Horácio era um assassino da máfia. Até um tempo desses ele era o pior assassino da história da máfia, mas depois de dois alvos eliminados (ou quase) ele começou a ser considerado apenas um assassino muito ruim. Tanto que normalmente Horácio era a última opção dos chefes para apagar alguém, mas isso não era garantia de nada.

    A tarde da segunda-feira estava no final. Horácio tinha acabado de fazer a cobrança de um empréstimo. Infelizmente o pobre devedor não tinha o dinheiro… Pelo menos até Horácio quebrar dois ou três dedos dele. A quantia apareceu miraculosamente e Horácio pôde ir embora. Ele estava chegando perto do local combinado para entregar o dinheiro quando o celular tocou.

    — Horácio, preciso que você resolva um problema pra mim — disse a voz do outro lado da linha.

    — Pode dizer, chefe — respondeu Horácio se apegando à esperança de não precisar matar ninguém.

    — Pegaram um dos nossos hoje de manhã e parece que ele vai ser interrogado hoje de noite.

    — Nossos rapazes estão acostumados com esse tipo de pressão, chefe. A polícia não vai conseguir nada.

    — Não é um dos rapazes, Horácio. Pegaram um dos nossos banqueiros… Você sabe que esse pessoal de escritório não tem a fibra do pessoal de campo. Ele vai cantar que nem um passarinho.

    — Nenhum dos nossos policiais pode ajudar?

    — Ele foi pego pela equipe de uma delegacia que não está na nossa folha de pagamento. Não conte com ajuda da lei… Esse cara não pode ser interrogado, preciso que dê um jeito nele.

    — Pensei que os advogados resolviam esse tipo de problema, chefe.

    — Nossos advogados estão marcados, Horácio. Depois do fiasco do mês passado a polícia ficou esperta com eles.

    — Nenhum dos nossos foi detido recentemente?

    — Sempre tem alguém, mas nosso pessoal é esperto o suficiente pra ser preso pelos policiais certos.

    — Tem alguém pra entrar nessa comigo?

    — Fim de semana movimentado, Horácio, precisei dar uma folga pros meninos. Não te preocupa que vai ser coisa simples: entrar, apagar o cara e sair. Se precisar de ajuda pra sair é só ligar, mas a parte de entrar é contigo.

— Considere o trabalho feito — disse Horácio antes de desligar.

Imediatamente ele procurou por um contato da agenda. Felizmente os dedos que Horácio quebrou não impediram o pobre homem de atender o telefone.

— Vou falar apenas uma vez, por isso escute com atenção — disse Horácio assim que a ligação foi atendida. — Você vai ligar pra polícia dizendo que um assaltante chegou aí, quebrou os teus dedos e levou uma quantia em dinheiro. Quando te perguntarem como era o ladrão você descreve alguém parecido comigo. Depois a gente resolve a questão do teu dinheiro.

    Tudo aconteceu exatamente como Horácio planejou. Em menos de meia hora ele estava sendo conduzido para a cela da delegacia. A mesma cela onde estava o banqueiro.

    — Esses policiais andam trabalhando bem até demais — resmungou Horácio da forma mais amigável que pôde.

    O banqueiro era um homem de meia idade, magro e cheio de cabelos grisalhos. Ele parecia nervoso. Nervoso até demais.

    — Eles só estão tentando fazer o trabalho deles — respondeu ele acanhado.

    — Eu também estava tentando fazer o meu… Não que eu estivesse realmente assaltando, mas o cara que me deu o dinheiro não achou isso. E você, amigo? Tá aqui por que?

    — Mexo com dinheiro… Algumas vezes com o tipo errado de dinheiro.

    — Entendi… Olha — Horácio olhou para fora da cela, quando teve certeza que não tinha nenhum guarda por perto continuou. — Acho que posso te ajudar a sair daqui.

    — Não tem  como… Pelo menos não antes do meu interrogatório.

    — Você só precisa ir pra um lugar onde o pessoal dono do “tipo errado de dinheiro” que você mexeu possa te ajudar. A gente finge uma briga, eu te acerto nos lugares certos e eles vão precisar te levar pro hospital.

    — Não tô gostando muito dessa…

    A frase terminou com o punho fechado de Horácio acertando o rosto do banqueiro. Ele só precisava acertar mais alguns daqueles e quando o alvo estivesse desmaiado seria mais fácil. No terceiro soco um policial invadiu a cela e jogou Horácio no chão. O pobre banqueiro estava meio acordado, com o nariz quebrado e cheio de sangue. A viatura saiu com ele dentro alguns minutos depois. Mais ou menos na hora que Horácio conseguiu convencer o guarda a deixá-lo fazer o telefonema ao qual tinha direito.

    — Aqui é Horácio.

    — Espero que tenha resolvido tudo — disse o chefe do outro lado da linha.

    — Quase… Eu tentei simular uma briga e dar um jeito no cara sem parecer que estava tentando dar um jeito no cara, mas…

    — Mas o quê, Horácio? O banqueiro ficou vivo?

    — Sim, mas levaram ele pro hospital. Tem alguém lá pra terminar o serviço?

    — Deve ter, Horácio, alguém bem mais competente que você — o chefe deu um suspiro. — Quer saber, Horácio? Aproveita a chance e tira umas férias na cadeia. Tem um pessoal nosso na penitenciária, eles vão cuidar de você. Depois que você sair a gente conversa.

    O banqueiro permaneceu no hospital durante alguns dias, o suficiente para receber diversas orientações, e algumas ameaças. O interrogatório não deu em muita coisa e ele pôde aguardar em liberdade pelo julgamento. Já Horácio não teve tanta sorte. Ganhou alguns meses de estadia na penitenciária estadual.

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