuda o Império Contra-ataca, ele é o filme do meio. Os filmes do meio têm uma responsabilidade: ser uma boa transição entre a primeira e a terceira parte. Essa é uma tarefa fácil? Não, é um desafio tremendo. O Império Contra-ataca é excelente porque precisou ser. Ele era a continuação do filme que fez um sucesso inacreditável e precisava ser um elo pro filme que fecharia essa história. Ele precisava ser ótimo e, justamente por isso, ele foi.

Veja Império Contra-ataca. Reveja o Império Contra-ataca. Aproveite o Império Contra-ataca. É isso. Até a próxima.

Ainda Consegue?… Ou só um texto sobre fazer aniversário

Os tempos atuais são um convite à reflexão. Caso você, cara pessoa leitora, esteja lendo isso do futuro, basta eu dizer que os “tempos atuais” dos quais eu falo são os tempos de pandemia do coronavírus, quarentena e isolamento que já consumiram um pedaço grande do ano da graça de 2020. Justamente nesse ano, durante todos esses eventos semi-apocalípticos, o proprietário deste humilde sítio eletrônico atingirá a marca histórica de 30 anos vividos.


“Ê, Filipe, bem qualquer coisa fazer 30 anos”. Sim, pessoa leitora hipotética que falou a mesma coisa no meu texto de aniversário em 2016, não é grande coisa no plano geral da humanidade, mas como eu não vou completar 30 anos nunca mais, a marca é histórica pra quem interessa que ela seja… Mas voltemos ao papo reflexivo.

30 anos se tornou uma idade cabalística nos últimos tempos. Muito se fala sobre como todo mundo (não se sabe exatamente quem, mas ainda assim todo mundo) espera que a sua vida esteja toda no lugar aos 30 anos. Eu não sei a de vocês, mas a minha com certeza não está. E a vantagem de não embarcar nessa nóia de vida resolvida é que sobra processamento cerebral pra refletir sobre outras coisas que vêm com a idade… Coisas diferentes de cabelos brancos e dores que não estavam lá até um dia desses. Justamente por isso a presente publicação nasceu. Eu topei com uma coisa que me fez refletir.

Estava hoje de bobeira passando pelo meu Instagram e me deparei com a seguinte tirinha do My Dad is Dracula que eu usei minhas incríveis só que não habilidades gráficas digitais pra traduzir.

Muitas coisas mudam ou se perdem ao longo do caminho de uma vida, independente do tamanho dele ou em que altura desse caminho qualquer um de nós se encontra. E eu nem falo das coisas materiais, das relações pessoais e de tudo que pode ou vai gerar arrependimento. Nem toda mudança é pra pior ou pra melhor, nem tudo que fica pra trás deixa saudade ou faz falta. Boa parte das coisas que ficam pra trás têm mais que ficar pra trás mesmo. Algumas não fazem falta justamente por serem um pedaço de alguém que não existe mais. Basta pensar um pouco pra perceber que várias versões de mim mesmo estão perdidas no passado cada vez mais distantes das idades passadas. E toda vez que eu penso nessas coisas, agradeço de todo coração por isso ter acontecido. Quando eu penso no pai perguntando ao filho se ele ainda consegue enxergar algo mais fantástico do que apenas uma poça d’água suja que reflete a luz de forma multicolorida, eu reflito. Quando eu vejo o semblante triste do menino diante da pergunta, eu me entristeço junto, mas me alegro logo depois. Me coloco no lugar da criança questionada, posiciono um leve sorriso nos lábios e respondo…

Sim, consigo.

A minha cabeça ainda absorve e projeta as mesmas coisas desde sempre. As cores vindas do espaço ainda tingem as histórias dos heróis, vilões, mutantes e dragões que sempre ocuparam meus olhos e povoaram minha imaginação. O pensamento volátil, faminto pelo absurdo das coisas, ainda trabalha incansável para que o mundo continue tão interessante quanto sempre foi, apesar da dificuldade da tarefa. Ainda é fácil torcer a realidade, o tempo e o espaço conforme a necessidade das ideias doidas e tecer mundos inteiros ainda pode ser feito em poucos segundos. Sim, ainda consigo.

Envelhecer ainda não é tão ruim quanto poderia ser, apenas pelo fato de algumas coisas não se renderem à idade. Não por apego ou teimosia, é só que a idade ainda não foi forte o suficiente pra vencer. E espero que nunca seja. Os dias e anos são só números diante dos olhos que envelhecem ainda menos do que a alma da qual eles são janela. A maturidade ainda é seletiva e, felizmente, ainda não obrigatória em muitas ocasiões. A idade pesa leve sobre mim porque eu resolvi tirar dela um pouco do peso que ela nem precisa ter. Mais um ano, mais um dia, uma idade nova que não chegou de uma vez. Vem chegando faz tempo. Tá chegando faz 30 anos. Agora, finalmente, chegou.

Quando a Quarentena Acabar…

Outro dia estava com a cabeça desocupada e acabei lembrando dessa música aqui:

Imediatamente fiz uma versão adaptada para os tempos de hoje do verso de abertura da música. “Quando a quarentena acabar…”, cantarolei eu na minha cabeça que, a partir daquele momento, não estaria tão desocupada assim. Desde então um pensamento recorrente toma conta da minha cabeça. O alívio da falta de ansiedade pelos dias presentes me manteve superficialmente tranquilo até então, mas o encontro constante dos últimos dias tem sido com aquilo que, até então, eu não sabia que perturbava o meu sono. As minhas ansiedades estão depois do fim.

Antes de começar a discorrer com mais detalhes sobre o assunto gostaria de dizer que eu não estou pessimista. Eu acredito que essa crise vai acabar, que covid-19 vai ser só mais uma das inumeras doenças com as quais a gente convive todos os dias, que qualquer dano social e econômico vai ser razoavelmente superado e que apenas o prejuízo humano, como em qualquer outra crise, vai ser irreparável. Sei que o caminho até o fim de tudo pode ser ainda muito longo, ou nem tanto, quem sabe até um pouco maior, mas a espera faz parte da minha vida há tempo suficiente pra me munir da paciência necessária em uma situação dessas… Todas essas palavras não parecem as de alguém preocupado com o que está para acontecer. De fato essas não são, mas as próximas talvez.

Fico pensando no dia em que poderemos dizer que tudo isso acabou. Quando olharemos os destroços do que foi destruído e as ruínas recém nascidas daquilo que acabou de ser abandonado e permanecerá abandonado dali em diante. Penso em todas as mudanças que estão crescendo em seus casulos, esperando o dia de abrir as asas na direção do céu de um mundo que, em vários níveis e proporções, não será o mesmo. Penso no quanto estaremos traumatizados, ou não, depois de tudo isso. Se todas as quedas de braço, as trocas de acusações, as discussões inflamadas, as decisões tomadas e as atitudes adotadas terão valido de alguma coisa.

O futuro aguarda por todos. Vítimas, fatais ou não, filhos e filhas, esposas e maridos, mães e pais, viúvas, viúvos e órfãos da quarentena. Por aqueles que pararam suas vidas e pelos que, feliz ou infelizmente, não tiveram esse privilégio. Por aqueles que contarão essa história toda como um resumo das manchetes dos jornais ou como um relato de guerra. O futuro aguarda por todos que sobreviveram. Ao vírus, ao medo, ao trabalho e à falta dele, à fila do banco, ao calendário, à espera, ao tédio, ao isolamento, à falta de rotina ou ao excesso dela, à solidão, à depressão. À morte batendo na porta ou apenas espiando pela janela. O futuro virá e tenho a inabalável esperança que poucos de nós não estarão aqui para vê-lo, mas, se pensarmos bem, sempre foi assim. As coisas que virão, virão para todos, o quanto delas virá para cada um é uma pergunta que não nos cabe responder.

Espero não ter deixado você, pessoa leitora preocupado ou temeroso. Nunca foi a minha intenção. Os tempos que vivemos já faziam isso bem antes de qualquer novo vírus Made in China. Não gosto muito de falar sério por aqui, mas algumas coisas mais leves só saem da nossa cabeça quando as mais pesadas saem primeiro. Um aperto sem mão, um abraço sem braço e um beijo de longe sem encostar a mão na boca pra todos vocês e até uma próxima com as palavras mais leves que eu puder escrever.

Em 2019 Teve: Muita Gente Sendo Cancelada

Um dia desses estava eu orbitando pelo meu feed do Facebook, algo muito raro nos dias de hoje, e me deparei com a seguinte postagem de uma amiga minha:

Como eu tinha tido só ideia ruim pra esses textos de assuntos de 2019 estava procurando diversificar os temas da série de posts sobre 2019, acabei lembrando de uma das coisas que movimentou a internet no ano passado: gente cancelando gente.

Devo confessar que essa parada de cancelamento chegou bem atrasada pra mim. Comecei a ouvir sobre essas coisas de gente sendo cancelada e, como eu não sou mais um jovem internético moderno e antenado, eu simplesmente ignorava e vida que segue. Em dado momento do ano o termo já estava tão difundido e aparecia em tantos lugares diferentes que fiz o que qualquer pessoa da meia-idade virtual faria no meu lugar, perguntei ao Google o que era. E pra minha surpresa se tratava de… Uma coisa que o povo sempre fez na internet, mas que agora resolveu dar um nome pra poder não só padronizar o termo, mas também pra caracterizar como algo nativo da internet.

Em resumo, uma pessoa com presença em redes sociais, normalmente alguém com um número relativamente grande de seguidores ou de alcance, faz alguma coisa que é a galera não curte muito aí todo mundo cai em cima, critica, deixa de seguir e essas coisas todas. Já viu isso em antes de 2019? Provavelmente sim, só que agora chamam de cancelamento.

Aí você pode pensar “pow, meio qualquer coisa essa parada de cancelar gente”. E eu concordaria com esse possível pensamento se, conforme o número de cancelamentos virtuais foram aumentando, não crescesse também a quantidade de gente analisando o fenômeno virtual da recém criada “cultura do cancelamento”. E dando uma googlada rápida pra reunir algum material pra compor esse texto, acabei esbarrando nisso aqui:

Acabei esbarrando nisso aqui também:

Mas é melhor focar nas paradas que têm credibilidade.

Todo ano alguém que escolhe a palavra/termo do ano. Eu falo “alguém” pelo simples fato de eu não saber quem é o responsável por isso e porque todo ano me parece que é uma instituição diferente que escolhe. Desinformações à parte, temos aí, finalmente, um indício de que esse negócio de gente cancelando gente está muito presente, não só nas ações, mas também na mentalidade da galera usuária de internet, pelo menos em língua inglesa. E que diferença isso faz? Nenhuma, assim como todas as outras coisas que pertencem ao microcosmo da internet.

Não sei se qualquer tipo de linchamento é útil ou justificado, muito provavelmente isso é um claro reflexo de como qualquer pessoa na internet está exposta, como hoje em dia as pessoas podem ser mais ouvidas, acabam ouvindo mais coisa do que gostariam. E se fizermos uma recapitulação das leis da Física, vamos lembrar que quem fala o que quer, ouve o que não quer. E com essa porção da mais vulgar filosofia que eu anuncio o cancelamento de qualquer final que esse texto poderia ter.

Star Wars Episódio IX: Não Vai Ter Mais Skywalker

Quatro anos. Parece que foi um dia desses, mas faz pouco mais de quatro anos que eu escrevi sobre Star Wars pela primeira vez nessas mesmas páginas azuladas. O ano era 2015, eu tinha acabado de ver o Episódio VII, primeiro filme da (mais) nova trilogia de Star Wars. Dando uma lida rápida na publicação daquele dia 23 de dezembro, consegui reviver parte daquele sentimento. De toda a expectativa e de toda esperança que eu tinha nos filmes novos. Aí veio 2017 e com ele o Episódio VIII que foi por uma direção meio… Inesperada. Mais uma vez expectativas foram criadas só que, ao contrário de antes, daquela vez eu não sabia o que esperar da última parte dessa trilogia. Não demorou tanto assim e chegamos ao fatídico 19 de dezembro do recém falecido ano de 2019, quando finalmente estreou:

Star Wars Episódio IX: A Ascensão Skywalker. Um título que gerou tantas ou mais teorias quanto Os Últimos Jedi do filme anterior. Ninguém sabia de que Skywalker estavam falando e nem que ascensão poderia ser essa. Até então a única certeza era que a galera responsável pela história do filme acabou trazendo de volta uma das piores coisas do antigo Universo Expandido: o Imperador.

Vilão maior das duas trilogias anteriores, o Imperador teria originalmente encontrado seu fim no Episódio VI: O Retorno de Jedi (o filme tem quase quarenta anos, isso não é um spoiler), mas histórias posteriores, nenhuma delas em formato de filme ou especial de fim de ano, acabaram trazendo ele de volta dos mortos usando alguma desculpa mirabolante. Histórias que tinham perdido a validade quando a Disney resolveu reformular o cânon e eliminou todo o antigo Universo Expandido. Eliminou só pra poder dar aquela peneirada e trazer de volta qualquer coisa que interessar. Não sei por que seria interessante tirar da cartola a revelação de que na verdade o vilão dos primeiros seis filmes na verdade era o vilão por trás das tretas de todos os nove filmes. Essa foi uma das primeiras coisas reveladas sobre o Episódio IX e uma das poucas coisas que eu fiquei sabendo antes de entrar no cinema. O resto era tudo especulação.

Eis que chegou o dia de ir pro cinema. Eu sento na poltrona. As luzes se apagam. Sobe a música tema e entram as letras amarelas.

Respiro fundo e me ajeito no meu assento e… Foi só isso. Por algum motivo que não sei explicar, eu estava lá vendo um Star Wars que não me fazia sentir como se eu estivesse vendo Star Wars. Provavelmente essa é a melhor forma de definir minha experiência com o filme: não tinha gosto de Star Wars. Não consigo dizer o que estava faltando. Não sei se foi o ritmo, alguma coisa no visual ou na forma como a história começou, mas alguma coisa não estava lá e quando essa coisa começou a aparecer um pouco já foi tão perto do fim que nem fazia lá tanta diferença.

Sem entrar muito no enredo do filme dá pra resumir boa parte do que eu desgosto dele em uma imagem:

Não faço parte daqueles que acham que Os Últimos Jedi é um filme perfeito e irretocável, mas quando o último filme, de uma série de três, estabelece que boa parte do que aconteceu no filme anterior não é lá muito importante. Não faz muito bem pro conjunto.

Mesmo não parecendo, tem algumas coisas realmente boas nesse filme… Só que elas ficam mais por conta de alguns personagens. Kylo Ren segue em uma escalada rumo à redenção como personagem, abandonando de vez aquela caricatura pintada no primeiro filme. C-3PO faz uma das suas melhores participações de toda a franquia, assim como Chewbacca que segue se superando a cada filme. Os conflitos de Rey ganham um pouco mais de corpo, apesar de terem dado uns três passos pra trás e avançado numa direção meio esquisita, o que faz ela tomar umas decisões meio questionáveis… Se o roteiro ajudasse um pouquinho mais ela estaria bem melhor nesse filme. Na verdade todo mundo estaria melhor nesse filme se o roteiro ajudasse um pouquinho mais.

Chegamos ao fim, da trilogia, da saga e do texto. O Episódio IX não só encerra a sua própria trilogia, ele encerra uma saga inteira. Se a Disney estiver falando a verdade, não vai ter mais nenhum Skywalker dando pinta de Jedi nos futuros filmes da franquia. Não se sabe bem o que vai acontecer com Star Wars além das séries prometidas pro serviço de streaming da Disney e das datas marcadas a partir de 2022 para novos filmes. Parece muito tempo, mas se levarmos em conta que o tempo entre trilogias nunca foi inferior a dez anos, dá pra dizer que a gente não vai esperar tanto assim.

 

Em 2019 Teve: Homem-Aranha No Aranhaverso

No longínquo ano de 2017 eu publiquei por aqui um texto apresentando aos meus caros leitores Miles Morales, também conhecido como o Homem-Aranha que vale pra mim. Na época eu estava soltando meus fogos com a possibilidade de uma aparição do meu querido Miles no cinema, mas eis que em 2018 (2019 para os habitantes de Terra Brasilis) eu vi realizado na tela do cinema o meu sonho:

Logo no início do filme o Homem-Aranha que a gente conhece, Peter Parker, falece precocemente e passa o bastão pra um Miles Morales recém mordido por uma aranha radioativa. Mas Miles não está sozinho nessa, um Peter Parker de um universo alternativo e pessoas aranha de diferentes realidades se juntam a ele para impedir o colapso de todo o multiverso.

De maneira geral Homem-Aranha no Aranhaverso não só acerta em muitas coisas, como na caracterização dos personagens, na estética e nas homenagens, mas o filme em si é um grande acerto dada a atual conjuntura dos fatos. Ao contrário do que pode parecer, fazer um filme do Homem-Aranha hoje em dia não é a tarefa mais fácil do mundo: atualmente estamos com a terceira encarnação do Homem-Aranha no cinema, queda de braço entre a Sony e a Marvel sobre o uso do personagem e fãs cheios de expectativa. Então vemos aí o trunfo maior dessa decisão: fazer um filme de animação pra driblar todos esses problemas.

Um filme de animação. Em uma animação ninguém ligaria muito para a cara, ou a voz, dos atores que interpretam os personagens ou encheria o saco pra manter a cronologia dos filmes da Marvel . Além disso era uma oportunidade única de apresentar pro grande público dois dos personagens mais populares dos quadrinhos: Miles Morales e Gwen Aranha.

Quem acompanha minimamente o mercado de quadrinhos de super-heróis sabe que Miles e essa nova versão de Gwen Stacy tomou de assalto o coração de muitos fãs. Os mesmos fãs que sabiam que muita água teria que rolar antes de qualquer um desses dois dar o ar da graça nos filmes da Marvel Studios. Gwen e Miles não teriam outra chance dessas tão cedo. Dito isso, voltamos para o filme.

Aranhaverso é um filme sobre crescimento, a descoberta de uma nova identidade e o que te faz ser o que você é. Ao longo da história não vemos Miles aprendendo a ser muito mais do que apenas um herói. Essa é a história de um garoto aprendendo a ser um Homem-Aranha. Em tempos de caracterizações equivocadas e adaptações que problemáticas temos um filme com seis, eu disse SEIS pessoas aranha na tela (sete se você contar o Homaranha que vai pra vala logo no início do filme), todos com suas próprias personalidades, estéticas e peculiaridades, mas em todos eles é fácil reconhecer o que faz um Homem-Aranha ser um Homem-Aranha.

Apesar de não parecer, o Homem-Aranha é um personagem trágico. Apesar de não ser nascido da tragédia como o Batman e outros similares, o Teioso é marcado pelas tragédias que apareceram no caminho. A perda é algo tão inerente ao personagem quanto a teia ou os poderes aracnídeos, e é justamente a perda que coloca o Homaranha no caminho do heroísmo. E não importa quantas vezes ele é jogado no não, o Homem-Aranha sempre se levanta. Todos eles sempre se levantam. Se tornar um Homem-Aranha é, acima de qualquer coisa, aprender a levantar quantas vezes for preciso.

Aranhaverso foi uma grata surpresa. Arrebatou o coração de muita gente e ganhou um monte de prêmios, incluindo o Oscar de Melhor Filme de Animação, e teve resultados bons o suficiente pra garantir uma continuação, que chega em 2022. Por fim dá pra dizer que o futuro de Miles Morales no cinema parece bastante promissor, seja nesse ou em qualquer outro universo.

Acabou Game of Thrones

Finalmente terminou. No dia 19 de Maio do ano de Nosso Senhor de 2019 chega ao fim a oitava e a última temporada da série de fantasia de maior sucesso da história recente da humanidade. Há exatos dez dias foi ao ar o último episódio de Game of Thrones.

Depois de quase dois anos de espera, o público estava ensandecido com a promessa de finalmente poder assistir o empolgante final de Game of Thrones. Teorias mil estavam sendo discutidas, apostas na lista de defuntos da temporada foram feitas e só seis episódios de oitenta minutos (mais ou menos) pra resolver toda essa história… Acho que alguns problemas que rolaram já estavam anunciados.

Se você, querida pessoa leitora, não assistiu e ainda pretende assistir aos episódios finais, recomendo que salve a presente publicação e leia depois. Vão rolar uns spoilers meio pesados.

Eu passei muito tempo sem ver Game of Thrones. Pulei, literalmente, quatro temporadas. Esse ano calhou da namorada começar a assistir e acabei vendo uns episódios de uma temporada ou outra e assisti à penúltima temporada. Inclusive as minhas expectativas não estavam lá muito altas, já que a última temporada não foi aquele primor, principalmente porque metade dos diálogos terminava com Daenerys pedindo pra alguém dobrar o joelho.


Também tinha gente falando sobre a galera dobrando o joelho pra ela, o que aconteceu com a galera que não dobrou o joelho, o que ia acontecer com quem ainda não tinha escolhido e essas coisas. Pra completar João das Neves passou a temporada inteira tentando convencer todo mundo que a disputa pelo trono não importava e que todo mundo tinha mais que se preparar pra segurar o apocalipse zumbi que estava vindo de além da muralha… Como desgraça pouca é bobagem, a temporada encerrou com um dos piores romances de todos os tempos.

    Aí pulamos pra 2019 e começa a oitava temporada. Os três primeiros episódios ficaram pra resolver a treta com o Rei da Noite e os zumbis refrigerados, os outros três seriam pra finalizar a disputa pelo trono de ferro e fechar a série. A parada começou até bem, vários encontros e reencontros, nostalgia dos personagens, Brienne virando cavaleiro/cavaleira e essas coisas. Aí entra na parte meio fraca dessa temporada: os episódios de batalha. Os episódios 03 e 05 foram episódios com batalhas que tiveram alguns momentos legais, mas que no geral foram meio monótonos. Só que até aí tava tudo mais ou menos ok, mas eles inventaram que Daenerys tinha que ficar muito pistola.


Deram motivos pra ela ficar assim? Sim. Deram uma exagerada no quanto ela ficou possessa de ódio? Pra caramba. Isso coincidiu com a ideia genial que tiveram de descaracterizar metade dos personagens e tudo ficou um belo de um pedaço de cocô. Depois de um episódio inteiro de destruição gratuita e de gente sendo queimada chegamos ao episódio final. que foi meio…

Obviamente eles precisaram consertar algumas das cagadas que eles fizeram no episódio anterior, mas ainda assim o episódio final tem algumas das cenas mais bonitas e mais simbólicas da série inteira. A minha preferida é a cena que tem um dragão derretendo o Trono de Ferro.

Aí eles resolvem lá as coisas, Jão das Neves passa a faca em Daenerys (antes do dragão derreter o Trono), o movimento republicano de Westeros nasce e morre em cinco segundos, os nobres que conseguiram chegar vivos até aqui escolhem um rei novo, rola aquele final que só faltou casamento pra ser final de novela e vida que segue nos Sete Seis Reinos. Mas foi só lá que acabou mesmo, porque na internet o barulho tava só começando. Até agora tem uma galera grande que tá revoltadíssima com esse final meio qualquer coisa que a série teve. Teve gente que fez abaixo assinado pra refazerem a última temporada usando os livros que vão sair como base, teve gente pedindo pra deixarem os autores da série longe de qualquer produto audiovisual, principalmente porque eles estão confirmados nas próxima trilogia de Star Wars, e tem gente que só tá xingando sem parar mesmo.

Independente do caminho ou da situação, chegamos ao fim de Game of Thrones. Dá pra dizer sem exagero que é o fim de uma era na cultura pop. Faz quase dez anos que essa série existe, faz quase dez anos que ela gera comoção e alimenta a cultura do spoiler. Pela primeira vez em quase dez anos as pessoas não estarão esperando por Game of Thrones. Pela próxima notícia, pelo próximo episódio ou pela próxima temporada. Acabou. Nos despedimos dos rostos que aprendemos a chamar por nomes fictícios e damos por encerrado as suas histórias. Não sabemos quanto tempo vai demorar pra aparecer outra série que durante tanto tempo gere esse tanto de comoção. Também não sei se é certo esperar pelo próximo Game of Thrones, procurar um substituto e usar a série como base pra comparar tudo. Basta saber que acabou, não vai ter nada mais pra frente, mas o que aconteceu pra trás permanece. O inverno ainda está chegando, um Lannister ainda paga suas dívidas, os dragões ainda cospem fogo ao ouvir Dracarys e Jon Snow continua sem saber de nada.

 

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