Vocal, Guitarra, Baixo e Bateria, os quatro elementos fundamentais do 4Ladies. Garotas que ainda nem saíram da escola e já demonstram um nível de comprometimento e dedicação raro na maioria das pessoas com a mesma idade. Para elas a banda é mais do que uma diversão, é um projeto de vida feito em conjunto. Infelizmente nem sempre as coisas são tão fáceis para essas quatro meninas.
Era segunda-feira e Guitarra tinha acabado de chegar da aula. Mais uma vez ela tinha recebido o boletim e mais uma vez ela esconderia bem longe das vistas da mãe. A menina entrou no quarto e procurou pelo case vazio da guitarra que ficava jogado ao lado do guarda-roupa. Abriu o zíper e soltou um pedaço do forro, revelando o paradeiro dos boletins dos dois últimos bimestres, onde o terceiro boletim estava prestes a ser guardado.
— AGNES! — Gritou uma mulher surgida não se sabe de onde.
— AAAAHHHH! — Assustou-se a pobre guitarrista desavisada. — Mãe? É… Oi… Porque a senhora tava dentro do guarda-roupa?
A mãe de Guitarra ainda estava parcialmente coberta com as roupas da filha quando saiu de dentro do guarda-roupa.
— Eu sabia que você tinha dado sumiço nos boletins, pensou que ia sair dessa ilesa? Cadê? Eu quero ver esses boletins.
— Mãe, vai por mim, a senhora não quer ver esses boletins — respondeu Guitarra tentando manter a calma. — Vamos manter a situação das minhas notas longe dessa casa, não gosto de trazer os problemas de fora pra cá.
— Agnes, você tem três segundos pra me dar esses malditos boletins.
Ela só precisou de um segundo.
— Que notas são essas, Agnes? Que tanto vermelho é esse? Um bicho morreu por cima desses boletins?
— Ah, mãe… É que a escola tá muito complicada e…
— E mais nada! A senhorita vai dar um jeito de recuperar essas notas… E nada de guitarra enquanto não tiver melhora.
— Não, não, nãonãonãonão — repetiu Guitarra sem querer acreditar. — Por favor, mãe. Eu estudo, eu tiro nota boa, prometo, mas não me deixa sem guitarra… A gente finalmente arrumou um lugar pra tocar, a gente não pode deixar essa passar.
— Quando vocês tocam?
— Daqui a duas semanas mais ou menos.
— Pode tocar com suas amigas, mas SÓ se começar a estudar, e depois desse show a senhorita só encosta nessa maldita guitarra depois que as notas saírem.
— Mas…
— Sem “mas” — interrompeu a mãe. — Se reclamar eu jogo essa guitarra no rio.
A conversa acabou ali, mas imediatamente Guitarra convocou uma reunião da banda. Normalmente elas trocavam mensagens, mas esse assunto era muito sério, era melhor fazer uma videoconferência. Vocal, Baixo e Bateria ligaram seus computadores imediatamente. A conversa só começou de verdade quando Guitarra terminou de contar a história toda.
— Tu é MUITO BURRA, Guitarra — explodiu Bateria. — Como é que tu me tira esse tanto de nota vermelha?
— Te dana, Bateria. Até parece que só eu aqui tiro nota vermelha.
— Eu já estou quase passada de ano — disse Vocal meio sem jeito.
— Eu só tô abaixo da média em duas — ostentou Bateria.
— Chega dessa conversa de “o meu é maior que o seu” e vamos focar no problema — cortou Baixo.
— Baixo tá certa, a gente precisa dar um jeito nessa situação — continuou Vocal.
— Na verdade a gente não precisa fazer nada — ressaltou Bateria. — É só essa bandida estudar em vez de ficar tocando guitarra o tempo todo.
— Eu estudo guitarra, imbecil — rosnou Guitarra. — Coisa que você devia fazer de vez em quando.
— Se eu fosse ruim que nem você eu ia precisar estudar um bocado também — provocou Bateria.
— Da próxima vez que a gente se encontrar eu vou quebrar minha guitarra na sua cabeça.
— Meninas! — Interrompeu Vocal. — Foco no problema.
— Foi mal — se desculpou Bateria. — Quem pode ajudar Guitarra a estudar? Eu estou um ano na frente dela, mas ano passado eu fui bem mal na escola.
— Vocal tá um ano atrás, nem vai poder me ajudar… Acho que sobrou pra você, Baixo.
Baixo estudava na mesma escola que as outras meninas e era a única da banda no mesmo ano que Guitarra, elas até chegaram a estudar na mesma sala algumas vezes.
— Sei não… — resmungou Baixo. — A gente já tentou estudar e não deu muito certo.
— Baixo já tentou me ensinar matemática uma vez e… — começou Vocal. — Bem… A gente não quis tentar de novo.
— Faz pela banda, miga — suplicou Bateria.
— Por mim, Laila — apelou Guitarra.
— Tá bom, eu ajudo. Mas só dessa vez e só até as próximas provas… A gente ainda nem começou e eu já tô arrependida.