O conto de hoje é uma continuação direta da história de Maurício, protagonista do Contos de Segunda #2.
O mundo acabou. A essa altura do campeonato isso já não era mais novidade, o apocalipse chegou meses atrás e , ao contrário do que era esperado, muita gente sobreviveu. Maurício é um desses sobreviventes e ele estava profundamente decepcionado com o fim dos tempos.
A primeira coisa que Maurício fez foi arrumar um emprego. Ele trabalhava com uma atividade bastante curiosa: ele era chefe do departamento de coleta de pilhas. Pilhas eram um item muito importante no mundo pós-apocalipse, por algum motivo inexplicável a radiação das armas nucleares utilizadas na guerra transformara as pilhas alcalinas em uma fonte de energia inesgotável. Maurício detestava ficar catando pilhas e por isso todas as segundas ele acordava de manhã e pensava: “Bem que o mundo podia ter acabado direito”. Esse pensamento se repetia no caminho para o trabalho quando ele passava pelos religiosos que continuavam protestando contra Deus por tê-los abandonado num mundo destruído, e quando ele precisava encarar a fila da tirolesa para atravessar o abismo deixado pela ponte que ruiu na semana passada. O pensamento continuava quando ele via o tanto que as pessoas continuavam reclamando, principalmente por motivos que não tinham nenhuma relação com a situação desgraçada que era viver no fim do mundo. Ultimamente as pessoas começaram a reclamar da reclamação alheia. Era quase uma epidemia, chegava a ser pior do que as doenças do tempo do fim do mundo. Maurício precisava mudar de vida, mas as opções estavam bastante restritas. Ele precisava fazer algo radical.
Na hora do almoço ele parou para contemplar uma pilha palito que havia sido encontrada num controle remoto quebrado. Ela emitia uma luz verde e tinha um cheiro esquisito. “E se eu engolir uma pilha dessas, só pra ver qual é?”, pensou Maurício. Ele não precisou de muita reflexão antes da pilha descer pela sua garganta. Depois de uma azia de quinze minutos, Maurício começou a enxergar as coisas meio esverdeadas, as unhas ficaram pretas e o cabelo começou a pesar na cabeça. A eletricidade começou a fluir pelo seu corpo e ele começou a sentir os dedos formigando. Ele não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas o fim do mundo estava ficando mais interessante do que ele esperava.
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Rodrigo Cittadino
Maneiro.
A narrativa parece estilo Douglas Adams, e curti. Dá a impressão de que o narrador está acompanhando de cima as ações do Maurício, o que é diferente de uma história narrada pelo ponto de vista do personagem.
O final é que poderia ter mais peso, talvez com o narrador ressaltando a ironia presente no fato de um sobrevivente do fim do mundo optar pelo suicídio (a não ser que o fim não seja esse e que o conto tenha continuação, hehe!).
Congratz, Filipe! 🙂
Filipe Sena
A minha intenção é expandir a história de Maurício, assim como de outros personagens dessa série. O conto de hoje não deixa de ser um interlúdio, abrindo possibilidade para uma gama de bizarrices no mundo pós-apocalipse. Valeu, Rodrigo o/.
Capitão
Esse é o famoso: Caiu na pilha errada. (BA TUM TSS!)