Foi ano passado, também conhecido como o ano da graça de Nosso Senhor de 2015, que eu li Cidades de Papel. Li pra poder gravar um episódio do Epifania, podcast da Roda de Escritores, que sairia junto com o filme. O podcast nunca foi gravado, mas pelo menos eu gostei do livro e por causa dele parei pra refletir sobre um conceito bem interessante: a sensação de ir embora.

Em Cidades de Papel temos uma moça chamada Margot Roth Spiegelman que é famosa por desaparecer de tempos em tempos. Em dado momento a jovem comenta sobre a maravilhosa sensação de ir embora, sobre como é libertador deixar tudo pra trás e desaparecer. A ideia de sumir do mapa sempre habitou meu imaginário, tanto que um dos meus poucos contos publicados antes do blog tratava um pouco disso, mas foi só depois de ler Cidades de Papel que eu realmente tive vontade de saber como seria ir embora do nada. Esse ano finalmente aconteceu. Esse ano finalmente eu peguei e fui embora.

Teria sido mais legal se fosse sem aviso, mas não foi. Teria sido mais dramático se eu desaparecesse do mapa de um jeito que ninguém nem soubesse por onde eu andava, mas não foi nem perto. Eu não fugi de casa, eu saí do emprego, também não desapareci, só fiquei fora do alcance do radar das pessoas que trabalhavam comigo. Uma experiência muito banal, totalmente comum e sem qualquer traço do DNA de uma história fantástica, mas a sensação de fazer tudo isso não poderia ter sido melhor.

Ir embora, deixar tudo pra trás, acordar na manhã seguinte e lembrar de como ontem tudo estava diferente me fez sentir mais próximo da legítima liberdade social do que nunca. Obviamente as contas continuaram vencendo no dia dez, o dólar continuou nas alturas e o preço da gasolina continuou pela hora da morte. Dinheiro não começou a brotar das árvores e não demorou muito pro emprego novo começar, mas o gosto doce de ter ido embora ainda se faz sentir quando eu paro pra pensar na vida.

Desconheço as suas aspirações em relação ao abandono das coisas e às partidas inesperadas. Não sei quantas vezes você já fez algo do tipo na vida, mas achei que não haveria forma melhor de encerrar um hiato. Ir embora pode ser sensacional, mas muitas vezes o bom mesmo é estar de volta.