Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Mês: julho 2016

O Biquíni Completa 70 Anos

Eis que estava eu vagando por um portal de notícias local quando me deparo com a seguinte manchete: Biquíni completa 70 anos hoje; relembre os principais modelos de cada época. Estarrecido diante de tal notícia, encarei esse momento como um sinal dos céus de que eu precisava dedicar uma postagem ao traje de banho mais popular do mundo. Afinal o biquíni está no nome deste blog e já que eu não sei a data da invenção do cachorro, tenho o dever de pelo menos celebrar o aniversário do biquíni.

    Segundo a Wikipédia, o primeiro registro de um traje similar ao biquíni sendo  claramente utilizado para um fim específico é um mosaico romano do século IV, onde várias moças aparecem praticando esportes. Como os romanos eram uma galera prafrentex, não tanto quanto os gregos que faziam tudo pelados, não é de se estranhar que eles fossem pioneiros na prática de reduzir os trajes para algum fim específico. A maior prova disso é que o próximo ponto na história do biquíni é 5 de Julho de 1946, mais especificamente em Paris e duas coisas sobre esse momento na história me chamaram a atenção. A primeira é que até hoje biquíni é marca registrada na frança e a segunda é que o biquíni nasceu por causa de birra.

    Em 1946 um estilista chamado Jacques Heim mostrou pra todo mundo o átomo, ou como ele mesmo dizia “o menor maiô do mundo”. Três semanas depois o estilista Louis Réard apresentou o biquíni como “menor que o menor maiô do mundo”. Fico imaginando como nosso amigo Louis ficou durante essas três semanas em que ele tramou malignamente derrubar o rival com uma peça mais polêmica.

    O nome biquíni vem do Atol de Bikini que fica na Micronésia e onde no mesmo 1946 a galera fazia teste com bomba atômica. Hoje em dia ninguém mora lá, bomba atômica não é uma coisa que costuma deixar os lugares muito habitáveis. Segundo a Wikipédia, o nome foi usado por causa da ideia que o impacto causado por uma mulher usando biquíni era similar ao efeito de uma bomba nuclear… Assim… Marromenos. Apesar de não ter a capacidade de deixar ilhas da Micronésia desabitadas, o biquíni de fato causou um grande impacto.

    Não preciso nem dizer que naqueles tempos os biquínis geraram polêmica. Afinal depois que o Império Romano caiu, o ser humano ficou com uma certa nóia de não querer mostrar o corpo. Por causa disso o biquíni foi proibido em diversos países, inclusive a França, mas sempre tem uma galera mais moderna que abraça a causa, combate o conservadorismo e rompe com os padrões sociais, com o biquíni não foi diferente. Como artista é um povo muito prafrentex, foram justamente as atrizes da época que abraçaram a causa do biquíni com mais força e contribuíram pra popularizar tão singular traje de banho.

    No Brasil o biquíni foi visto pela primeira vez em 1948, mais especificamente no corpo da alemã Miriam Etz. Apesar do estranhamento inicial o Brasil acabou abraçando o biquíni, nada mais natural pra um país quente que nem o inferno tropical com uma faixa litorânea gigantesca. E depois de pegar por aqui o biquíni foi diminuindo, mudando, ajustando e hoje em dia o Brasil não é só sinônimo de biquíni, mas também o biquíni brasileiro é provavelmente um dos mais icônicos do mundo.

    Posso soar meio machista ao dizer isso, mas biquíni é coisa de mulher. Provavelmente uma das peças mais importantes na mudança da moda feminina, principalmente nos arredores dos trópicos. Provavelmente uma dos trajes mais femininos, talvez ficando atrás somente do vestido. Símbolo de uma quebra de padrões e de preconceitos, ou apenas uma prova que as moças estavam se sentindo um pouco mais poderosas. Pra fechar o texto fico com a definição de Leon Eliachar para o biquíni: “um pedacinho de pano cercado de mulher por todos os lados”.

Contos de Segunda #49

Vocal, Guitarra, Baixo e Bateria.  Na opinião de muitos, apenas isso é suficiente para fazer o bom e velho Rock n’ Roll. Como os quatro elementos da natureza eram as quatro meninas que formavam o 4Ladies, provavelmente a banda de rock composta apenas por garotas mais desconhecida da face do planeta Terra. Mas isso estava prestes a mudar.

— Vamos ver o que temos aqui — disse o delegado. — Quatro menores de idade invadiram um prédio desocupado, fizeram uma ligação clandestina de energia, provocaram a interrupção das aulas de uma faculdade, dois cursos pré-vestibulares e uma escola técnica e…

— A gente só tava fazendo nosso som, esse pessoal parou porque quis — interrompeu Bateria.

— Cala a boca, Bateria! — Gritou Guitarra. — Quer ser presa de verdade?

— Quietas, meninas — disse Vocal. — Desculpa, seu delegado. A gente não quer causar mais problema.

— Fico comovido com a sua consideração… — o delegado olhou para os documentos da mesa — Ivone, não é? E as outras são Bárbara, Agnes e Laila, certo?

— Isso mesmo delegado… Gostamos mais de Vocal, Bateria, Guitarra e Baixo, mas pode nos chamar como quiser.

— Ótimo, sou péssimo com nomes — o delegado olhou para as meninas por alguns segundos antes de continuar. — Podem me dizer o que diabos aconteceu?

— A gente só queria tocar, delegado, só isso — adiantou-se Bateria.

— Para de falar desse jeito ou a gente vai acabar se dando mal de verdade — repreendeu Guitarra, ela respirou fundo e continuou. — A gente começou a banda tem pouco tempo, delegado. Ninguém conhece a gente aí… A gente pensou em… Tipo, sei lá… Fazer alguma coisa pra ficar conhecida.

— Então vocês invadiram um prédio desocupado, fizeram uma ligação de energia clandestina até o telhado, armaram os equipamentos e fizeram uma apresentação que foi ouvida num raio de no mínimo duzentos metros.

— Não foi bem assim que aconteceu — explicou Vocal. — A gente meio que tinha a chave, então na prática não foi bem uma invasão.

— O prédio é meu, delegado — interrompeu Baixo. — Meu avô comprou e colocou em meu nome, por isso eu tenho a chave.

— Olha aí, a gente não fez nada de errado — cortou Bateria. — Acho que é melhor soltar a gente por causa das coisas de criança e adolescente.

— Para de falar, Bateria, tá piorando tudo — rosnou Guitarra entre os dentes cerrados. — Se for prender alguém prende ela, delegado. A gente tá colaborando aqui, ela que tá de desacato.

A paciência do delegado estava por um fio. Vocal notou a fúria crescente do homem e decidiu intervir.

— A gente teve essa ideia, mas não sabia bem o que estava fazendo, delegado — começou Vocal. — A gente usou energia de uma… Como se diz mesmo? Instalação provisória feita pelo pessoal que tá reformando o prédio. A gente arrumou um sistema de som, mas não sabia que ele era tão potente… A gente só queria chamar a atenção da galera da faculdade… O plano era tocar num dos intervalos entre as aulas e como o prédio da faculdade é bem mais alto, muita gente ia ver…

Que nem os Beatles — interrompeu Bateria. — Ou a banda do Homer Simpson.

— Eu vou dar na cara dessa menina — explodiu Guitarra. — Para de interromper os outros, a gente vai se complicar por sua causa.

— Cala a boca, Guitarra — desdenhou Bateria. — Essa raiva toda é só por que na hora do solo saiu tudo errado.

Guitarra não respondeu, partiu pra cima da amiga com tudo e se não fosse por Vocal e Baixo a briga teria começado ali mesmo.

— CHEGA! VOCÊ DA BATERIA PRA FORA! CANTORA, FORA TAMBÉM! AQUI DENTRO SÓ A DONA DO PRÉDIO E A DA GUITARRA, NÃO QUERO NINGUÉM BRIGANDO NA MINHA DELEGACIA! FORA!

O delegado bufava de raiva e estava mudando de cor algumas vezes por segundo. Ele buscou dentro de si o último traço de tranquilidade e agarrou-se nele. Quando a cor do delegado parecia normal novamente Guitarra começou a falar.

— Foi mal, delegado, é que quando eu erro…

— Você, — ele apontou o dedo para guitarra — quieta. Agora, dona do prédio, me convença a liberar vocês.

— Senhor delegado, o senhor tem que concordar que não cometemos nenhum crime de fato — explicou Baixo. — O proprietário do prédio autorizou a entrada e se a ligação de energia é irregular quem deve ser notificada é a empresa responsável pela reforma. Somos culpadas pelo barulho, mas entenda nosso lado, delegado, apenas queremos fazer nossa banda dar certo. Imagine o tanto de divulgação gratuita e espontânea nós estamos tendo neste momento com vídeos e fotos nossas sendo compartilhadas na internet. Acredito que a melhor saída é apreender nosso equipamento e liberá-lo mediante pagamento de multa, além de obviamente comunicar os nossos responsáveis.

Tanto o delegado quanto Guitarra estavam boquiabertos. Até Guitarra que conhecia Baixo desde criança estava surpresa como a amiga tinha conseguido tão facilmente pensar numa solução.

— Bem… Não é todo dia que aparece uma pessoa detida que apresenta uma solução razoável para sua situação — o delegado fez uma pausa para olhar os documentos. — Aguardem aqui enquanto falo com os responsáveis de vocês e vejo a questão da multa.

O delegado saiu e informou às duas meninas que aguardavam do lado de fora o que fora resolvido. Obviamente nenhuma das duas ficou muito feliz em saber que os seus pais seriam informados.

— Mandou bem, Baixo — disse Guitarra. — A gente vai se lascar um pouco, mas melhor que ser presa.

— Sem falatório, Guitarra — disse Baixo sacou o celular. — Aproveita enquanto o delegado não volta e sai procurando qualquer vídeo ou foto da gente na internet — Guitarra entendeu o recado, deu um sorriso e puxou o celular do bolso. — A gente vai dizer a todo mundo que essa bagunça toda é culpa nossa. Todo mundo tem que saber que é culpa das 4Ladies.

Tem Pudim e Nada Mais Importa

Ontem minha mãe fez pudim. O fato por si só já merecia um texto, afinal pudim é uma das coisas mais maravilhosas deste e de outros universos. Levando isso em consideração não é de estranhar que o título da presente publicação foi tirado de um pensamento que eu tive quando olhei aquela maravilha na geladeira. Depois de muito tempo sem a existência de tal iguaria sob o teto que cobre minha cabeça apareceu um pudim aqui em casa, a única coisa que eu consegui pensar foi “tem pudim, nada mais importa”. E foi comendo o pudim que eu parei e pensei: o que mais faz com que nada mais importe?

    Pode parecer esquisito, mas esse sentimento praticamente romântico, esse efeito de realidade distorcida, essa percepção turva é um efeito que pode seu causado por qualquer coisa que gostamos bastante. A mesma sensação de estar com o amor da vida pode ser provocada pelas coisas mais simples. Até as coisas mais bestas podem nos envolver no seu glamour e o pudim é apenas um exemplo disso.

    Um livro, um doce, uma bebida, um filme, uma série, uma corrida ou um banho. Pode ser qualquer coisa que nos leve carinhosamente pra dentro de nós mesmos. Que nos faça esquecer do tempo e do mundo, que nós encha de satisfação e alegria. Algo que não precisa ser aprovado por ninguém, tão particular quanto um pensamento ou tão aparente quanto o sorriso que deixa. Quanto mais simples melhor. Até por que é a soma dos pequenos prazeres que deixa a vida boa. Se Deus e o diabo estão nos detalhes, por que não essas pequenas alegrias?

    Pra fechar o texto eu podia listar coisas que me desligam do mundo. Podia fazer um relato sobre algum momento de puro encantamento e fascínio por alguma maravilha cotidiana. Poder até podia, mas hoje não dá. Hoje tem pudim e qualquer outra coisa não importa.

 

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