Não é um blog sobre cachorros e bikinis

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Sobre Ideias E Coisas Guardadas

Ontem estava eu sem ideias sobre o que escrever nesta quarta-feira, por isso acabei lembrando da minha lista de ideias. Em algum momento antes de começar a publicar meus escritos nesse humilde sítio virtual, eu tinha anotado algumas ideias para futuros textos. Acabou que essa lista não serviu pra nada e eu acabei escrevendo sobre tudo menos o que estava nela. Por um grande acaso lá tinha um tema que me pareceu promissor, mas não é sobre ele que escreverei hoje. Hoje o tema é a ideia que eu tive quando lembrei da minha lista de ideias.

    Eu não tenho o costume de jogar as coisas fora. A menos que elas sejam de fato coisas que não valem a pena guardar, provavelmente passarão os anos em algum lugar no fundo da gaveta até que eu os encontre por acaso. Se você, assim como eu, tem essa prática pouco recomendada de acumular todo tipo de tralha e cacareco sabe do que eu estou falando. Principalmente por que a parte boa de juntar todas essas coisas está justamente na magia que cerca esse reencontro casual.

    Encontrar um velho guardado que nem se lembrava mais que existia é quase como ver uma foto antiga de família ou encontrar um velho amigo. Imediatamente sensações de épocas passadas retornam com tudo e somos inundados pela mais pura nostalgia. Logo depois direcionamos todo o nosso carinho para aquela peça do passado recém redescoberta. Obviamente nenhum desses sentimentos nos fez guardar aquilo, só fomos guardando, foi ficando, ficando e ficou. Nós não jogamos fora pra preservar o passado ou eternizar nossas memórias. Não jogamos fora por falta de organização, preguiça, a ilusão de que aquilo vai servir pra alguma coisa algum dia ou então ficamos com tanta pena daquilo estragar que guardamos tão bem, mas tão bem, que acabamos não usando. Mas o mesmo não acontece depois do reencontro.

    Magia define o que acontece nesse momento singular. Se antes guardamos as coisas por um mero acaso, depois que nos reencontramos com elas o motivo é outro. Guardamos com carinho. Carinho recém adquirido pelo amor recém descoberto. Infelizmente o romantismo dessa história acaba quando guardamos as coisas de volta. O espaço que elas ocupam continuará sendo um espaço indisponível. Você vai ter que arrumar mais espaço pras suas tralhas novas e provavelmente vai tender a acumular menos tralhas em função disso… Ou você vai virar um acumulador pra valer e tudo vai ficar ainda pior, mas aí já é outra história.

Retrospectiva 2015

    2015 acaba amanhã e nada mais justo do que o último post do ano ser um ligeiro resumo do que aconteceu ao longo desses últimos trezentos e sessenta e poucos dias. O texto de hoje é um pouco mais sério do que de costume. Espero que você não se importe.

    2014 foi um ano muito cabuloso. Graças a isso todo mundo esperava de 2015 uma folguinha. Mas no lugar disso tivemos um ano que se esforçou pra superar o seu antecessor. 2015 foi cabuloso na  mesma proporção, mas ele conseguiu ser cabuloso de uma maneira muito diferente. Esse ano foi o ano do absurdo.

    De dólar batendo quatro e vinte até barragem de lama rompendo, passando por pedofilia ao vivo pra internet toda ver e policial batendo em menor de idade. Esse ano foi um ano de notícias que não davam pra acreditar. Cada olhada no jornal era um exercício de incredulidade. Um ano em que descobriram que uma mulher que fugiu por engano da Coréia do Norte, vazaram uma carta do nosso vice-presidente e bloquearam o Whatsapp é um ano digno de nota. E não citei esses últimos exemplos por serem mais importantes, mas por serem tão absurdos quanto as coisas sérias que rolaram nesse ano cão.

    Particularmente eu considero que 2015 foi um grande aprendizado. Normalmente é isso que a gente consegue aproveitar de tempo ruim. Esse ano muita coisa deu errado, muita mesmo. Apesar da quantidade grande de cagadas e arrependimentos acabei aprendendo uma ou duas coisas. Não necessariamente as coisas que eu de fato precisava aprender, mas foi o que deu pra fazer. Esse ano eu atingi picos de stress nunca antes vistos, tive alguns dos momentos mais divertidos e emocionantes da vida, ganhei um LEGO de presente, comprei uma estante e finalmente coloquei o Cachorros de Bikini no ar. Comecei a ver coisas que eu não via antes e olhar de forma diferente pra coisas que eu sempre enxerguei.

    2015 nos deixa meio quebrados. Foram quase doze meses apanhando desse calendário que demorou pra terminar. A mensagem que ele deixa pra 2016 é simples: lute. Se 2015 foi carrasco, 2016 não quer ficar atrás. Lute. Esse ano tudo vai jogar contra a gente. Lute. Não precisa levantar bandeira nem se alistar em nenhum exército, basta enfrentar e resistir. Lute. Foram o que os bons exemplos de 2015 me mostraram. Foi o que eu aprendi com Imperatriz Furiosa em Mad Max, Rey em Star Wars e com várias mulheres de carne e osso que levantaram suas vozes em 2015. 2016 está nos chamando pra briga e não temos como fugir. Lute, mas se é pra lutar, lute como uma menina. Elas entendem muito bem disso, bem mais do que você pode imaginar.

 

Férias

Não é novidade pra ninguém que muita coisa que você fazia/dizia/sentia/gostava quando era criança muda totalmente quando você vira adulto. Elas são uma forma da vida te convencer de que a era de ouro da sua vida já  era e que toda esperança de que ela voltará deve ser abandonada e a vida tem que seguir rumo à maturidade. Um dos grandes exemplos disso é o significado diferente que uma das palavras mais sublimes da língua portuguesa pode ter. Estou falando das belas, maravilhosas e ansiosamente aguardadas Férias.

Quando você é criança, e até um tempo depois disso, as Férias nada mais são do que um período em que você fica longe da escola. É quando se tem tempo de sobra pra fazer a única coisa que dá pra fazer nas idades mais baixas: ser criança. Coisa que fica muito mais fácil quando a escola não está lá pra atrapalhar. Tudo isso muda muito quando a gente cresce, por um simples fato: um adulto é dono do seu próprio nariz, mas não é dono do seu próprio tempo.

Pra todo mundo, ou pelo menos pra maior parte das pessoas, chega uma hora da vida em que é preciso oferecer sua força de trabalho em troca de alguns cobres no fim do mês. Por causa disso todo o tempo que possuímos é gasto com o trabalho ou tem o uso que fazemos dele limitado por causa do trabalho. Por isso a sensação que se tem quando as Férias chegam e você é adulto é justamente a de que seu tempo é seu mais uma vez.

Mas ao contrário dos tempos de criança, nem sempre as férias chegam de maneira tranquila. Elas são um direito garantido de todo o trabalhador com carteira assinada, mas elas podem sofrer um ataque severo dos chefes e acabarem adiadas, reduzidas ou simplesmente ignoradas. Além disso nada pode ficar pendente. Sair de férias e deixar trabalho pra depois está totalmente fora de questão. O único trabalho que deve esperar pela sua volta é o trabalho que surgiu durante sua ausência e não o que já estava lá antes de você sair.

Depois de todas as barreiras vencidas e todos os gigantes derrubados é chegado o momento sublime em que sentimos nossas velas estufadas pelos ventos da liberdade e navegamos para as águas tranquilas de um paraíso onde o dinheiro entra na sua conta sem que uma palha seja movida.

Depois de alguns dias voltamos pra guerra. Em pouco tempo as férias serão limadas de nossas mentes e não serão nada além de um pensamento distante de uma outra vida que não parece ser a nossa. Mas é como diz aquela musica, você não precisa de férias quando não tem do que fugir… Mas todos nós temos e por isso tiramos férias.

E ATEEEEENÇÃO!

Pessoas morrem todos os dias, mas as lendas morrem só de vez em quando. Um desses “de vez em quando” aconteceu ontem, 17 de Novembro de 2015, ontem faleceu Gino César, o Repórter do Bandeira 2.

Caso você, nobre amigo leitor, não resida em Pernambuco ou passou toda a sua vida sem ouvir nem um segundo do Bandeira 2, recomendo que assista esse vídeo abaixo. Caso seu tempo e sua disposição sejam muito limitados, não se preocupe, vou tentar não complicar a história.

Gino César faleceu aos 79 anos e trabalhou no rádio durante a maior parte deles, apesar de ter feito outros trabalhos ficou famoso como repórter policial, trabalho que fazia desde os 22 anos. Sem dúvida alguma o Bandeira 2 é o mais emblemático noticiário do gênero e Gino César o maior ícone do jornalismo policial no rádio pernambucano. Não falo isso apenas pela idade do sujeito, mas também pela forma peculiar de conduzir o noticiário, que acabou transformando o Repórter do Bandeira 2 numa figura folclórica, principalmente entre aqueles que estavam sempre com o ouvido colado no rádio durante as primeiras horas da manhã. Mas qual a minha relação com essa parada toda?

Uma boa parte do público do Bandeira 2 é formado por motoristas de táxi, profissão exercida pelo meu pai. Levando isso em conta, não é de se estranhar que em algum momento eu acabasse escutando o noticiário apresentado por Gino César. Sempre que eu estava no carro junto com meu pai de manhã bem cedo era o Bandeira 2 que tocava no rádio. Eu sempre achei muito curioso, e até divertido, ouvir uma notícia sobre um homem que chegou baleado no Hospital da Restauração que terminava com uma lista de todos os funcionários do hospital que participaram do socorro. Logo depois, sem alterar o tom da voz ou o ritmo da fala, Gino César fazia propaganda de água sanitária e de cuscuz e sem o menor aviso ele soltava um “E ATEEENÇÃO!” antes de voltar para as notícias da madrugada.

Gino César foi o primeiro e único Repórter do Bandeira 2 durante vários anos de sua vida. Não só virou referência para um gênero, mas também se tornou um personagem da cultura popular, um sinônimo de noticiário policial. Fico pensando como Gino César noticiaria o seu falecimento, não é um exercício de imaginação muito difícil para aqueles que o ouviram no rádio, principalmente por que todos sabem como começaria uma noticia dessa importância.

Quando Setembro Acabar

O ano era 2004. Onze anos atrás o Green Day lançou um disco que fez um sucesso bem grande na época: o American Idiot. Nunca simpatizei muito com o Green Day, tanto é que nunca ouvi nada deles além do que vi na Mtv, mas sempre achei legal o conceito de lançar um disco que contava uma história. Apesar de nunca ter ouvido o famigerado disco lembro de boa parte das músicas, das que viraram video clipe pelo menos.De todas as músicas daquele disco, muito provavelmente, uma das únicas que é lembrada até hoje é Wake Me Up When September Ends, ou simplesmente “Me Acorde Quando Setembro Acabar”. Setembro acaba hoje, não tem melhor dia pra falar dessa música.

Em 2004 os ataques terroristas do 11 de Setembro tinham acontecido fazia apenas três anos e boa parte das cicatrizes que vemos hoje nos norte-americanos ainda eram feridas naquele tempo. Essa música não fala dos ataques, ela fala do passado, mas não do passado como estamos acostumados. Wake Me Up When September Ends é uma reflexão de como as coisas passam, de como o tempo passa sem nos darmos conta, de como algumas coisas traumáticas não parecem se distanciar de nós com o passar do tempo. Tudo isso está ligado ao mês de Setembro, tão marcante e traumático para o autor da música quanto para o público que ainda sentia os efeitos do 11 de Setembro.

Setembro é um mês doloroso pra muita gente, mesmo para aqueles que nunca escreveram uma música ou sofreram com os ataques terroristas. Muitas pessoas viram a folha do calendário torcendo para que o o mês nove não demore pra acabar. Muitos gostariam de poder dormir e só acordar quando Setembro acabar. Infelizmente não dá pra fazer isso, mas pelo menos Setembro do ano da graça de 2015 deu uma forcinha, correu e passou voando. Setembro veio e acabou. Qualquer coisa ruim que ele acabou trazendo não durou mais do que trinta dias. Já podem acordar, mais um Setembro acabou.

Equalize

Há um tempo atrás peguei uma carona e, pra minha surpresa, começou a tocar uma musica de Pitty no rádio, mais especificamente Equalize. Confesso que nunca fui admirador da famigerada roqueira baiana, mas muitas das coisas que te jogam pro passado não são necessariamente as que você  gosta, são as que estavam lá quando o passado ainda era presente.

Essa música me jogou pra quase 10 atrás. Quando eu passava a tarde assistindo Mtv com o meu, até então inseparável, irmão. Naquele tempo eu sabia ainda menos coisas da vida do que o pouco que sei hoje, principalmente as que eu gostaria de nunca ter sabido, não ganhava dinheiro algum e me orgulhava de ir muito bem na escola.

Mas coisas mudaram, mudaram muito. Os anos foram rápidos e as mudanças não ficaram muito atrás. Aprendi muito mais do que eu fingia saber, tive algumas poucas conquistas e consegui muito do que eu queria. Olho pros livros na prateleira e lembro do tempo que tudo o que eu lia era emprestado, quando fui fazer o ensino médio no Recife e conheci muitos dos amigos que tenho até hoje. Quando eu comecei a realmente ouvir música e ainda cogitava terminar de escrever o livro que eu tinha começado aos onze anos, pouco antes de ficar sem escrever por alguns anos.

Antes da explosão dos filmes em 3d e das TV’s HD, antes de tudo poder ser curtido e compartilhado e os programas do domingo não usarem os Trending Topics como base pras suas pautas. Quando o Faustão era gordo e o Gugu parecia que nunca ia sair do SBT. Entrar na internet fazia barulho e todo mundo conversava pelo MSN. O salário mínimo era ainda mais mínimo e dava pra comprar cartão telefônico em qualquer esquina, ainda existiam notas de um real e estudante usava Passe Fácil no ônibus.

Tempos bons que não voltam, e é melhor que não voltem. Antes que eu pareça contraditório me deixe explicar: por melhor que o passado tenha sido precisamos dele lá, onde sabemos que ele está, seguro em um lugar que ninguém além de nós mesmos pode alcançar. “Passado é propulsão” já dizia a música, justamente por que aquilo que deixamos pra trás é o que nos ajuda a caminhar sempre pra frente.

Meus Problemas com Barba

Há mais ou menos dois anos já estava formado o embrião que se tornaria o Cachorros de Bikini. Naquela época eu escrevi alguns dos textos publicados nos últimos meses, alguns dos que ainda serão publicados e outros que nunca virão a público. Dentre os componentes desse último grupo está um texto com o sugestivo título de “Barba”.

Recentemente resolvi deixar os pelos da face crescerem a vontade, por isso publicar um texto da reserva com essa temática me pareceu uma boa ideia, mas alguma coisa me fez desistir. Puxei pela memória e percebi que o tempo afastou aquelas palavras de mim. Minha voz não estava mais naquele texto, pelo menos não como eu a escuto hoje, e isso me levou a refletir. O que mudou ao longo desse tempo?

Muito provavelmente a maioria das coisas continua no mesmo lugar, mas talvez eu tenha mudado ou mudado a minha relação com a minha barba. Quem sabe a qualidade do texto me pareça menor do que antes ou simplesmente o tema não me interesse como interessou na época. Será que no futuro olharei para meus cachorros publicados e pensarei a mesma coisa?

Foram só dois anos (na verdade um pouco menos), mas foi o suficiente para que alguma coisa mudasse e provavelmente as coisas continuarão mudando. Fico pensando se isso foi só o começo de uma mudança maior ou de uma mudança na ótica pela qual eu enxergo minha produção recente. Talvez em algum momento eu olhe para os cachorros que habitam nesse humilde sitio e perceba que as roupas de banho que eles usam estão fora de moda. Provavelmente algo desse tipo nunca vai acontecer, afinal estamos no Brasil e por aqui bikini nunca saiu de moda. Sem contar que sungas, maiôs e tanguinhas não me parecem trajes adequados para os meus cachorros.

Deixa Terminar

Na semana passada eu publiquei um texto falando sobre o final de uma série que eu gosto muito e sentimento que o fim das coisas desperta (caso não tenha lido clique aqui). Mas um dia desses recebi uma noticia que me fez refletir: Naruto acabou, mas voltou. Não sei exatamente se a volta foi definitiva ou se foi ligeira pra matar a saudade. A questão verdadeira aqui é a seguinte: não estão deixando as coisas terminarem. Mas o maior exemplo disso nem é Naruto, ele não chegou nem aos pés de Toy Story.

Quando saiu Toy Story 3 eu me preparei pra dar adeus a uma coisa que fez parte da minha infância. Lá em 1995 eu fui pro cinema pela primeira vez e o filme em cartaz era Toy Story. Nem preciso dizer que eu me apaixonei pelo filme, e pela Pixar, naquele momento. Foi todo esse amor que eu levei pra sala de cinema alguns anos depois, quando fui ver o ultimo Toy Story. No fim do filme eu e boa parte da galera estávamos aos prantos. Não só pelo desfecho emocionante de um filme carregado de emoção, mas também daquela ser a despedida de personagens que permearam minha infância e moldaram meu caráter infantil. Aí pegam e anunciam que vai ter um Toy Story 4.

A primeira coisa que eu pensei foi “e eu chorei aquilo tudo pra NADA?”. A segunda coisa foi “tão de sacanagem” “eles não querem largar o osso mesmo”. Dizem por aí que em time que tá ganhando não se mexe, mas de uns tempos pra cá a galera tá levando isso bem a sério. Não sei se é por medo de arriscar ou por puro comodismo, mas nunca antes se reciclou tanta ideia quanto hoje em dia. O retorno garantido deixou a possibilidade de fazer algo novo em segundo plano. A zona de conforto criativa se tornou confortável demais, pior pras ideias novas, que estão cada vez mais sem espaço.

Pra finalizar eu digo que se é pra terminar que termine, deixem que faça falta e dê saudade. Deixem que as coisas novas venham e conquistem seus próprios lugares dentro dos nossos corações. Não parem de procurar a fórmula do ouro só por que conseguiram fazer o chumbo ficar brilhante.

Acabou

Acabou. Foi um dia desses. Não foi sem aviso, nem foi antes da hora, mas chegou ao fim. Depois de tanto tempo acabou. Não que fosse uma coisa muito importante na minha vida, mas fazia parte. Sentirei falta? É provável. Mas talvez o sentimento de que nunca mais aquilo será uma novidade é que me deixe um pouco triste, mas fazer o quê? Acabou. Nesse momento, nobre leitor, a pergunta que surge em sua cabeça deve ser “O que foi que acabou?”.

Um dia desses chegou ao fim uma das séries de maior sucesso de seu gênero, referência cultural pra toda uma geração. Antes de ouvir a resposta peço a você, caro leitor, que abandone esse texto apenas depois da conclusão do meu raciocínio. De acordo? Ótimo, então já posso dizer que, um dia desses, Naruto acabou.

Antes de descarregar ofensas contra mim deixe que eu me explique.

Não sinto nada pelo fim da série em si. Falo sério. Apesar de me considerar um fã não foi isso que me motivou a escrever essa pequena reflexão. Mas sim o que eu pensei depois do fim da história do ninja galego de cabelo espetado. O que eu sinto é aquilo que todos nós sentimos quando algo simples e aparentemente banal, como uma série de TV, de histórias em quadrinhos, filme ou novela, que faz parte de nossas vidas durante muito tempo acaba. A sensação de que as coisas estão mudando. E atire a primeira pedra aquele que se sente plenamente confortável com o sentimento de mudança. Não é culpa sua, fomos programados assim.

Pensar que nunca mais vou parar uns minutos pra debater sobre os últimos capítulos com algum amigo, ou ouvir alguma novidade que me faz correr atrás do que eu ainda não li tem um gosto meio amargo. Amarga a boca quando eu penso que um dos elos que eu ainda tinha com os meus tempos de adolescência virou passado, e hoje habita apenas na lembrança, junto com os meus 16 anos. De que a próxima vez que eu conversar sobre isso com alguém vou utilizar apenas verbos no passado. De que no máximo eu vou poder reler o que eu já li. Menos uma coisa na lista do que faz tempo que eu leio/assisto/acompanho. E isso amarga

Talvez pareça exagero da minha parte, mas quem nunca se sentiu assim? Quem nunca sentiu falta ao fim de uma série de filmes ou de livros, novela ou seriado de TV? Quem nunca pensou em como teria que arrumar outra coisa pra discutir com os amigos ou com os colegas de trabalho que compartilham o mesmo gosto pelo assunto?

No final todos esperam curiosos pelo fim, mas não querem romper os laços e deixar aquilo pra trás. Não vou cair no absurdo de dizer que minha vida nunca mais vai ser a mesma depois disso, mas sempre vai ser estranho pensar que acabou.

Contos de Segunda #3

Aluísio tinha uma relação muito particular com a Segunda-feira. Praticamente todas as coisas relevantes da sua vida aconteciam no primeiro dia útil da semana. Todas elas.

Nasceu em uma segunda-feira dia 02 de fevereiro, no segundo ano de mandato do presidente na época, coincidentemente o segundo ano da década. Numa segunda aprendeu a falar, em outra a andar. Nos tempos que jogava futsal na escola sempre se destacava, caso o jogo acontecesse em uma segunda. Sempre se destacou nas provas, caso o resultado das mesmas fosse divulgado no começo da semana. O mesmo ocorreu quando ele passou no vestibular, na segunda vez. Ele também conheceu Amélia numa segunda.

Amélia e Aluísio se conheceram, começara a namorar e ficaram noivos em três segundas bem distintas. E apesar de todas essas coincidências eles tentaram se casar em um domingo. Mal sabiam eles que não conseguiriam.

Ao marcar a data o detalhe do dia da semana passou despercebido. Na verdade só quando Aluísio acordou naquele domingo percebeu o tamanho do problema. Ele deveria ter marcado o casamento na sexta ou no sábado. O domingo estava tão perigosamente perto da segunda que ele já estava conformado com o insucesso da cerimônia. Como preocupar a noiva só anteciparia o desastre, nada em relação ao problema do calendário foi informado.

A cerimônia estava marcada para as 16 horas. A noiva entrou na igreja às 17. Essa hora de atraso acabou fazendo com que o padre tivesse uma reação alérgica devido ao tempo exposto às flores no altar. Enquanto ele era socorrido um ex-namorado de uma das madrinhas, inconformado com a separação, entrou armado na igreja e fez os convidados de refém. A polícia conseguiu prender o ex-namorado após algumas horas de negociação, mas todos os convidados precisaram prestar depoimento sobre o fato ocorrido. Tudo isso fez com que a mãe da noiva tivesse uma forte crise de ansiedade, o que deixou a noiva psicologicamente incapacitada por mais de uma hora. Mais ou menos na hora que o padre voltou do hospital. Mas o pobre sacerdote voltara praticamente sem voz. Por sorte ele e os noivos sabiam falar em linguagem de sinais,  mas faltou luz antes da cerimônia poder ser iniciada.

Quando o relógio bateu meia-noite a luz voltou, o ultimo convidado concluiu seu depoimento, a voz do padre voltou e os nervos da noiva se recuperaram. Afinal, era segunda e as coisas importantes da vida só aconteciam junto com ela, pelo menos com Aluísio era sempre assim.

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