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Contos de Segunda #11

Cristina estava em pânico. Era segunda-feira, ela esperava pelo elevador. O maldito pedaço de lata estava parado no sexto andar fazia uma eternidade. “Descedescedescedesce”, pensava a pobre moça, a cada segundo que passava o terror aumentava. Se ela pudesse chegar rápido à sua baia lá em cima poderia se esconder durante todo o dia sem correr o risco de encontrar com Jorge. “AI, QUE ÓDIO!”, pensava Cristina quando se lembrava do rapaz do jurídico.

O telefone vibra. Chegou uma mensagem. Era de Luciana, sua amiga e colega de trabalho.

Encontrasse com teu boy?”

“VAI PRO INFERNO, LUCIANA”

“Kkkkk relaxa, amiga, Jorge nem deve lembrar do que rolou”

“Duvido”

“Ui! O rolo de vcs foi forte assim? E eu pensando que era impressão minha”

“AI Q ÓDIO”

O elevador ainda estava no sexto andar. Cristina começava a relembrar toda a série de acontecimentos que conduziram sua vida até aquele abismo de arrependimento e aflição. Era sábado, 19h. Cris estava preparada para passar o resto da noite assistindo Grey’s Anatomy, acordar às três da manhã largada no sofá em uma posição esquisita, partir pra cama e acordar cedo no domingo para andar de bicicleta. Plano à prova de falhas… Pelo menos até Luciana mandar as três palavras mágicas: Clone de Tequila. A mensagem foi visualizada e ignorada. Afinal Cristina precisava acordar cedo, apenas a magia da tequila não seria suficiente, mas vieram mais três palavras que fizeram a magia acontecer: Pearl Jam Cover.

“Qual Cover?”, dizia a mensagem que Cristina mandou desejando que a resposta não fosse o que ela achava que seria.

“O único que vale a pena”

O coração acelerou. Existia um único cover de Pearl Jam para Cristina, e eles normalmente não tocavam em locais e horários em que ela pudesse ir. Grey’s Anatomy ficaria pra depois.

Na terceira música a tequila já tinha feito bastante efeito. Na quinta música Jorge apareceu, sem muita intenção, só aproveitou a oportunidade de despertar um pouco de simpatia numa colega de trabalho que o detestava declaradamente. Quando tocou Alive Cristina pediu para subir nos ombros de Jorge. Mais três doses de tequila e eles passaram o resto das músicas como se fossem namorados no auge da paixão. Essa parte da história é um grande vazio na memória da moça, mas Luciana estava lá. Ao contrário da amiga, Luciana não gosta de tequila, ela gosta de testemunhar. Na manhã do domingo Cristina acordou com uma ressaca inacreditável e com um relato completo da noite anterior chegando em seu celular, com direito a registro fotográfico e dois vídeos de aproximadamente trinta segundos cada. A ressaca da tequila passou a incomodar muito menos.

O elevador finalmente tinha chegado. Cristina estava sozinha dentro dele, apertando freneticamente o botão para que as portas se fechassem. Por longos segundos a porta permaneceu aberta. Segundos em que o peito da pobre moça quase explodiu. A porta fechou… E abriu novamente… Para o estagiário do financeiro. A porta fechou, o elevador começou a subir. Mais uma vez o celular vibra, um lembrete que diz: “Reunião com o pessoal do jurídico 10h”.

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  1. O coitado do Jorge nem deve lembrar também. Ou então está remoendo-se de medo por ser chamado de aproveitador. Provavelmente se esconderá em arquivos na reunião e Cristina quebrará o gelo. Vem mais por aí.

    Gostei muito Filipe!!!

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