Robson queria fugir. Não, ele não é parte da população carcerária Brasileira. Robson trabalha num escritório de direito, de terno e gravata, todos os dias das 8 às 17. Não havia ninguém tão correto no trabalho quanto ele, que sempre chegava no horário e nunca faltava, mas secretamente ele nutria um desejo: fugir do trabalho

A raiz disso está nos tempos do colégio. Um belo dia o jovem Robson escapuliu do colégio cerca de uma hora e meia mais cedo do que o normal. Não parece muito, mas aquela sensação de estar em um lugar onde não deveria embriagou aquele adolescente que hoje estava dentro de um escritório. A sensação de fugir com certeza seria mais forte, pelo menos era isso que ele imaginava, e só era possível fazer tentando.

Ao longo da semana anterior Robson plantou uma série de informações falsas e, até certo ponto, contraditórias. A secretária do departamento sabia que ele estaria no fórum, seus amigos de baia o ouviram comentar sobre como estava chegando o último dia para recorrer de uma multa de estacionamento que ele levou por engano, a recepcionista lembrava de ouvir algo sobre ele precisar ir ao médico, seu chefe estava em reunião com clientes importantes durante todo o dia. Ninguém estranharia a ausência dele.

A ideia não era simplesmente escapar e ir para casa. Ele fugiria para algum lugar onde as pessoas estariam plenamente convencidas de que ele não devia estar ali. Por isso ele iria para a praia, de gravata, em uma segunda-feira. Quando a hora do almoço chegou ele esperou que todos saíssem, pegou suas coisas e partiu. Passou o corredor com passos acelerados, evitou o elevador e desceu os quatro andares de escada até o estacionamento, no dia em questão ele tinha vindo com o carro da irmã que, apesar de ter uma cor meio feminina, tinha uma película escura nos vidros. Chegou na rua e foi para a praia.

Liberdade. O gosto doce daquela dama preenchia sua boca e transbordava em forma de um largo sorriso. Nem o transito, nem a falta de vagas desanimaram Robson, muito menos o tempo meio nublado. Quando os pulmões dele se encheram daquela brisa salgada e ele viu um homem bastante familiar sentado em uma cadeira na areia. Embaixo de um guarda-sol estava o seu chefe, de gravata e com as mangas arregaçadas, tomando água de coco com um ar de felicidade extrema. Robson decidiu que iria para casa, pelo menos seus dois filhos estariam plenamente convencidos de que ele não deveria estar ali.