No começo dessa semana recebemos a notícia da morte de David Bowie. A primeira coisa que preciso dizer é que eu não sou fã desse nobre falecido, meu conhecimento acerca da obra dele só é maior do que o conhecimento da minha avó sobre The Walking Dead. A segunda é que, apesar de saber praticamente nada sobre a obra do nosso compadre David, tem uma música dele que eu gosto muito. Uma música que eu conheci por um acaso e que conta uma história muito curta, mas tão profunda e impactante que eu não podia deixar de falar sobre ela, principalmente na semana em que o seu compositor partiu dessa pra melhor. Hoje prestarei uma pequena homenagem. Hoje vou falar sobre Space Oddity.

    Eu conheci Space Oddity quase sem querer, em um video de um canal gringo muito simpático chamado Glove and Boots. Nesse video eles fazem uma brincadeira com o astronauta Chris Hadfield, que fez um clipe tocando uma versão de  Space Oddity no espaço antes de retornar para a Terra. Foi a primeira vez que eu ouvi a história de Major Tom, pelo menos um trecho dela já que nas duas versões citadas acima o final da história do Major não é contada. Depois eu escutei a música e soube do fim da história. Foi quando eu me apaixonei por essa música.

    A música narra a viagem de Major Tom ao espaço. No começo só o que ouvimos é a voz do Controle da Missão. As orientações são passadas, a contagem regressiva é iniciada, “vá com Deus” diz o Controle da Missão, a nave decola. Ele consegue, chega ao espaço, a decolagem foi um sucesso. Os jornais vão querer saber até qual camisa Tom usava quando chegou ao espaço. Ele é autorizado a sair da cápsula, se tiver coragem. Pela primeira vez ouvimos a voz do Major Tom, ele sai pela porta, a música chega ao auge, ele começa a flutuar de uma forma muito peculiar, as estrelas que ele observam não se parecem muito com as que ele via na Terra. A música desce, o tom do Major não é mais eufórico, mas sim reflexivo. Sentado em seu pedaço de lata ele se sente impotente, diante do mundo azul. Ele sente como se ainda estivesse no mesmo lugar, apesar de ter viajado tanto. Aparentemente ele não sabe o que fazer, mas aparentemente sua nave sabe onde ir. Ele deixa que ela o leve. Ele manda uma mensagem de despedida para sua esposa. O Controle da Missão perde o contato com o astronauta. Tom continua sua reflexão, dessa vez na órbita da Lua. É o fim da música, mas não exatamente o fim da história.

    Posteriormente Tom aparece em outra música de Bowie. Nela ele é citado como uma espécie de drogado. A própria viagem de Tom narrada em Space Oddity é considerada uma alegoria para o consumo de heroína, mas isso já é outra história. Seja Tom drogado ou não, seja o seu foguete uma seringa cheia de heroína ou não, ainda temos uma história profunda de um homem que viajou para o lugar mais longe que ele conhecia, experimentou coisas que não seriam possíveis para a maioria dos seres humanos e percebeu que no final ele não tinha ido tão longe assim. Talvez ele não tenha voltado justamente por não ter ido para lugar algum.