Não é um blog sobre cachorros e bikinis

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“Volte O Tempo”

Algumas semanas atrás eu comentei em um post polêmico que tinha jogado um jogo muito legal chamado Life is Strange. Nele você joga a história de uma menina que tem o poder de retroceder o tempo e isso é um dos elementos mais legais da mecânica do jogo. Voltar o tempo para refazer escolhas e impedir que as merdas aconteçam é o que você mais faz ao longo dos cinco episódios do jogo. Mas além da história e dos temas abordados no jogo uma coisa me chamou bastante atenção: ao longo de toda a história você escuta personagens diferentes comentando como seria bom poder voltar no tempo e fazer as coisas de outra forma. Lembrando disso paro pra pensar e faço uma pergunta pra mim e pra todos os que estão lendo esse texto: você tem vontade de voltar no tempo e fazer as coisas de um jeito diferente?

    Normalmente a resposta inicial é “sim”, mas não é de se estranhar que essa resposta se transforme em um “mais ou menos” e depois em um “não”. Pensar no que deu errado é bem fácil, mas assim como uma morte inesperada em Game of Thrones, as merdas que acontecem na vida não costumam acontecer por acaso. Além disso, ao pensarmos nas coisas que poderíamos fazer diferente acabamos cometendo o mesmo erro que os protagonistas das histórias sobre viagem no tempo cometem. Por que é muito fácil julgar as escolhas do começo da história quando já sabemos do final.

    Pare pra pensar junto comigo. Você deve conseguir dizer exatamente as consequências e desdobramentos de todas os erros, acertos, cagadas e sortes da sua vida inteira. Provavelmente você consegue achar um ponto chave na sua própria história que fez tudo mudar, para o bem ou para o mal, mas dá pra saber o que teria acontecido se você tivesse feito de um jeito diferente? Dá pra ter uma ideia? Provavelmente. Dá pra saber exatamente o que teria acontecido? De jeito nenhum.

    O que eu aprendi com todas as histórias sobre viagem no tempo que eu já li ou assisti na vida me ensinaram uma lição preciosa: mudar o passado sempre dá merda. Grande ou pequena, sempre vai dar uma merda. Seja por causa do rompimento do tempo e espaço em si ou por desencadear uma série de eventos catastróficos que mandam tudo pra merda de uma forma nunca antes vista na história desse país. Obviamente nem tudo dá tão errado assim, mas só a vontade de querer mudar o que passou já é um veneno.

Pra encerrar vou compartilhar um conceito curioso que eu li outro dia em um livro chamado Filhos de Duna. Muito se engana quem pensa que o futuro é consequência do presente, é justamente o contrário. O futuro é um só, o presente que se arruma pra chegar naquele futuro.

Uma Receita de Decepção

Mais uma vez o tema dessa quarta-feira estava certo fazia um bom tempo. Um tema bem supimpa com um ar reflexocontemplativo, mas nem por isso mais sério que o normal. Mas ontem aconteceu uma coisa que não poderia deixar de relatar, algo que me surpreendeu de uma maneira que me fez desistir do tema de hoje totalmente. Ontem eu descobri uma receita prática de como me decepcionar comigo mesmo.

    Uma receita simples que você pode reproduzir sem problemas com as coisas que você tem na sua casa.Tudo que você precisa é de uma conexão com a internet e um navegador que funcione com o sistema de abas. O rendimento da receita pode variar de acordo com a importância que você dá para o seu tempo desperdiçado e da sua capacidade de se decepcionar consigo mesmo. O tempo de preparo é praticamente inexistente e você pode fazer enquanto realiza suas atividades normais. Agora vou relatar o processo de desenvolvimento dessa maravilhosa receita.

    Ontem estava eu olhando coisas importantes na internet. Sem exagero ou ironias, eu realmente estava olhando coisas importantes na internet. Depois de terminar de olhar as coisas importantes fechei a aba do navegador e logo depois saí do meu e-mail, por consequência fui parar na página do portal que sempre abre quando eu saio do meu e-mail. Nessa página vi algumas inutilidades que me chamaram a atenção e as abri em outras abas. Quando já estava tudo fechado lembrei que precisava ver uma coisa na página importante, prontamente usei o comando de Reabrir Aba do meu navegador. Esse comando, para aqueles que não estão familiarizados, reabre, da mais recente para a mais antiga, as abas recentemente fechadas do navegador. Obviamente as inutilidades abriram primeiro. Obviamente que tive que abrir um monte de abas inúteis pra finalmente conseguir chegar na aba que eu queria. No curto tempo necessário pra conseguir reabrir a aba desejada eu consegui me decepcionar comigo num tanto que chega bateu uma tristeza genuína.

    Nunca tive problemas com conteúdo inútil na internet, inclusive pra mim produzir um bom conteúdo inútil é um objetivo de vida, mas quando o nível de inutilidade é muito grande e você para pra pensar no tempo gasto no consumo daquele conteúdo dói. Perceber o tanto de tempo desperdiçado com coisas que nem te interessavam muito é uma sensação bastante incômoda. Uma receita prática e rápida pra fazer uma auto decepção que fica pronta mais ligeiro que miojo.

    A receita de hoje foi simples? Acha que consegue fazer sem problemas? Não sei se é possível substituir os ingredientes, não tive tempo pra testar, mas sinta-se a vontade pra mexer e mudar alguma coisa. Não deixe de me contar dos resultados quando você fizer e até a próxima receita.

18 a 25 Anos

“Estamos ficando velhos, Magneto”. Essa frase eu mandei pro meu irmão poucos minutos depois da meia-noite do dia 14 de Maio de 2016, também conhecido como último sábado, dia em que chegamos à marca histórica de vinte e seis anos de idade. “Eita, Filipe, grandes merdas completar vinte e seis, nem dá pra dizer que é marca histórica”, pode até ser, mas eu só vou completar vinte e seis uma vez na minha vida inteira, o que qualifica essa como uma marca histórica. Com a cabeça nesse número me dei conta que eu ia mudar de faixa etária.

“Jovens de 18 a 25 anos”. Normalmente é a faixa considerada pela pesquisa. Diante desse cenário atentei para o fato que as pesquisas não me consideram mais jovem. Partindo do pressuposto de que a divisão de faixa etária feita pelas pesquisas tem lógica e coerência, posso dizer que não sou mais considerado jovem. Se não sou mais considerado jovem, então de fato me tornei um adulto… Pausa ligeira pra assimilar minha repentina saída da juventude e avaliar minha nova condição de ex-jovem de pesquisa.

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Obrigado pela paciência, vou continuar.

Logo no primeiro mês do Cachorros de Bikini eu falei sobre os mandamentos de um adulto feliz. Escrevi esse texto já com meus vinte e cinco e com essa idade já tinha acostumado com a ideia de ter virado um adulto, mas até então nunca tinha chegado alguém e carimbado “ADULTO” na minha testa. Paro, penso e vejo que no final isso não mudou foi nada.

A partir de um certo ponto da minha vida eu parei de me incomodar com esse lance de idade. O mundo tenta enfiar na sua cabeça que envelhecer é um negócio instantâneo. Ouvir coisas como “tá se sentindo mais velho?” é muito comum quando se faz aniversário, normalmente minha resposta é “não”. Criou-se a ideia de que quando o relógio marca 00:00 no dia do seu aniversário você automaticamente envelhece um ano. Quando eu acordei no sábado só tinha envelhecido um dia, assim como em todos os dias anteriores. Nessa de envelhecer um dia de cada vez passaram os meses, os anos. Do primeiro dia dos dezoito até o último dos vinte e cinco foram 2921 dias. Dias que me envelheceram um pouco de cada vez, que suavemente me transformaram no adulto que sou hoje.

A idade pesa? Pesa. Olhar pra trás e ver quanto tempo passou sempre é um momento meio amargo. Saber que uma criança que nasceu no dia em que eu fiz dezoito já sabe ler, escrever e precisa das duas mãos pra contar a própria idade, assusta. Assusta saber que as amizades já duraram tanto e da idade que as boas lembranças têm. Mas só os números assustam, só me assusto quando conto, só me assusta quando eu olho pra trás e vejo o quanto caminhei. Então eu esqueço dos números, lembro olhando pra frente e se precisar olhar pra trás eu olho o retrovisor. Ficar mais velho é inevitável, mas se repararmos bem, o tanto de mudança que chega com a idade depende só de nós mesmos… Exceto a dor que dá nas costas por sentar em assento sem encosto.

Espirro

O tema da postagem dessa sexta-feira foi decidido na semana passada. Em alguns períodos mais inspirados eu consigo a proeza de ter uns quatro ou cinco temas já escolhidos. Acordei hoje de manhã com a certeza que ao fim do dia eu teria uma análise bem humorada sobre uma tendência social que vem crescendo nos últimos tempos, mas o processo criativo é aleatório e de vez em quando rende umas surpresas interessantes, pelo menos interessantes pra mim. O tema programado pra hoje, infelizmente, vai ser sumariamente descartado e no lugar dele teremos um dos temas mais bestas já tratados nesse blog.

Tudo começou hoje de manhã. Estava eu alegremente a caminho do trabalho juntamente com uma amiga minha que sempre pega carona comigo. Durante o trajeto em direção ao Raincife notei que ela realizou um rápido movimento de cabeça com uma das mãos no rosto. Prontamente perguntei “Isso foi o quê, hein? Foi um espirro?”, e ela me respondeu que sim, aquela era a versão do espirro dela para ambientes fora de casa. “Meu espirro é muito escandaloso”, justificou ela. Não preciso nem dizer que imediatamente meu cérebro começou a trabalhar. Não que meu cérebro tenha feito um trabalho extraordinário, normalmente ele só faz o basicão mesmo e ocupa o resto do tempo com toda sorte de besteira, mas ele trabalhou o suficiente pra chegar à conclusão de que eu precisava falar sobre isso, hoje e aqui.

Durante toda a minha vida eu vi, mas depois de muitos anos eu atentei para o fato de que mulheres normalmente tem um pequeno problema em relação a tosses e espirros. Principalmente espirros. Farei um desafio para você, leitor do sexo masculino, puxe da memória alguma vez em que você viu uma mulher dar um espirro alto, ruidoso, sonoro e/ou escandaloso. Conseguiu? Eu também não. Isso me leva à conclusão de que mulheres não conseguem simplesmente espirrar de boas.

Uma disfarçada, uma segurada ou a incapacidade de espirrar pra fora. Não, não estou exagerando, já ouvi relatos de uma moça que afirmou não conseguir espirrar da forma que eu considero biologicamente mais apropriada. Aí nesse momento eu me pergunto:

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Gostaria muito de ser esclarecido quanto essa particularidade feminina em relação à etiqueta do espirro. Infelizmente minha cabeça não consegue chegar sozinha à uma resposta satisfatória. Se alguma moça puder clarear minha mente em relação a isso ficarei eternamente grato. Desde já agradeço pela atenção e até a semana que vem com um texto um pouco mais relevante.

Dia das Mães

No último domingo, também conhecido como dia 8 de Maio de 2016, foi comemorado o Dia das Mães. Nem preciso dizer que o tema do texto dessa quarta-feira já estava definido muito tempo atrás, afinal esse é o primeiro Dia das Mães do Cachorros de Bikini e data tão importante não poderia passar batida. Já tinha me preparado pra fazer alguma coisa parecida com o que eu fiz no Dia dos Pais, mas eis que um evento recente fez tudo mudar. A análise sobre a data em si vai ter que ficar pra 2017.

Na semana passada foi aniversário de Vó. No dia 4 de Maio ela chegou à impressionante marca de 84 anos. Infelizmente não pude dar os parabéns pessoalmente no dia 4, por isso dei uma ligada pra ela. Até aí nada de muito diferente dos anos anteriores, foi quando ela me disse uma coisa que me deixou pensativo. Em meio à alegria de receber os parabéns, ela me diz “você é um filho que eu não tive, os outros todos eu tive, não tive você, mas você ainda é meu filho”. Caso as palavras de Dona Irene tenham te deixado com dúvida, me dê um momento e eu vou esclarecer. Vovó teve um monte de filhos, alguns morreram ainda muito pequenos, o mais velho morreu adulto, e os outros cinco que restaram são todos filhos ótimos, ou seja, de filho minha vó não tem do que reclamar. Pra ela os netos sempre foram tão filhos quanto qualquer um dos outros, filhos que não foram gerados por ela. Pode parecer redundante falar isso, afinal, por definição, vó é mãe duas vezes, mas uma coisa é você saber que é assim, outra é você ouvir isso da matrona da família Gomes. Até por que nem todas as avós pensam nos netos efetivamente como filhos. Refletindo sobre isso atentei para um detalhe. Atentei pra todas as mães que tem filhos que elas não tiveram.

A maternidade é algo natural. Ela deriva dos instintos de preservação da espécie e zelo pela prole, acredito que todos os mamíferos agem movidos por esse instinto. Porém nem sempre o processo de gerar um filho é obrigatório para manifestação da maternidade. Tem vez que acontece por escolha, outras por acidente, mas boa parte das pessoas acaba sendo um filho pra várias mães. Tias, avós, vizinhas e derivados são candidatas fortes à essa maternidade extra-uterina, principalmente as que já geraram seus filhos e os rebentos já estão crescidos. A prole cresce, fica independente, mas mãe não funciona do mesmo jeito. Mãe é mãe e pronto. Outras candidatas fortes são as que sempre quiseram, mas nunca geraram um filho. Com essas é um pouco diferente, nesses casos a maternidade não é só o instinto, é um chamado. Mulheres que nasceram com um alerta luminoso no coração que diz “INSIRA UM FILHO AQUI”.

E isso tudo eu falei só pra poder dizer que pra ser mãe basta ser mulher. Basta ter amor, vontade de nutrir e cuidar, um coração com espaço pra sempre caber mais um. Pra ser mãe basta ter um útero, não importa se ele já gerou dez filhos ou nenhum. Nem todo útero consegue gerar um filho, mas todos eles conseguem gerar uma mãe.

“Só O Homem Penitente Passará”

Outro dia estava eu me lembrando de um dos maiores clássicos do cinema mundial, Indiana Jones e A Última Cruzada. Nesse filme de 1989, Indiana Jones parte atrás do Santo Graal e se mete em muitas confusões por causa de uma turminha do barulho. Já no final do filme, Dr. Jones precisa resolver uns puzzles pra conseguir chegar no graal. Cada um desses desafios tem uma dica marota que deve ser desvendada pelo nosso herói, caso contrário ele não só perderá o graal, mas também poderá perder a vida. Não lembro direito quais são esses desafios ou quais as dicas pra solucioná-los, mas uma dessas dicas ficou gravada na minha memória: “Só o homem penitente passará”.

Essa frase me veio na cabeça durante conversas que tive com diferentes pessoas ao longo dos últimos dias. Todas elas relataram estar passando por alguma dificuldade ou estar desanimado por causa de algum ocorrido na vida. Para todas elas eu disse a mesma coisa: “o que aprendemos em Indiana Jones e A Última Cruzada? Só o homem penitente passará”. Não que alguma dessas pessoas estivesse de fato pagando alguma penitência, mas acho que essa frase se encaixa bem em vários momentos da nossa vida.

Por definição, penitência é uma pena imposta, ou auto imposta, para expiar a culpa gerada por cometer algum erro. Na prática a penitência nada mais é do que um sofrimento e/ou sacrifício temporário que nos faz melhorar em algum aspecto do nosso caráter. Partindo desse conceito podemos afirmar que somos todos penitentes, já que o sofrimento e o sacrifício são tão comuns em nossas vidas que praticamente não existe um momento em que estamos totalmente livres de uma dessas duas coisas. Então quando estiver passando por um momento meio marromeno, quando faltar ânimo e disposição pra encarar os desafios, lembre-se que a dificuldade é uma oportunidade de crescimento, desenvolvimento e evolução. Que muitas vezes uma frase besta de um filme velho que tem pouco compromisso com a realidade pode gerar uma reflexão interessante. Então não se esqueça: “Só o homem penitente passará”.

Dois Minutos de Ódio

Eu nunca li nem assisti 1984. Em um tempo que nem se pensava em coisas como Jogos Vorazes, Divergente, Convergente, Detergente, Vem Com A Gente e outras distopias juvenis, uma galera já escrevia sobre futuros que não tinham dado certo. Um desses caras foi George Orwell, autor de 1984. Apesar de nunca ter lido esse clássico da ficção do século XX, acabei ouvindo um ou outro comentário aqui e ali a cerca da obra. E uma das coisas que mais ficou na minha memória foi justamente o horário que unificava toda uma nação: os Dois Minutos de Ódio.

    Funcionava de uma maneira bem simples. Todos os dias o governo super controlador retratado no livro exibia na casa das pessoas um vídeo mostrando um famoso inimigo do Estado. Durante essa exibição todas as pessoas colocavam pra fora todo o ódio que sentiam. Direcionando esse sentimento destrutivo para um inimigo do Estado e não para o Estado, que era o verdadeiro vilão dessa história. Aí fica a duvida de onde eu quero chegar com esse papo todo. Estava eu pensando outro dia se talvez não fosse bom instituir os Dois Minutos de Ódio.

    Ódio é uma palavra muito feia e normalmente usada de forma precipitada. Um sentimento tão negativo talvez tenha sido experimentado genuinamente em pouquíssimas ocasiões ao longo de nossas vidas. Talvez se somarmos todas as coisas que nos irritam na vida, possamos chegar perto do que é o ódio verdadeiro, e se de fato fizéssemos isso? Se resolvêssemos focar todos os nossos sentimentos negativos em um único ponto? Será que o efeito seria igual ao livro? Esqueceríamos de detestar aquilo que realmente nos faz mal e simplesmente agíssemos como se nada de realmente ruim estivesse nos acontecendo?

    Imagino que instituir esse tipo de extravasor tenha um efeito positivo. Principalmente pelo fato de deixarmos de nos irritar com coisas q não valem a pena, pois todo o nosso ódio estaria direcionado para um único ponto. Quem sabe eu institua algo como Dois Parágrafos de Ódio, só pra descarregar toda a minha raiva sobre alguma coisa. Isso provavelmente ocorreria pouquíssimas vezes… Talvez só depois de ler algo do tipo “Filmes Que Você Vai Querer Ver em 20XX”… Sempre tem uns filmes que me dão uma raiva descomunal, principalmente certos filmes de super herói produzidos pela FOX, mas isso fica pra outra hora. Esse tipo de ódio tem hora pra ser externado… Dois minutos, pra ser mais preciso.

Sabemos Coisas Terríveis Sobre Nós Mesmos

Outro dia estava eu vagabundeando pelo meu feed do facebook e me deparo com uma publicação deveras interessante. Uma amiga minha estava compartilhando uma página. Segundo a descrição da página, aquele era um lugar que promovia discussões saudáveis de todos os tipos, promovendo o enriquecimento intelectual de todos aqueles dispostos a participar. Como eu não sou um usuário hard de facebook e como meu intelecto fez um voto de pobreza, se negando a ficar rico, acabei atentando para o texto que essa minha amiga utilizou quando compartilhou a página. Entre outras coisas ela dizia “sabemos coisas terríveis sobre nós mesmos”. Isso já foi o suficiente pra deixar minha cabeça em estado de ebulição.

Pode parecer extremamente óbvio, mas somos as pessoas que mais sabem dos nossos próprios podres. Somos as maiores testemunhas dos nossos próprios crimes. Tudo que fazemos é conhecido por pelo menos uma pessoa. Mas esse conceito é bem besta, o que eu quero sugerir é um pequeno exercício mental.

Imagine uma pessoa hipotética, uma pessoa que sabe absolutamente tudo sobre você. Tudo mesmo. Vamos chamá-la de Pessoa A. Pessoa A está conversando sobre você com uma Pessoa B. Pessoa B só faz te elogiar, de um jeito que faz a Pessoa A ficar irritada. Como ela sabe tudo sobre você, decide acabar com a imagem que a Pessoa B tem de você. Então ela solta um podre cabuloso, daqueles que poderiam terminar uma amizade, um namoro, um casamento ou simplesmente fazer você parecer a pessoa mais horrível do mundo. Que podre seria esse?

O que fizemos que pode ser usado em uma fofoca venenosa? O que temos medo que seja descoberto? O que faria com que todo mundo nos visse de forma diferente? Essas perguntas são bem simples de responder. Não importa se você precisa pensar um pouco, se precisa pensar muito ou se tem a resposta na ponta da língua. Não existe uma Pessoa A, mas você sabe exatamente qual a resposta.

A verdade é que sabemos coisas terríveis sobre nós mesmos. Que talvez sejam terríveis só pra nós e mais ninguém. Ou que sabemos que seriam terríveis para outras pessoas. Caso você ainda esteja em dúvida sobre quais coisas terríveis são essas, basta fazer um exercício bem simples: pense em você como se fosse outra pessoa. Talvez isso te renda mais conhecimento do que imagina.

A Odisseia Espacial de David Bowie

No começo dessa semana recebemos a notícia da morte de David Bowie. A primeira coisa que preciso dizer é que eu não sou fã desse nobre falecido, meu conhecimento acerca da obra dele só é maior do que o conhecimento da minha avó sobre The Walking Dead. A segunda é que, apesar de saber praticamente nada sobre a obra do nosso compadre David, tem uma música dele que eu gosto muito. Uma música que eu conheci por um acaso e que conta uma história muito curta, mas tão profunda e impactante que eu não podia deixar de falar sobre ela, principalmente na semana em que o seu compositor partiu dessa pra melhor. Hoje prestarei uma pequena homenagem. Hoje vou falar sobre Space Oddity.

    Eu conheci Space Oddity quase sem querer, em um video de um canal gringo muito simpático chamado Glove and Boots. Nesse video eles fazem uma brincadeira com o astronauta Chris Hadfield, que fez um clipe tocando uma versão de  Space Oddity no espaço antes de retornar para a Terra. Foi a primeira vez que eu ouvi a história de Major Tom, pelo menos um trecho dela já que nas duas versões citadas acima o final da história do Major não é contada. Depois eu escutei a música e soube do fim da história. Foi quando eu me apaixonei por essa música.

    A música narra a viagem de Major Tom ao espaço. No começo só o que ouvimos é a voz do Controle da Missão. As orientações são passadas, a contagem regressiva é iniciada, “vá com Deus” diz o Controle da Missão, a nave decola. Ele consegue, chega ao espaço, a decolagem foi um sucesso. Os jornais vão querer saber até qual camisa Tom usava quando chegou ao espaço. Ele é autorizado a sair da cápsula, se tiver coragem. Pela primeira vez ouvimos a voz do Major Tom, ele sai pela porta, a música chega ao auge, ele começa a flutuar de uma forma muito peculiar, as estrelas que ele observam não se parecem muito com as que ele via na Terra. A música desce, o tom do Major não é mais eufórico, mas sim reflexivo. Sentado em seu pedaço de lata ele se sente impotente, diante do mundo azul. Ele sente como se ainda estivesse no mesmo lugar, apesar de ter viajado tanto. Aparentemente ele não sabe o que fazer, mas aparentemente sua nave sabe onde ir. Ele deixa que ela o leve. Ele manda uma mensagem de despedida para sua esposa. O Controle da Missão perde o contato com o astronauta. Tom continua sua reflexão, dessa vez na órbita da Lua. É o fim da música, mas não exatamente o fim da história.

    Posteriormente Tom aparece em outra música de Bowie. Nela ele é citado como uma espécie de drogado. A própria viagem de Tom narrada em Space Oddity é considerada uma alegoria para o consumo de heroína, mas isso já é outra história. Seja Tom drogado ou não, seja o seu foguete uma seringa cheia de heroína ou não, ainda temos uma história profunda de um homem que viajou para o lugar mais longe que ele conhecia, experimentou coisas que não seriam possíveis para a maioria dos seres humanos e percebeu que no final ele não tinha ido tão longe assim. Talvez ele não tenha voltado justamente por não ter ido para lugar algum.

Voltar pra Casa

Existem algumas poucas coisas que são comuns a todos. Coisas que mostram que no fundo todo mundo é feito do mesmo material. Que pensa e sente de um jeito muito parecido.

    Um desses sentimentos comuns é aquele que desperta quando você, depois de muito ou de pouco tempo, volta pra casa.

    Muitos já disseram: o lar é onde o coração está. Apesar de não gostar de pensar no coração como alguma coisa além daquilo que ele é de fato, concordo com a afirmação.

Sair de casa é um ato de auto-agressão. Antes que me acusem de instigar a reclusão ou qualquer coisa do gênero, deixem-me explicar. As nossas casas, de maneira geral, são locais onde nos sentimos seguros. Essa segurança vem justamente do fato de conhecermos tudo que existe dentro dela. Desde o rangido que a porta faz até a parte do sofá que é mais fofa. Quando saímos somos lançados em um mundo hostil que cada vez mais parece querer devorar as nossas tripas e beber o nosso sangue.

Considerando o ato de sair de casa como uma coisa tão traumática, não é difícil pensar no retorno pra casa como uma benção divina. Gosto de pensar que todos os dias colocamos nossas roupas de mergulho, penduramos o tanque de oxigênio nas costas e mergulhamos no mundo. Quando voltamos no fim do dia, exaustos por tanto lutar com os inimigos que nos espreitam do lado de fora, conseguimos finalmente respirar. Tiramos todo o peso das costas, as roupas de borracha e os pés de pato e nos recuperamos pro dia seguinte.

Mas nem sempre saímos de casa pra matar um leão. As vezes, vezes essas que se tornam mais raras conforme a idade avança, saímos de casa apenas por diversão. Inclusive acredito que só conseguimos nos divertir por saber que temos pra onde voltar. Em algumas dessas vezes saímos de casa por vários dias, e em casos como esse tudo é bem mais forte.

Vamos manter em mente a analogia com o mergulhador. Imagine que ao sair de casa por vários dias você leva oxigênio suficiente pra respirar debaixo d’água até a hora de voltar. O tempo vai passando, e com o passar do tempo você se acostuma a ficar submerso, respirando com máscara e usando uma roupa de borracha. Em um determinado momento começa a pensar que não seria tão ruim continuar no fundo do mar, que poderia passar mais tempo vivendo daquele jeito. Mas chega a hora de voltar, a tristeza que o fim de uma boa viagem traz começa a se misturar com a ansiedade por voltar logo pra um canto conhecido. Assim como um mergulhador que vai se aproximando devagar da superfície, nos aproximamos vagarosamente do nosso destino, e quando finalmente colocamos os pés dentro de casa… Aquilo que sentimos faz todo o tempo fora ter valido a pena. Vale a pena passar um tempo longe, só pra poder se sentir mais feliz quando chegar em casa… É isso.

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