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“Hoje Tem Jogo do Brasil”

“Hoje tem jogo do Brasil”. Essa é uma frase que circula pela boca de vários seres humanos ao longo do ano, mas de quatro em quatro ela atinge o ápice do seu poder. Porque só durante a Copa do Mundo o jogo da seleção brasileira consegue ser alguma coisa.

Boa parte do Brasil tem uma relação de amor e ódio com a Seleção Brasileira de Futebol. Seja por ter testemunhado na infância a conquista de algum título importante, seja por ser realmente apaixonado por futebol ou simplesmente torcer pelo Brasil em qualquer coisa que tenha um brasileiro, o motivo do amor é tão variado quanto os motivos do ódio. Já que normalmente os dois sentimentos não só se alternam, mas também acabam coexistindo. Afinal, o que é torcer senão experimentar os maiores extremos do espectro emocional humano?

Nem preciso dizer que pra quem torce a Copa é uma espécie de carnaval. E olha que eu nem tô falando dos que viajam pra ver a Copa in loco. Tal qual o folião antes do reinado de Momo, o torcedor inicia uma preparação quase ritualística que vai desde acompanhar o sorteio dos grupos, passando por completar o álbum de figurinhas, por comprar uma TV nova, até adquirir a superfaturada camisa da Seleção, muitos ainda tão usando a mesma de 2006 já que não houve atualização no número de estrelas desde então. Eis que a Copa começa, o Brasil só joga sei lá quando, mas o torcedor já está de olho nos possíveis adversários das próximas fases e torcendo pelo tropeço daqueles que foram carrascos do Brazéu em Copas passadas. Fora que três jogos por dia durante algumas semanas é o sonho de todo fã de futebol.

Eis que chega o dia do jogo do Brasil. Não se fala de outra coisa. Só se fala da logística pré-jogo: vai ter folga? Vai rolar só uma parada e depois todo mundo volta? Vai fechar ou não? Tem coisa pra comprar antes do jogo? Vai ver o jogo na casa de quem?

Boa parte dessas perguntas não vai ter resposta, a única certeza é que na hora do jogo (quase) tudo vai parar. O próprio Planeta Terra pararia se não fosse plano se tivesse um BR lá girando a manivela da rotação/translação. Afinal o Brasil está jogando e mais do que decidir o título mundial, ele está decidindo a existência da próxima folga.


A Copa do Mundo consegue unir duas das coisas preferidas dos brasileiros: folga e ganhar dos outros países. Se a folga acontecer pra assistir o Brasil ganhar dos outros países melhor ainda. E quanto mais a Seleção ganha, mais folga tem pra poder ver a Seleção ganhar mais e se ganhar tudo pode ser que role um feriado maroto que nem lá em 2002.

É claro que existe uma parcela da população que não tá nem aí (e nem tá chegando) pra Copa, pro jogo, pra Seleção ou pra qualquer um dos seus jogadores. Eu sou um dos que prefere mil vezes assistir o filme do Pelé, mas enquanto eu não for o último ser humano na face da Terra o jogo do Brasil vai mexer com a minha vida. Seja pelo barulho dos vizinhos, seja pelo assunto dominar todas as conversas ou pelo fato de ter gente com quem eu me importo que se importa de ver o jogo. Mas principalmente por causa do nosso querido Canarinho Pistola.

Melhor mascote de todos os tempos.

 

Coração de Fã

    Na semana passada estava eu falando com uma amiga. Em pauta estava um grande evento nerd que aconteceu esses dias no Centro de Convenções de Pernambuco. A partir de certo momento da conversa o tema mudou um pouco, começamos a falar dos problemas de ter um “coração nerd” e de como a racionalidade nem sempre entra na equação quando o assunto é tomar uma decisão que envolve algo que nós gostamos. Desde então fiquei matutando sobre esse assunto e decidi expandir um pouco mais esse conceito. É por isso que hoje eu não vou falar do “coração nerd”, afinal esse termo é muito restritivo. No final as pessoas anerdalhadas só se diferem dos outros seres humanos por causa de suas paixões por certas coisas. Hoje vou falar do coração de fã.

    Por definição o fã é uma pessoa que nutre uma grande admiração por algo ou alguém. O termo é derivado de “fanático” e é utilizado mesmo quando não existe de fato um fanatismo. Essas pessoas possuem um amor irrestrito pelos alvos de sua admiração e por elas sofrem, riem, choram e brigam (ah, como brigam). O fã é aquele tipo de pessoa que vai achar um absurdo o fato de você nunca ter ouvido falar daquilo que ele gosta, lido aquela série de 513.614 livros e visto todos os filmes de uma certa franquia. Obviamente depois disso ele vai encaixar coisa do tipo “tu precisa ver”, “tem todas as temporadas no Netflix” ou “eu te empresto se tu quiser” e “eu trago pra tu jogar”.

    O fã é o tipo de pessoa que se sente no dever de espalhar aquilo que ele gosta pelo mundo. Porque ser fã sozinho não tem graça e é por isso que os fãs costumam ser extremamente sociáveis com outros fãs, mesmo quando sua capacidade (ou vontade) de socializar é quase nula no contexto normal da vida cotidiana. Isso é potencializado ainda mais quando o fã em questão gosta de algo que pertence a um nicho muito específico, o tipo de coisa que a maioria dos seus amigos não gosta ou gosta de forma muito moderada, que seu pai não faz a menor ideia do que é e que, em alguns momentos, é também um motivo para se envergonhar. Afinal sempre rola um “isso é coisa de tabacudo virjão”,  “isso não é coisa pra mulherzinha?” ou o clássico “isso é negócio de criança” quando você tem certos gostos.

Mas nada difere tanto o fã do transeunte do que o coração.

O coração do fã é, acima de tudo, o maior inimigo das decisões racionais. Todo mundo sabe que as decisões tomadas com base na emoção costumam ser um pouco inconsequentes. Dormir em horários absurdos, encarar filas enormes, correr alguns riscos, prejudicar o orçamento, estourar o cartão, faltar àquela aula da faculdade e até mesmo escapulir do trabalho são coisas que, no mínimo, todo fã já cogitou fazer e pelo menos uma delas já foi feita. Até porque o fã é uma pessoa que faz sacrifícios, seja sacrificando seu tempo, seu dinheiro, seu conforto e até sua reputação. Para o fã muitas coisas são inevitáveis. Comprar aquele livro, aquela HQ, gastar dezenas de horas com aquele jogo ou na maratona daquela série, ver pela milionésima vez aquele filme ou infartar quando o time do coração joga não é uma opção, é inevitável. Pode demorar para acontecer, mas acaba acontecendo. É quase um comportamento compulsivo, algo puramente movido pela emoção. É a tradução literal do que é ser fã.

Eu sou um fã. Tomo decisões puramente emocionais, passo horas discutindo sobre coisas que não mudam em nada a minha vida, indico coisas pros outros, gasto uma parte do meu dinheiro com as minhas paixões e uma parte muito maior do meu tempo com essas mesmas paixões. Cresci numa família de fãs e é provável que, se eu chegar a formar uma família, ela seja uma família de fãs. Fui ensinado a gostar das coisas de forma saudável, mas nem por isso gostar menos. Já fui, e sou, diminuído e hostilizado por causa das coisas que eu gosto, as mesmas coisas que ajudaram a criar algumas das maiores amizades que eu tenho hoje. Sou um fã, não é por opção, é inevitável.

(Finalmente) Acabou O Campeonato Brasileiro

    Existem coisas que demoram. Existem coisas que parecem mais que nunca vão acabar. Existem coisas que parecem infinitas… E existe o Campeonato Brasileiro.

    Quem me conhece sabe que eu tenho pouquíssima afinidade com futebol. O time indo bem ou mal, pra mim faz muito pouca diferença. Algumas vezes é até divertido entrar na brincadeira e tentar irritar alguém que leva essa história de bola mais a sério. Tem vez que eu presto atenção na tabela pra ter mais assunto pra conversar com meu pai e nas copas do mundo eu vou na casa do meu avô assistir o jogo do Brasil e torcer pelo naufrágio da seleção canarinho. Mas em todo o universo do futebol existe uma coisa que eu odeio: o Campeonato Brasileiro.

    Antes de continuar gostaria de avisar aos meus amigos torcedores que não é nada pessoal. Eu entendo (pelo menos parcialmente) a paixão de vocês pelo nobre esporte bretão e pelas agremiações futebolísticas que moram em seus corações. O problema não é, pelo menos não totalmente, com vocês. Meu problema é com todo o resto.

    O Brasileirão é uma coisa que enche o meu saco. Começa com o fato do campeonato ser praticamente infinito. O Campeonato Brasileiro começa em maio e termina em dezembro, ou seja, dura de sete pra oito meses. Se uma mulher engravidar na primeira rodada do campeonato, existe uma possibilidade dela segurar o filho nos braços no mesmo momento que o capitão do time campeão levanta a taça. Pra você ter uma ideia, toda a temporada européia de futebol acontece numa janela de dez meses, e se o pessoal lá disputasse as partidas com os mesmos intervalos que disputa o pessoal aqui, é certo que duraria muito menos.

    Outra coisa que desperta o ódio no meu coração é o tanto que se fala de futebol por causa do Campeonato Brasileiro. Imagine o tempo que é destinado em todos os noticiários, ou o espaço destinado em todos os jornais e o quanto que existe de conteúdo na internet sobre coisas relacionadas ao futebol Tá lá você vendo de boa as desgraças notícias do dia ou alguma discussão sobre um tema mais sério. Aí do nada para tudo pra falar sobre futebol…

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    Mas aí chegamos no terceiro ponto que sustenta a minha aversão pelo Brasileirão: conversa sobre futebol me cansa. Eu entendo perfeitamente quando uma pessoa fala sobre o que acontece com o seu time e até acho normal falar disso. O que me cansa é quando as pessoas começam a falar sobre TUDO que está rolando no campeonato. Lá vai um que começa a falar da lesão de fulano, da recuperação de num sei quem, de outro beltrano que tá jogando muito, de outro que foi vendido. E por incrível que pareça o assunto NUNCA esgota. Basta ligar no rádio e ouvir algum programa sobre futebol pra ver. Os caras passam literalmente HORAS falando sobre futebol e muitas vezes eles passam horas falando da MESMA COISA e o assunto NUNCA ACABA.

    Pode parecer chato da minha parte, mas num país onde futebol é o assunto preferido de uma parcela grande da população, é praticamente impossível ficar isolado de toda a comoção, discussão, briga e derivados que são gerados por causa da bola. Pelo menos acabou, finalmente acabou, demorou que só, mas acabou. Até o Brasileirão acabou e 2016 não acaba. Esse ano tá demorando a passar mesmo

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