As peripécias de Luciana e Roberta para fazer Jorge e Cristina ficarem juntos não começou hoje. Esse conto é uma continuação dos Contos de Segunda#34 e Contos de Segunda #42.

   — Deixa eu ver se eu entendi direito. Vai rolar um ensaio do casamento do seu irmão. A banda do amigo de Jorge vai estar lá e você quer que eu apareça lá pra chegar nele? — Luciana aparentava uma confusão proposital.

    — É — respondeu Roberta mais concentrada no salmão defumado do que nas sutilezas da amiga.

    As duas não se falaram muito desde o dia em que Fábio confirmou que tocaria no casamento do irmão de Roberta. Um ensaio do casamento marcado em cima da hora fez as duas almoçarem juntas

    — Quem ensaia casamento em dia de segunda?

    — Alguém que não pode ensaiar outro dia — no ranking da atenção de Roberta, Luciana estava atrás do salmão e do celular.

    — Foco, Roberta, estamos discutindo coisa séria.

    — Nem tem muito o que discutir. Hoje você aparece comigo lá no ensaio e quando acabar tudo conversa com Fábio. Simples assim.

    — Preferia fazer isso no casamento do teu irmão.

    — Não sei se você sabe, mas Cristina estudou com Beto na faculdade e ela vai estar lá no casamento. Acabo de lembrar que ele estudou contigo também, mas até onde eu sei Beto não vai com a tua cara.

    — E daí?

    — E daí que esse seu plano só vai funcionar se ela não suspeitar de nada. Por que se ela sentir o cheiro dessa armação, vai cantar essa pedra pra Jorge e já era esse teu Game of Thrones versão cupido.

    Contra esse argumento Luciana não encontrou resposta além do silêncio. O relógio estava quase nas nove horas da noite quando ela e Roberta chegaram ao salão de festas. Os noivos já tinham combinado a trilha sonora da cerimônia e agora estavam ensaiando a valsa. Somewhere Only We Know seguido de Burnin’ Love. A banda de Fábio tinha um homem no vocal, mas uma voz feminina foi recrutada para ajudar na versatilidade da banda e permitir os duetos.

    — Acho que ainda vai demorar — Roberta analisava o relógio arrependida, devia ter comprado um maior.

    — Então é a nossa chance — Luciana já tinha analisado todo o ambiente.

    — De quê?

    — De chamar a atenção de Fábio, o que mais seria?

    — O cara tá trabalhando, Luciana. Tem umas cadeiras ali e…

    — Nada disso — Luciana rapidamente se posicionou atrás da amiga, colocou as mãos nos ombros dela e começou a empurrar. — A gente vai esperar um pouco, quando eles se prepararem pra repetir a música você vai ali cumprimentar seu irmão e vai aproveitar a deixa pra falar com Fábio e vai dizer que é amiga de Jorge. Isso vai chamar a atenção dele o suficiente pra ele dar uma olhada ou outra pra onde a gente estiver sentada, o resto é comigo.

    Elas precisaram esperar só um minuto. A música terminou. Beto e sua noiva estavam bem satisfeitos com a performance deles e da banda. Roberta aproveitou a pausa para se aproximar.

    — Caramba, Beto. Não pensei que essa valsa ia ficar tão boa. Obviamente não por causa da noiva, sempre confiei em você, Angela.

    — Eu também pensei que não ia rolar. Nem sei como te agradecer por ter conseguido a banda.

    — Não fiz nada, Jorge que conseguiu convencer a banda a aceitar o convite — ela se virou para a banda. — Boa noite, pessoal.

    — Boa noite! — Respondeu a banda em coro.

— Você deve ser Roberta? — A pergunta vinha do guitarrista.

— Sou eu. Falei contigo no telefone.

— Avise a Jorge que ele só não fica me devendo essa, por que se der certo a gente pretende aproveitar esse segmento matrimonial. Vai ficar pra ver o ensaio?

— Sim, tô ali com uma amiga. Comentei sobre essa história de vocês tocando no casamento e ela ficou curiosa — Roberta olhou pro relógio. — Olha só a hora, e eu aqui atrapalhando. Vou ficar ali até vocês terminarem.

O ensaio recomeçou. Uma dúzia de passos e Roberta chegou onde estava Luciana.

— Valeu, amiga. Agora é só ele agir como o previsto e tá no papo.

O plano de Luciana deu certo. Volta e meia Fábio dava uma olhada discreta para onde as duas amigas estavam. Luciana respondia com olhadas nem tão discretas para o guitarrista. Quando os olhares ficaram mais frequentes ela resolveu brincar com o ego musical dele. Luciana começou a cantar as músicas junto, depois começou a se mexer na cadeira e terminou puxando Roberta para dançar imitando os passos dos noivos. Fábio já estava com a guitarra dentro do case quando foi falar com as duas.

— Que bom que gostaram da música.

— Vocês são muito bons mesmo eu até…

— Tô apaixonada pelo som de vocês — interrompeu Luciana. — Você deve ser o amigo de Jorge, né? Luciana, prazer — A mão já estava estendida antes do “prazer” terminar de sair da boca.

— Fábio. Se gostou agora vai ficar impressionada no casamento, vão rolar umas surpresas bem interessantes.

— Eu não fui convidada, há quem diga que o noivo me detesta.

— Jorge também não fala muito bem de você.

Luciana corou. Todas as dezenas de respostas possíveis morreram ainda na garganta. Ela gaguejou e não saiu nada. Fábio abriu um sorriso.

— É uma pena que você não vai pro casamento, mas se quiser ouvir a gente tocar e estiver com a quinta-feira livre, é só dar uma chegada nesse bar aqui — Fábio sacou um folheto do bolso e entregou a Luciana. — Depois do show você me explica por que Jorge gosta tão pouco de você. Agora preciso ir pra não perder a carona. Até mais.

    Elas esperaram o guitarrista se afastar em silêncio. Luciana ainda estava corada quando Roberta falou.

    — Pois é, amiga. Parece que tudo deu certo. Fico impressionada com a tua capacidade de interpretação.

    — Tô achando que não foi bem isso, Roberta — as palavras saíram devagar da boca de Luciana. — Acho que essa história não vai ficar só com Jorge e Cristina.

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