Os tempos atuais são um convite à reflexão. Caso você, cara pessoa leitora, esteja lendo isso do futuro, basta eu dizer que os “tempos atuais” dos quais eu falo são os tempos de pandemia do coronavírus, quarentena e isolamento que já consumiram um pedaço grande do ano da graça de 2020. Justamente nesse ano, durante todos esses eventos semi-apocalípticos, o proprietário deste humilde sítio eletrônico atingirá a marca histórica de 30 anos vividos.
“Ê, Filipe, bem qualquer coisa fazer 30 anos”. Sim, pessoa leitora hipotética que falou a mesma coisa no meu texto de aniversário em 2016, não é grande coisa no plano geral da humanidade, mas como eu não vou completar 30 anos nunca mais, a marca é histórica pra quem interessa que ela seja… Mas voltemos ao papo reflexivo.
30 anos se tornou uma idade cabalística nos últimos tempos. Muito se fala sobre como todo mundo (não se sabe exatamente quem, mas ainda assim todo mundo) espera que a sua vida esteja toda no lugar aos 30 anos. Eu não sei a de vocês, mas a minha com certeza não está. E a vantagem de não embarcar nessa nóia de vida resolvida é que sobra processamento cerebral pra refletir sobre outras coisas que vêm com a idade… Coisas diferentes de cabelos brancos e dores que não estavam lá até um dia desses. Justamente por isso a presente publicação nasceu. Eu topei com uma coisa que me fez refletir.
Estava hoje de bobeira passando pelo meu Instagram e me deparei com a seguinte tirinha do My Dad is Dracula que eu usei minhas incríveis só que não habilidades gráficas digitais pra traduzir.
Muitas coisas mudam ou se perdem ao longo do caminho de uma vida, independente do tamanho dele ou em que altura desse caminho qualquer um de nós se encontra. E eu nem falo das coisas materiais, das relações pessoais e de tudo que pode ou vai gerar arrependimento. Nem toda mudança é pra pior ou pra melhor, nem tudo que fica pra trás deixa saudade ou faz falta. Boa parte das coisas que ficam pra trás têm mais que ficar pra trás mesmo. Algumas não fazem falta justamente por serem um pedaço de alguém que não existe mais. Basta pensar um pouco pra perceber que várias versões de mim mesmo estão perdidas no passado cada vez mais distantes das idades passadas. E toda vez que eu penso nessas coisas, agradeço de todo coração por isso ter acontecido. Quando eu penso no pai perguntando ao filho se ele ainda consegue enxergar algo mais fantástico do que apenas uma poça d’água suja que reflete a luz de forma multicolorida, eu reflito. Quando eu vejo o semblante triste do menino diante da pergunta, eu me entristeço junto, mas me alegro logo depois. Me coloco no lugar da criança questionada, posiciono um leve sorriso nos lábios e respondo…
Sim, consigo.
A minha cabeça ainda absorve e projeta as mesmas coisas desde sempre. As cores vindas do espaço ainda tingem as histórias dos heróis, vilões, mutantes e dragões que sempre ocuparam meus olhos e povoaram minha imaginação. O pensamento volátil, faminto pelo absurdo das coisas, ainda trabalha incansável para que o mundo continue tão interessante quanto sempre foi, apesar da dificuldade da tarefa. Ainda é fácil torcer a realidade, o tempo e o espaço conforme a necessidade das ideias doidas e tecer mundos inteiros ainda pode ser feito em poucos segundos. Sim, ainda consigo.
Envelhecer ainda não é tão ruim quanto poderia ser, apenas pelo fato de algumas coisas não se renderem à idade. Não por apego ou teimosia, é só que a idade ainda não foi forte o suficiente pra vencer. E espero que nunca seja. Os dias e anos são só números diante dos olhos que envelhecem ainda menos do que a alma da qual eles são janela. A maturidade ainda é seletiva e, felizmente, ainda não obrigatória em muitas ocasiões. A idade pesa leve sobre mim porque eu resolvi tirar dela um pouco do peso que ela nem precisa ter. Mais um ano, mais um dia, uma idade nova que não chegou de uma vez. Vem chegando faz tempo. Tá chegando faz 30 anos. Agora, finalmente, chegou.