Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Tag: Animais

Preguiça da Vida

    Hoje estava eu pensando no que escrever nessa primeira sexta-feira de março. A verdade é que eu ando meio sem ideias e tem dia que é difícil espremer alguma coisa aproveitável da cabeça e hoje esse esforço pra ter uma ideia me cansou mais do que o normal. Na verdade não cansou, já que só em pensar no trabalho de ter uma ideia foi o suficiente pra me deixar cansado. Foi aí que eu liguei o computador do trabalho e me deparei com essa imagem na tela de login.

Three-toed sloth, Costa Rica

    Além de ter minhas angústias confortadas pelo semblante tranquilo do bicho preguiça, encarei essa visão como um sinal dos céus. Então a ideia brotou na minha cabeça e cá estou pra falar de preguiça, o bicho e a que a gente sente.

Ao digitar na pesquisa do Google a palavra “preguiça” me deparei com alguns significados para a palavra:

  1. Aversão ao trabalho; ócio, vadiagem.
  2. Estado de prostração e moleza, de causa orgânica ou psíquica.
  3. Falta de pressa ou de empenho, morosidade, lentidão.

    Para efeitos didáticos vamos ignorar o primeiro significado, pois ele sugere uma espécie de má vontade por parte do ser preguiçoso, e vamos tomar como significados mais úteis para a discussão os outros dois.

    A preguiça é uma parada tão cabulosa que está na lista mais famosa de coisas condenadas pela Bíblia. Um grupo seleto conhecido mundialmente como Os Sete Pecados Capitais. E de fato a preguiça é algo tão potencialmente danoso que podemos comparar a uma doença. A preguiça nos faz literalmente desistir da vida, nos faz exaustos antes mesmo de pensarmos em algo pra fazer ou simplesmente nos desacelera violentamente. Nesse ponto podemos associar bem o estado preguiçoso do ser humano com o bicho preguiça.

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    Note que o nosso amigo bicho não parece preguiçoso na forma em que estamos acostumados a ver em outros animais. Cachorros e gatos normalmente manifestam preguiça de uma forma similar à nossa, mas o bicho preguiça consegue transcender o conceito de estado preguiçoso. Pra ele não existem um estado diferente daquele ou um momento em que existe pressa. Pra preguiça o mundo passa acelerado enquanto ela desacelera até quase parar. A lentidão está entranhada na carne e nos ossos, das unhas dos pés até a cabeça.

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Aí vem o efeito que o bicho preguiça provoca em nós, seres que vivemos em diferentes velocidades. A preguiça tem uma aura deboísta tão forte que acabamos por desacelerar também. Como permanecer acelerado diante de uma imagem como essa?

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Essa desaceleração costuma ser tão brusca, que sentimos uma espécie de efeito anestésico. Relaxamos tão rápido que quase nos sentimos como o bicho que nos contaminou. Por um instante nos tornamos tão lentos quanto eles e talvez até tão good vibes quanto eles. Podemos até dizer que observar preguiças, seja em fotos ou vídeos, é algo quase terapêutico.

Chegou a hora de encerrar o post de hoje. Pensei em desenvolver um encerramento legal e tal, mas adivinha? Deu preguiça. Por isso vou encerrar com essa rara imagem de uma preguiça sorrindo.

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Até semana que vem.

 

Pelo Menos Você Não É Um Macaco Coberto De Cocô

Um ano e pouco atrás eu falei aqui no blog sobre como não devemos nos sentir culpados ao admitir que tudo está uma bela bosta. Também comentei que normalmente era uma pessoa otimista e de fato eu costumo sempre achar o lado positivo das coisas, principalmente quando não sou eu que estou achando tudo uma merda. Mas esses dias eu vi no meu feed do Instagram essa foto aqui:

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Essa imagem espetacular foi publicada por uma cantora que eu gosto muito e que está na turnê do seu álbum recém lançado. Na legenda da foto ela diz: “nós ajudamos uns aos outros na turnê”. Não fica claro quem é o autor da mensagem ou do desenho, mas dá pra perceber que alguma coisa de ruim aconteceu e que alguém está bem desanimado com isso. Agora se imagine nessa situação: você está triste, meio desanimado com a vida e recebe um bilhete com a seguinte mensagem:

“Se isso te faz sentir um pouco melhor… Pelo menos você não é um macaco coberto de cocô”

Logo abaixo da mensagem está um desenho horroroso de um macaco com um cocô na cabeça. Não sei vocês, mas se eu recebesse isso a minha vida melhoraria 300% em um instante. Muito provavelmente eu também tiraria uma foto do bilhete e colocaria no Instagram. Com certeza a minha tristeza iria embora e eu encararia a vida com as forças renovadas. Os pássaros começariam a cantar e o mundo seria bom de novo.

Não sei se você, querida pessoa que está lendo esse texto, está passando por um momento ruim. Não sei se você conhece alguém que está passando por um momento ruim. Independente da sua situação a mensagem que eu deixo é: tudo pode estar uma bosta, mas se isso te faz sentir melhor… Pelo menos você não é um macaco coberto de cocô.

Contos de Segunda #37

Fernanda estava com um humor péssimo. O papagaio do vizinho começou a gritaria às quatro da manhã, exatamente três horas antes do despertador de Fernanda tocar. O maldito papagaio costumava fazer esse tipo de coisa, mas nunca tão cedo. Depois de falhar miseravelmente em voltar a dormir Fernanda resolveu antecipar sua corrida noturna. Chegou na rua, ligou a música e colocou os fones de ouvido. Depois de quinhentos metros a música parou. O player ainda reproduzia a música, mas nada de som. Ela experimentou tirar o fone, a música voltou. Ao colocar o fone novamente a música parou. Depois de algumas tentativas Fernanda desistiu, o fone de ouvido só funcionava com o rádio e o jeito foi correr ouvindo o noticiário policial com as noticias da madrugada.

    Depois da corrida desastrosa não foi difícil chegar cedo no trabalho. Ela ligou o computador e conectou os fones de ouvido. Aparentemente eles estavam funcionando perfeitamente. O dia prometia ser tranquilo e sem muitos aborrecimentos. Tudo que Fernanda precisava fazer era não tirar os fones do ouvido. Ela tinha começado recentemente no emprego e um dos seus colegas de sala produzia inúmeros barulhos praticamente insuportáveis. O teclado fazia muito barulho, o scroll do mouse rangia, as rodinhas da cadeira arrastavam no piso e ele tinha um pigarro eterno. Mas tudo isso era barrado, ou pelo menos minimizado, pela ação do fone de ouvido e pela biblioteca de música praticamente infinita do serviço de streaming. Era só carregar a página de um artista ou banda com uma discografia grande, fazer a lista de reprodução e tudo ficaria bem… Mas não ficou.

    “Erro Tente Novamente Mais Tarde”. Foi o que apareceu na tela quando ela tentou acessar a página de um artista. Tentou com outro, mais um, uma banda. “Erro Tente Novamente Mais Tarde”. O sangue de Fernanda começou a esquentar, de repente os 14,90 que ela pagava na assinatura do serviço pareceram uma quantia exorbitante. Tentou o player web, depois pelo aplicativo do celular. “Erro Tente Novamente Mais Tarde”. O colega barulhento chegou mascando chiclete, da forma mais ruidosa e babada que um ser humano poderia mascar um chiclete. Fernanda já estava trincando os dentes, mas antes de perder completamente a calma ela se conformou em passar o dia ouvindo rádio. Como todas as rádios legais da internet eram bloqueadas pelo servidor, ela teve que se conformar com as rádios FM’s normais, com todas aquelas músicas repetidas e intervalos comerciais sem fim.

    Chegou em casa cedo desejando comer e dormir. Depois de comer um pedaço da lasanha do almoço de domingo ela estava pronta pra cair na cama… Quando o papagaio começou a gritar. Uma, duas, três horas. Já passava das 22h e o papagaio ainda berrava. Fernanda decidiu agir. Pegou uma faca, colocou entre os dentes, saiu pela janela da área de serviço, escalou um pedaço da fachada, cortou a tela de proteção e entrou na área de serviço do vizinho, lá ela encontrou o papagaio. Ela olhou furiosa para a ave tresloucada. Os gritos aumentaram. Ela pegou o bicho pelo pescoço e desceu a faca em um golpe vertical… Arrebentando a corrente que prendia o papagaio no poleiro. Ela levou o bicho seguro pelo pescoço até o quarto onde o vizinho dormia com sua esposa. Abriu a porta, jogou o papagaio dentro, fechou a porta e habilmente usou a faca para inutilizar a fechadura. Voltou para a área de serviço, desceu um pedaço da fachada até chegar em casa. Caiu na cama e dormiu bem como jamais dormiria outra vez na vida.

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