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Contos de Segunda #36

Aluísio tinha uma relação muito particular com a Segunda-feira. Praticamente todas as coisas relevantes da sua vida aconteciam no primeiro dia útil da semana. Em muitas das segundas não acontecia nada, em outras aconteciam coisas demais. Independente do nível de acontecimentos, Aluísio sempre sentia quando algo muito importante aconteceria. Ele estava com essa sensação desde as primeiras horas de 2016. Ano bissexto, com vinte e nove dias em Fevereiro. Vinte e nove, terminando em uma segunda-feira. Da última vez que isso tinha acontecido não foi nada bom pro pobre Aluísio.

O ano era 1988. Aluísio, com seis anos na época, já tinha alguma noção da sua relação com o calendário. Por isso o primeiro dia útil da semana acabou se tornando o seu favorito. Pelo menos até aquela segunda-feira 29 de Fevereiro. Durante um passeio da escola ao Jardim Botânico, o pequeno Aluísio se perdeu. Passou todas as horas da segunda-feira sozinho no meio do mato. Havia grande chance de ocorrer algo tão ruim quanto. Ele podia sentir.

O dia começou bem e tudo parecia normal. Até a mensagem de Amélia, esposa de Aluísio chegar. Ela estava passando mal e estava indo para o hospital. Aluísio pegou um táxi e foi atrás dela. Depois de ouvir a notícia de um protesto no rádio o taxista abandonou Aluísio, que saiu andando na esperança de passar pela área do protesto e pegar outro táxi. Ele teria pego se ao cruzar o protesto não fosse confundido com um famoso sindicalista idolatrado por todos os manifestantes da cidade. Rapidamente a notícia de que o movimentos foi legitimado pela presença de Aluísio correu. A polícia foi acionada e a quantidade de manifestantes aumentou quase duas vezes em meia hora. Depois de muito protestar, Aluísio foi detido pela polícia e colocado dentro de uma viatura. Quando deu no rádio que o verdadeiro sindicalista famoso tinha aparecido na manifestação dizendo que o patronato tinha infiltrado um sósia dele no protesto para dispersar o movimento, os policiais soltaram Aluísio e ofereceram uma carona como forma de remediar o transtorno. Ele prontamente aceitou.

No caminho para o hospital os policiais precisaram parar. Uma casa lotérica estava sendo assaltada. Os bandidos conseguiram fugir na viatura e acabaram levando Aluísio como refém. O celular vibrou, era mensagem da esposa. O aparelho foi sacado do bolso só para ser atirado pela janela da viatura. Apesar do susto, Aluísio estava feliz. A mensagem de Amélia era curta o suficiente para ser lida em um instante.

“Você vai ser papai”.

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