Não é um blog sobre cachorros e bikinis

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Star Wars Episódio IX: Não Vai Ter Mais Skywalker

Quatro anos. Parece que foi um dia desses, mas faz pouco mais de quatro anos que eu escrevi sobre Star Wars pela primeira vez nessas mesmas páginas azuladas. O ano era 2015, eu tinha acabado de ver o Episódio VII, primeiro filme da (mais) nova trilogia de Star Wars. Dando uma lida rápida na publicação daquele dia 23 de dezembro, consegui reviver parte daquele sentimento. De toda a expectativa e de toda esperança que eu tinha nos filmes novos. Aí veio 2017 e com ele o Episódio VIII que foi por uma direção meio… Inesperada. Mais uma vez expectativas foram criadas só que, ao contrário de antes, daquela vez eu não sabia o que esperar da última parte dessa trilogia. Não demorou tanto assim e chegamos ao fatídico 19 de dezembro do recém falecido ano de 2019, quando finalmente estreou:

Star Wars Episódio IX: A Ascensão Skywalker. Um título que gerou tantas ou mais teorias quanto Os Últimos Jedi do filme anterior. Ninguém sabia de que Skywalker estavam falando e nem que ascensão poderia ser essa. Até então a única certeza era que a galera responsável pela história do filme acabou trazendo de volta uma das piores coisas do antigo Universo Expandido: o Imperador.

Vilão maior das duas trilogias anteriores, o Imperador teria originalmente encontrado seu fim no Episódio VI: O Retorno de Jedi (o filme tem quase quarenta anos, isso não é um spoiler), mas histórias posteriores, nenhuma delas em formato de filme ou especial de fim de ano, acabaram trazendo ele de volta dos mortos usando alguma desculpa mirabolante. Histórias que tinham perdido a validade quando a Disney resolveu reformular o cânon e eliminou todo o antigo Universo Expandido. Eliminou só pra poder dar aquela peneirada e trazer de volta qualquer coisa que interessar. Não sei por que seria interessante tirar da cartola a revelação de que na verdade o vilão dos primeiros seis filmes na verdade era o vilão por trás das tretas de todos os nove filmes. Essa foi uma das primeiras coisas reveladas sobre o Episódio IX e uma das poucas coisas que eu fiquei sabendo antes de entrar no cinema. O resto era tudo especulação.

Eis que chegou o dia de ir pro cinema. Eu sento na poltrona. As luzes se apagam. Sobe a música tema e entram as letras amarelas.

Respiro fundo e me ajeito no meu assento e… Foi só isso. Por algum motivo que não sei explicar, eu estava lá vendo um Star Wars que não me fazia sentir como se eu estivesse vendo Star Wars. Provavelmente essa é a melhor forma de definir minha experiência com o filme: não tinha gosto de Star Wars. Não consigo dizer o que estava faltando. Não sei se foi o ritmo, alguma coisa no visual ou na forma como a história começou, mas alguma coisa não estava lá e quando essa coisa começou a aparecer um pouco já foi tão perto do fim que nem fazia lá tanta diferença.

Sem entrar muito no enredo do filme dá pra resumir boa parte do que eu desgosto dele em uma imagem:

Não faço parte daqueles que acham que Os Últimos Jedi é um filme perfeito e irretocável, mas quando o último filme, de uma série de três, estabelece que boa parte do que aconteceu no filme anterior não é lá muito importante. Não faz muito bem pro conjunto.

Mesmo não parecendo, tem algumas coisas realmente boas nesse filme… Só que elas ficam mais por conta de alguns personagens. Kylo Ren segue em uma escalada rumo à redenção como personagem, abandonando de vez aquela caricatura pintada no primeiro filme. C-3PO faz uma das suas melhores participações de toda a franquia, assim como Chewbacca que segue se superando a cada filme. Os conflitos de Rey ganham um pouco mais de corpo, apesar de terem dado uns três passos pra trás e avançado numa direção meio esquisita, o que faz ela tomar umas decisões meio questionáveis… Se o roteiro ajudasse um pouquinho mais ela estaria bem melhor nesse filme. Na verdade todo mundo estaria melhor nesse filme se o roteiro ajudasse um pouquinho mais.

Chegamos ao fim, da trilogia, da saga e do texto. O Episódio IX não só encerra a sua própria trilogia, ele encerra uma saga inteira. Se a Disney estiver falando a verdade, não vai ter mais nenhum Skywalker dando pinta de Jedi nos futuros filmes da franquia. Não se sabe bem o que vai acontecer com Star Wars além das séries prometidas pro serviço de streaming da Disney e das datas marcadas a partir de 2022 para novos filmes. Parece muito tempo, mas se levarmos em conta que o tempo entre trilogias nunca foi inferior a dez anos, dá pra dizer que a gente não vai esperar tanto assim.

 

Ficando Velho Cada Vez Mais Novo

Essa semana estava eu procurando coisas pra ouvir. Dei uma passeada na lista de artistas que eu sigo no Spotify e resolvi jogar na fila de reprodução os discos que saíram esse ano. Puxei rapidamente da memória alguns fulanos que tinham disco recente e fui lá catar as músicas pra jogar na fila. Fui lá no primeiro artista todo animado e descobri que o disco do cara era do ano passado. Passei para o próximo, para o seguinte e o que veio depois dele, quase todos tinham discos que datavam de 2016. Obviamente minha reação inicial foi:

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Parei pra pensar um pouco sobre a questão e acabei achando a explicação na obra de uma pessoa que parece entender muito de como funciona o mundo: Neil Gaiman. Lá em Sandman ele define que os Perpétuos, seres imortais próximos do que entendemos como divindade, têm uma percepção diferente do tempo conforme a idade deles avança. Um Perpétuo recém nascido provavelmente percebe o tempo como nós percebemos, com as horas, dias e anos com a duração padrão, um Perpétuo com milhares de anos provavelmente sente o tempo passando bem mais rápido. Imediatamente eu pensei em algo que já vem martelando na minha cabeça faz algum tempo. Eu olhei pra mim mesmo e pensei “eu tô velho mesmo”.

Uma certa vez uma amiga minha me mandou uma playlist com o sugestivo título de “ficando velho cada vez mais novo”. Você pode ouvir ela logo aqui embaixo.

Não preciso dizer que nenhuma das músicas dessa lista é nova, a mais recente tem quase dez anos. Dez anos que englobam praticamente todos os eventos e coisas que eu tenho na minha cabeça como coisas recentes. Qualquer coisa que ocorreu a menos de quatro anos aconteceu “um tempo desses” e é muito fácil confundir os acontecimentos de um ano com os do anterior. Também não é difícil levar um susto ao descobrir que coisas que aconteceram ontem já têm mais de cinco anos e que boa parte das crianças que eu conheci já estão na faculdade ou que os bebês já sabem ler. Aí chego à questão crucial desta dissertação. Como a gente tá ficando velho tão rápido?

A definição de velho é bastante abrangente. Em valores absolutos a velhice só chega quando a gente já passou um tanto bom da metade dos nossos anos estimados de vida. Em valores relativos depende muito de quem observa. Uma pessoa idosa pode não me achar velho enquanto um adolescente pode pensar exatamente o contrário. Mas e a gente? Como é que a gente chega à conclusão de que tá velho?

Pessoalmente considero que você se sente velho quando de alguma forma a idade pesa. Seja na dor das costas depois de sentar numa posição errada ou nas marcas dos anos que a gente vê no espelho. Qualquer período de tempo inferior a dois anos parece pouco e você lembra de um monte de coisa que existiam até um dia desses, mas que uma geração inteira não vai fazer ideia do que é. 

Ficar impressionado com as facilidades mais bestas da tecnologias e usar com uma frequência razoável expressões como “no meu tempo” e “antigamente”.

Assim como a percepção do tempo é relativa, podemos dizer que a percepção da própria idade é tão relativa quanto. Enquanto eu já vivi, em termos numéricos absolutos, duas vezes mais do que algumas pessoas que eu conheço, não vivi nem um terço do que viveu meu avô e nem metade do que viveu meu pai, chegarei a essa marca no ano que vem. Mesmo me achando velho quando eu olho no calendário, por dentro eu ainda não me sinto com essas idades todas. A falta de maturidade e uma aversão ao comportamento adulto padrão estão ajudando nesse sentido. Fico pensando quando eu não só me sentirei, mas de fato estarei velho. Fico pensando como é ter a idade dos meus avós e se o tempo vai parecer mais ligeiro do que me parece hoje… Ia concluir, mas esqueci como era pra terminar, deve ser a idade

Rogue One e A Rebelião que Vale

    Na última quinta-feira, também conhecida como dia 15 de dezembro, estreou nos cinemas Rogue One: Uma História Star Wars. Um filme que prometia não só contar o roubo dos planos da Estrela da Morte, planos que movem toda a trama do primeiro filme lá de 1977, e mostrar que o universo de Star Wars não é só gente com sabre de luz e os problemas familiares dos Skywalker. E nesse segundo ponto que o filme faz valer um post.

    Faz 39 anos que o primeiro Star Wars chegou no cinema. Faz 39 anos que as tramas dos filmes tem relação com algum Skywalker e faz 39 anos que a tal galáxia muito muito distante é virada do avesso por causa dessa família do barulho que se mete em altas confusões. Esse ano resolveram acabar com a ditadura Skywalker e mostrar que Star Wars é tão grande quanto a galáxia onde as histórias se passam.

    Antes de ver o filme, li muita gente falando que Rogue One tinha um jeitão de Império Contra-Ataca. Isso é um elogio e tanto, levando em consideração que o Episódio V, além de ser o MELHOR filme da franquia, é o Star Wars que tá na cabeça de todo mundo. Sabe a Marcha Imperial? É do Episódio V. Lembra de Yoda ensinando Luke a usar a força? Também aconteceu no Episódio V. Obi-Wan Kenobi aparecendo como fantasma, a cena das naves rebeldes derrubando os walkers imperiais com cabos de tração, ou o romance de Leia e Han e Darth Vader sendo vilão no sentido mais forte da palavra? E de uma das frases mais icônicas do cinema?

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    O Episódio V mostra tudo ainda acontecendo. Começa no meio da história, apresenta um monte de conflitos que, quando são solucionados, dão um final pro filme, mas não dão um final pra história. Os personagens ainda estão crescendo, as peças ainda estão se movendo no tabuleiro e tudo é só uma preparação pro final daquela história. Rogue One é exatamente isso, principalmente na parte do Darth Vader sendo vilão no sentido mais forte da palavra, mas consegue ainda mostrar um lado do Star Wars tão pouco explorado que chega a ser ignorado nos outros filmes. Rogue One é uma história sobre pessoas, pessoas excepcionais. Pessoas excepcionalmente comuns.

    A gente pode definir esse filme como um “Star Wars Chão de Fábrica”. Apesar de vitais nas suas próprias histórias, os personagens principais não são, pelo menos até em certo ponto da trama, importantes dentro do universo do filme. Nenhum deles é o último de uma ordem ancestral de guerreiros místicos, uma representante de um planeta no senado galático ou um contrabandista famoso com a cabeça a prêmio. São espiões, assassinos e sabotadores. Aqueles caras que normalmente são interpretados por atores que entram mudos e saem calados. Personagens que normalmente não chegam nem aos pés das habilidades dos heróis da história. Aqueles que mais sofrem as consequências do conflito entre o Império e a Aliança Rebelde.

    Eu posso continuar listando um monte de coisas, mas pra mim a melhor parte de tudo é: NÃO TEM JEDI.

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    Rogue One provavelmente foi o filme que mais me deixou na carência de Star Wars. Entre o sábado, quando assisti o filme pela primeira vez, e a terça, quando vi o filme pela segunda vez, eu reassisti a trilogia clássica, assisti uns 5 episódios da segunda temporada de Rebels e marquei jogatina de dois jogos de Star Wars diferentes. Além de ter conversado muito sobre o filme por aí.

    Rogue One foi o primeiro filme do universo Star Wars que não tem um número, não faz parte de uma trilogia e não tem nenhum Skywalker gerando a treta. Foi provavelmente o Star Wars com mais pluralidade étnica e com mais mulheres com papéis de destaque. Foi o Star Wars com mais cara de guerra nas estrelas e fora delas. Se pensarmos direito, esse One no nome do título é merecido. Rogue One não foi só pioneiro em alguns sentidos, mas também se tornou algo único. Mesmo que façam algo parecido, ainda vai ser algo “tipo Rogue One”. Ele pode não ser o melhor filme da franquia Star Wars, mas sem sombra de dúvida ele tem o melhor da franquia Star Wars nele.

Ah, e para aqueles que reclamaram de ter mais um filme com uma mulher de protagonista, eu só digo que Mel Lisboa Jyn Erson é a melhor rebelde de todos os tempos.

A Mentira Nossa de Cada Fim de Ano

Dezembro está no ar e com ele a temporada de fim de ano. Essa época tão peculiar do ano que é carregada de mentiras e enganação. E foi por causa de um amigo meu que eu parei pra pensar em como o fim de ano é um aglomerado de mentiras, invenções e derivados.

A mentira já começa na infância, onde somos induzidos a pensar que os presentes que ganhamos são trazidos por um velho escandinavo obeso que voa pelo mundo em uma velocidade sub-lúmica em seu trenó puxado por renas voadoras. A pior parte disso tudo é que os nossos pais, que normalmente compram os nossos presentes, não recebem nenhum crédito. Mesmo gastando um pedaço considerável do seu salário, nossos pobres genitores têm seu esforço eclipsado pela figura vermelha e redonda vinda sei lá de onde. A pior parte disso é que normalmente são eles que nos induzem a acreditar no velho Noel.

Outra mentira contada é sobre o clima natalino. Por causa dos filmes, séries, desenhos e afins que consumimos, somos levados a pensar no natal como uma época cheia de neve, com pinheiro pra todo lado, boneco de neve e essas coisas. Todos os enfeites remetem a neve, frio, gelo, inverno e essas coisas que só existem nos países mais pra cima do globo. Só que nós vivemos, como diz aquela música, rente aos trópicos, onde as águas de março costumavam (em alguns lugares ainda costumam) fechar o verão. Note que são as águas DE MARÇO que acabam com o verão e fazendo a conta inversa é fácil perceber que o nosso natal acontece no começo do verão. Ou seja, não dá nem pra dizer que tá pegando uma brisa fresquinha no natal, quanto mais associar o aniversário de Jesus com alguma coisa fria. E isso me lembra mais uma invenção do fim de ano.

Não sei se você sabe, mas em lugar nenhum da bíblia tem dizendo quando Jesus nasceu. É bem provável que ele tenha nascido no meio do ano, já que o relato biblíco fala de pastores dormindo no meio do campo e acordando com um coral de anjos e em dezembro faz muito frio lá pros lados da palestina, impossibilitando os pastores de dormirem ao relento com seus animais. Aí você pode estar se perguntando: “e de onde a gente tirou que Jesus nasceu no natal?”. Devemos isso aos nossos compadres romanos, que estavam numa vibe de adorar um deus chamado Mitra antes do imperador se converter a uma religião quase recém nascida chamada cristianismo. Por causa disso os cristãos deixaram de ser comida de leão do coliseu e o imperador decidiu que todo mundo tinha que ser cristão junto com ele. Mas até pro imperador romano é meio ruim de convencer todo mundo a mudar de crença do nada, por isso ele aproveitou que Mitra tinha uma história parecida com a de Jesus, instituiu o aniversário de Cristo no fim do ano e pediu pra galera bater parabéns pra ele em vez de fazer isso pra Mitra.

Como você pode ver o final de cada ano é cheio de enganação e de histórias mal contadas. Praticamente tudo que a gente faz não tem o seu propósito original ou é a adaptação de alguma coisa mais antiga. No final todos nos deixamos enganar, até porque uma coisa que costumamos evitar no fim do ano é parecer chato, e ficar reclamando de todas essas mentiras contadas desde sempre nos faz parecer bem azedos.

2016, Um Ano para Recordar (?)

    Esse ano um evento movimentou as interwebs. Do nada os meus feeds foram invadidos por todo o tipo de manifestação apaixonada, sites que eu visito começaram a falar sobre isso, podcasts que eu escuto foram afetados e pessoas que eu conheço foram totalmente absorvidas pela magia desse acontecimento. Esse ano rolou o retorno/despedida de Gilmore Girls. Aqui no Brasil a última temporada das Lorelai lá ganhou um subtítulo bastante sugestivo: Um Ano para Recordar. Depois de filtrar todo esse excesso de nostalgia e overdose de Lorelai, café, diálogos rápidos e fãs tirando a poeira do Stars Hollow que existe dentro de seus corações, meu cérebro começou a trabalhar.

2016 está no fim. Hoje é o último dia de novembro e amanhã começa oficialmente o fim do ano. Finalmente os enfeites de natal estarão dentro do contexto, os comerciais da Coca-Cola vão mostrar a magia dessa época e vão começar a anunciar a programação de fim de ano da Globo. Pensando sobre o final de mais um ciclo solar e em todas as desgraças coisas que aconteceram nesses trezentos e trinta e poucos dias me veio a seguinte questão: 2016 é um ano para recordar?

Nem sempre os anos são memoráveis. Muitas vezes os anos são tão qualquer coisa que a gente vive lembrando das coisas que rolaram nele como se acontecessem em algum outro ano que foi mais relevante. Outras vezes os anos são tão bons que a gente nem se incomoda dele demorar um pouco mais a passar, outras vezes o bom e o ruim se equilibram de tal forma que fica difícil de saber se o saldo do ano foi negativo ou positivo. Algumas vezes os anos são 2016.

É bem provável que 2016 termine com um saldo negativo pra maioria das pessoas, mas de todo jeito algumas coisas boas aconteceram em 2016 pra todo mundo. Olhando para o calendário eu vejo que o ano pareceu longo por causa do tanto de coisa que aconteceu e quando eu penso mais um pouco vejo que apesar de muito canalha, 2016 foi um ano que trouxe consigo muitas coisas legais. Talvez não em número suficiente pra suplantar as coisas boas, mas em número suficiente pra nos fazer aguentar até agora esse ano cão. É só procurar que dá pra achar, é só catucar que aparece é só raspar que eu tenho certeza que tem.

É bem provável que o meu 2016 seja melhor de lembrar do que foi de viver. Inclusive algumas das coisas boas desse ano aconteceram dentro das páginas deste humilde blog. Conquistas pequenas como a publicação de número cem, os cinquenta contos de segunda, a página do Facebook e o primeiro aniversário, são tão significativas e tão banais quanto todas as outras pequenas coisas que aconteceram fora da internet. Em algum momento algo bom aconteceu no 2016 de todo mundo. Nem que seja o retorno/despedida de uma série que mora no coração.

Outubro

    No Dia das Crianças eu lembrei aqui no blog que no ano passado o Cachorros entrou em férias durante o mês de outubro e nada além de uns dois ou três contos foi publicado. Obviamente eu me esqueci de fazer um comentário sobre esse mês que pra mim é cheio de significado.

Outubro é o primeiro mês do fim do ano. Se o ano só começa depois do carnaval, é correto dizer que ele acaba depois de outubro. Até por que nossos amigos Novembro e Dezembro costumam passar tão rápido que mais parecem um mês só. Olhando por esse prisma temos o nosso querido mês dez como o verdadeiro último mês do ano.

Paremos pra pensar um pouco. Outubro possui apenas um feriado, assim como a maioria dos meses, Novembro e Dezembro possuem dois. Caso Nossa Senhora da Conceição tenha muitos fãs na sua cidade, como é o caso da capital pernambucana, onde eu trabalho, e de Moreno, onde eu resido, Dezembro tem três feriados marotos pro seu ritmo de final de ano passar da marcha lenta pro ponto morto.

Também é nos dois meses finais do ano que o Papai Noel do brasileiro chega. Obviamente estou falando do nosso amigo 13º que nos traz tanta felicidade, alegria e dispara nos nossos cérebros o gatilho das festas de fim de ano. É só a primeira parcela cair na conta que já dá pra escutar Simone cantando dentro da cabeça. Coisa que já não acontece em Outubro. No mês dez a gente ainda tá com a marcha na cadência do tempo acelerado, ainda no embalo da falta de feriados de Agosto e já sentindo a vontade do ano de se acabar logo.

Não podemos esquecer que Outubro é rosa. É nesse mês maravilhoso que rola uma das campanhas mais importantes do ano: a campanha de combate e prevenção do câncer de mama. Que afeta a vida de muitas mulheres todos os anos. Vou deixar anotado aqui pra indicar de alguma forma que o Cachorros de Bikini apóia o Outubro Rosa. Em 2017 a gente vê como fazer isso.

Outubro é um mês bem importante na minha vida. Começa que foi o mês em que, 27 anos atrás, meus pais se casaram. Também foi nele que nasceu minha irmã, a pessoa que não só completou a família, mas também a lotação do carro e garantiu que a gente sempre teria uma desculpa pra negar carona pros outros. Cabe ressaltar que eu não costumo sentir o peso da idade no meu aniversário, eu sinto no dela. É quando eu realmente percebo como a vida passa rápido e o tanto dela que já passou. Em Outubro também teve o casamento do meu irmão, momento único e até então inédito na nossa família. Assim como o aniversário da minha irmã, o casamento do meu irmão foi uma evidência irrefutável de que a vida adulta tinha chegado pra ficar, não só pra mim, mas pra todos os nossos amigos que têm uma idade parecida com a nossa.

Mais 12 dias e começa o fim do ano. Já já começa a torcida pra chegar logo o ano que vem, aquele papo de que esse ano já deu o que tinha que dar e tudo mais. De fato o ano não tarda a encerrar suas atividades. Todo aquele clima de final de ano vai tomar conta de tudo e a sensação de fechar mais um ciclo sempre nos faz pensar na vida… Mas pra mim nem tanto. Tudo que eu tenho pra pensar na vida eu acabo pensando em Outubro.

Nota 5,0… Parabéns!

Posso estar enganado, mas eu tenho certeza de que todo mundo que gosta de escrever começou essa paixão nas aulas de redação. Comigo não foi diferente, até o segundo ano do ensino médio redação era uma das minhas matérias preferidas, desde aquele tempo eu dava umas viajadas e fazia minhas primeiras experimentações. Minhas notas me estimulavam a fazer isso e na minha cabeça juvenil eu era um excelente aluno de redação. Na minha cabeça juvenil eu me via praticamente como um escritor profissional, mas isso durou até exatamente o segundo ano do ensino médio. Meu terceiro ano provou que a vida não era essa maravilha toda, tanto que quando eu penso em redação apenas o ano de 2007 vem à mente. Inclusive foi a pedido de um dos amigos que testemunhou esse suplício que farei provavelmente o relato mais sincero de toda a história do Cachorros de Bikini.

    Nove anos atrás, no ano da graça de nosso Senhor de 2007, eu tinha 16 pra 17 anos, estava concluindo o ensino médio e o fim do mundo já estava marcado pra depois do vestibular. Naquele tempo eu era um bom aluno e tirava boas notas, eu tinha tudo pra acreditar que o terceiro ano seria cheio de notas boas que nem os anos anteriores. Eu estava redondamente enganado. Apesar de passar o ano me lascando um pouco e tendo um desempenho inferior ao dos anos passados, o resultado no geral foi positivo. Eu conseguia conviver com os resultados médios ou negativos na maioria das matérias, na verdade praticamente em todas exceto uma. No terceiro ano do ensino médio eu tirei todas as notas vermelhas em redação da minha vida e isso foi pra mim uma espécie de passeio no inferno.

    Eu estava confiante que toda a experiência em redação acumulada ao longo dos anos me garantiria mais um ano tranquilo no campo da escrita curricular obrigatória, mas eu acabei dando de cara numa barreira. A barreira em questão tinha os cabelos bem curtos, os olhos claros, normalmente usava batom vermelho, atendia pelo nome de Edvânea e também era conhecida como a professora de redação, português e literatura. De longe uma das melhores professoras eu tive na vida, a mesma que nunca me deu uma nota maior que 5,0 em redação.

    Edvânea foi o adversário que eu nunca consegui superar. Eu digo adversário, não por que ela me dava 5,0 de propósito, mas por que ela me desafiava. Ela soltava os leões no coliseu e depois de me ver suar, lutar, sangrar e matar as feras, colocava o polegar pra baixo, fazia a caneta dançar sobre o fruto do meu trabalho e me entregava o simbolo incontestável da minha retumbante derrota. Vermelho, sempre em vermelho. Vermelho como sangue, vermelho do batom, vermelho da tinta da caneta, vermelho da minha nota. O mesmo vermelho que gritava pra todo mundo ouvir o tamanho da minha incompetência, que atestava a fraqueza das palavras derramadas sobre o papel. Em 2007 vermelho era a cor da minha vergonha.

    Sim, vergonha. Era isso que eu sentia sempre que recebia a nota de redação. Sempre que eu via os mesmos amigos que me reconheciam como um ótimo aluno de redação com notas muito maiores que as minhas. Lembro de forçar minha criatividade até o limite, de tentar ao máximo ousar dentro das fórmulas das redações dos vestibulares. Obviamente nada disso interessava muito, ou quem sabe eu não estivesse fazendo as coisas tão bem quanto pensava, e o resultado quase sempre era o mesmo: nota 5,0. Talvez você esteja pensando que 5,0 não é uma nota tão vermelha assim, mas vale lembrar que Edvânea nunca dava menos que 5,0… Quase nunca, já que em uma certa ocasião, beirando o desespero de conseguir uma nota decente, li errado o tema da redação, escrevi uma parada totalmente nada a ver e tirei um maravilhoso 2,5. Gosto de pensar nessa nota como o único mérito que minhas redações tiveram naquele ano, com a pior nota que foi dada nas quatro turmas de terceiro ano de 2007 no Colégio da Polícia Militar de Pernambuco.

    Quando eu paro pra pensar nesse pedaço da minha vida escolar só consigo encará-lo como um grande exercício de humildade. Foi em 2007 que toda a minha vaidade em relação ao que escrevo foi evaporada. Foi quando eu aprendi que aquilo que eu achava do meu próprio trabalho não servia pra muita coisa. Bom ou ruim é o leitor quem diz e isso me faz lembrar que na última redação que eu fiz deixei um recado. Pedi gentilmente que aquele 5,0 fosse dado com uma caneta azul, é uma pena que a última redação era uma prova final e eu nunca vi aquela “nota azul”. Lembro que na última vez em que nos vimos ela me garantiu que meu pedido foi atendido. Foi no teatro da UFPE, na colação de grau das turmas do terceiro ano e não por um acaso Edvânea usava um vestido vermelho. Vermelho como as poltronas do teatro, vermelho como a cor da tinta da caneta, vermelho como o batom, vermelho cor de 5,0.

Fogos!

Mais uma vez chegamos ao 24 de Junho, dia de São João, uma das maiores festividades deste lado do universo e de longe uma das minhas épocas preferidas do ano. E talvez os maiores protagonistas desse festejo todo  sejam os fogos de artifício.

Quando pensamos em fogos de artifício nos vem à mente aquela coisa bonita inventada pelos chineses, que nos deixa encantados com tamanha beleza ao iluminar o céu com suas cores diversas e efeitos variados. Tirando uma ou outra exceção, na prática os fogos fazem barulho e só. Os fogos mais elaborados são muito caros ou apresentam um potencial destrutivo muito baixo, por isso são sumariamente ignorados ou comprados em pequena quantidade. Afinal a principal função dos fogos é ajudar a simular um conflito armado.

Quando Junho chega um instinto coletivo desperta nas pessoas. Não acontece com todo mundo, mas uma boa quantidade de gente começa a sentir uma necessidade extrema de comprar artefatos pirotecnicoexplosivos com formas e potências variadas para criar as mais ruidosas explosões no dia do principal santo do mês seis, de modo que o barulho da noite do dia 23 poderia ser usada como efeito sonoro de algum filme de guerra. Bombas grandes, pequenas, palitinhos, traques de massa, espirros de bode, peidos de véia são alguns dos nomes dados aos pipocos de São João. Obviamente existem os foguetes e rojões que figuram o céu nublado do dia 23, normalmente com algumas poucas cores e bastante barulho.

    Tais artefatos normalmente são trazidos pelos mais peculiares comerciantes e estabelecimentos. Não preciso nem dizer que algumas muitas normas de segurança são ignoradas e que boa parte dos comerciantes não está capacitado para vender artefatos inflamáveis e explosivos, vide as instruções capengas que eles costumam dar ao questionados sobre o manuseio de fogos mais elaborados e a propaganda que eles fazem dos produtos com frases do tipo “esse aqui um menino usou pra explodir o banheiro de uma escola lá em Jaboatão”.

Pra mim os fogos são parte do tempero que dão o gosto de infância pro São João. Dependendo do ano é possível andar na rua e sentir o cheiro de pólvora desde o final de maio, cheiro que me avisa que essa época boa do ano tá chegando.

Contos de Segunda #45

Erick caçava dragões. “Caçava”, hoje em dia não caça mais. Além de ser muito perigoso, muitas vezes chato e normalmente solitário, o sindicato conseguia deixar tudo ainda pior. Por causa de um dragão ele deixou essa vida de caçar dragão. Isso fez Erick e o dragão em questão se tornarem grandes amigos… Mas não ajudou a pagar as contas. Diante da perspectiva de falência, Erick deixou sua amizade com o dragão de lado e partiu em busca de trabalho.

    Ultimamente alguns reinos estavam em guerra e todo mundo estava meio perdido. Muitos fazendeiros estavam sem fazenda, soldados sem exercito, cavaleiros sem cavalo e taverneiros sem taverna. Muitas dessas pessoas acabavam fugindo para os reinos que estavam em paz e para organizar toda essa massa de trabalhadores os sindicatos fundaram um órgão regulador. Na falta de nomes melhores, as pessoas que trabalhavam nesse órgão ficaram conhecidos como ministros do trabalho. Justamente para encontrar esses ministros que Erick viajou para uma das maiores cidades do reino.

    O sol mal tinha saído quando o ex-caçador chegou ao portão principal e quase uma centena de pessoas já aguardava na fila. Vendedores ambulantes circulavam nos arredores vendendo pães, maçãs e carne seca, em algumas barraquinhas próximas era possível comprar cerveja e vinho, Erick pediu uma caneca de cerveja escura para o desjejum. Depois de um tempo suficiente para as pessoas que aguardavam ficarem todas amigas íntimas a fila começou a andar. Levou quase duas horas para Erick finalmente ser atendido pelo ministro.

    – Saudações, rapaz – disse Erick observando o jovem franzino sentado do outro lado da mesa. Um pergaminho em branco estava na frente dele e uma pena em sua mão.

    – Saudações, senhor. Em que posso ser útil?

– No momento procuro por um trabalho. Digamos que mudei de ramo recentemente e estou… Como posso dizer… Um pouco desinformado sobre as opções de ofício para um homem com as minhas habilidades.

O rapaz molhou a pena e se preparou para escrever.

– Como te chamas, senhor?

– Erick. Sem sobrenome, apenas Erick.

– Ocupação anterior, Erick?

– Eu caçava dragões.

O ministro levantou uma sobrancelha e encarou Erick por um instante. O couro do colete que ele usava sobre a camisa, a pele bronzeada, a queimadura no rosto e a cicatriz na testa confirmavam o que ele dizia.

– Entendo… – o jovem começou a escrever no pergaminho. – Quantos anos de experiência, Erick?

– Cinco anos de treinamento e serviço na sede do sindicato, três anos como caçador auxiliar operando catapultas e balistas e mais quatro como caçador titular, sendo um ano caçando totalmente sozinho.

– Tem familiaridade com quais tipos de arma, Erick? – A pena corria ligeira sobre o pergaminho.

– Espada, longa e de duas mãos, arco longo e de caça, martelo, mangual, machado de arremesso, lança de arremesso e longa. Minha especialidade é combater usando escudos de qualquer tamanho.

– Tens equipamento próprio, Erick? – A pena continuava frenética sobre o papel.

– Sim, é… Uma espada, um escudo revestido de couro de dragão, uma armadura leve feita com as escamas mais duras e uma cota de malha. Também tenho uma catapulta que pode ser convertida em balista, os documentos e a manutenção estão todos em dia.

– Alguma pendência com o sindicato?

– Creio que não. Meu desligamento ocorreu sem problemas.

– Sabes ler, Erick?

– O suficiente para entender as placas da estrada e as mensagens simples dos cartazes da cidade.

– Alguma habilidade adicional digna de nota?

– Trabalho bem com couro, principalmente de répteis, tenho bom senso de orientação, consigo viver durante longos períodos em regiões ermas. Sou acostumado a ambientes com temperaturas elevadas, toco alaúde e não tenho problemas de visão.

– Excelente – o ministro escreveu mais algumas linhas, parou e encarou o que estava escrito antes de continuar. – Erick, tuas opções são bem limitadas. Caso não queiras caçar outro tipo de fera, pode ajudar no treinamento dos patrulheiros da cidade. Nossos homens de armas mais habilidosos foram convocados para a fronteira por causa da eminência da guerra e os que patrulham a cidade têm pouca habilidade. Soube que os mercenários estão arrendando armas de cerco, caso esteja interessado. Nossos artesãos de couro não costumam ter uma demanda alta, mas nossos ferreiros costumam pagar bem para ajudantes que não desmaiam com o calor. Talvez alguém queira um guarda-costas, mas isso não posso garantir – o jovem derreteu um pouco de cera sobre o pergaminho e marcou com o anel. – Apresenta este documento quando procurares por trabalho. Tenha um bom dia e boa sorte na tua nova vida profissional.

Erick pegou o documento e saiu. A fila atrás dele parecia ainda maior, já passava e muito dos portões da cidade. Tantas pessoas procurando um rumo na vida deixaram o ex-caçador pensativo. Talvez ele seguisse alguma das indicações do ministro do trabalho, talvez seguisse todas, mas a vontade que tinha era de não seguir nenhuma delas. Pensou no que tinha conquistado até ali, no que tinha conseguido juntar para si e o que podia deixar de herança para seus possíveis filhos. Lembrou com uma certa saudade dos tempos antes da caça aos dragões. Lembrou de como era viver com a família cuidando de uma taverna e de como ele se imaginava fazendo aquilo no futuro… Ao lembrar daquilo Erick percebeu o que precisava fazer.

No outro dia ele retornou para a fila. Ficou nela desde o amanhecer até o sol se pôr. Chegou inseguro, passou o dia sorrindo e voltou para casa satisfeito. Ele passou o dia empurrando um carrinho com um panelão de ensopado. Por duas moedas a tigela era acompanha por meio pão, por três o freguês levava um pão inteiro e uma tira de carne seca de brinde e por dez era possível levar para casa uma escama de dragão como souvenir.

Sobre Ideias E Coisas Guardadas

Ontem estava eu sem ideias sobre o que escrever nesta quarta-feira, por isso acabei lembrando da minha lista de ideias. Em algum momento antes de começar a publicar meus escritos nesse humilde sítio virtual, eu tinha anotado algumas ideias para futuros textos. Acabou que essa lista não serviu pra nada e eu acabei escrevendo sobre tudo menos o que estava nela. Por um grande acaso lá tinha um tema que me pareceu promissor, mas não é sobre ele que escreverei hoje. Hoje o tema é a ideia que eu tive quando lembrei da minha lista de ideias.

    Eu não tenho o costume de jogar as coisas fora. A menos que elas sejam de fato coisas que não valem a pena guardar, provavelmente passarão os anos em algum lugar no fundo da gaveta até que eu os encontre por acaso. Se você, assim como eu, tem essa prática pouco recomendada de acumular todo tipo de tralha e cacareco sabe do que eu estou falando. Principalmente por que a parte boa de juntar todas essas coisas está justamente na magia que cerca esse reencontro casual.

    Encontrar um velho guardado que nem se lembrava mais que existia é quase como ver uma foto antiga de família ou encontrar um velho amigo. Imediatamente sensações de épocas passadas retornam com tudo e somos inundados pela mais pura nostalgia. Logo depois direcionamos todo o nosso carinho para aquela peça do passado recém redescoberta. Obviamente nenhum desses sentimentos nos fez guardar aquilo, só fomos guardando, foi ficando, ficando e ficou. Nós não jogamos fora pra preservar o passado ou eternizar nossas memórias. Não jogamos fora por falta de organização, preguiça, a ilusão de que aquilo vai servir pra alguma coisa algum dia ou então ficamos com tanta pena daquilo estragar que guardamos tão bem, mas tão bem, que acabamos não usando. Mas o mesmo não acontece depois do reencontro.

    Magia define o que acontece nesse momento singular. Se antes guardamos as coisas por um mero acaso, depois que nos reencontramos com elas o motivo é outro. Guardamos com carinho. Carinho recém adquirido pelo amor recém descoberto. Infelizmente o romantismo dessa história acaba quando guardamos as coisas de volta. O espaço que elas ocupam continuará sendo um espaço indisponível. Você vai ter que arrumar mais espaço pras suas tralhas novas e provavelmente vai tender a acumular menos tralhas em função disso… Ou você vai virar um acumulador pra valer e tudo vai ficar ainda pior, mas aí já é outra história.

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