Não é um blog sobre cachorros e bikinis

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Até Quando Tá Bom é Ruim

    Hoje estava eu retornando para o meu humilde lar quando me deparei com uma situação (quase) inédita. O trânsito desgraçado que normalmente encaro quando saio do Recife em dia de sexta-feira não apareceu. No lugar dele eu peguei um trânsito bem próximo daquele que eu pego nos outros dias da semana. Qualquer um no meu lugar estaria no mínimo satisfeito por ter errado a previsão e eu de fato estava satisfeito por ter minhas expectativas frustradas… Mais ou menos satisfeito.

Por um acaso hoje eu estava dando carona e a primeira coisa que eu fiz quando ela entrou no carro foi alertar para o trânsito que a gente teoricamente iria pegar. Antes de chegar ao ponto onde o trânsito é mais complicado, comecei a notar que tudo estava fluindo anormalmente bem. Coisas do tipo “já era pra estar engarrafado por aqui” começaram a surgir entre as trivialidades da conversa em um misto de surpresa e decepção. Quando eu cheguei à saída do Hellcife, onde não só a sua paciência, mas também a sua fé costuma ser testada, percebi que não pegaria nem metade do trânsito das sextas anteriores. Obviamente comecei a listar todas as características desgraçadas do trânsito de sexta e de como nada daquilo estava acontecendo. Foi nesse momento que eu e a carona chegamos a uma mesma conclusão: eu estava reclamando do trânsito.

Reclamar é uma das coisas que a gente faz com mais naturalidade. O ser humano passa uma parte considerável da sua existência se incomodando com alguma coisa. Inclusive eu acredito que um dos maiores incômodos que podemos ter é o de errar previsões.

Errar já é uma coisa chata, mas dar um palpite com quase 100% de chance de acerto é e ainda assim errar na previsão é muito pior. Agora imagine o que acontece quando você prevê algo ruim, uma desgraça sem tamanho, uma mazela de proporções bíblicas… Ou o trânsito de sexta na saída do Recife. Está você lá pensando que vai virar a esquina e encontrar com um monstro de filme japonês, mas logo depois você topa com um cara com uma fantasia de carnaval mal feita. Rola um alívio momentâneo, mas logo depois você percebe que toda a sua preparação psicológica foi pro saco e todo aquele aço nos seus nervos não vão servir pra mais nada. Não tem outra, você começa a reclamar.

Esse é o primeiro de uma série de posts sobre reclamar da vida. Tive essa ideia maravilhosa agora e provavelmente me arrependerei amargamente de assumir esse compromisso, mas se eu não fizer isso não terei motivo pra reclamar de nada e é com esse final que pode gerar alguma reclamação sua que eu encerro o post dessa sexta.

A Graça de Pensar Estranho

    Não é de hoje que eu escuto coisas do tipo “só tu mesmo pra falar um negócio desses” ou um “oux, bicho, tu é doido?” e até mesmo um “tu não existe”. Normalmente ouço isso depois de falar alguma besteira qualquer que acaba pegando de surpresa o outro participante da conversa. Participante esse que é pego de surpresa por nunca ter ouvido algo igual ou por não esperar que alguém diria isso. ´Não importa o motivo ou a pessoa, mas algo que eu já aceitei é que eu penso de um jeito estranho.

    Já ouvi muitas vezes que eu não sou normal e durante muito tempo pensei que não fosse. Aí eu cresci e percebi que o conceito de normalidade é tão relativo que sair carimbando as pessoas com selo de “NORMAL” ou “ANORMAL” não faz sentido, mas ao ver a reação de tantas pessoas, “normais” e “anormais”, em relação com aquilo que eu falava, cheguei à conclusão de que a minha cabeça funciona de uma forma um pouco diferente de boa parte das pessoas. Posteriormente cheguei à conclusão de que isso é responsável por boa parte da graça da minha vida. A melhor parte disso é que eu não estou sozinho nessa.

    É bem provável que você já tenha chamado um monte de gente de “doido”. Também existem grandes chances de muitas dessas pessoas serem amigos ou colegas seus. E é quase certo que você se diverte muito com a suposta doidice desses seus amigos. Acertei? Pois bem, querida criança leitora, não sei se você já parou pra pensar, mas é quase certo que essa pessoa se diverte tanto quanto você.

    Estranho, abstrato, obtuso, doido, esquisito, maluco são normalmente os adjetivos usados quando as pessoas se referem a essas pessoas que tem umas coisas meio diferentonas dentro da cabeça. Normalmente essas pessoas tem afinidade por exercitar a criatividade ou tem gostos considerados peculiares. Também é possível que essa pessoa disfarce, mesmo que inconscientemente, suas estranhezas, até porque nem todo mundo pensa fora da caixa em todas as áreas da vida ou é um ponto fora de todas as curvas da sociedade, mas no final das contas o indivíduo estranho acaba sendo um “indivíduo” no sentido mais forte da palavra. Não que essa pessoa se sinta especial por isso, afinal na cabeça dele as ideias esquisitas são tão normais quanto qualquer outra, mas dificilmente essa pessoa não se diverte com isso.

    A principal vantagem de olhar pro mundo de um jeito diferente é que esse mundo fica bem mais divertido. Imaginar situações absurdas, ter aquela ideia nada a ver ou olhar pra uma coisa séria e imediatamente pensar numa piada ou apenas se abrir pra coisas que muita gente ignora por simples preconceito. A cabeça de uma pessoa dessas acaba se tornando uma espécie de parque de diversões particular. Um parque com possibilidades ilimitadas que sempre tem um brinquedo novo sendo inaugurado esperando alguém entrar e brincar nele.

    Pra encerrar precisamos responder à seguinte pergunta: como essas pessoas ficam assim? A resposta é mais simples do que parece. A verdade é que todo mundo pode ter ideias estranhas, a cabeça de todo mundo pode funcionar de uma forma mais divertida. Depende de cada um. É só abrir a porta da gaiola e deixar as coisas saírem voando. O resultado vai te surpreender.

Eu, Você e A Indecisão

    Desde ontem uma pergunta martela na minha cabeça: sobre o que escrever no post de quarta? Lembrei que queria escrever um negócio faz tempo, mas depois senti que devia escrever sobre outra coisa, cogitei usar um tema sobre o qual estou querendo muito escrever, mas só vai sair em dezembro por ser um post com a cara do fim do ano, também veio à mente uma conversa que tive ontem e hoje percebi que tinha esquecido de fazer um post sobre uma determinada música. O resultado disso tudo foi que eu não não consegui escolher. A minha sorte é que aqui eu posso escrever sobre tudo e qualquer coisa, inclusive sobre não conseguir escolher as coisas. Hoje vamos falar de indecisão.

    Até um tempo atrás a gente conseguia ser mais assertivo com as coisas. Um dos males da modernidade e da ascensão do capitalismo é que nós temos opção demais pra tudo. Tudo que é possível consumir apresenta um leque de opções tão grande que escolher está cada vez mais difícil. Desde uma roupa ou um celular, até os filmes no Netflix ou os jogos em diversas plataformas, pra tudo temos opções suficientes pra perdermos horas escolhendo e não nos decidirmos por nada.

    Imagine que você precisa comprar um calçado. A primeira escolha é: loja física ou virtual. Depois você precisa escolher a loja e finalmente iniciar as buscas pelo modelo desejado. Se você estiver ciente exatamente do que você precisa já temos metade do caminho andado, se não você se lascou e muito provavelmente vai perder um tempo considerável perdido entre todos os sapatos, sandálias e derivados. É bem provável que a impossibilidade de escolher te faça comprar mais de um ou de comprar nenhum. Depende também da verba disponível, saldo do cartão de crédito e mais algumas outras variáveis dessa natureza.

    Percebeu que a simples compra de um calçado apresenta uma quantidade enorme de escolhas que precisam ser feitas? Pois é, pequena criança leitora, veja o tanto de escolhas precisamos fazer antes de colocar um pé no chinelo. Agora imagine que a todo momento fazemos escolhas. Boa parte delas são automáticas e para nós nem se parecem com escolhas, já que a decisão é tão rápida que nem parece que escolhemos alguma coisa. Agora imagine que muitas das alternativas apresentadas parecem igualmente boas, ou igualmente ruins. Imagine que a pessoa que precisa escolher não sabe bem o que diabos ela quer. Eis que surge a indecisão.

Algumas pessoas são indecisas por natureza. De fato nem sempre é possível decidir ligeiro sobre algo, mas eu imagino o pânico sentido por uma pessoa que não consegue decidir nunca ou a raiva que sente uma pessoa que depende de uma pessoa indecisa pra saber o que deve fazer. Agora imagine isso em um mundo que cada vez mais se esforça pra nos deixar na dúvida. É, eu também achei essa imagem mental uma bosta.

Eu sei que muitas ideias me ocorreram para o final deste post, mas como não consegui escolher nenhuma vou encerrar por aqui mesmo.

2016 Já Deu

Lá no finalzinho de 2015 eu fiz uma ligeira retrospectiva do ano. Lá eu fiz uma previsão tão óbvia que não precisou ser prevista pelos Simpson: se 2015 foi um ano difícil, 2016 não ficaria atrás. Quando eu escrevi essas palavras eu ainda estava otimista com o ano que viria. Eu acreditava que essa previsão poderia estar enganada. Não estava. 2016 foi um ano esforçado. Provavelmente o ano que mais se esforçou em ser um ano ruim. Eu já tive anos ruins, mas 2016 está de sacanagem e por isso que ainda estamos na metade de novembro e faz uns dois meses que eu tô desejando que esse ano acabe.

Já deu de 2016. Sério, já foi toda a paciência, coragem, determinação e derivados de todo mundo. Tá todo mundo liso, cansado, olhando pro calendário e achando que nunca demorou tanto pra passar. Já deve fazer uns 10 anos que 2016 começou, uns 20 que Temer é presidente, Dilma já foi impichada umas 200 vezes e todo dia Trump ganha a eleição americana. O campeonato brasileiro já teve umas mil rodadas, Anitta já fez plástica suficiente pra criar outro corpo, Wesley Safadão já ficou 100% vagabundo e já já começam os Jogos Olímpicos de Tóquio e esse ano cão não acaba.

O desejo pelo fim de 2016 só não é maior do que o medo de 2017 ser pior, o que é bem difícil porque convenhamos, esse ano tá entre os piores de todos os tempos. A minha vontade é chamar 2017 de 2016 pra ver se salva por cima e apaga esses 366 dias. Se o ano for bom o suficiente é bem capaz de apagar das nossas cabeças toda essa mazela que atende pelo número de 2016.

42 dias. É isso que falta pra 2016 acabar. Quarenta e dois dias. O relógio está desacelerando e o contador do calendário anda preguiçoso, vão ser dias demorados e tão complicados quanto o resto do ano. Só posso dizer a você, e a mim mesmo, que não se aflija, não tema, porque 2017 não tarda a chegar.

Pode Até Ser Bom, Mas Eu Não Gosto

Uma coisa que eu demorei pra aprender foi a ter (o mínimo de) respeito pelo gosto dos outros, afinal já dizia o ditado: “gosto é que nem braço, tem gente que não tem”. De fato muita gente não tem um gosto, digamos, refinado ou que faça sentido. De fato tem gente que gosta de coisa ruim, mas o foco de hoje não é exatamente esse. Da mesma forma que achar uma coisa ruim boa é relativamente comum, também é comum achar uma coisa boa ruim, mas e quando você sabe que uma coisa é boa em um, ou vários, aspectos, mas mesmo assim você não gosta?

Como eu já falei por aqui um tempo atrás, hoje tudo anda bem polarizado. A famosa escala “de 0 a 10” ou “ de 0 a 5 robôs gigantes estrelas” acabou virando uma escala de “0 ou 10”. Mesmo sem querer a gente acaba absorvendo um pouco esse pensamento polarizado e quando a gente se depara no meio termo fica meio sem saber o que fazer ou sentir. Você olha pro negócio, vê que realmente aquilo tem um certo valor ou relevância, consegue reconhecer os méritos da coisa, mas… Sei lá… Né? Não dá aquele estalo, não rola aquela identificação e você não é cativado.

Coisas desse tipo acontecem comigo com uma certa frequência quando a conversa é música.  Eu consigo reconhecer a importância, o pioneirismo e a qualidade de um monte de gente. Consigo escutar um monte de coisa dos Beatles, Frank Sinatra, Queen, Chico Science e outros gigantes famosões da música sem achar ruim. Em algum momento vai ter alguma coisa que eu vou até gostar, mas eu ainda vou olhar praquilo e sentir que não é pra mim. Parece meio doido, né? Não achar ruim, achar bom em um certo grau e não conseguir gostar parece contraditório ou no mínimo incoerente. Principalmente porque eu sei que gosto de coisas piores, com bem menos qualidade e muito menos relevância, mas que de certo modo conseguiram me cativar. Claro que isso não acontece só com música. Filmes, séries, jogos, livros, comida e tudo mais que pode ser avaliado de alguma forma ou que esteja aberto ao gosto das pessoas segue essa mesma lógica.

Na vida a gente já tem obrigações demais, boa parte delas são obrigações ilusórias impostas pelos outros ou por nós mesmos, a gente não precisa se sentir cobrado a gostar disso ou daquilo. Inclusive a última coisa que deveriam cobrar da gente, ou que nós deveríamos cobrar de nós mesmos, é gostar de alguma coisa. A gente já tem seguro obrigatório, voto obrigatório, alistamento obrigatório, cadastro obrigatório, exame obrigatório, sorriso obrigatório e mais um monte de coisa obrigatória, deixa pelo menos o gosto, seu, meu e dos outros, ser facultativo.

Quarta-feira Feriado

    Hoje é quarta-feira. Hoje também é feriado. Provavelmente já saiu alguma publicação do Cachorros de Bikini em uma quarta de feriado, mas como eu já falei do Dia de Finados no ano passado, achei por bem terminar o dia de folga com um comentário breve sobre esse evento tão trivial. Hoje vamos falar dos feriados de quarta.

Uma das coisas que comprovam que o cérebro do ser humano não é lá grande coisa é a nossa capacidade de ser enganado pelos padrões. A repetição e a rotina acabam deixando nosso cérebro meio acomodado e ele acaba só gastando energia pra processar aquilo que aparece de diferente. Boa parte da nossa vida foi pré-renderizada pelo nosso cérebro e se algo muda no meio da repetição da nossa rotina simplesmente nosso cérebro não processa. E a forma como o feriado da quarta-feira deixa isso claro chega a surpreender.

Normalmente feriados que acontecem na primeira ou na segunda metade da semana têm gosto de feriadão. Nem sempre dá pra rolar o velho emprensado, mas dentro das nossas cabeças o sábado juntou com a quinta e a terça com o domingo. Já a quarta-feira está tão longe dos extremos da semana que o máximo que ela consegue causar é confusão. Começa que uma semana que tem feriado na quarta pode ou não ter duas terças e duas sextas, ou uma de cada em posição trocada. Muitas vezes a terça é vista como uma sexta antecipada, justamente por ser antes da folga, e a sexta chega quase como uma terça por ser o segundo dia depois da folga. O que acaba acontecendo é que a semana termina antes de nos darmos conta que não começamos outra semana. De fato a sexta-feira menos sexta-feira é a que vem depois do feriado da quarta. Mas basta prestar um pouco mais de atenção no calendário que a percepção de tudo isso volta ao normal. Meio doido, né?

Na prática o feriado da quarta transforma o resto da semana em uma espécie de Gato de Schödinger do calendário. Os dias podem ser eles mesmos ou podem ser outros e ainda sendo eles mesmos. Depende exclusivamente do observador.

Uma Piscadinha Pra Você

Todos nós temos nossas limitações e incapacidades. Normalmente as limitações podem ser superadas com esforço, paciência e uma boa dose de tempo. O mesmo não acontece com nossas incapacidades. Todos nós temos a incapacidade de fazer algumas coisas, seja de lembrar o nome das pessoas, os caminhos de lugares que você só foi uma vez, escrever com a mão esquerda ou direita ou de entender ironias, sarcasmos, duplos sentidos ou o final de alguns filmes. No texto de hoje eu vou esmiuçar uma das minhas incapacidades. Hoje eu vou falar sobre a minha incapacidade de dar uma piscadinha.

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Piscada, piscadela ou piscadinha é um dos elementos mais fantásticos da comunicação não-verbal em todo o planeta. Ela pode ser tanto uma manifestação do charme de uma pessoa, uma tentativa de sedução, a oferta de um acordo de cumplicidade, uma forma de dizer “deixa comigo” e mais um monte de coisa que varia de acordo com o nível de entrosamento das pessoas envolvidas no colóquio não-verbal. O sucesso do uso desse gesto depende principalmente da naturalidade com que ele é usado. Caso a pessoa não seja, digamos, fluente na linguagem ocular, é bem provável que a piscadinha não saia com a sutileza desejada ou que saia atrasada devido ao esforço mental que um gesto não natural gera.

Talvez você esteja pensando: “O que tem de tão difícil de piscar, Filipe? É só piscar um olho e pronto”. É, pode até ser, mas antes de discordar de mim deixe-me demonstrar de forma mais ilustrativa. Repare nas piscadas a seguir:

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Note que todas elas são bastante sutis, passam bem a mensagem e alteram em quase nada a expressão facial do piscador em questão. Algumas pessoas podem chegar a um nível tão alto no domínio ocular externo que são capazes de usar variações de piscadela e até mesmo piscadelas customizadas. Como é possível ver na semi-piscadinha apaixonante dessa moça asiática do proximo GIF.

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Aí chegamos ao outro extremo da moeda. Imagine que você quer dar uma piscadinha. Imagine que seu objetivo é ser tão sutil ou charmoso quanto os exemplos acima. Aí você faz uma imagem mental de si mesmo piscando que não é essas coisas todas, mas dá pra levar. Então você avalia qual olho você vai piscar, olha pro receptor da mensagem, pisca e o resultado é algo parecido com essas imagens aqui:

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Sai tão ruim que você chega a se sentir mal. E todos nós sabemos que a sensação de derrota só aumenta quando você vê outros bípedes, dentre eles alguns que são desprovidos de qualquer carisma ou charme, conseguem usar tão bem esse recurso de comunicação. Quer um exemplo? Então veja esse GIF do nosso amigo Michael Cera.

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Acho melhor ir pro encerramento.

A incapacidade de dar uma piscadela não costuma me incomodar muito. A expressão faz tão pouco parte da minha vida que nem emoji dando piscadinha eu uso. Trejeitos dessa espécie precisam nascer com a pessoa, não são algo que se aprenda e reproduza sem parecer forçado ou no mínimo desastrado.  Por isso seja você um piscador natural, um piscador autodidata ou um piscador tão ruim quanto eu, aqui vai uma piscadinha caprichada pra você.

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Eu Não Me Arrependo de Nada

Hoje estava eu conversando com uma amiga minha. A conversa ficou meio séria e ela falou ligeiramente sobre o impacto que algumas escolhas tiveram na vida dela. Por um instante eu pensei que ela estava se lamentando, mas uma coisa que ela disse me fez mudar radicalmente de ideia. Pra fechar todo o discurso ela disse: “”mas eu não me arrependi”. Imediatamente vieram duas coisas na minha cabeça. A primeira foi esse GIF da galinha que não se arrepende de nada.

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A segunda foi que nem tudo que a gente não fez é motivo de arrependimento.

Pare pra pensar em quantas coisas que você fez e geraram algum tipo de arrependimento. Quantas dessas coisas você se arrependeu de fazer só por que os outros esperavam que você se arrependesse? Não falo de erros, falo de escolhas. Coisas que cabiam apenas a você decidir e o único a sofrer as consequências foi você mesmo. Se você desistiu de fazer alguma coisa ou de seguir algum rumo e a decisão foi sua, não pense em como poderia ter sido ou como seria tomar outro caminho. Saboreie o mérito de segurar as rédeas da sua própria vida. Olhe na cara fria e cruel da realidade e diga:

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Boa parte das nossas inseguranças vem do medo de se arrepender depois. Não digo para sermos inconsequentes, mas naquelas horas que faltar um pouco de coragem, olhe para o abismo e quando der aquele salto de fé na direção do vazio diga:

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Mudar os planos, desistir, aceitar e seguir em frente faz parte da vida. Não deixe ninguém te fazer sentir um falso arrependimento. Lembre que é pra frente que se anda e essas coisas só fazem ocupar um espaço que não é delas. Se você parar pra pensar vai ver que muito do que muita coisa que você passou não teve nada a ver com erro ou acerto. Muitas vezes não existiram escolhas erradas ou certas, apenas escolhas e não foi mais ninguém além de você quem decidiu. Aposto que quando você fizer uma retrospectiva disso vai chegar à mesma conclusão que esse macaco aqui chegou.

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Não tenho muito pra dizer depois disso, só desejo menos arrependimento e um pouco mais de leveza na vida de todo mundo. Esqueçam um pouco essas coisas chatas e aproveitem o passeio… Ou a descida do barranco.

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“Acho Que Tá Limpa”

    Ontem estava eu manufaturando minha refeição noturna quando tive uma iluminação divina. Um daqueles momentos em que você atenta para algo que sempre esteve ali e sempre passou batido. Tudo aconteceu quando eu usei uma faca e joguei no balcão da pia. Pouquíssimo tempo depois precisei de uma faca olhei pro balcão da pia, mais especificamente pra faca que eu acabado de jogar lá, e pensei: “acho que tá limpa”. Naquele exato instante eu atentei para a maravilha de um sentimento que eu já tinha experimentado. Eu degustei o maravilhoso sentimento de simplesmente não ligar pras coisas.

    O nosso mundo atual coloca na cabeça da gente uma série de preocupações. Preocupação com o futuro, com o passado, com o governo, com os árabes refugiados, com o fim do pacote de dados do celular, com a zika, com a hora de acordar, com a hora de dormir, com a hora de acordar, com o que a gente come ou não come e mais um monte de coisa. Como é saboroso o momento de total abstração, de não se importar, de cagar e andar não estar nem aí e nem vir chegando. Como é deliciosa a inconsequência cotidiana que nos dá coragem pra tomar aquele negócio que já fez aniversário na geladeira ou que nos faz ignorar a existência de germes ou bactérias. Que nos motiva a comer aquele lanche no meio da rua que é praticamente um desacato à saúde pública em forma de alimento gorduroso.

    Diversas vezes eu fui classificado como uma pessoa que não liga pras coisas. Várias vezes de fato eu tive atitudes que reforçam essa verdade, mas nunca tinha parado pra pensar no quanto isso é libertador. É provável que a coincidência de um momento desse acontecer em uma época em que várias coisas consomem meu juízo. Não consigo puxar da memória um momento em que os efeitos terapêuticos de conseguir brevemente parar de me importar com tudo.

    Pra encerrar convido você, querido leitor, a se desapegar um pouco das preocupações. Convido a testar os efeitos terapêuticos de se desapegar das nossas próprias preocupações. A respirar fundo e encher os pulmões com o ar das pequenas irresponsabilidades da vida.

Você Não Sabe de Nada, João das Neves

Todo mundo que atualmente habita nas internets sabe que um dos personagens mais populares da atualidade é Jon Snow. Personagem preferido de muitos fãs de Game of Thrones e um dos meus personagens preferidos d’As Crônicas de Gelo e Fogo, João das Neves é um cara relativamente azarado fora da série. Mesmo depois de fazer e acontecer nas últimas seis temporadas de Game of Thrones e em quatro dos últimos cinco livros, ele tem todas as suas proezas ofuscadas por uma única frase.

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    Isso mesmo, por causa dessa moça ruiva o bastardo preferido da cultura pop ficou conhecido como o cara que não sabe nada. De fato Jon Snow percebe que no fim das contas ele não sabe de nada. Seguindo o exemplo de João das Neves, eu já me convenci tem um tempo que eu não sei de nada, mas acho que até essa semana eu nunca tinha percebido o quanto eu sei pouco. Por uma grande coincidência essa epifania me ocorreu por causa de uma moça ruiva.

Aconteceu no último domingo. Estava eu conversando com uma comadre minha sobre uma conquista pessoal que ela tinha compartilhado no Facebook. Entre um ou outro parabéns acabamos conversando um pouco sobre a vida, o universo e tudo mais. Como em todas as vezes em que eu converso com essa minha comadre ruiva, a conversa terminou e eu fiquei com a sensação de que tava conversando com uma pessoa muito mais adulta que eu. Essa sensação pra mim é bastante familiar, até por que boa parte dos meus amigos é bem mais adulta que eu, mas nenhuma dessas outras pessoas é oito anos mais novo que eu e parece ser uns dez anos mais velho.

Não que seja muito difícil parecer mais adulto que eu, mas eu costumo ganhar da galera que nunca foi obrigado a votar ou que precisou fazer CPF pra poder se inscrever no ENEM. Não é muito difícil de imaginar que eu olhei pra minha tela de chat e cheguei à conclusão que o significado por trás de toda aquela troca de mensagens era: “você não sabe de nada, Filipe Sena”. Aí percebi que estávamos eu e Jon Snow no mesmo barco. Estávamos nós dois sem saber de nada.

A vida depois dos meus vinte anos me fez pensar que eu tinha virado adulto. De fato quando eu coloco meu disfarce e saio pra trabalhar, quando eu pago minhas contas ou quando eu fico com dor nas costas por passar muito tempo num banco sem encosto, eu me sinto adulto (seja lá qual for a sensação de se sentir adulto). Mas a realidade é que eu nunca precisei ser muito adulto, só o suficiente pra passar por média. Não que isso me incomode, não que adultecer seja uma meta pra minha vida, o lance é que lembrar que você tá sabendo tanto quanto Jão Snow e que tem gente que saiu do colégio mais adulto que você te faz parar pra refletir.

Pra finalizar gostaria de compartilhar com todos o jeito que eu encontrei pra me conformar com essa história toda. Quando eu vejo essa minha comadre ruiva nas internets sendo mais adulta que eu, basta lembrar que algum tempo atrás ela publicou no Facebucket que X-Men: Apocalipse tinha sido o melhor filme do ano até então… Ela pode até estar uns dez anos na minha frente, mas essa menina ainda tem muito o que aprender. Pelo menos nisso eu (acho que) ganhei dela.

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