Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Mês: agosto 2015

Saudade

Muitos falam de como as coisas mudaram de uns tempos pra cá. De como a internet mudou a forma como as pessoas se relacionam e se comunicam. Muita gente reclama que não existe mais conversa ao vivo, privacidade entre outras coisas que todos estão cansados de ouvir. Não discordo de nada disso, mas isso não é o que mais me incomoda. Hoje em dia o que existe na internet é a ausência de algo que eu tenho muita saudade: o meio termo.

Em uma época em que haters e fanboys e derivados estão espreitando em cada esquina da rede infernal de computadores eu me pego cercado por gente que se diz moderna e cabeça aberta com posições tão radicais (ainda que radicais de uma maneira moderna) quanto os classificados como conservadores.

Antes que você, caro leitor, me deixe falando sozinho pensando que vou começar a falar sobre inclusão de minorias, deputados polêmicos, personagens de novela ou sobre o Big Brother saiba que falarei sobre coisas bestas que servem pra ilustrar bem o que estou tentando dizer..

Do que eu sinto saudade não é da tolerância das pessoas, muito menos da falta de ódio nos comentários. Eu sinto falta da nota 5. Sinto falta da dúvida entre o “gostei” e o “não gostei”, de gente em cima do muro ou da simples indiferença. O povo de hoje está mais 8 ou 80 do que nunca. Não existe mais o “gostei, mas não é nada demais” ou “achei massa”, a internet adoeceu e ficou bipolar. Os haters odeiam com a mesma força que os fanboys amam, sempre foi desse jeito, mas hoje qualquer um que não seja um ou outro acaba tomando um dos lados, por que é assim que todo mundo pensa agora.

O público nunca foi tão rígido, intolerante ou apaixonado como é hoje. E nessa onda aqueles que produzem conteúdo precisam lidar não só com o seu público, mas também com os “críticos” de plantão que tem prazer em jogar terra em qualquer coisa que não agrade. As pessoas nunca foram tão desmerecidas por causa de seus gostos ou atacadas por suas opiniões

Por isso apelo humildemente que pratiquem o meio termo. Baixem as expectativas e esqueçam alguns critérios. Guardem o amor pras coisas que realmente importam e esqueçam o ódio, esse nunca fez bem seja com ou sem motivo. Tentem assistir, ler ou escutar alguma coisa sem fazer comparações ou dar notas. Assista por assistir, leia pra passar o tempo e escute alguma coisa só pra se distrair. Afinal, entretenimento é pra entreter e não pra começar a próxima guerra.

Aila e Ayla

Outro dia estava eu conversando com uma amiga. Em dado momento ela me manda a seguinte mensagem “Vou lá em Aila hj”. Imediatamente eu me lembrei desse video, a cena de apresentação de Ayla, personagem de um jogo relativamente antigo. Obviamente eu não podia perder a oportunidade de fazer uma graça com essa coincidência. Joguei uma imagem da personagem do jogo na conversa e fiz um resumo de quem era a sujeita. Em resposta minha amiga mandou um “hahahahah” seguido de um “Vou mostrar essa conversa a ela”. Naquele momento eu não fazia ideia do que tinha acabado de fazer.

Deixando de lado toda a roupagem fantasiosa do jogo e se concentrando na essência do personagem, podemos dizer que Ayla é uma mulher forte, independente, corajosa e que contribui de forma relevante para a sociedade onde vive. Eu não conheço Aila, da mesma forma que não conhecia quando fiz a brincadeira com o nome dela e o da personagem do jogo, mas pouco tempo depois descobri que ela vem passando por uma fase complicada da vida. Assim como muitas pessoas de verdade ela vem enfrentando problemas bem reais. Não cabe a mim dizer quais são esses problemas, mas de alguma forma apresentar as duas, a personagem e a pessoa de verdade, conseguiu produzir um efeito positivo. Pelo menos eu gosto de pensar dessa forma.

Não sei qual o corte do cabelo de Aila, se ela usa um porrete, se usa roupas feitas de pele ou se ela luta contra inimigos reptilianos em um mundo pré-histórico. Eu sei que ela tem enfrentado um inimigo bem mais assustador, inimigo esse que ainda não conseguiu vencer. Apesar disso sei que Aila provavelmente tem força e coragem suficientes pra deixar Ayla com inveja. Particularmente alimento a ilusão de que ao apresentar as duas eu tenha lembrado Aila de que ela é tão forte quanto Ayla. Se eu estiver enganado… Pelo menos valeu a pena fazer a pessoa de verdade conhecer alguém legal que carrega o mesmo nome dela, alguém que provavelmente ela nunca conheceria.

Contos de Segunda #9

Renato tinha um blog. Lá ele publicava um conto toda segunda-feira até então. Porém havia um problema: ele não tinha ideias para o conto da próxima segunda. Sentado diante do computador contemplava há horas o documento ainda em branco. Nada. Nenhuma palavra. Os olhos ardiam de tanto encarar o branco do editor de texto. Os dedos se contorciam de tensão sobre o teclado. A cabeça fervilhava com inúmeras coisas, nenhuma delas era uma ideia aproveitável. Ele precisava pensar em alguma coisa.

A primeira tentativa de ativar as ideias foi assistir um episódio de alguma série há muito deixada de lado. Depois de três episódios Renato estava plenamente convencido dos motivos que o levaram a abandonar a série. A segunda tentativa foi retomar a leitura de um livro enorme de fantasia medieval que estava sendo consumido em ordens homeopáticas. Depois de dois capítulos um dos personagens mais importantes morre de forma tão inexplicável e brutal que as próxima meia hora foi dedicada a xingar muito em alguma rede social. A terceira tentativa consistiu em olhar ao redor em busca de alguma inspiração, nisso e em pedir pelo amor de Deus que uma ideia viesse logo.

A ideia veio. Talvez não fosse a melhor ideia do mundo, mas qualquer coisa é melhor que nada. Os dedos correram frenéticos pelo teclado, os olhos mal piscavam e poucos instantes depois o primeiro parágrafo estava pronto. Estava bom o suficiente para garantir que o texto não seria abandonado sem conclusão. Escrever sobre alguém que não tinha o que escrever pareceu bastante interessante, talvez rendesse alguma coisa que prestasse. Começava mais ou menos assim:

“Tadeu tinha um blog. Lá ele publicava um conto toda segunda-feira até então. Porém havia um problema: ele não tinha ideias para o conto da próxima segunda…”

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