Outro dia estava eu conversando com minha costela sobre o texto que eu escrevi ano passado quando cheguei à cabalística idade de trinta anos. Caso você, cara pessoa leitora, não tenha passado seus olhos sobre o texto em questão recomendo a leitura, não que seja necessária pra entender o resto do que eu pretendo escrever hoje, mas é uma leitura agradável, pelo menos eu acho. Então entre nesse link aqui, dê uma lida e volte pra continuar a conversa.
Apesar de ser um texto bem otimista a meu ver, a tal publicação temática dos trinta anos deixou minha lady meio pra baixo. Conversando mais um pouco, ela disse que queria que eu escrevesse algo mais pra cima, pra dar uma animada, uma motivada. Em outros tempos, quando a máquina da escrita estava mais lubrificada eu teria aceitado o desafio e escrito alguma coisa, mas a ferrugem consome minhas juntas criativas e a inspiração se faz necessária pra produzir algo que seja realmente legal. Me vi obrigado a negar o pedido.
Mas as engrenagens começaram a se mexer.
Uns dias depois, em um momento de esvaziamento total do pensamento me veio na cabeça uma frase que pra mim é bem familiar: “Onde estão o cavalo e o cavaleiro?”. Se você sofre do mesmo nível de nerdice que eu deve ter reconhecido a citação, se você não sofre precisa de uma dose de contexto. Essa fala pertence ao Rei Théoden, personagem que nos é apresentado no segundo filme, ou no segundo livro, da trilogia O Senhor dos Anéis. Na cena o rei recita alguns versos de uma canção que aparece originalmente nos livros, sendo cantada por outro personagem. A cena inteira você pode ver aqui embaixo.
Caso você não queira assistir essa cena, uma das minhas preferidas da trilogia, ou caso o vídeo não se encontre mais disponível, coisa que acontece com uma certa frequência, eu vou transcrever aqui os versos com uma leve alteração na tradução pra que ninguém fique perdido na conversa.
Onde estão o cavalo e o cavaleiro?
Onde está a corneta que soava?
Eles passaram como chuva nas montanhas
Como vento nas pradarias
Os dias se puseram no Oeste
Por trás das colinas
Dentro das Sombras.
Se tirarmos todo o verniz de ficção fantástica, esquecermos dos elfos, anões, magos, orcs, anéis mágicos e das pessoas de um metro de altura que fazem sete refeições por dia, mas que passam a maior parte da história comendo brownie vegano, não é difícil notar que Senhor dos Anéis é recheado com uma boa dose de melancolia. É uma obra que conta uma história que se passa em um mundo que já não é mais tão mágico quanto já foi um dia e que nunca mais será como já foi, principalmente depois do final da história. Confesso que essa descrição me parece muito familiar.
As coisas passam pelo mundo, o mundo passa pelas coisas e é assim que funciona. Em Senhor dos Anéis temos personagens que enchem suas asas com os ventos da mudança, o primeiro filme começa com o icônico “O mundo mudou” dito pela voz galadriética de Cate Blanchett. Curiosamente os personagens que se apegam ao passado glorioso que não existe faz muito tempo e se recusam a aceitar o novo são os que se perdem, se corrompem, fadados eternamente à prisão do chão com suas asas atrofiadas.
Mas não é linda e maravilhosa a trilha dos heróis da história, assim como não é a trilha de todo aquele que percorre o seu caminho olhando pra frente… Ou pra trás, ou pra qualquer pessoa que percorra qualquer caminho. A esperança é o que muitas vezes acende o coração daqueles que persistem. Muitas vezes o único combustível que resta, ainda assim o que muitas vezes se esgota. Diante da grande sombra que estende seus dedos sobre todas as pessoas, encontramos a fagulha que inflama no inesperado que nos encontra na virada da maré. Em um mundo que nos ensina que só existem vencedores e perdedores, muitas vezes só precisamos lutar até que a luta acabe. Resistir até o sol nascer. Mesmo que a aurora não traga ajuda alguma, um pouco de luz pode fazer toda a diferença.
Não sei exatamente onde eu queria chegar com tudo isso que está escrito nesta breve (mas nem tanto) publicação. Provavelmente consegui chegar em algum lugar, não sei exatamente onde, mas é isso aí. Nos vemos na próxima.