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Voz

Uma amiga veio falar comigo dizendo que achou um texto perdido dentro do computador dela e achava que o texto era meu. De fato era meu, tratava-se da primeira versão deste texto aqui. Segundo ela, parecia com as coisas que eu escrevia antigamente, antes de eu moldar a minha voz. Essa afirmação me fez refletir um pouco e achei que valia a pena escrever sobre isso.

Em 2011, quando o texto em questão foi escrito, eu tinha algumas aspirações enquanto escritor semi-amador. Uma dessas aspirações era ter meu próprio estilo. Algo nas minhas linhas que fosse uma espécie de impressão digital. Hoje quase posso dizer que consegui fazer isso, mas não foi pra falar de escrita que eu puxei essa conversa.

Fico pensando se em algum momento tive essa aspiração para minha vida. Se em algum momento eu desejei que a minha singularidade enquanto ser humano fosse não só reconhecida, mas reconhecível. Que nenhuma outra pessoa fosse ouvida através da minha voz. Provavelmente sim, mas não sei se isso é um desejo de todos.

Nos tempos de hoje, onde todos podem falar e ser ouvidos, o que eu mais vejo são palavras repetidas. A maioria parece ter mais vontade de engrossar o coro do que se fazer ouvir. Imagino se ainda existem pessoas que aspiram ter uma voz só sua. Pessoas que querem ser ouvidas em meio a unidade sonora da turba que nos cerca, tendo ou não algo pra dizer. Seres que podem não ser 100% originais, mas que de fato são 100% singulares mesmo dentro de sua falta de autenticidade. Talvez seja por isso que muita gente fica famosa aparentemente sem motivo, apenas por terem suas singularidades reconhecidas e admiradas. Eu sinceramente espero ver um pouco mais disso por aí, pessoas que conseguem falar com sua própria voz, mesmo sabendo que isso está ficando cada vez mais difícil. Já que as pessoas parecem querer ser qualquer coisa hoje em dia, menos elas mesmas.

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  1. Mariah

    E eu que, às vezes, não quero muito pensar nisso fui pega, e cá estou a divagar…

    E vc disse que não estava bom… Ainda não vi um texto seu que não estivesse bom.

  2. Curti muito.

    Levantou uns pontos interessantes.
    Esse negócio de você descobrir a própria voz e o próprio estilo é muito legal. E é um tanto quanto inexplicável. Acho que, no início, todo aspirante a escritor só repete o jeito de escrever daqueles autores que ele mais lê. Isso é natural. Mas eis que, depois, em algum momento indemarcável, ele se liberta. Não dá para precisar quando acontece, mas imagino que aconteça com todo mundo. E o mais irado é que – assim como você, quando leitor, percebe o estilo de seus autores preferidos, mas não sabe identificar os elementos desse estilo -, os leitores de seus textos, quando você está no papel de escritor, também notam uma voz que é só sua, mas não conseguem esclarecer as razões dessa percepção. E falei isso tudo só para concluir que, sim, vejo claramente em seus textos esse estilo pessoal e único, que é um sinal de maturidade literária; mas eu não saberia explicar em que baseio essa minha conclusão. 😛

    Sobre as “repetições”, também percebo isso – e é algo que me cansa às vezes. Em contrapartida, essa questão sobre o que é original ou não dá um longo debate, acho. Precisaríamos de um bar e de chopes para resolver esse problema, rs!

    Enfim, belas divagações. 😀

  3. Me lembrei da Autora de Harry Potter, que não sei o nome nem estou a fim de pesquisar no Google para parecer inteligente.

    Mesmo escrevendo um livro com um pseudônimo, encontraram a voz dela, descobriram-a como autora do mesmo. Sua voz é tão reconhecível que mesmo se passando por outrem ela foi encontrada…

    Nem mesmo tentando ser outra pessoa ela conseguiu deixar de ser ela mesmo. Pensa!

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