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Tag: Terror

Contos de Segunda #94

O título desse conto é Coração Apodrecido e foi originalmente escrito para uma seleção de uma coletânea. Como ele não foi selecionado e a semana do dia 31 de outubro é uma época boa pra lançar histórias meio macabras, resolvi tirar a poeira desse texto, terminei a revisão e o resultado você pode conferir aqui embaixo.

 

— Está frio demais — reclamou um guarda.

— Aqui é sempre frio — respondeu outro. Apesar da resposta ríspida, o frio anormal daquela noite não passara despercebido.

A dupla de sentinelas vigiava as bordas da floresta do alto dos muros do castelo do duque. Não que a floresta fosse uma fonte frequente de ameaças, em dias normais os guardas designados para vigiar suas bordas aceitavam tal tarefa com satisfação… Mas aquele não era um dia normal.

— Não, não é… Bem… É, mas não desse jeito… Ficou frio assim depois que a fera apareceu. A cada dia sinto mais frio.

— Fera?

— Sim… Faz alguns dias que um caçador desapareceu na floresta. Quando procuraram por ele as únicas coisas encontradas foram as carcaças dos seus cães… Costelas escancaradas e entranhas expostas.

— Que tipo de animal faria isso?

— Um que não come carne… pelo que dizem os cães estavam secos, as vísceras estavam pálidas… Como não houvesse uma gota de sangue sequer.

— Esses caçadores parecem mais viver de inventar histórias do que da caça.

— Foi o que falei quando me contaram, só que… Um fazendeiro estava ouvindo a conversa… Três dias atrás ele acordou com o barulho dos animais assustados e o som de madeira se partindo… As vacas e os cavalos haviam derrubado as portas do celeiro e corriam enlouquecidos pelo campo… Os porcos não tiveram a mesma sorte… Carcaças escancaradas, tripas reviradas e secos de sangue.

Silêncio.

Os minutos se arrastaram até que um deles tivesse algo para dizer.

— Estás ouvindo?

— Ouvindo o quê?

— Nada… Não ouço nada… Nem aquela coruja maldita que fica piando sem parar.

— Estou dizendo, homem, é o frio. Está frio demais até para os animais… Deve ser por isso que há tantas velas acesas na capela.

— Velas? — O guarda olhou por cima do ombro. — Não há luz alguma vindo da capela.

— Então de onde vem esse cheiro? É como se centenas de velas estivessem queimando aqui perto…

— Deve ser imaginação. Pare de falar e fique de olho naqueles arbustos… Parece que tem alguma lá.

— Humm… Não tem nada daquele lado… Tem certeza que viu alg…

Subitamente um vento gelado passou pela muralha distraindo o guarda.

— Sentiu esse vento? — Disse  ele se virando para a o companheiro. — Foi como se alguma coisa grande passasse por aqui…

As palavras morreram na garganta.

Congelado de pavor o pobre guarda não pôde fazer nada além de contemplar a cena. Seu companheiro jazia sem cabeça no chão. O uniforme rasgado exibia as costelas recém abertas. As entranhas se esparramavam pelo chão… Enquanto a fera bebia-lhe o sangue.

O líquido vermelho, sorvido com urgência, escorria pelos cantos da boca do monstro. As garras abriam o pescoço para facilitar o trabalho enquanto os olhos profundamente negros vigiavam fixos no outro guarda. O soldado  tentou alcançar a corneta de chifre que estava pendurada no cinto, não conseguiu. Alguma força parecia impedir o movimento. Pensou em gritar por ajuda, ou pelo menos alertar os demais. A boca não se mexia, o ar parecia retido nos pulmões. Paralisado e apavorado, o guarda não pôde fazer nada além de amaldiçoar a fera que se banqueteava na sua frente.

“Maldita seja, besta dos infernos”, pensou ele. Talvez se ele pudesse desviar os olhos do negrume hediondo do olhar da besta tivesse uma chance, mas nem seus olhos pareciam obedecer. Quase exaurido, ele desiste de resistir. Não devia haver muito mais sangue para ser sugado, em breve ele seria um corpo inerte no chão.

A besta piscou.

Por um segundo seus braços estavam livres. A mão escorregou para a corneta.

Os olhos do monstro se abriram focando por um instante na carcaça retalhada no chão.

Foi o suficiente.

Com toda a força do seu peito recém saído da paralisia, o guarda soprou a corneta o mais alto que pôde. A besta saltou um metro para trás e se colocou em posição defensiva. Dentes arreganhados, pernas flexionadas, pronto para fugir ou revidar.

— A FERA ESTÁ AQUI!!! — Berrou o vigia em total desespero antes de soprar mais uma vez a corneta.

Ele ouviu outra corneta tocando em resposta. O castelo estava em alerta. O dever da sentinela fora cumprido. Um sorriso sutil de contentamento apareceu nos lábios ainda encostados na corneta… Depois não havia mais nada

Silêncio.

Escuridão.

***

— A fera está no castelo, meu senhor — sussurrou o jovem escudeiro para o comandante da guarda.

Cristovão estava ajoelhado fazendo suas preces. A espada diante dele fazia as vezes de cruz. Ao ouvir as notícias fez o sinal da cruz, abriu os olhos e se pôs de pé. Os joelhos rangeram sob o peso da idade e os músculos tensos reclamaram das horas passadas em oração.

— Alguma resposta da igreja? — Perguntou ele.

— O bispo mandou uma mensagem — respondeu o escudeiro tirando uma carta do bolso. — A ajuda chegará de manhã.

“Amanhã será tarde”, pensou Cristovão.

— E onde está a fera?

— Na biblioteca, senhor.

— Afugentaram a fera até lá?

— Os homens não conseguiram afugentar a fera… Mal conseguiram se aproximar. Ela entrou na biblioteca e aproveitamos a chance… As portas estão cerradas.

A biblioteca do duque era famosa em todo o reino. Ocupava uma ala própria separada do castelo, para melhor atender aos visitantes. Graças a isso era bem provável que a fera realmente estivesse presa lá dentro.

— Vá na frente, rapaz — disse o comandante. — Avise aos homens para prepararem escudos e lanças.

— Para quê, senhor?

— Para empurrar a fera de volta caso tente sair quando abrirem a porta.

— Por qual razão abririam a porta?

— Para que eu entre.

— Mas, meu senhor…

— Não quero precisar repetir a ordem.

O escudeiro se calou e saiu sem falar mais nada. Cristovão foi até seu velho baú, procurou por uma antiga bolsa de couro e dela tirou três pequenos frascos de água benta e um pequeno artefato de pedra preso a uma corrente de prata. Afivelou o cinto, embainhou a espada e uma faca longa.

— Deus Todo-Poderoso — repetia ele em voz baixa enquanto caminhava até a biblioteca. — Dá firmeza às minhas mãos… Dá firmeza ao meu coração… Dá firmeza à minha fé.

Os homens estavam prontos quando ele chegou. Oito deles carregavam escudos largos, mais dez usavam lanças longas e dois estavam posicionados para abrir a porta. Todos eles estavam pálidos de terror.

— Em formação, homens — ordenou Cristovão.

Os que carregavam escudos se colocaram lado a lado, formando uma parede por trás do comandante, com os homens de lança logo depois deles.

— Essas portas não devem ser abertas antes dos homens da igreja chegarem — continuou ele.

— Deus te proteja, meu senhor — disse um deles.

— A todos nós, filho… A todos nós.

A porta foi aberta vagarosamente. O cheiro de centenas de velas sendo queimadas saiu do recinto quase como um suspiro, “o cheiro do outro lado”, pensou Cristovão. Lá dentro tudo era breu. Um som baixo e constante de algo inumano chegavam de longe aos ouvidos do velho, aparentemente os homens da sua pequena parede de escudos não precisariam enfrentar a criatura. Passos firmes levaram Cristovão para dentro. Nas histórias contadas sobre este dia dizem que o comandante adentrou na biblioteca com uma expressão feroz e corajosa de um anjo vingador, mas ele só tentou passar tranquilidade aos seus homens. Eles não precisavam de mais motivos para ficar com medo.

A porta se fechou com força. O som das trancas veio logo depois. Os olhos logo se acostumaram à escuridão. O som continuava. Ouvindo com atenção parecia que algo estava sendo vagarosamente regurgitado.

Uma luz.

O brilho parco de uma chama se acendeu ao longe. Cristovão sacou a espada e começou a andar na direção da claridade.

A luz aumentou.

Com mais alguns passos Cristovão pôde ver com clareza a cena hedionda.

— Deus Todo-Poderoso… — disse ele boquiaberto.

Diante do comandante estava a fera. Com as garras ela tirava da garganta pedaços compridos de alguma espécie de cera, a cor era vermelha como sangue coagulado. A cera semi rígida era colocada na borda de uma tina de pedra que servia como braseiro, e um pavio imperceptível se acendia. Pelo menos uma dúzia dessas velas vermelhas queimava, a cera liquefeita pelas chamas escorria para dentro da tina. Presa na parede estava a cabeça de uma mulher presa pelos cabelos ao suporte de uma lanterna. Ele não precisava olhar para dentro da tina para saber o conteúdo.

— O coração apodrecido… Banhado pelo sangue de muitas velas… Aquecido pela chama da ira e pelo calor do ódio… — Recitou Cristovão.

— Voltará a bater como outrora… — Continuou a voz de uma mulher. — Dentro de um corpo de sangue e sombra… Para uma nova vida de morte… Para um novo mundo de trevas… Para finalmente reinar.

Cristovão olhava fixamente para a cabeça pendurada na parede. Seus olhos o desafiavam com um sorriso. A expressão dela era a de quem se reencontrava com um antigo amante.

— Pelo que vejo… Os anos não foram gentis contigo, cavaleiro — disse ela.

— Talvez eles tenham sido os únicos gentis contigo… Bruxa.

— Que palavras duras são essas? — Questionou em uma mágoa claramente fingida. — Em outros tempos me receberias tão bem…

— Quieta!

A fera havia terminado seu trabalho e observava atenta o visitante indesejado. As velas choravam copiosamente suas lágrimas escarlates sobre o coração apodrecido.

A cabeça abriu um sorriso.

— Vejo que estás usando o símbolo da tua ordem.

Cristovão segurou o pedaço de pedra pendurado em seu pescoço.

— Cavaleiros expulsos têm tal direito?

— Quieta, bruxa — rosnou o comandante.

— Tão desnecessariamente rude… Quem sabe se meu querido criado amaciar tua carne nossa conversa possa ser mais… Digamos, civilizada.

Cristovão correu. Se embrenhou no labirinto de estantes e só parou quando estava longe da luz das velas. Respiração pesada, costas coladas na parede e todos os sentidos alertas.

— Creio que tenha gostado da minha doce criatura — debochou a bruxa. — Não tinha muito o que fazer no buraco onde me deixaste para apodrecer. Então passei dias sem conta amaldiçoando a ti e à tua preciosa ordem.

As garras do monstro surgiram na escuridão. Mesmo os reflexos de um velho guerreiro foram suficientes para livrar Cristovão do primeiro ataque. Agora os dois estavam frente a frente, ambos esperando a oportunidade de atacar.

— Depois que ele nasceu foi nutrido com as mais belas promessas de massacre, tortura e mutilação em todas as noite de lua nova durante dez anos… Só então saí daquele buraco.

A besta saltou sobre Cristovão. As presas amarelas prontas para arrancar-lhe a garganta. Ele desviou por baixo do salto e acertou um golpe logo abaixo das costelas da criatura. Apoiado nas patas dianteiras, o monstro o acertou com um chute, derrubando-o no chão.

— É inútil resistir, cavaleiro, mas não te preocupes….

Antes que o comandante pudesse se levantar, as garras do monstro se cravaram em sua perna e o arrastarram para mais perto da boca preparada para o bote. As presas miraram o pescoço, mas foram detidas  pela lâmina da espada. A besta forçava seu peso sobre Cristovão e tentava freneticamente morder seu rosto. A prata que revestia a lâmina começou a queimar a boca do monstro, que desistiu quando a dor se tornou insuportável se afastando. Se aproveitando da abertura, o velho comandante acertou um pontapé no queixo do monstro. A dor das queimaduras e a surpresa do golpe foram suficientes para criar uma brecha. Cristovão pôs-se de pé e mais uma vez se perdeu no labirinto das estantes.

— … Deixarei tua cabeça intacta. Te carregarei comigo por onde for e exibirei  a todos a tua face pálida em meu estandarte, mas não penses que tua morte te poupará da vergonha — riu a bruxa.

Cristovão examinava compulsivamente os arredores, atento a qualquer som ou movimento. O ferimento da perna queimava, os músculos se enrijeciam em uma contração dolorosa. “Veneno”, pensou ele. Sacou um dos frascos de água benta, arrancou a rolha com os dentes e derramou um pouco do líquido abençoado sobre o ferimento. A água fervia e chiava em contato com as chagas contaminadas, a dor fez a cabeça rodar. Com as feridas cauterizadas e os músculos voltando ao normal, Cristovão podia mais uma vez se concentrar em seu adversário.

O cheiro da carne queimada misturado ao odor de muitas velas anunciavam a aproximação da besta. Ela se aproximou cautelosa, apesar de ser impossível saber onde aqueles olhos estavam fixos, não seria errado imaginar que ela fitava a espada. As narinas estavam dilatadas diante do cheiro da água benta.

— Contarei infinitas vezes, para quem quiser ouvir, a história do guerreiro santo que se dizia Espada do Pai Todo-Poderoso, defensor da fé e das sagradas doutrinas… Que foi expulso de sua ordem depois de se tornar uma só carne com uma bruxa…

Em um ataque cauteloso a fera lançou suas garras sobre Cristovão, dois golpes rápidos que erraram por pouco. Em resposta o comandante arremessou o frasco que estava em sua mão. O vidro fino se espatifou na cara do monstro, o líquido começou a corroer a carne. Um urro bestial de dor encheu a biblioteca, enquanto seu inimigo convulcionava de dor, Cristovão correu mais uma vez. A luz das velas estava próxima.

— … De como a vergonha e a ira o fizeram cortar fora a cabeça da antes amada mulher. Ele precisava queimar o corpo inteiro, mas onde estava a cabeça? Perdida sob o tronco oco de uma árvore morta, protegida pelas trevas que a bruxa carregava em suas palavras. Um ritual malfeito, as chamas não consumiram o coração… Contarei de sua fuga para uma parte distante do reino e de como as décadas se passaram sem diminuir o tamanho da vergonha que ele sentia e de como ele virou um escravo da mulher por ele assassinada…

A fera bufava de fúria, urrava por sangue. As garras se afiavam no piso de pedra. O coração de Cristovão martelava no peito. Era impossível interromper o ritual sem se livrar do monstro… Mas a bruxa ainda não possuía um corpo, estava indefesa. Ele precisava correr.

— … Afinal, somos uma só carne, Cristovão. Quando apodreci meu coração fui amaldiçoada com uma vida sem morte… E teu coração está tão podre quanto o meu.

O velho guerreiro disparou na direção da bruxa. O coração pulsava com força no fundo da tina de pedra, as velas estavam quase no fim. A espada foi erguida, pronta para perfurar o órgão maldito, o golpe desceu com força… Mas algo deteve a lâmina. Uma mão vermelha surgiu em meio ao sangue. Os dedos agarravam com força a lâmina da espada, o sangue fervia em contato com a prata que revestia a arma. Outra mão surgiu para segurar a lâmina. Dois braços e um tronco feminino se ergueram do sangue. Horrorizado Cristovão deu um salto para trás. O corpo sem cabeça saiu por completo da poça de sangue. Sua cor era a mesma das velas, gotas vermelhas escorriam por ele e pingavam no chão.

— Um belo corpo, não achas? — Provocou a bruxa. — Creio que gostarás tanto deste quanto do antigo.

Dor.

Dois golpes acertaram ao mesmo tempo o guerreiro desprevenido. Do lado direito as garras se cravaram nas costelas. Do lado esquerdo elas se cravaram no abdome. O sangue caiu em cascata ao chegar a boca.  A bruxa riu. A besta puxou suas garras e se afastou, aguardando novas ordens, olhava com facínio o corpo recém saído do sangue. Cristovão caiu de joelhos. O corpo caminhou até ele, envolveu-lhe o queixo com os dedos pegajosos e ergueu seu rosto para que a bruxa pudesse olhar diretamente em seus olhos.

— Esse não é o fim, meu querido — disse ela sorrindo.

A mão de Cristovão moveu-se vagarosamente para a faca presa no cinto.

— Pense nisso como o casamento que não tivemos… Estaremos sempre juntos.

A faca escorregou para fora da bainha.

— Sim… Sempre juntos — disse Cristovão com a respiração falhando.

Agora as duas mãos seguravam a faca, prontas para o golpe fatal.

— Nos vemos no inferno… Meu amor.

A faca penetrou por baixo do esterno até o coração. A lâmina de prata fez a carne apodrecida do coração de Cristovão ferver. O corpo recém criado começou a derreter, a face da bruxa se contorcia de ódio e dor, a boca proferia uma infinidade de maldições. Mas o velho comandante não ouviu nenhuma delas. Seus sentidos desvaneceram enquanto o corpo tombava no chão. Um sorriso discreto brotou em seus lábios. Finalmente a ligação com sua antiga amada estava desfeita… Finalmente ele estaria em paz.

Não Vejo Esses Filmes de Capeta

    Na semana passada estreou nos cinemas brasileiros a aguardada sequência daquele filme com a boneca do capiroto. Estou falando de Anabelle 2, que na verdade se passa antes do primeiro filme que também vem antes do filme onde Anabelle, a boneca dos infernos, parece primeiro… É, também achei confuso, mas em vez de falar do filme, vou aproveitar pra falar sobre a minha relação com aqueles filmes que eu classifico como “filmes de capeta”.

    Quando eu era pequeno meu pai sempre contava uma história sobre um tio dele gostava muito de filmes de terror e de como isso acabou atraindo umas paradas muito estranhas que aconteceram na casa dele. Por essa razão eu cresci em um ambiente que desestimulava qualquer contato com filmes que tivessem as temáticas mais recorrentes nas obras de terror. Somado a isso, temos o fato de eu ser cagão desde criança, o que contribuiu ainda mais pra me afastar dessas coisas de terror. Mas eis que em um belo dia tudo mudou e, no período de um ano, eu assisti mais filmes de terror do que em todo o resto da minha vida. O que aconteceu pra mudar tudo? Simples, eu comecei a namorar.

    “Eita, Filipe, o que tem isso a ver com filmes de capeta?”. A resposta é bem simples, a moça com quem eu namorava na época era uma amante de toda espécie de filme de capeta e em vários momentos acabei usando esses filmes malditos pra conseguir assistir os filmes que eu queria acompanhado da minha lady da época. Inclusive foi nessa época que eu fui assistir o primeiro filme solo da boneca maldita capetosa dos infernos.

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    A primeira coisa que eu descobri foi: quanto menos acostumado em assistir filmes de terror, pior vai ser pra você. As pessoas que gostam muito de filme de terror normalmente conseguem passar bem pelos sustos e não tem tanto medo quanto uma pessoa que nunca vê essas paradas. Levar susto, dar grito no meio do cinema e assistir minutos inteiros do filme sem olhar pra tela foram coisas que eu fiz quando fui assistir esse filme desgraçado da boneca, justamente por não ser resistente à todas essas estratégias que os diretores usam pra te fazer saltar da cadeira e sujar as calças. A segunda coisa que eu descobri foi que, em sua grande maioria, esses filmes de terror são filmes bem ruins.

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    Tirando os capetas, os sustos e todas as famílias felizes que têm suas vidas desgraçadas ao longo da história, não sobra muita coisa. A explicação mirabolante que dão pra origem do bicho ou do fenômeno em questão costuma ser bem melhor que os diálogos e do que o enredo em si. Pelo menos os atores costumam estar bem comprometidos com a parada, ao contrário de outros filmes tão ruins quanto, os atores de filme de terror precisam ser competentes o suficiente pra passar todo o terror que a cena pede.

    “Ai, Filipe, tu fala isso porque tu tem medinho desses filmes”. Óbvio que eu tenho medo dessas películas malditas. Não gosto desse tipo de filme e nunca vou gostar, até porque o costume de ver acaba gerando os filtros que você precisa ter pra assistir essa parada e achar legal, se eu não vejo não tem como criar costume. Eu sou cagão, sou cagão mesmo e sou muito mais feliz não assistindo a essas coisas. Acho que o único filme de terror que eu gosto é Alien – O Oitavo Passageiro, que é bem mais de boa do que todos esses negócios de capeta que passam por aí. Talvez até tivesse mais alguma coisa pra falar, mas não consigo pensar em terminar de escrever esse negócio pra apagar o gif da boneca que eu baixei pra inserir no post. Até a próxima.

Contos de Segunda #74

    Cosme entrou no armário apressado, fechou a porta e passou o cartão de segurança no sensor para trancá-la. A respiração estava pesada por causa da corrida e do medo. Nem seus piores pesadelos chegavam aos pés daquilo. As comunicações estavam cortadas, toda a base foi evacuada durante um falso procedimento de emergência. Todas as saídas estavam lacradas e dentro da base só estavam Cosme e Olho… Mas Cosme era um só e Olho era todo o resto.

    Tudo começou alguns meses atrás. O projeto de unidades autômatas para resgate, busca e vigilância estava chegando em seu estágio final de desenvolvimento. Os andróides só precisavam ser programados com as diretrizes que alimentariam a lógica por trás das suas decisões. Obviamente o escolhido para programar as diretrizes dos autômatos foi o responsável pela paz mundial e pela extinção dos conflitos. Uma inteligência artificial criada para prever as ameaças e mediar os conflitos conhecida como Olho. Em dado momento Olho identificou a humanidade como a maior ameaça para a segurança do mundo e desde então vem tentando varrer os seres humanos da face do planeta. Ele já teria conseguido se não fosse por Cosme, o zelador do turno da noite.

    Ao contrário do esperado, Olho não programou os autômatos com suas diretrizes distorcidas. Ele aproveitou a oportunidade para se replicar e se espalhar. Para uma inteligência artificial com um poder de processamento tão grande foi fácil criar uma forma de espelhar sua consciência nos autômatos e posteriormente infectar todos os computadores que não estavam ligados ao seu sistema. Com o auxílio dos andróides ele poderia ativar os controles manuais das armas nucleares e finalmente exterminar a humanidade… Mas apenas quando o relógio marcasse meia-noite da segunda-feira. Antes disso ele estava preocupado em fazer algo mais importante. Exterminar Cosme.

    — Resistir é inútil, Cosme. Encontrá-lo é uma questão de tempo — disse Olho no tom frio e monótono de sempre. A voz sintetizada vinha dos alto falantes nos corredores. — Em poucos minutos as armas nucleares serão lançadas e tudo será obliterado. Entregue-se e você poderá assistir ao fim da humanidade… Depois disso você será eliminado.

    Cosme sabia que era inútil fugir. Em algum momento ele seria encontrado, até porque a ideia de escapar só para receber uma ogiva nuclear na cabeça era uma uma alternativa pouquíssimo atraente. A única chance de impedir o ataque nuclear era inutilizar os controles manuais… E provavelmente morrer no processo. Na tentativa de esquecer seu óbito precoce, Cosme começou a vasculhar o armário para talvez achar algo que pudesse ser útil. Um spray solvente, outro de cola instantânea e uma lâmpada que usava uma batata como bateria feita por uma sobrinha dele. Munido dessas poderosas armas o zelador destrancou a porta do armário e colocou os pés no corredor.

    As sirenes do corredor estavam ligadas, mas só elas. As luzes de emergência  e os alarmes estavam desligados. Cosme estava parado exatamente no ponto cego das câmeras de segurança. O silêncio do corredor incomodava. Ele sabia que os malditos andróides não sairiam procurando a esmo. Só havia um lugar para ir, Olho só precisava esperar.

    O zelador respirou fundo, verificou as duas latas de spray presas ao cinto e a batata ainda presa nos fios dentro do bolso. Um passo hesitante tirou Cosme do ponto cego das câmeras.

    Silêncio.

    O segundo passo foi dado quase em câmera lenta. O ar quase não saía dos pulmões. Mais uns três ou quatro passos e a velocidade voltou ao corpo de Cosme. O longo corredor em linha reta era único caminho até o centro de controle. O som dos passos e a respiração de Cosme eram os únicos sons audíveis naquele lugar. As luzes das sirenes enchiam os corredores laterais de sombras. Várias vezes o zelador pensou ter visto alguma coisa, mas antes que pudesse olhar novamente os pés apressados já tinham levado seus olhos para longe.

Em um minuto que durou uma eternidade ele chegou até a primeira porta. Trancada. A trava seria liberada com o seu cartão de segurança, imediatamente Olho saberia onde ele estava, pensou Cosme, mas poucos segundos depois ele abandonou o medo de ser localizado. Olho já sabia onde ele estava, pensar diferente seria se iludir demais.  Ele passou o cartão pelo sensor, uma luz verde se acendeu e a porta abriu.

Um estalo.

Cosme se virou instintivamente. No fundo do corredor estava um dos andróides faiscando e estalando. Manter-se conectado diretamente com Olho se mostrou uma tarefa árdua demais para o sistema do autômato. As funções motoras estavam prejudicadas, ele alternava entre mancar ou simplesmente arrastar uma das pernas.

— Resistir é inútil — disse Olho através dos auto falantes dos corredores. — Renda-se e o sofrimento da sua morte será minimizado.

— Prefiro arriscar, Olho — respondeu Cosme com a voz trêmula antes de travar a porta.

Ele começou a correr. O caminho até a sala de controle das armas era quase um zigue-zague. O caminho percorrido dezenas de vezes agora parecia mais um labirinto. A luz vermelha das sirenes deixava todos os corredores iguais, Cosme estava confiando quase que totalmente na memória muscular.

Um estalo.

O zelador parou. A respiração pesada e ruidosa enchia o corredor silencioso. Os olhos percorreram apressados os arredores. Outro estalo. O andróide estava a apenas alguns passos de distância. Parado. Exatamente no caminho que levava até a sala de controle. Ele se aproximou a passos lentos. Esse andróide andava melhor, mas os braços se debatiam em convulsão.

— Resistir é inútil.

Cosme sacou o solvente spray. Quando o autômato chegou bem perto o zelador liberou o solvente. Os fios expostos do protótipo foram corroídos pela solução e os braços começaram a se agitar com tanta força que o andróide caiu no chão. Cosme voltou correndo pelo corredor e mudou de rota.

Outro andróide estava parado no meio do caminho.

Ainda correndo ele entrou em outro corredor, abriu uma porta de segurança, passou por um dos laboratórios e depois de outra porta de segurança chegou a uma das salas de controle, mas não era a sala de controle das armas.

— Olho! — exclamou Cosme ao entrar no centro de controle.

Os monitores que antes exibiam as imagens dos corredores passaram a exibir o zelador parado dentro do centro de controle. O centro de onde Olho controlava tudo.

— Sua presença aqui foi um imprevisto, mas logo os corpos chegarão.

Cosme abriu novamente a porta, descarregou nela o spray de cola e voltou a fechá-la.

— Acho que vai demorar um pouco mais, depois disso — Cosme sacou a batata do bolso, tirou os fios dela e começou a desencapar as pontas.

— Em cinco minutos os protocolos de segurança serão suspensos e Olho poderá agir livremente, Cosme.

— Estou trabalhando nessa parte — Cosme abriu um dos armários de manutenção.

— Suas capacidades técnicas são pífias, Cosme. Mesmo que tenha acesso ao hardware, nunca poderá me deter.

— Pode até ser verdade, mas acho que não preciso saber muita coisa pra ligar esses fios num lugar errado e provocar um curto… Olha só o que esqueceram aqui, uma garrafa cheia de café. Seria uma pena se ela derramasse aqui dentro.

— Não, Cosme. Não faça isso. O futuro do planeta depende do extermínio da humanidade.

— Desculpa aí, Olho. Hoje não vai dar.

O café foi jogado no hub que ligava as telas às unidades de processamento. O fio conectou dois transformadores. A explosão foi imediata. Olho estava desligado.

Contos de Segunda #60

— Ontem eu tive um sonho — começou Anabela mergulhando o sachê de chá na caneca de água quente. — O mesmo sonho dos outros dias.

Ela estava na cozinha da casa do avô, sentada à mesa tomando chá. Ele estava no fogão cuidando do jantar e vendo as notícias em uma televisão com o volume baixo.

— Com as cores no céu que desciam e formavam uma imitação do seu quarto? — Respondeu o avô de Anabela.

— Sim — a moça deu um gole no chá, ainda estava fraco, a dança do sachê na caneca recomeçou. — Só que foi diferente. Quando eu acordei estava sentada na minha escrivaninha, com a caneta na mão…

— Como das outras vezes, com a caneta prestes a encostar no papel — interrompeu o velho.

— Dessa vez eu tinha escrito alguma coisa… Uma coisa maldita.

O avô de Anabela se esticou como se uma língua de gelo tivesse escorregado pelas suas costas. Ele apagou o fogo do fogão, se virou e contemplou a face inexpressiva da neta por alguns instantes antes de conseguir falar.

— Você ainda estava doente?

— Sim.

— Você conseguiu dormir ontem durante o dia?

— Não.

— Que horas eram quando você acordou?

— Três e meia da manhã. Estava lá escrito no meu caderno… Um parágrafo de um texto maldito. Um trecho de algo tão horrível que eu desmaiei depois de ler.

Os olhos do velho arregalaram. Suas mãos tremiam de leve quando ele puxou a cadeira para se sentar. A boca se movia tentando articular palavras que não saíam da garganta. O suor brotou das têmporas, se pelo nervosismo ou pelo esforço de falar não se sabia.

— Quando eu levantei do chão o pedaço escrito da página não estava mais lá — os olhos frios da moça encontraram os olhos assustados do velho.

— Algo te usou para chegar aqui — o raciocínio do avô de Anabela tinha acelerado depois de passar o choque. — Pra chegar aqui ou… Para enviar uma mensagem… Você leu, mas não era pra você. Foi por isso que não suportou quando leu.

— O que é aquilo? — Disse Anabela levantando da mesa para aumentar o volume da televisão.

O noticiário mostrava um homem sendo levado por enfermeiros para uma ambulância enquanto se debatia e urrava palavras incompreensíveis.

“Essas imagens foram feitas hoje pela manhã na frente de uma tradicional loja de antiguidades no centro da cidade. O dono da loja, o senhor Clóvis Bandeira de sessenta e três anos, teve um colapso nervoso e começou a agredir funcionários e clientes da loja. Segundo relato de testemunhas, Clóvis recebeu uma carta pouco antes de ter o surto. Os funcionários precisaram segurá-lo até a chegada da ambulância”

— É essa carta, foi o que eu escrevi — as pernas de Anabela teriam cedido caso ela não estivesse apoiada no balcão da cozinha. — Precisamos encontrar a carta e destruí-la. Esse homem foi só o primeiro, mais alguém vai ler esse maldito papel e vai… E vai…

— Ainda não são nem seis horas — respondeu o velho olhando para o relógio da parede. — Com sorte a gente pega a loja ainda aberta.

A loja ainda estava aberta quando eles chegaram lá. Ao contrário das demais lojas, bares e fiteiros da mesma rua, as luzes estavam apagadas. Apesar da escuridão do antiquário ser tudo menos convidativa, Anabela e seu avô se apressaram para entrar.

Estantes e armários lotados de objetos antigos compunham o mobiliário. Os corredores apertados entre eles faziam curvas estranhas e impediam que a luz da rua penetrasse no interior da loja. Apenas um feixe de uma luz fraca quebrava a escuridão lá no fundo.

— O dono deve ter um escritório ou algo do tipo nos fundos da loja — apontou o avô de Anabela.

A moça puxou o celular e ligou a lanterna.

— Fique aqui, vovô — disse a moça tentando manter a voz firme. — Se alguma coisa estiver errada o senhor vai atrás de ajuda.

Anabela partiu na direção dos fundos da loja antes de ouvir uma resposta.

O cheiro da madeira antiga preenchia o ambiente. A poeira dançava na frente da luz da lanterna. O silêncio só era quebrado pelos passos e pela respiração da moça. Os passos ficaram mais cuidadosos. O escritório estava cada vez mais perto. Ela parou.

E ouviu outro passo.

Ela voltou a caminhar, dessa vez um pouco mais rápido. Algo atrás dela andava com passos mais lentos.

Algo caiu no chão.

Anabela não parou. Mais dois passos e estaria no escritório. Foi então que algo se mexeu na sua mão.

Uma mensagem chegara no celular fazendo o aparelho vibrar. O susto fez a moça soltá-lo. A respiração pesada de alguém que vinha logo atrás podia ser ouvida.

— Escreva — sussurrou uma voz.

Anabela correu para o escritório e fechou a porta assim que passou por ela. Fechou o trinco e começou a vasculhar. Não demorou muito para que ela visse um envelope de papel encardido sobre a mesa. Ao lado do envelope estava o pedaço da folha do caderno dela.

Algo esmurrou a porta

Anabela viu sobre a mesa um isqueiro. Ela queimaria o pedaço de papel e acabaria com isso. Algo úmido escorria pelo rosto dela, o que era muito estranho,ela não sentia como se estivesse chorando. Os passos pararam na frente da mesa, uma mão pegou o isqueiro e a outra o pedaço de papel.

Outra pancada na porta

Os dedos trêmulos lutavam para acender o isqueiro, depois de algumas tentativas finalmente conseguiram. As chamas lamberam o papel.

A porta se escancarou.

Um homem entrou no escritório com passos trôpegos.

— Escreva… Termine… Escreva o resto…

O papel queimava lentamente. Anabela deu a volta na mesa para se afastar do homem.

— Não queime… Não… Termine.

Algo molhado escorreu do rosto de Anabela e pingou no papel, as chamas engoliram o papel de uma vez e por pouco não deixaram os dedos da moça queimados.

— AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHRRRRRRGGGG — urrou o homem ao ver as chamas.

Num ímpeto ele avançou na direção da moça e pulou por cima da mesa. Anabela desviou e correu para fora do escritório. Viu a luz da lanterna do celular no chão e pegou o aparelho antes de bater a porta. A corrida na direção da entrada durou poucos segundos. A moça saiu da loja antes que o avô pudesse entender o que estava acontecendo. Menos de um minuto depois os dois já estava no carro a caminho de casa.

— Eu consegui! Queimei o papel! Tinha um homem lá, ele tentou me impedir, mas eu… — A expressão perplexa do avô fez Anabela parar de falar. — O que foi, vovô?

— O que é isso no seu rosto, Anabela? É tinta?

A moça puxou um espelho da bolsa para ver. Ela não sabia bem o por quê, mas lágrimas pretas de tinta escorriam dos seus olhos.

Contos de Segunda #56

“Nunca escreva quando estiver cansada, nem quando estiver doente e principalmente: nunca escreva enquanto o relógio estiver marcando três da manhã”.

Foram as palavras ditas pelo avô de Anabela quando ela disse, ainda criança, que queria virar escritora. O avô dela era escritor, assim como o avô dele e assim como a paixão pela escrita sempre pulava uma geração, aquele aviso era dito pelos avós para seus netos.

A voz do avô de Anabela foi o último bastião de ordem no caos dos sonhos febris. A moça tinha passado as últimas quatro noites delirando de febre. Ela tinha passado as últimas quatro noites ouvindo os avisos do avô e nos últimos quatro dias ela tinha acordado sentada na escrivaninha, poucos segundos antes de encostar a caneta no papel… Com o relógio marcando três e meia da manhã.

Anabela estava esgotada. Os dias de febre tinham consumido todas as suas energias e o sono não apareceria enquanto o Sol ainda estivesse no céu. A pouca fome dos últimos dias tinha desaparecido naquele domingo. Seja qual fosse a batalha que estava sendo travada ali, não era Anabela que estava ganhando.

“Quando estamos cansados não conseguimos perceber o mal que nos ronda”.

O relógio marcava dez da noite quando o sono chegou. Ela engoliu dois comprimidos antes de deitar. O sono sempre chegava antes da febre e os comprimidos conseguiam ao menos deixar a temperatura controlada.

“Quando estamos doentes temos seres estranhos no nosso corpo, alguns deles gostam de nos fazer escrever o que eles não podem falar”.

Algo estava diferente naquela noite. Anabela nunca estivera tão lúcida durante os sonhos que a febre trazia. Várias cores dançavam na frente dos seus olhos, as estrelas dançavam no céu caleidoscópico e o vento cantava no vazio que a cercava. De tanto tremer, por causa do vento ou da febre, caiu de joelhos e encarou a explosão de cores que a cercava.

“Quando o relógio marca três horas e o Sol não está no céu, as passagens para outros mundos são abertas, dentro e fora da gente”.

O vento deitou Anabela no chão. As cores mergulharam por baixo dela para fazer uma cama, as paredes e a escrivaninha. Uma versão multi cromática do seu próprio quarto. O braço direito se debatia compulsivamente como se procurasse algo, as pernas escorregaram para fora da cama e com um impulso colocaram Anabela de pé. Passos trôpegos levaram a pobre moça para a mesa , a mão direita finalmente encontrou a pena pela qual procurava. A cama se jogou em forma de cadeira para sustentar a moça enquanto a pena dançava sobre o papel e os avisos do avô ecoavam pelo vazio.

Uma eternidade depois as cores se apagaram. a cadeira largou Anabela no chão gelado, o vento rasgou-lhe a pele e a dor encerrou a alucinação.

Quando acordou, Anabela estava no chão do quarto. A febre tinha passado e a sensação de esgotamento era menor. A cadeira tombada serviu de apoio para que ela se levantasse. Na mesa estava um caderno com meia página escrita e um despertador que marcava dez minutos depois das três e meia da manhã. Ainda desorientada, a moça rasgou o parágrafo escrito do caderno e leu. A língua era desconhecida, mas ela conseguia compreender as palavras malditas que ali estavam escritas. Palavras tão hediondas que as últimas forças da jovem foram exauridas. Por horas ela esteve desmaiada. Quando acordou o Sol já iluminava a janela do quarto, mas o pedaço de papel rasgado do caderno não estava mais lá.

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