Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Tag: Criatividade

Vai Sair Um Disco Novo

Essa semana estava eu passeando pela minha caixa de email e me deparei com a notificação de um serviço de streaming me avisando do lançamento da nova música de uma cantora que eu gosto muito. Prontamente entrei no site da moça e vi uma maravilhosa notícia: vai sair um disco novo no início do ano que vem. Sem nenhum motivo aparente essa notícia me fez escrever esse texto.

    Se você acompanha o trabalho de algum artista, seja ele músico, escritor, ator, diretor, desenhista, roteirista e derivados, deve conhecer qual a sensação de saber que algo novo desse fulano está pra chegar. A data do lançamento é o Natal do fã e o disco/livro/filme é o presente. Diferente das tradições que envolvem as festas natalinas, o presente vai ser trazido por uma pessoa de carne e osso, sobre a qual não há dúvidas quanto à existência. A expectativa é muito parecida também, já que normalmente o fã é alimentado aos poucos com inúmeras prévias, teasers, trailers, imagens de bastidores, singles do álbum vindouro e coisas do tipo. Nosso monstrinho da expectativa é alimentado e vai crescendo até que chega a fatídica data de abrir o presente… Mas não são todos que procedem assim.

    As vezes somos surpreendidos com lançamentos que não foram anunciados previamente, que escaparam do nosso radar ou que não tiveram prévias para alimentar monstrinho nenhum. É quando somos pegos de jeito, estamos desarmados e desprevenidos, despidos de qualquer preconceito e talvez mais abertos aquilo que nos será apresentado. A expectativa dá lugar a um momento breve de tensão e ansiedade, o momento que fica entre  o nosso “O que é isso aqui?” e o primeiro acorde da canção, primeira página do livro ou a cena de abertura do filme. Instantes que são quase uma apneia mental ou o último suspiro antes do mergulho.

    Então é chegada a hora da verdade. Hora de ver se a espera realmente vale a pena. O momento em que bate aquele medo de tudo ser uma grandessíssima bosta, mas normalmente ele é vencido pela confiança naqueles que nunca nos decepcionam. Às vezes somos recompensados pela nossa espera, às vezes não, mas se de um lado nos decepcionamos, por outro temos nossas expectativas superadas. Quando eu vejo que vai sair um disco novo eu fico com um pé atrás, nunca se sabe quando esses músicos vão inventar alguma maluquice, mas a música que me motivou a escrever esse texto ficou tão legal que o monstrinho da expectativa já começou a crescer. Falta muito pra fevereiro?

Aqui Jaz

Outro dia uma moça que trabalha na mesma empresa que eu me relatou sobre a sua momentânea falta de animo. Segundo ela o desanimo estava tão grande que ela estava morta. Sugeri então que fosse colocada uma plaquinha com um “Aqui jaz…” em cima da mesa. A ideia agradou tanto que eu continuei o comentário sugerindo um epitáfio completo, que ficou mais ou menos assim:

“Aqui jaz (nome da moça)

Fillha Amada e Esposa Dedicada”

Empolgada com a ideia e não muito satisfeita com um resumo tão sucinto ela disse “E Amiga…”, dando a deixa pra que a frase fosse completada por mim. Incapaz de imaginar algo no momento resolvi pedir um tempo pra pensar e, enquanto voltava para meu local de trabalho comecei a refletir.

Desde criança eu gosto de epitáfios. Claro que eu gostava dos que apareciam nos filmes e desenhos animados, mas a ideia de resumir o que uma pessoa significava para seus  entes queridos ou de passar uma mensagem que ilustra a personalidade do falecido usando apenas algumas palavras é um conceito que me maravilha até hoje. Porém toda essa conversa de epitáfio, lápide e defunto me fez atentar para a injustiça cometida. Depois de morrer só temos direito a uma frase. Uma só, umazinha. Não mais que algumas palavras serão nossa herança para os transeuntes do cemitério.

Imagine só viver uma vida inteira, casar e ter filhos, ser um profissional de qualquer área, ter um hobbie, ser um cidadão ativo, ajudar as pessoas, envelhecer, ou não fazer nada disso, mas ainda assim fazer alguma coisa da vida. Depois de tudo isso ter direito a apenas uma frase. Um punhado de palavras para mostrar àqueles que nunca te conheceram o que você era. Prosseguindo com meu raciocínio cheguei à conclusão de que eu estava prestes a cometer essa mesma injustiça ao completar a frase e finalizar o épitáfio da minha colega de trabalho. Uma frase é muito pouco, não só pra ela, pra qualquer um.

No final acabei completando a frase: “…de todas as horas, até nas horas finais”. A frase foi bem recebida, mas ainda senti aquele gosto que fica na boca quando se comete uma injustiça.

Não Deu pra Terminar

Sentei na cadeira. Escrevi. Não consegui continuar. Parei pra ler. Ficou ruim. Levantei e arrumei algo melhor pra fazer.

Foi exatamente isso que aconteceu com um texto que eu queria escrever há tempos. Um tema que na minha cabeça prometia, tema bastante conhecido por mim inclusive: a hora extra. Tive umas ideias, pensei que ficariam legais no papel. Eu comecei o texto até empolgado. Mas não veio, não deu aquele barato. Quando eu percebi que o processo de escrita estava me incomodando resolvi ler o que tinha saído até então. Na hora eu notei, mas demorou pra que finalmente eu aceitasse. Ficou tão ruim que não dava vontade de continuar escrevendo.

Não é a primeira vez que acontece. Faz tempo que eu abandonei a ideia de que cada texto escrito precisa ser melhor do que o anterior. Mas esse texto conseguiu me tirar o sossego. Não sei se foi a frustração de ver um tema, aparentemente, divertido ser transposto pro papel de forma tão desinteressante e sem brilho.

Eu queria ter conseguido falar sobre a trilha sonora pitoresca que rola nas horas extras, das besteiras que a galera consome e das coisas esquisitas que acontecem conforme o relógio avança. De como a proximidade da meia-noite nos deixa com as ideias trocadas e de como é chato chegar de manhã no escritório e ver que o sono te fez esmerdalhar tudo e que o seu adicional noturno não valeu de muita coisa. Fazer isso tudo de um jeito interessante não rolou. Sério. Não deu.

Fiquei desanimado um tempo. Isso somado com as correrias da vida me fizeram perder um pouco da vontade de escrever por um tempo, mas agora já foi. Não tenho coragem de apagar o coitado, assim como não apaguei os meus outros escritos que deram errado, pouco certo ou ficaram bem ruins. É bom deixar ele lá pra caso eu escreva alguma coisa muito boa. Vou precisar de algo pra me lembrar que a qualquer hora eu posso escrever uma coisa muito ruim.

Contos de Segunda #9

Renato tinha um blog. Lá ele publicava um conto toda segunda-feira até então. Porém havia um problema: ele não tinha ideias para o conto da próxima segunda. Sentado diante do computador contemplava há horas o documento ainda em branco. Nada. Nenhuma palavra. Os olhos ardiam de tanto encarar o branco do editor de texto. Os dedos se contorciam de tensão sobre o teclado. A cabeça fervilhava com inúmeras coisas, nenhuma delas era uma ideia aproveitável. Ele precisava pensar em alguma coisa.

A primeira tentativa de ativar as ideias foi assistir um episódio de alguma série há muito deixada de lado. Depois de três episódios Renato estava plenamente convencido dos motivos que o levaram a abandonar a série. A segunda tentativa foi retomar a leitura de um livro enorme de fantasia medieval que estava sendo consumido em ordens homeopáticas. Depois de dois capítulos um dos personagens mais importantes morre de forma tão inexplicável e brutal que as próxima meia hora foi dedicada a xingar muito em alguma rede social. A terceira tentativa consistiu em olhar ao redor em busca de alguma inspiração, nisso e em pedir pelo amor de Deus que uma ideia viesse logo.

A ideia veio. Talvez não fosse a melhor ideia do mundo, mas qualquer coisa é melhor que nada. Os dedos correram frenéticos pelo teclado, os olhos mal piscavam e poucos instantes depois o primeiro parágrafo estava pronto. Estava bom o suficiente para garantir que o texto não seria abandonado sem conclusão. Escrever sobre alguém que não tinha o que escrever pareceu bastante interessante, talvez rendesse alguma coisa que prestasse. Começava mais ou menos assim:

“Tadeu tinha um blog. Lá ele publicava um conto toda segunda-feira até então. Porém havia um problema: ele não tinha ideias para o conto da próxima segunda…”

Ideias

Escrever é uma coisa interessante, pelo menos pra mim. Eu normalmente escrevo contos e outras coisas como este texto que você, querido leitor, está lendo nesse momento. Eu não escrevo contos por ter uma boa estória pra contar. Também não escrevo textos como este por ter algum pensamento ou reflexão genial pra dividir com os que me lêem. Não. Existe um motivo puro e simples que me leva a sentar, algumas vezes por horas, na frente de um computador e exercitar meus dedos no teclado: as ideias precisam sair.
Eu gostaria de ter algum processo criativo exótico ou inusitado. Não tenho. O que acontece comigo não tem nenhum mistério: eu tenho uma ideia e essa ideia me incomoda até ser colocada no papel. Normalmente as ideias crescem e amadurecem um pouco antes de seguirem para o papel, mas elas me incomodam desde o nascimento.
Quando eu comecei a escrever sobre assuntos aleatórios, coisas sem a mínima relevância ou aplicação prática, uma ideia que não para de me incomodar, decidi fazer uma lista de ideias para futuros textos. Tive algumas e as coloquei no papel. Assim como a minha lista de ideias para futuros contos, a lista de futuras crônicas não passou de uma lista. Percebi por fim que essas listas nada mais são que uma detenção para minhas queridas ideias. Como eu disse, elas incomodam até irem pro papel, depois disso ficam quietinhas. Agem como se estivessem felizes por viver em um lugar mais tranquilo do que a minha cabeça. Talvez as listas sejam um pouco mais confortáveis do que um ambiente de pensamentos caóticos.
Mas qual o motivo que me levou a ter a ideia pra esse texto?
A resposta é simples: na época em que a versão original dele foi escrita, dois meses haviam se passado e eu não tinha escrito nada. Consequência do tempo empregado em colocar uma certa ideia no papel. Dei vida a mais um personagem, contei sua história e gastei boas horas escrevendo sobre ele… E também gastei várias ideias nessa brincadeira. O resultado disso é que passei muito tempo sem ter sobre o que escrever. Nunca antes havia trabalhado em um personagem que me absorveu tanto. Tanto que não conseguia pensar em escrever mais nada. Não sei se minhas pobre ideias ficaram enciumadas e resolveram tirar férias ou se minha mente entrou de recesso. Mas lembro que foi um período de produção inexistente, mas naquele tempo eu não precisava tanto produzir. Ao contrário de hoje. Por isso faço um convite para as ideias que me abandonaram e para aquelas que ainda não vieram: Venham, podem vir. Sou todo de vocês. Preciso de vocês mais do que nunca

Deixa Terminar

Na semana passada eu publiquei um texto falando sobre o final de uma série que eu gosto muito e sentimento que o fim das coisas desperta (caso não tenha lido clique aqui). Mas um dia desses recebi uma noticia que me fez refletir: Naruto acabou, mas voltou. Não sei exatamente se a volta foi definitiva ou se foi ligeira pra matar a saudade. A questão verdadeira aqui é a seguinte: não estão deixando as coisas terminarem. Mas o maior exemplo disso nem é Naruto, ele não chegou nem aos pés de Toy Story.

Quando saiu Toy Story 3 eu me preparei pra dar adeus a uma coisa que fez parte da minha infância. Lá em 1995 eu fui pro cinema pela primeira vez e o filme em cartaz era Toy Story. Nem preciso dizer que eu me apaixonei pelo filme, e pela Pixar, naquele momento. Foi todo esse amor que eu levei pra sala de cinema alguns anos depois, quando fui ver o ultimo Toy Story. No fim do filme eu e boa parte da galera estávamos aos prantos. Não só pelo desfecho emocionante de um filme carregado de emoção, mas também daquela ser a despedida de personagens que permearam minha infância e moldaram meu caráter infantil. Aí pegam e anunciam que vai ter um Toy Story 4.

A primeira coisa que eu pensei foi “e eu chorei aquilo tudo pra NADA?”. A segunda coisa foi “tão de sacanagem” “eles não querem largar o osso mesmo”. Dizem por aí que em time que tá ganhando não se mexe, mas de uns tempos pra cá a galera tá levando isso bem a sério. Não sei se é por medo de arriscar ou por puro comodismo, mas nunca antes se reciclou tanta ideia quanto hoje em dia. O retorno garantido deixou a possibilidade de fazer algo novo em segundo plano. A zona de conforto criativa se tornou confortável demais, pior pras ideias novas, que estão cada vez mais sem espaço.

Pra finalizar eu digo que se é pra terminar que termine, deixem que faça falta e dê saudade. Deixem que as coisas novas venham e conquistem seus próprios lugares dentro dos nossos corações. Não parem de procurar a fórmula do ouro só por que conseguiram fazer o chumbo ficar brilhante.

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