Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Mês: março 2016

Contos de Segunda #39

Mais uma segunda-feira em Vila Urbana. Adultos saíam de suas casas e partiam para o trabalho, crianças partiam para a escola e as ruas eram tomadas por um trânsito intenso. Mais uma manhã tranquila… Ou pelo menos seria se não fosse por uma perseguição policial que estava acontecendo naquele momento.

    “Um carro de transporte de valores foi roubado e está seguindo em alta velocidade pela Avenida Central. O meliante está armado e fez uma senhora idosa de refém”, foi a mensagem que saiu de todos os rádios de todos os carros de polícia de Vila Urbana. O carro sequestrado levava um tipo único de mineral que seria entregue em um laboratório do centro da cidade se um meliante armado não tivesse aparecido. Mas aquele não era um meliante qualquer, ele era conhecido como Atirador. Os pobres seguranças não tiveram chance contra o vilão. Porém havia um homem que já tinha prendido o Atirador quase dez vezes. Esse homem atendia pela alcunha de Homem Camaleão.

A polícia já tinha armado um bloqueio para interceptar o vilão em fuga, mas Camaleão sabia que não seria tão simples. Atirador era ardiloso e cheio de recursos, no máximo o bloqueio iria atrasá-lo, e era com isso que nosso herói contava. Uma leve redução de velocidade seria suficiente para tornar uma abordagem direta possível. Usando suas habilidades de mira superiores, o Atirador conseguiu achar um ponto fraco na barreira feita pelos policiais. O carro blindado atravessou o bloqueio reduzindo sua velocidade o suficiente para que um ser quase invisível pudesse se agarrar ao veículo.

O Homem Camaleão se pendurou na blindagem do carro e, usando suas habilidades camaleônicas, foi se pendurando até encontrar a porta do veículo. Durante a fuga o Atirador esquecera de trancar a porta, nosso herói adentrou no veículo sem esforço algum.

— Desista, Atirador — disse nosso herói. — Liberte a refém e entregue-se.

— Dá um tempo, Camaleão. Eu tenho umas coisas pra resolver, não posso ficar brincando de herói e bandido contigo.

— A justiça não pode esperar, Atirador, entregue-se

A resposta foi uma rajada de balas. Com sua agilidade superior e sua camuflagem, o Camaleão desviou das balas que perfuraram a blindagem do carro forte.

— Se segura, coroa. Estamos quase chegando.

— Receio que não poderá chegar a lugar nenhum, Atirador.

O Homem Camaleão se atirou ao volante na tentativa de fazer o vil condutor perder o controle do veículo. O carro começou a fazer zigue-zague e bateu em três outros veículos antes de atingir uma árvore e ficar preso. Com uma rajada de balas o Atirador recortou uma saída na lateral do veículo e se atirou junto com nosso herói pra rua.

— Olha só o que você fez, Camaleão. Eu só queria terminar esse trabalho, mas você tinha que aparecer.

— Não permitirei que saia impune, Atirador. Prepare-se para enfrentar a força da justiça.

Não demorou muito para o Homem Camaleão dominar o vilão. Em poucos instantes ele estava desacordado e algemado esperando os policiais.

— Já pode sair, senhora refém, o bandido já está dominado.

— O que você fez com ele, seu maldito? Augusto, você está bem?

— Estou, mãe, só estou preso.

— Mãe? É pior do que eu pensava, como pôde sequestrar a sua própria mãe, Atirador?

— Eu não sequestrei minha mãe, imbecil. Eu estava dando uma carona pra ela e graças à você ela vai perder a hora no médico.

— Mas você roubou um carro forte e…

— Eu ia deixá-la por lá assim que fizesse a entrega, seu bocó

— Dois meses esperando essa consulta pra nada. Muito obrigado, Senhor Camaleão.

Nosso herói estava desconcertado. O exercício da justiça não poderia nunca interferir de maneira negativa na vida dos cidadãos. Ele precisava de uma solução, e rápido. Os carros da polícia já estavam chegando e a mãe do Atirador seria levada para a delegacia junto com o filho, perdendo a consulta no médico.

— Não se preocupe, Senhora. A senhora não perderá sua consulta — Camaleão jogou a pobre senhora nas costas. — Agora me diga onde fica o seu médico?

Um Feriado Muito Doido

Um dos principais feriados do ano é o feriado da Páscoa. Essa data comemorativa flutuante só perde para o carnaval no ranking de preferência da nação por celebrações que não tem dia do ano certo pra acontecer. Mas tem uma coisa sobre a nossa querida páscoa que costuma fugir do nosso radar: a Páscoa é um feriado muito doido.

    Nesse momento você deve estar pensando em como é horrível afirmar uma barbaridade dessas. Talvez seja, mas existem argumentos bastante válidos que me levam à essa conclusão. Começa que a data da Páscoa é determinada a partir do fim do Carnaval. Qualquer data que tenha como referência o Carnaval deve ter no mínimo a sua credibilidade contestada. Isso tem a ver com o esquema do calendário lunar, que não casa nunca com o nosso calendário regular. Alguma coisa com a segunda lua nova depois do solstício de uma estação, aí faz a conta de trás pra frente, considera a margem de erro (para mais ou para menos) e vê se o Carnaval cai em fevereiro ou março e se a Páscoa cai em março ou abril.

    Outro ponto doido da Páscoa tem relação direta com o significado por trás do feriado. “Ah, Filipe, mas essa de significado é tranquila, super normal” você pode me dizer, mas não é bem por aí. Hoje quem é cristão lembra do sacrifício de Jesus, mas no tempo de Jesus ele lembrava de Moisés tirando os hebreus do Egito. Além disso eu já ouvi falar que muitos povos celebravam alguma coisa nessa mesma época de quarenta dias depois da segunda lua nova depois do solstício de alguma coisa, é um tipo de data chave que servia pra todo mundo. E isso por que ainda não falamos do fato da Páscoa sofrer o mesmo problema do Natal.

    O Natal, também conhecido como a data que resolveram adotar pra comemorar o aniversário de Jesus, sofre de uma grave distorção prática de significado. Obviamente todo mundo sabe desse esquema de “Já nasceu o Deus-Menino para o nosso bem”, mas isso acaba servindo como desculpa pra juntar a galera, fazer amigo secreto, confraternizar, fingir que gosta de algumas pessoas e tudo aquilo que sabemos que rola no final do ano. Com a Páscoa não é muito diferente, só que é um pouco pior. Até dá pra entender esse lance dos cristãos pegarem uma festa judaica e inserirem um novo significado. Também não é muito difícil sacar a lógica de comer peixe e beber vinho, afinal peixe era comida de Jesus e vinho era a coca-cola da palestina, mas em algum momento dessa história entrou coelho, ovo e chocolate no meio e eu parei de entender as coisas.

Como o chocolate entrou até dá pra entender, afinal ovo sabor ovo é muito sem graça e deixa as crianças meio chateadas e tal, não rende um presente muito bonito e não gera tanto emprego e renda pro povo, mas o coelho que distribui ovo é viagem de ácido pura.

No final a Páscoa acaba virando uma grande desculpa pra comer mais chocolate do que o normal, comer comida de coco (pelo menos é o que mais rola por aqui) e beber vinho, que você pode dizer que bebeu em homenagem ao falecimento de um cara muito brother. Ou simplesmente deixar tudo isso chegar sem se preocupar com motivos e desculpas. Aproveite o feriado que pelo menos a sexta-feira de folga está sempre garantida.

Esquecemos Nossas Raízes

Tenho observado duas coisas recentemente: o meu feed das redes sociais e o calendário. Os dias passando e os assuntos das redes sociais não mudam. Discussões acaloradas, manifestações políticas, piadinhas diversas, incontáveis memes, conversa vazada sem querer, conversa vazada de propósito, acusações de golpe, contra-golpe, reversal, combo breaker e tudo que se pode imaginar sobre a política do Brasil. Mas os dias continuavam a passar e nada do que eu esperava apareceu. Cheguei à conclusão de que esquecemos nossas raízes.

A internet é um lugar maravilhoso. Lugar este que é movido pela raiva e amor de seus usuários e regido pelo calendário. Regência essa que me fez estranhar o que ocorreu esse ano. A páscoa está chegando e, como em todas as datas de igual magnitude, a internet começa a reagir. As mesmas piadas, as mesmas reclamações, piadas novas satirizando piadas dos anos anteriores e coisas do tipo. Mas o suprassumo da época é tudo que envolve o objeto máximo dessa data, a internet se enche de gente falando sobre ovo de páscoa.

Receita de ovo, preço de ovo, comparativo entre o peso/preço da barra e o peso/preço dos ovos. Nessa época a internet costumava encher o saco de tanto que se falava de ovo de páscoa. Mas eis que no ano da Graça de Nosso de Senhor de 2016 um cataclísma político cai sobre a internet brasileira. Uma catástrofe tão grande que, além de jogar irmão contra irmão, pai contra filho, destruir amizade  e promover um cancelamento em massa de assinaturas no Facebook, nos causou um mal do qual talvez não nos recuperemos. Ignoramos totalmente nossas raízes e interrompemos um rito tão tradicional da internet. Diante de nós uma tradição tão forte deu os primeiros sinais de desaparecimento.

Eu nunca compartilhei uma notícia sequer de sobre ovo de páscoa. Nunca divulguei um comparativo que mostrava as vantagens de consumir chocolates apenas em barra. Não fiz nada disso. Fico pensando se eu não colaborei para a internet esquecer suas raízes. Se minha indiferença em relação ao chocolate ovalado não foi uma contribuição para a perda de tão sublime tradição. Agora não vale mais pensar sobre isso, o mal já está feito, só me resta acreditar que os antigos mestres da tradição não vão deixar esse rito tão antigo desaparecer de nossas redes.

Contos de Segunda #38

Desde os tempos mais primórdios o ser humano sonha, imagina e fantasia. E dos sonhos, imaginações e fantasias nasceram todos os tipos de seres. Mas nem tudo que o ser humano imaginou era coisa nova, muitas vezes coisas mundanas ganharam personalidade, forma, rosto e voz. E a força do imaginário humano fez nascer um tipo diferente de ser. Seres ligados a coisas naturais, terrenas, comuns, mundanas. Foi da mente dos homens que nasceram as Damas.

    Ao longo dos anos as Damas foram mudando. Não eram mais a Chuva, a Lua ou a Floresta que nasciam da imaginação dos homens. A Guerra, a Fome e a Justiça vieram depois. O tempo continuou passando e as Damas continuaram nascendo. Recebendo personalidade, forma, rosto e voz do imaginário mortal. Foi assim que nasceu Segunda, uma das cinco Damas da Semana. Apesar de satisfeita com seus poderes, de ter um dia dedicado só pra ela e de ser a líder das Cinco, ela ainda tinha um problema. Toda Dama precisa de um Cavaleiro. Das Cinco só Segunda que não tinha um, e isso estava preocupando a Mãe-de-Todas. Foi isso que levou Segunda à presença da Mãe naquele início de semana.

    Só uma Dama pode atravessar as portas para o Salão da Mãe. Onde a Dama da Lua observa o globo terrestre de seu trono prateado.

    — Saudações, Dama da Lua. Fonte de tudo que é bom e mãe de todas nós — Segunda fez uma reverência.

    — Pensei que atenderia mais rápido ao chamado, Segunda-Feira.

    — Só posso chegar ao Salão da Mãe quando estou com todos os meus poderes, Dama-Mãe, ou quando estou junto com minhas irmãs.

    — Poderia tê-las chamado, não és a líder das Cinco? Suas irmãs não te negariam esse favor.

    Provavelmente negariam. O chamado da Lua chegou na quinta-feira. As gêmeas, Quinta e Sexta, decidiram que todas as irmãs precisavam cair na farra. Com sorte elas encontrariam um candidato para ser o Cavaleiro que Segunda-Feira precisava. Esse tipo de plano normalmente acabava frustrado, Segunda sabia estragar prazeres, era um dos poderes que ela mais gostava de possuir.

    — Talvez… Mas eu já sei qual o assunto e… — Ela olhou para baixo encarando os próprios pés. — Não é tão urgente assim.

    — Como pode não ser urgente, jovem Dama? Sabes bem o que acontece com uma de nós quando não existe um Cavaleiro.

    — Eu sei, eu sei, mas… Dizem que a insanidade pode demorar muito pra aparecer, ainda tenho tempo.

    — Não é só isso que me preocupa, pequenina. Teus poderes podem ficar fora de controle bem antes de qualquer sinal de insanidade. Uma Dama descontrolada é um dos maiores perigos do universo.

    — Eu sei, eu sei, mas Mãe… Eu não consigo encontrar um candidato.

    — Seria mais fácil se tuas vestes estivessem de acordo — Lua apontou para sua filha. Enquanto a Mãe-de-Todas vestia um longo vestido branco que brilhava como a lua cheia e adornos feitos pela Noite em seus cabelos prateados, Segunda usava um casaco, cachecol e botas de inverno, uma touca de lã e óculos grandes de armação grossa.

    — Mãe, eu vivo no mundo mortal, preciso me misturar com eles. Todas as Cinco usam roupas mundanas.

    — Mas tuas irmãs não escondem a nossa beleza feérica debaixo de tantos tecidos, nem cortam os cabelos tão curtos e o que é isso no teu rosto?

    — Óculos…Já nasci com eles.

    — Pelo menos poderias optar por um modelo que valorizasse teus olhos, minha querida… E quanto ao candidato? O que esperas de um candidato a Cavaleiro?

    — Ah, Mãe, sei lá… Atualmente só queria que meu Cavaleiro não quisesse cortar os pulsos depois de acordar numa segunda-feira.

    — Ninguém tem tal desejo, filha.

    — Mãe, os meus poderes vêm da aversão que os mortais têm pelo meu dia. Os resmungos, queixas e reclamações dos humanos me dão tanta energia que nem Sexta em semana de feriadão consegue rivalizar com minha força. Eu não sou líder das Cinco por acaso.

    — Então basta encontrar esse mortal que não tem tal desejo, um que não resmungue ou reclame do teu dia. Ache este mortal e terás um Cavaleiro.

    — Muito fácil pra senhora dizer, nunca faltaram Cavaleiros da Lua, mesmo depois que o primeiro Cavaleiro partiu.

    — Calada, Dama da Segunda-Feira — os olhos da Lua se estreitaram de fúria, a sala ficou gelada e escura, apenas a luz da Mãe iluminava o ambiente. — Como ousa se dirigir a mim nesse tom — o ar ficou mais pesado, se Segunda não estivesse com todos os poderes, certamente seria esmagada. — Existem mais mortais na Terra do que podemos contar, volte, procure algum que se encaixe, peça ajuda às suas irmãs. Todas elas, a partir de hoje, têm o dever de ajudá-la nessa busca. AGORA VÁ!

    A luz da Mãe-de-Todas cegou Segunda por um instante. Quando os olhos recuperaram a visão ela estava no meio da rua, em uma calçada de um centro movimentado. O celular tocou no bolso do casaco. Um lembrete da hora da próxima aula. Seus alunos estavam esperando.

Charme

Uma coisa interessante sobre as mulheres são os efeitos que elas conseguem causar em um homem. Não falo apenas daquelas que fazem a cabeça dos transeuntes virar ou recebem uma buzinada indiscreta na rua. Os efeitos que um ser feminino pode causar em um macho são vários, semelhantes à primeira vista, porém bastante distintos. Esses efeitos vão desde o despertar dos instintos mais primitivos do homem primata até o mais puro e simples abestalhamento, quando o indivíduo não consegue fazer muito além de olhar e babar. Mas tem uma coisa que algumas mulheres tem, uma coisa que deixa os homens perplexos e confusos desde a antiguidade. Na falta de um nome melhor conhecemos isso como Charme.

Toda a natureza misteriosa e sobrenatural do ser humano, ou pelo menos boa parte dela, está nas mulheres.  O charme não pode ser explicado de outra forma senão essa. É a capacidade que uma mulher tem de ser bonita e atraente sem necessariamente bonita e atraente. Complicado? Um exemplo prático é melhor, talvez as moças nunca tenham passado por isso, mas acredito que seja um exemplo válido. Todo homem já se deparou com uma mulher que, apesar de não ter uma aparência muito exuberante, chamou sua atenção de uma maneira incomum. Mesmo sem entender, o cara não conseguia tirar os olhos dela. Isso acontece principalmente por que ele mesmo não entende a natureza do magnetismo que a sujeita em questão tem. Ele analisa o que está diante dos olhos e vê que ali não tem nada de incomum, mas o seu pensamento já está preso. Preso por algo que ele não sabe o que é, mas é bonito e o atrai de uma maneira mística, misteriosa e incontrolável.

Em resumo o charme é a habilidade natural que uma mulher tem de ser bonita e feia ao mesmo tempo. Isso pode parecer absurdo, mas acontece. Esse efeito pode ser sentido principalmente quando uma mulher parece muito mais atraente pessoalmente do que nas fotos. Nas cópias estáticas da realidade apenas a aparência da sujeita é registrada. Mas pessoalmente, ao ver o jeito que ela se move, olha, fala e interage, não dá pra tirar os olhos dela. E ainda assim sem saber por que não consegue. Mulheres desse tipo são mestras do “show don’t tell”, ou em bom português “mostre, não diga”. Todas as pistas estão lá, mas você não sabe o que elas querem dizer, e ela não vai te contar. Faz parte do jogo.

Se as informações acima não foram convincentes o suficiente então cabe lembrar que o efeito contrario também acontece. Algumas mulheres atendem a todos os requisitos necessários para serem consideradas bonitas, mas não dão aquele estalo no cérebro. Não fazem muito além de despertar um sentimento de atração física. São seres sem encanto, que revelam mais do que escondem, e não estou falando sobre o modo de vestir. Mulheres sem mistério que não estão sintonizadas com os poderes ancestrais das deusas cultuadas antigamente. Mas pelo menos essas são as mais inofensivas. Se não cantam como sereias, não podem te afogar.

Dia Internacional da Mulher

8 de Março, também conhecido como ontem, dia em que foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Uma data comemorada em todo mundo e que nos lembra da luta feminina pelos seus direitos e por uma sociedade mais justa para pessoas de diferentes gêneros. Como o Cachorros de Bikini não publica nada nas terças este texto está automaticamente atrasado. Como ano que vem o dia 08 vai cair em uma quarta-feira, um texto que vai explorar melhor o significado dessa data e qualquer reflexão do tipo vai ficar pra 2017. Em 2016 vou falar um pouco sobre o ritual folclórico que cerca o dia 08 de Março.

    Março mal começa e vemos todo o tipo de propaganda, vinheta, cartaz, outdoor e derivados fazendo as devidas homenagem aos seres humanos femininos. Homenagens e mais homenagens que se acumulam e aumentam em número, culminando na enxurrada final do dia 08. Dia Internacional da Mulher, dia de ganhar aquela bela rosa acompanhada por um Sonho de Valsa ou similar e um cartão, mensagem ou algo que o valha. Todos os lugares se vestem de rosa, ou não já que atualmente rosa só rola mais em Outubro, e a quantidade exorbitante de parabéns por todos os lados. O que eu acho mais legal de tudo isso é que essa é mais uma prova cabal de que o Dia do Homem é uma parada muito nada a ver.

    O dia 8 de Março não é bem melhor que o 15 de Julho por que todo mundo gosta de adular as moças. Todo o movimento por trás disso é uma mostra de como as questões lembradas no Dia da Mulher são bem mais relevantes. Já começa que ninguém lembra que dia é o Dia do Homem, mas muitas crianças que não sabem nem consultar o calendário sabem qual o Dia Internacional da Mulher, por aí você tira a disparidade que existe entre os dois. Se não acredita é só consultar o datascomemorativas.me. Nesse calendário aparecem datas relevantes como o Dia Nacional do Trovador, o Dia da Identificação, o Dia da Vacina BCG e mais inúmeras datas tão relevantes quanto. Adivinha qual data não aparece nesse calendário? Agora adivinha qual data aparece marcada com uma estrelinha? Essa daí foi tão na cara que nem tem mais como continuar esse tópico.

Pra encerrar esse texto, que já nasceu atrasado, só resta dizer que o Cachorros de Bikini dá os parabéns a todas as moças deste e de outros universos. Vocês merecem bem mais do que uma rosa ou um Sonho de Valsa. Merecem mais do que um “parabéns” ou uns instantes de adulação. Só não digo que merecem o mundo inteiro por que provavelmente se um dia vocês ganhassem iam acabar dividindo ele com os homens. E esse lance de homem cuidando do mundo, seja ele inteiro ou só um pedaço, já sabemos o quão errado dá.

Contos de Segunda #37

Fernanda estava com um humor péssimo. O papagaio do vizinho começou a gritaria às quatro da manhã, exatamente três horas antes do despertador de Fernanda tocar. O maldito papagaio costumava fazer esse tipo de coisa, mas nunca tão cedo. Depois de falhar miseravelmente em voltar a dormir Fernanda resolveu antecipar sua corrida noturna. Chegou na rua, ligou a música e colocou os fones de ouvido. Depois de quinhentos metros a música parou. O player ainda reproduzia a música, mas nada de som. Ela experimentou tirar o fone, a música voltou. Ao colocar o fone novamente a música parou. Depois de algumas tentativas Fernanda desistiu, o fone de ouvido só funcionava com o rádio e o jeito foi correr ouvindo o noticiário policial com as noticias da madrugada.

    Depois da corrida desastrosa não foi difícil chegar cedo no trabalho. Ela ligou o computador e conectou os fones de ouvido. Aparentemente eles estavam funcionando perfeitamente. O dia prometia ser tranquilo e sem muitos aborrecimentos. Tudo que Fernanda precisava fazer era não tirar os fones do ouvido. Ela tinha começado recentemente no emprego e um dos seus colegas de sala produzia inúmeros barulhos praticamente insuportáveis. O teclado fazia muito barulho, o scroll do mouse rangia, as rodinhas da cadeira arrastavam no piso e ele tinha um pigarro eterno. Mas tudo isso era barrado, ou pelo menos minimizado, pela ação do fone de ouvido e pela biblioteca de música praticamente infinita do serviço de streaming. Era só carregar a página de um artista ou banda com uma discografia grande, fazer a lista de reprodução e tudo ficaria bem… Mas não ficou.

    “Erro Tente Novamente Mais Tarde”. Foi o que apareceu na tela quando ela tentou acessar a página de um artista. Tentou com outro, mais um, uma banda. “Erro Tente Novamente Mais Tarde”. O sangue de Fernanda começou a esquentar, de repente os 14,90 que ela pagava na assinatura do serviço pareceram uma quantia exorbitante. Tentou o player web, depois pelo aplicativo do celular. “Erro Tente Novamente Mais Tarde”. O colega barulhento chegou mascando chiclete, da forma mais ruidosa e babada que um ser humano poderia mascar um chiclete. Fernanda já estava trincando os dentes, mas antes de perder completamente a calma ela se conformou em passar o dia ouvindo rádio. Como todas as rádios legais da internet eram bloqueadas pelo servidor, ela teve que se conformar com as rádios FM’s normais, com todas aquelas músicas repetidas e intervalos comerciais sem fim.

    Chegou em casa cedo desejando comer e dormir. Depois de comer um pedaço da lasanha do almoço de domingo ela estava pronta pra cair na cama… Quando o papagaio começou a gritar. Uma, duas, três horas. Já passava das 22h e o papagaio ainda berrava. Fernanda decidiu agir. Pegou uma faca, colocou entre os dentes, saiu pela janela da área de serviço, escalou um pedaço da fachada, cortou a tela de proteção e entrou na área de serviço do vizinho, lá ela encontrou o papagaio. Ela olhou furiosa para a ave tresloucada. Os gritos aumentaram. Ela pegou o bicho pelo pescoço e desceu a faca em um golpe vertical… Arrebentando a corrente que prendia o papagaio no poleiro. Ela levou o bicho seguro pelo pescoço até o quarto onde o vizinho dormia com sua esposa. Abriu a porta, jogou o papagaio dentro, fechou a porta e habilmente usou a faca para inutilizar a fechadura. Voltou para a área de serviço, desceu um pedaço da fachada até chegar em casa. Caiu na cama e dormiu bem como jamais dormiria outra vez na vida.

“Só O Homem Penitente Passará”

Outro dia estava eu me lembrando de um dos maiores clássicos do cinema mundial, Indiana Jones e A Última Cruzada. Nesse filme de 1989, Indiana Jones parte atrás do Santo Graal e se mete em muitas confusões por causa de uma turminha do barulho. Já no final do filme, Dr. Jones precisa resolver uns puzzles pra conseguir chegar no graal. Cada um desses desafios tem uma dica marota que deve ser desvendada pelo nosso herói, caso contrário ele não só perderá o graal, mas também poderá perder a vida. Não lembro direito quais são esses desafios ou quais as dicas pra solucioná-los, mas uma dessas dicas ficou gravada na minha memória: “Só o homem penitente passará”.

Essa frase me veio na cabeça durante conversas que tive com diferentes pessoas ao longo dos últimos dias. Todas elas relataram estar passando por alguma dificuldade ou estar desanimado por causa de algum ocorrido na vida. Para todas elas eu disse a mesma coisa: “o que aprendemos em Indiana Jones e A Última Cruzada? Só o homem penitente passará”. Não que alguma dessas pessoas estivesse de fato pagando alguma penitência, mas acho que essa frase se encaixa bem em vários momentos da nossa vida.

Por definição, penitência é uma pena imposta, ou auto imposta, para expiar a culpa gerada por cometer algum erro. Na prática a penitência nada mais é do que um sofrimento e/ou sacrifício temporário que nos faz melhorar em algum aspecto do nosso caráter. Partindo desse conceito podemos afirmar que somos todos penitentes, já que o sofrimento e o sacrifício são tão comuns em nossas vidas que praticamente não existe um momento em que estamos totalmente livres de uma dessas duas coisas. Então quando estiver passando por um momento meio marromeno, quando faltar ânimo e disposição pra encarar os desafios, lembre-se que a dificuldade é uma oportunidade de crescimento, desenvolvimento e evolução. Que muitas vezes uma frase besta de um filme velho que tem pouco compromisso com a realidade pode gerar uma reflexão interessante. Então não se esqueça: “Só o homem penitente passará”.

“Eu Vou Celebrar Um Casamento”

A frase que dá título ao texto de hoje apareceu no meu feed do Facebook no início dessa semana. Ela foi escrita por uma grande amiga minha que está pulando num pé só de tanta felicidade. O motivo já dá pra adivinhar, ela vai celebrar um casamento. Ela não é (até onde eu sei) juíza de paz, não é sacerdotisa  e (ainda) não é representante de nenhum tipo de religião. Ela foi convidada pelos noivos apenas por ser uma amiga do casal e principal responsável pela união dos dois, pelo menos foi o que ela disse. Diante da peculiaridade do fato, fico pensando como é passar por uma experiência tão singular.

    Imagine que um casal de amigos te chamou pra ser padrinho ou madrinha. Agora multiplique isso por cem. Provavelmente essa é a sensação de ser convidado pra celebrar um casamento. Somos acostumados a testemunhar as uniões, eu mesmo fui testemunha de um casamento ano passado e fui lá assinar o livro amarradão, mas uma porcentagem ínfima da população vai a um casamento pra promover, diante de Deus e dos homens, a união entre duas pessoas que, pelo menos até aquele momento, desejam passar o resto dos dias juntos. Juntar as escovas de dente, apesar de não ser muito recomendado pelos dentistas, ter aquela velha conversa de alcova, acordar com o mesmo alguém do lado até que a morte os separe. E tudo isso só vai acontecer por que você estava lá diante dos noivos, padrinhos, madrinhas, família, amigos e da divindade preferida pelos noivos pra fazer uma das perguntas mais conhecidas da humanidade. “Você aceita (insira o nome do noivo ou noiva) como seu/sua legítimo/legítima esposo/esposa?”.

    Eu sei que nunca vai acontecer comigo. Mesmo se convidar amigos pra celebrar uniões fosse uma prática comum, eu não sou uma boa opção pra exercer essa função, mas nem por isso eu deixo de imaginar como seria. A sensação de ficar na frente de toda aquela gente, e principalmente na frente dos noivos. Quem já parou pra observar essa dupla já deve ter notado que, pelo menos naquele momento, eles estão explodindo de felicidade. Talvez a seriedade da cerimônia limite um pouco essa manifestação, mas quem celebra o casamento não tem risco de pegar um lugar ruim pra assistir a cerimônia. Quem celebra o casamento não precisa torcer pra não acabar sentando atrás de uma pessoa com dois metros de altura. Quem celebra está lá, diante dos noivos. Duas almas prontas pra atingir o último patamar na escala de evolução dos relacionamentos. Uma felicidade que transborda por todos os lados. Que escorre como lágrimas, que ilumina os sorrisos e faz as mãos se segurarem com uma firmeza nervosa. Mas principalmente uma felicidade que transborda no olhar. E é para o celebrante da cerimônia que os olhos estão voltados. Olhos de quem só quer dizer o “SIM” e dar o fora dali. Os noivos podem ser o centro das atenções pros convidados, mas se você celebra o casamento, você que é o centro das atenções… Pelo menos pros noivos.

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén