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Tag: Saúde

Contos de Segunda #71

Fernanda estava tentando controlar a raiva. Depois de ter acertado uma voadora nas costas de um colega de trabalho com todo mundo do escritório vendo, Fernanda decidiu que a raiva estava atrapalhando um pouco a sua vida.

Como Fernanda não conhecia ninguém que pudesse indicar um psicólogo, resolveu procurar por conta própria. Foi na lista fornecida pelo plano de saúde, achou um que ficava perto de casa e ligou para o consultório… Ninguém atendeu. Ela tentou mais uma, duas, três vezes antes de alguém atender.

— Centro de psicologia clínica, boa tarde — disse uma voz feminina em um tom monótono.

— Boa tarde. Eu quer… – Começou Fernanda.

— Aguarde um instante por gentileza — respondeu a moça do outro lado da linha logo antes de colocar uma música para tocar.

Fernanda tirou o telefone do ouvido e encarou o aparelho com um olhar incrédulo. “Já começou mal”, pensou ela. Lembrou que todos os psicólogos da lista do plano de saúde ficavam estupidamente longe da casa dela e arrumou um pouco mais de paciência para gastar enquanto tocava a musiquinha da ligação em espera. Paciência essa que estava bem perto do fim quando a voz do outro lado da linha retornou.

— Alô, senhor?

— Eu não…

— Como posso ajudar, senhor?

— Eu quero marcar um horário, mas eu não sou…

— É particular ou plano, senhor?

— Estou tentando dizer que eu não…

— Senhor, sem essas informações eu não posso marcar a consulta.

Fernanda respirou fundo, deu um murro na mesa, se concentrou para não subir o tom de voz e finalmente disse:

— Não sou homem, moça… E vai ser pelo plano.

— Ah, ok então.

Depois de passar todas as informações do plano de saúde, Fernanda estava pronta para considerar o assunto resolvido e muito satisfeita por não ter perdido a calma… Mas ela devia saber que só acaba quando termina.

— Estamos sem horário, senhor… Quer dizer, senhora.

— Sem horário?

— Exato. Estamos enfrentando alguns problemas com o seu plano e reduzimos os horários de atendimento para quem tem esse convênio. Atualmente todos os horários estão ocupados. A senhora vai querer fazer particular?

— E quanto seria?

— Atualmente o valor fica em torno de quinhentos reais.

— QUINHENTOS REAIS?

— Não precisa gritar, senhora.

— Não preciso? É, não preciso, mas motivo não falta.

O telefone foi desligado antes de qualquer resposta. A raiva de Fernanda estava em uma crescente quando ela decidiu canalizar sua fúria para algo mais produtivo.

Rapidamente ela pegou o nome do psicólogo e jogou na busca do Facebook. Poucos minutos depois ela tinha um plano traçado.

Sete horas da noite. O psicólogo saiu do escritório, destravou o carro, abriu a porta, sentou no banco do motorista, fechou a porta. Só que ele ouviu o som de duas portas fechando. Ele olhou para o banco do passageiro e encontrou Fernanda lá sentada.

— Boa noite, doutor — disse ela com um sorriso maldoso nos lábios. — Ouvi falar que todos os seus horários estão ocupados, mas por um acaso eu também descobri que o doutor leva cerca de uma hora e meia pra chegar em casa.

— Que maluquice é essa? Eu vou chamar a polícia e…

Fernanda puxou o psicólogo pelo colarinho.

— É o seguinte, doutor. Eu tenho sérios problemas para controlar a minha raiva e preciso de terapia. Então eu recomendo que durante a próxima hora aconteça uma sessão aqui dentro desse carro e para o seu bem é melhor que os duzentos reais que eu tenho no bolso sejam mais que o suficiente para pagar por ela.

 

Espirro

O tema da postagem dessa sexta-feira foi decidido na semana passada. Em alguns períodos mais inspirados eu consigo a proeza de ter uns quatro ou cinco temas já escolhidos. Acordei hoje de manhã com a certeza que ao fim do dia eu teria uma análise bem humorada sobre uma tendência social que vem crescendo nos últimos tempos, mas o processo criativo é aleatório e de vez em quando rende umas surpresas interessantes, pelo menos interessantes pra mim. O tema programado pra hoje, infelizmente, vai ser sumariamente descartado e no lugar dele teremos um dos temas mais bestas já tratados nesse blog.

Tudo começou hoje de manhã. Estava eu alegremente a caminho do trabalho juntamente com uma amiga minha que sempre pega carona comigo. Durante o trajeto em direção ao Raincife notei que ela realizou um rápido movimento de cabeça com uma das mãos no rosto. Prontamente perguntei “Isso foi o quê, hein? Foi um espirro?”, e ela me respondeu que sim, aquela era a versão do espirro dela para ambientes fora de casa. “Meu espirro é muito escandaloso”, justificou ela. Não preciso nem dizer que imediatamente meu cérebro começou a trabalhar. Não que meu cérebro tenha feito um trabalho extraordinário, normalmente ele só faz o basicão mesmo e ocupa o resto do tempo com toda sorte de besteira, mas ele trabalhou o suficiente pra chegar à conclusão de que eu precisava falar sobre isso, hoje e aqui.

Durante toda a minha vida eu vi, mas depois de muitos anos eu atentei para o fato de que mulheres normalmente tem um pequeno problema em relação a tosses e espirros. Principalmente espirros. Farei um desafio para você, leitor do sexo masculino, puxe da memória alguma vez em que você viu uma mulher dar um espirro alto, ruidoso, sonoro e/ou escandaloso. Conseguiu? Eu também não. Isso me leva à conclusão de que mulheres não conseguem simplesmente espirrar de boas.

Uma disfarçada, uma segurada ou a incapacidade de espirrar pra fora. Não, não estou exagerando, já ouvi relatos de uma moça que afirmou não conseguir espirrar da forma que eu considero biologicamente mais apropriada. Aí nesse momento eu me pergunto:

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Gostaria muito de ser esclarecido quanto essa particularidade feminina em relação à etiqueta do espirro. Infelizmente minha cabeça não consegue chegar sozinha à uma resposta satisfatória. Se alguma moça puder clarear minha mente em relação a isso ficarei eternamente grato. Desde já agradeço pela atenção e até a semana que vem com um texto um pouco mais relevante.

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