Não é um blog sobre cachorros e bikinis

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(Não) Carnaval 2017

    Algumas regiões do Brasil são praticamente sinônimo de carnaval. Em algumas outras a festa existe, mas não é tão famosa, e em outras localidades o carnaval praticamente inexiste. Inclusive são essas cidades que costumam receber as pessoas que querem fugir do carnaval. Como eu dificilmente saio de casa no carnaval e moro em um dos estados que são sinônimo de carnaval, o carnaval acaba chegando em mim. Seja pela música alta dos vizinhos, pela troça que você encontra na rua quando vai comprar pão, as notícias no jornal ou pelo desvio do trânsito por causa do bloco que vai passar. O carnaval chega, pelo menos chegava. Digo isso porque em 2017 o carnaval parece mais que não chegou por aqui.

    Os meus vizinhos devem ter sido abduzidos, porque nesses últimos dias eu não ouvi música nenhuma. Saí uma ou outra vez e não vi nenhuma troça, bloco ou similar na rua. Vi uma ou outra notícia na televisão, mas dei tão pouca atenção que parecia mais que tudo aquilo estava acontecendo em outro lugar. Nem as pessoas conhecidas falaram muito sobre carnaval. As fotos que apareceram nas redes sociais pareciam mais deslocadas no tempo. Acho que nunca antes na vida eu estive tão longe dos festejos carnavalescos. Não me lembro se houve um carnaval com a vizinhança tão silenciosa. Nunca estive tão próximo da sensação de morar em um lugar onde o carnaval não existe.

    “Ah, Filipe, mas que besteira. Em um monte de lugar não tem carnaval e não vejo ninguém fazendo espanto por causa disso”. De fato isso é uma besteira, mas tem dois motivos pra eu fazer espanto com isso. O primeiro é o fato de que eu só escrevo sobre besteiras. Se eu não falar das besteiras, eu não vou falar de nada. O segundo motivo é o meu endereço. Eu moro em Pernambuco e aqui o carnaval começa oficialmente depois da virada do ano, isso quando a virada de ano já não é em clima de carnaval ou quando as atividades carnavalescas não começam depois do São João. Ou seja, aqui é carnaval até quando não é pra ser. Tanto que ninguém se admira com essa vibe carnavalesca quase permanente. Exatamente por isso que eu tô achando tudo tão estranho. Na verdade estava, porque o carnaval acabou de acabar.

    As cinzas da quarta-feira já estão indo embora e com elas mais um carnaval. Ano que vem ele vem um pouco mais cedo, dia 10 ele já começa. Se bem que na velocidade em que 2017 tá passando, quando a gente se der conta já vai ser carnaval de novo. Feliz ano novo, 2017 começa pra valer agora.

Eu, Você e Os Hits do Verão

    Verão. A única estação que, ao contrário do inverno, acontece mais ou menos do mesmo jeito em todo o país. O frio é seletivo, mas o calor é para todos e, assim como ele, as coisas de verão costumam se alastrar de forma bem uniforme por toda Terra Brasilis. Dentre todas as coisas de verão a que mais costuma afetar a vida das pessoas é o hit do verão.

Ao longo de todo o ano algumas músicas chegam ao topo das paradas de sucesso, mas os hits de verão não são iguais aos outros hits. Como o nome já diz, essas músicas costumam explodir em uma época muito específica do ano. O hit de verão costuma aparecer lá pra dezembro, bem a tempo de embalar as festas de fim de ano. Ele também não precisa ser lançado necessariamente no verão. Imaginemos essas músicas como uma espécie bomba relógio programada pra explodir quando a galera começa a ir pra praia. Normalmente isso se dá pela posição geográfica do dono do hit e pela velocidade em que o sucesso da música cresce. Isso acontece de forma bem orgânica e não depende tanto dos veículos tradicionais de mídia para tanto, principalmente quando a música tem conteúdo explícito. É uma coisa que acaba passando de pessoa pra pessoa, coisa que hoje é até mais fácil por causa da internet. Mas até aí nada difere muito o hit do verão de um hit comum. É quando chegamos na hora de falar sobre as duas características que tornam o hit de verão tão peculiar.

A primeira delas é que o hit do verão normalmente é eleito o hit do verão. Não é muito incomum você ver as pessoas dizendo que tal música é “a música do verão” ou o “hit do verão” ou, dependendo da música, “a música do carnaval”. Os termos variam, mas de fato algum desses títulos é atribuído à música coroando o sucesso da mesma. Mas devemos lembrar que esse título tem um efeito adverso: a música ganha um prazo de validade. É exatamente essa a segunda característica.

Os hits de verão costumam ficar vivos enquanto o período de veraneio está em vigência. Isso não acontece exatamente na mesma época todo ano, até porque no Brasil o período mais, digamos, contente do verão acaba junto com o carnaval. Que é quando o ano de fato começa. Sacou a diferença? Agora que terminamos as características gerais do hit de verão eu posso falar das coisas que nem todo mundo vai concordar.

A única característica do hit de verão que faz diferença na minha vida é: a música de verão é a música mais chata do ano. Seu vizinho deu uma festa? Vai tocar o hit do verão. Passou um cara com o som alto na sua rua? Vai estar tocando o hit do verão. Você foi pra praia? Lá vai ter alguém com um som ligado no hit do verão. Foi brincar o carnaval? Vai ouvir o hit do verão. O hit desse ano não é música de carnaval? Vai ter alguém que fez uma versão carnavalesca do hit do verão. Não importa. A certeza é que a música vai tocar, você vai acabar ouvindo algumas inúmeras vezes e vai ficar de saco cheio.

Esse ano o hit do verão, creio eu, ainda não foi de fato definido. Minha aposta pra esse ano é o maravilhoso e arrojado “Deu Onda”, principalmente por contar com uma versão que pode ser cantada pelas crianças e outra para os maiores de 18 anos. Além de inspirar uma série de memes, piadinhas e derivados internets afora. De todo jeito o carnaval ainda tá longe e ainda vai tocar muita coisa até lá. Boa sorte pra todos nós.

Marília Mendonça Foi Acusada de Mandar Indiretas

    No início da semana estava eu andando por um grande portal de notícias de Pernambuco quando me deparei com a seguinte manchete:

Manchete Marília

    Caso você queira ver a notícia é só CLICAR AQUI.

    Antes de comentar a notícia em si acho que vale a pena discorrer um pouco sobre esse personagem tão importante na internet contemporânea: a indireta. Se você habita, passeia ou pelo menos ouve falar das redes sociais, é bem provável que já tenha lido um post de alguém que estava dando uma alfinetada em alguém, mas sem dizer quem era o alvo da alfinetada. Se você viu quer dizer que a indireta não é uma coisa desconhecida de vossa pessoa. Podemos dizer que a indireta normalmente tem quatro efeitos diferentes que listaremos adiante.

O primeiro é atingir a pessoa para quem de fato ela foi mandada. Quando a indireta é realmente bem feita ela chega no alvo e faz o seu estrago, normalmente resultando em alguma indireta em resposta que gera outra e tudo termina numa espécie de guerra fria internética. O segundo efeito é deixar praticamente todo mundo que não é alvo da indireta se perguntando por que diabos aquela mensagem/postagem foi feita. O terceiro efeito é deixar algumas pessoas com a pulga atrás da orelha. Até porque nem sempre dá pra ter certeza se a indireta foi com você ou não. Normalmente as pessoas que ocupam esse grupo tem certeza que não fizeram nada, mas mesmo assim  podem ficar meio desconfiadas dependendo do autor da mensagem. Por último temos aqueles que tem certeza que a indireta foi pra eles, mesmo não sendo. São essas pessoas que validam a afirmação de que uma indireta é que nem uma granada, você mira em um e ela bate em dez.

    Agora podemos finalmente chegar no caso da indireta de Marília Mendonça. Primeiramente devemos ressaltar a fome que a internet tem de degustar a treta dos outros. No final todo mundo fica vendo video de gatinho, de gente caindo ou de acidente na Rússia enquanto espera explodir a próxima treta. Principalmente se for treta entre gente famosa. Principalmente pelo fato de todos os artistas estarem competindo uns com os outros… Pelo menos na cabeça dos fãs.

    Muitas vezes as concorrências só acontecem na cabeça da gente. Artistas ou obras que compartilham públicos semelhantes, ou até o mesmo público, são imediatamente tidos como rivais e, mesmo que de fato sejam rivais, os fãs acabam transformando a rivalidade em uma espécie de guerra. Agora imagine que essa galera que gosta de ver o circo pegar fogo estava de bobeira no Instagram, ou no “Inxta” como dizem os jovens, e viu lá nossa comadre Marília falando alguma coisa pra suas amigas, a dupla Maiara e Maraisa. Obviamente não é difícil imaginar que, na cabeça dessas pessoas, TODAS as duplas sertanejas ou similares formadas por mulheres são todas inimigas mortais e só estão esperando um motivo pra declarar a Primeira Guerra (Sertaneja Feminina) Mundial. Imediatamente eles imaginaram que nossa comadre estava demonstrando de que lado ficaria quando a guerra começasse e ainda aproveitou a deixa pra catucar a dupla que é (teoricamente) a maior concorrente de suas amigas, a dupla das também irmãs Simone e Simaria. Se o plano dessa galera desse certo nós teríamos uma treta que encheria de alegria a internet brasihueira e provocaria uma verdadeira batalha campal entre os fãs das duas duplas.

    Aí quando eu olho pra um negócio desses a única coisa que eu penso é:

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Sério isso? Sério que a galera tá tão doida pra assistir uma confusão que tá inventando até indireta? Sério isso? Marília Mendonça tá fazendo tantas outras coisas mais interessantes e o pessoal se ocupa caçando indireta? Não vejo ninguém falando das demonstrações das habilidades etílicas da moça.

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E esse povo ainda quer falar de indireta.

Contos de Segunda #69

Jorge e Cristina são os protagonistas do nosso especial de ano novo, mas a história de hoje é uma continuação direta dos eventos de Contos de Segunda #66.

— Fábio vai mesmo arrumar os ingressos?

    — Vai. Hoje mesmo ele deve deixar comigo.

    Cristina e Luciana estavam resolvendo os planos para a virada de ano. Cristina estava um pouco tensa, os planos foram deixados para o último momento, já que Fábio, namorado de Luciana e guitarrista, estava esperando aparecer algum convite para tocar em uma festa de Reveillon e possivelmente conseguir levar as duas amigas de graça. Dois dias atrás Fábio recebeu a confirmação, mas Cristina não estava nem um pouco crédula e já tinha preparado o psicológico para uma virada de ano assistindo duas queimas de fogos.  Das cidades dentro e fora do horário de verão.

    — Pena que não vai ter ingresso pra Roberta — lamentou Luciana.

    — Roberta viajou — replicou Cristina. — Adiantou uns dias das férias, colocou o cachorro na mala do carro e partiu pra casa da família no interior.

    — E eu aqui preocupada com ela — Luciana fez uma pausa para olhar a mensagem de Fábio no celular. — Tudo certo. Hoje de noite eu pego os ingressos.

    Dois dias depois Cristina estava diante do espelho, toda de branco, conferindo a maquiagem antes de Luciana aparecer com o carro. Depois de contemplar o reflexo por alguns segundos, Cristina chegou à conclusão de que estava realmente bem bonita. Ela nem lembrava qual foi a última vez em que tinha se sentido daquele jeito, tanto que imediatamente começou a vislumbrar a possibilidade de aparecer algum fulano interessante que estivesse igualmente interessado… E a possibilidade de aparecer alguns fulanos não tão interessantes assim. Repassou mentalmente o repertório de foras e as bebidas que seriam evitadas por deixarem o jogo mais fácil para os fulanos menos interessantes.

    — Uau — disse Luciana quando Cristina entrou no carro. — Por favor, moça, você poderia sentar no banco de trás? Minha amiga vem aí e ela gosta de andar no banco da frente.

    — Nossa, Luciana. Demorou muito pra pensar nessa piada?

    — Que mulher azeda, meu Deus — respondeu Luciana. — Mudando um pouco de assunto. Fábio disse que vai entrar no palco logo depois dos fogos. Vou ficar na contagem regressiva atrás do palco com ele, quando ele for tocar a gente se encontra. Antes de chamarem ele a gente fica no bar.

    — Não tô com muita vontade de ficar de vela hoje, Luciana. Depois que a gente definir o ponto de encontro eu deixo vocês sozinhos.

    Foi exatamente o que aconteceu. Depois de cumprimentar Fábio, Cristina pegou uma bebida colorida e foi circular pelo evento. Uma multidão vestida de branco estava na frente do palco. Infelizmente a banda da vez tinha um repertório baseado em sertanejo universitário e forró estilizado. Baseado nas piores músicas possíveis de forró e sertanejo. Já que assistir esse show estava fora de questão, ela resolveu arrumar um bom lugar para ver os fogos. Depois de muito procurar, Cristina encontrou um mirante em cima do bar. Dali a visão do palco era péssima, mas a visão do céu estava ótima. Aparentemente as outras pessoas da festa estavam pouco interessadas em ver o céu, deixando a varanda só para Cristina e mais um ou dois casais. Com um pouco de esforço Cristina localizou Luciana e Fábio. O namoro dos dois ainda era uma surpresa e, do jeito que ia, o casamento não tardaria a chegar. Sem dúvida uma das apostas de Cristina para o ano novo. E aparentemente não tinha só ela fazendo apostas de ano novo. Várias pessoas fugiram do branco e estavam usando cores que chamam dinheiro, saúde, amor… Menos uma pessoa que estava usando uma camiseta marrom.

    — Que tipo de mané vira o ano usando marrom? — Questionou ela num tom irônico. O tal fulano vestido de marrom acabou olhando de volta para ela. — Jorge? Só me faltava essa.

    Jorge aparentemente não reconheceu Cristina. Ele estava mais preocupado em manter a conversa com uma moça de cabelo loiro comprido e jeito de musa fitness. Para Cristina a cena era mais uma surpresa do que um incômodo. Na cabeça dela Jorge era incapaz de sustentar uma conversa interessante por muito tempo. Riu sem querer dos próprios pensamentos. Lembrou do incidente do elevador, do jantar desastroso no dia dos namorados e de como tudo estava mais tranquilo agora que Jorge não trabalhava mais com ela. Tranquilo demais. Cristina sentia falta de um rival. Ninguém conseguia oferecer tanto desafio quanto Jorge.

    Ela olhou para o relógio. O ano terminaria em dez minutos. O céu estava sem nuvens e a lua crescente abria um sorriso fino no céu. Infelizmente todas as estrelas estavam cegas pelas luzes. A bebida acabou, ela pegou outra com um garçom errante que passava por ali. Olhou novamente para Jorge e notou que a conversa com a loira fitness não estava indo muito bem. Entre um gole e outro da bebida Jorge ficou fora de vista. Mais cinco minutos e o ano daria adeus. Luciana e Fábio já deviam estar atrás do palco esperando o ano novo chegar.

    — Não imaginei que te veria por aqui — disse uma voz familiar.

    — Não imaginei que existisse gente que vira o ano de marrom.

    Jorge estava parado do lado dela. Ele segurava um copo com alguma bebida transparente e olhava direto para a Lua.

    — Nunca gostei muito dessas coisas de cor de roupa no ano novo. Algumas pessoas ficam realmente incomodadas quando você diz isso ou quando você não acredita em horóscopo.

    — Foi por causa disso que a tua amiga galega desistiu de conversar contigo?

    — Mais ou menos — disse ele sem jeito. — Ela disse que eu tinha que prestar atenção nela e não na moça que estava no mirante. Claro que ela usou alguns termos menos brandos, mas é melhor não repetir exatamente o que ela me falou.

    Cristina corou de leve. As palavras de Jorge a pegaram de surpresa.

    — Mal sabe ela do que se livrou.

    — Concordo. Hoje eu não estou muito pra interagir com desconhecidos. Se Fábio não precisasse de uma ajuda com o equipamento eu nem estaria aqui.

    Começou a contagem regressiva.

    — Hora de fazer um pedido de ano novo, Jorge.

    — Pedido? Nem sei se tem alguma coisa pra pedir. Acho que vou pedir alguém pra arengar contigo no escritório.

    — Acho válido. Não tem ninguém naquele escritório que dê uma briga boa.

    — Claro que tem. É só saber bater que aparece alguém pra bater de volta.

    Os gritos interromperam a conversa. Os fogos iluminaram o céu. Por dez minutos todos contemplaram o céu em silêncio.

    — Vou lá encontrar com Luciana — disse ela olhando para o celular. — Foi bom te ver, Jorge.

    — Vai ver Fábio tocar?

    — Acho que não. Luciana me adiantou o set list do show e a gente não gostou muito. E você?

    — Acho que vou ficar por aqui pro caso de vocês ficarem com vontade de conversar com alguém conhecido.

    — Volta pra tua galega, Jorge. Se depender da gente, o teu começo de ano vai ser bem solitário.

    A frase mal terminou e Cristina saiu andando. Depois de dois passos ela ouviu a resposta de Jorge.

    — Feliz ano novo, Cristina

    Ela não se incomodou em parar, muito menos em desejar o mesmo.

Retrospectiva 2016

Outro dia eu estava na minha timeline do Facebook e me deparei com essa maravilhosa tirinha lá do pessoal do Ângulo de Vista.

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Sim, dá pra resumir 2016 nesse último quadrinho. Um ano que só estava aqui pra ver o circo pegar fogo. Doze meses terroristas que trabalharam incansáveis para deixar a vida da gente mais difícil e para celebrar a partida desse ano tão maravilhoso que vamos fazer uma breve recapitulação de algumas coisas que rolaram esse ano.

Acho que a primeira coisa que a gente lembra de 2016 é do impeachment da pessoa mais engraçada que já governou esse nosso Brasil brasileiro. Derrubaram Dilma e colocaram o nosso amigo Nosferatu no lugar. Imediatamente a gente soube que metade da graça de acompanhar as atividades da presidência foi embora junto com Dilma. A segunda coisa é que oficialmente abriram as porteiras do mundo bizarro com a eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América. E que Deus nos defenda dele em 2017.

Saindo um pouco da política tivemos os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Obviamente todo mundo pensou que ia dar tudo errado e o Brasil passaria toda a vergonha que não passou na copa de 2014. Contrariando as expectativas os Jogos foram uma beleza e rolaram até umas coisas que nem Zuckerberg viu chegando que nos pegaram de surpresa, como o monte de medalha que Isaquias Queiroz, o dono do melhor cabelo do canoísmo mundial, ganhou.

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Mas infelizmente nem tudo no mundo dos esportes foi alegria. Impossível não lembrar do acidente que vitimou praticamente todo o time da Chapecoense, justamente quando a equipe disputava o título mais importante da história do clube. Poucos dias atrás um time de Uganda estava num barco que afundou, matando 30 pessoas.

E talvez a maior marca de 2016 foi justamente a quantidade de gente famosa/relevante que morreu. Só de nome grande da música morreu Prince, David Bowie, Naná Vasconcelos, Caubi Peixoto, George Michael e mais um monte de gente que eu não vou listar pra lista não ficar muito grande. Os potterheads choraram a morte de Alan Rickman, o cara que deu vida ao professor Severo Snape, o único vilão em Harry Potter que realmente é um vilão bom. Os fãs de Star Wars lamentaram a morte de Kenny Baker, o carinha dentro do R2-D2, os trekers perderam Anton Yelchin, o Chekov dos últimos filmes de Star Trek, os fãs de quadrinhos deram adeus a Darwin Cooke e até os fãs de Digimon perderam a voz que cantou as músicas mais icônicas da série, Kouji Wada também não escapou de 2016. O mundo deu adeus a Debbie Reynolds pouco tempo depois de dar adeus a filha dela. A intérprete de uma das personagens mais importantes do século XX. Esse ano o mundo perdeu a Princesa de Alderaan, em 2016 perdemos Carrie Fisher.

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2016 foi ano de sobreviver. De ser jogado aos leões e de ver muita coisa dando errado. De enfrentar as dificuldades e principalmente resistir a elas. No geral foi um ano meio triste. Chegamos ao final do mês doze bem cansados e esperando que nossas armas não sejam tão necessárias nos próximos 365 dias. 2016 foi ano de lutar. Muito ou pouco todos tivemos nossas lutas e muitas vezes participamos das lutas de outros. 2017 não promete ser tão diferente, mas talvez esse ano que começa agora deva ser olhado sob outra perspectiva.

Esse ano 2016 nos deixa meio quebrados, mas também nos incentiva a olhar pra 2017 com esperança. Ano que vem vai ser um ano bom? Não dá pra saber. Vai ser pior que 2016? Espero que não. Não espero uma mudança miraculosa na vida de todos, muito menos o surgimento de alguém que vai resolver todos os problemas, mas a esperança permanece.

Um feliz ano novo para você, querido leitor. Que 2016 termine cheio de esperança e que 2017 não nos faça esperar em vão.

2016, 75 Anos e 205 Textos

    Exatamente um ano atrás eu escrevi um post especial para comemorar a marca de 75 publicações. No texto em questão eu falei de várias pessoas e personagens que completaram 75 anos em 2015. Então escolhi uma publicação com o número terminado em 5, que no caso da publicação de hoje é 205, pra fazer a lista dos aniversariantes destaques de 2016.

    No campo musical nós abrimos a lista de Dominguinhos, falecido em 2013, Benito di Paula, o cara do Amigo Charlie Brown, o ganhador do Nobel de Literatura e de mais uma porrada de prêmios de áreas diversas, Bob Dylan e por último o cara que só aparece nos nossos fins de ano: Roberto Carlos. Roberto esse que as pessoas erroneamente chamam de “Rei”. Erroneamente porque todo mundo sabe que “Rei” só Reginaldo Rossi.

    No cinema temos o aniversário de algumas obras bem importantes. O Falcão Maltês, Cidadão Kane, O Lobisomem, Sr. e Sra. Smith, que não tem nada a ver com aquele do Brad Pitt com a Angelina Jolie, e Dumbo. Sim, mais uma vez temos um desenho da Disney completando 75 anos, pelo menos dessa vez ele não é o único filme de 1941 que é lembrado até hoje, ao contrário de Pinóquio no ano passado. Passando pras pessoas os destaques vão para o ator Nick Nolte, o mestre da luta com facas, Peter Coyote, e o mestre por trás de obras como O Castelo Animado, Meu Vizinho (ou Amigo) Totoro, Viagem de Chihiro e o maravilhoso, primoroso, lindo e emocionante Princesa Mononoke. Estou falando de um dos fundadores de um dos estúdios de animação mais respeitados do universo, Hayao Miyazaki, um dos fundadores do Estúdio Ghibli.

    Na parte de televisão nós temos o jornalista que dá personalidade à todas as chamadas do Globo Repórter, Sérgio Chapelin e daquele que sempre aponta as vergonhas do Brasil, Boris Casoy. Na parte do entretenimento temos Umberto Magnani, que faleceu sem completar seu último trabalho na televisão, a novela Velho Chico, Betty Faria e Neusa Borges, que também poderiam aparecer na parte de cinema juntamente com um músico, ator de televisão e de um monte de filmes, estou falando de Mussum. Não só um dos mais queridos, ou o mais querido, do elenco original d’Os Trapalhões.

Aí chegamos na parte que eu mais gosto: os personagens de quadrinhos. Em 1941 tivemos o nascimento do Capitão América. Juntamente com o Sentinela da Liberdade foi criado seu sidekick Bucky Barnes, que posteriormente foi reformulado e hoje atende pelo nome de Soldado Invernal. Também temos o Arqueiro Verde, que virou um personagem mais modinha mainstream depois da série Arrow, e seu sidekick Ricardito, que é Speedy no original e eu nem sei como se chama na série.

Também em 41 tivemos o nascimento da Mulher Maravilha, que esse ano causou a maior comoção por ser a melhor coisa sua participação em Batman v. Superman. Não podemos esquecer do aniversário do Aquaman, provavelmente o héroi que mais serviu de inspiração pra piadas desde o tempo dos Super Amigos. Ainda cabem na lista o Caveira Vermelha, inimigo do Capitas Americano, o Pinguim, inimigo do Batema, o Homem Borracha e o Capitão Marvel Jr.. Apesar de quase ninguém conhecer esse último, podemos dizer que ele foi um dos mais influentes dessa lista. Caso você não saiba, foi o visual do Capitão Marvel Jr que inspirou o visual de Elvis Presley. Aquela capinha na metade das costas com uma gola alta e o topete que compunham o visual do Rei do Rock vieram dele. Nem preciso dizer que o motivo disso foi a admiração que Elvis tinha pelo personagem.

Chegamos ao fim de mais um especial de 75 anos, espero que tenham gostado. Sério, espero que tenham gostado porque todo ano eu vou fazer um desses e o que eu menos quero é gente torcendo o nariz pros posts que sairão nos próximos anos.

Contos de Segunda #65 – Especial de 200 Posts

    — Boa noite, galera. Nós somos as 4Ladies e viemos pra arrebentar essa cerimônia — disse Vocal para uma platéia que, apesar de estar sentada nas cadeiras do teatro, estava muito animada. — Eu sou Vocal e aqui comigo eu tenho Guitarra, Baixo, Bateria e fazendo uma participação especial, dando um reforço com sua guitarra, nosso querido amigo Fábio — ela esperou o final dos aplausos para voltar a falar. — Estão prontos, pessoal? Então pode contar.

    Guitarra subiu o volume dos captadores e acionou dois pedais, Baixo ativou a distorção, Fábio estalou os dedos e Bateria ajustou a altura do microfone antes de começar a contar.

    — Um, dois e um,dois, três, quatro.

    As luzes explodiram no palco. A plateia explodiu nas cadeiras e o som das 4Ladies conseguia ser mais explosivo do que as duas coisas juntas.

    Foi assim que começou o show de abertura da cerimônia de entrega do Bikini de Ouro, o maior prêmio que um personagem de um conto de segunda pode receber. Todos os personagens estavam lá: Maurício pegou uma carona na máquina do tempo e veio direto do fim do mundo, Erick e seu amigo Dragão Vermelho pegaram um feitiço do tempo errado e chegaram dois anos antes do evento, mas estavam felizes por concorrerem em várias categorias. As Damas da Semana estavam totalmente apaixonadas por Elvis, o primeiro cachorro a estrelar um conto de segunda, e Ribeiro estava totalmente despreocupado com o trabalho, afinal amanhã estaria de folga. Moacir e Fernanda encontraram o Homem Camaleão e estavam conversando empolgados com o alienígena Radrax, enquanto Aderbal ainda tentava encontrar o assento com o seu nome escrito.

Coordenando todo esse evento estava Cristina. Atenta a todos os detalhes e desejando ardentemente a chegada do final do evento e ela pudesse considerar o trabalho bem feito.

— Cadê teu boy, Cristina? — Perguntou Luciana que por causa da amiga estava trabalhando nos bastidores.

— Despachei ele direto pra recepção dos personagens — respondeu a moça sem tirar os olhos do palco. Estavam entregando o prêmio de melhor vilão. — Temos alguns viajantes do tempo, um alienígena, um dragão, um cachorro que veio desacompanhado e um capo da máfia que a polícia não pode saber que está aqui. Jorge sabe cuidar desses pepinos. Também coloquei ele pra apresentar um prêmio de alguma categoria técnica.

— Horácio, né? Gostei do cara, não parece perigoso.

— Ele é legal, deu umas dicas ótimas de segurança — Cristina correu os olhos pela planilha que estava na prancheta. — Já já chega na categoria de coadjuvante. Volta lá pro teu lugar que a câmera tem que te dar um close quando anunciarem os indicados.

Quem levou o prêmio de melhor vilão foi Olho. Como ele não podia comparecer pessoalmente, por um motivo de falta de corpo, quem recebeu o prêmio em nome dele foi seu antagonista e zelador. Cosme não conseguiu segurar as lágrimas quando falou de como dividir um conto com Olho mudou a vida dele… E como está quase destruindo a humanidade do futuro.

— Cristina, a atriz famosona que ia apresentar o prêmio de melhor protagonista deu pra trás e o marido dela também — disse Marcelo que estava trabalhando de assistente de produção.

— Como é? — Questionou Cristina incrédula. — E agora?

— O diretor de TV recomendou que você fosse com alguém.

— Eu? Mas eu não estou com roupa de gala.

— O vestido da famosona tá no camarim… E por um acaso ela é praticamente do teu tamanho.

— Ai, meu Deus… Tá, tá certo. Agora eu não entro sozinha naquele palco. Arruma um zé qualquer pra entrar comigo.

Jorge tinha acabado de sair do palco depois de anunciar Carmim como vencedor da categoria Maior Conto. O detetive também ganhou a estatueta da categoria Melhor Minissérie. As Damas da Semana levaram na categoria Melhor Série Longa e Fernanda ganhou o prêmio de Melhor Série de Histórias Independentes. O próximo prêmio, de Personagem Revelação, seria apresentado por Aluísio. Devido à sua relação peculiar com a segunda-feira, não é difícil imaginar que ele foi considerado o melhor apresentador da noite. A vencedora do prêmio foi Anabela.

— Eu não esperava ganhar esse prêmio — disse ela emocionada. — Concorrer com Horácio e com a Dama da Segunda-feira foi uma honra e um privilégio. Agradeço a todos que me apoiaram, aos que votaram em mim e aos que me indicaram ao prêmio… Muito, muito obrigada.

Em seguida foi a vez da Dama da Lua apresentar o prêmio de Melhor Coadjuvante. Cristina já esperava do lado de fora do palco. A categoria de Melhor Protagonista seria a próxima.

— Pronto, Cristina, cheguei — disse Jorge olhando para o relógio.

— Chegou pra quê, Jorge?

— Marcelo falou que você precisava de “um zé qualquer”. Não sou bem um zé, mas sou o melhor tapa buracos disponível.

Cristina teria argumentado caso Luciana não estivesse descendo do palco com a estatueta na mão.

— Essa tua amiga passa o ano aparecendo às nossas custas e ainda ganha prêmio — desdenhou Jorge. — Só pode ser marmelada.

— Quieto, é a nossa vez de entrar.

Os dois colocaram os pés no palco e o teatro veio abaixo. Muitos elogiariam a produção do evento por ter escolhido dois personagens tão queridos para juntos apresentarem o melhor prêmio da noite.

— Hoje comemoramos a marca de duzentas publicações no Cachorros de Bikini — anunciou Jorge.

— Exatamente hoje, quando é publicado o conto de segunda de número sessenta e cinco, vamos premiar os melhores em diversas categorias e também o melhor de todos — disse Cristina tentando não gaguejar na frente de tanta gente.

— Os indicados são: Fernanda… Erick, o Caçador de Dragões… Horácio… 4Ladies e Cosme juntamente com seu antagonista Olho.

— E o prêmio de Melhor Protagonista… — Começou Jorge.

— … Vai para…– Completou Cristina

— Erick! — Anunciaram os dois juntos.

O caçador subiu radiante ao palco. Apertou a mão dos apresentadores, pegou a estatueta, olhou para o teatro lotado e disse:

— Alegro-me deveras, nobres personagens de segunda! Gostaria de fazer um discurso à altura da importância do prêmio… Mas no meu lugar discursará o meu amigo Dragão Vermelho.

O réptil subiu ao palco e começou a falar. Ele falou por tanto tempo que praticamente todo mundo desistiu ainda na metade. Os corajosos que ficaram garantem que ouvir aquele dragão mudou a vida deles.

Pode Até Ser Bom, Mas Eu Não Gosto

Uma coisa que eu demorei pra aprender foi a ter (o mínimo de) respeito pelo gosto dos outros, afinal já dizia o ditado: “gosto é que nem braço, tem gente que não tem”. De fato muita gente não tem um gosto, digamos, refinado ou que faça sentido. De fato tem gente que gosta de coisa ruim, mas o foco de hoje não é exatamente esse. Da mesma forma que achar uma coisa ruim boa é relativamente comum, também é comum achar uma coisa boa ruim, mas e quando você sabe que uma coisa é boa em um, ou vários, aspectos, mas mesmo assim você não gosta?

Como eu já falei por aqui um tempo atrás, hoje tudo anda bem polarizado. A famosa escala “de 0 a 10” ou “ de 0 a 5 robôs gigantes estrelas” acabou virando uma escala de “0 ou 10”. Mesmo sem querer a gente acaba absorvendo um pouco esse pensamento polarizado e quando a gente se depara no meio termo fica meio sem saber o que fazer ou sentir. Você olha pro negócio, vê que realmente aquilo tem um certo valor ou relevância, consegue reconhecer os méritos da coisa, mas… Sei lá… Né? Não dá aquele estalo, não rola aquela identificação e você não é cativado.

Coisas desse tipo acontecem comigo com uma certa frequência quando a conversa é música.  Eu consigo reconhecer a importância, o pioneirismo e a qualidade de um monte de gente. Consigo escutar um monte de coisa dos Beatles, Frank Sinatra, Queen, Chico Science e outros gigantes famosões da música sem achar ruim. Em algum momento vai ter alguma coisa que eu vou até gostar, mas eu ainda vou olhar praquilo e sentir que não é pra mim. Parece meio doido, né? Não achar ruim, achar bom em um certo grau e não conseguir gostar parece contraditório ou no mínimo incoerente. Principalmente porque eu sei que gosto de coisas piores, com bem menos qualidade e muito menos relevância, mas que de certo modo conseguiram me cativar. Claro que isso não acontece só com música. Filmes, séries, jogos, livros, comida e tudo mais que pode ser avaliado de alguma forma ou que esteja aberto ao gosto das pessoas segue essa mesma lógica.

Na vida a gente já tem obrigações demais, boa parte delas são obrigações ilusórias impostas pelos outros ou por nós mesmos, a gente não precisa se sentir cobrado a gostar disso ou daquilo. Inclusive a última coisa que deveriam cobrar da gente, ou que nós deveríamos cobrar de nós mesmos, é gostar de alguma coisa. A gente já tem seguro obrigatório, voto obrigatório, alistamento obrigatório, cadastro obrigatório, exame obrigatório, sorriso obrigatório e mais um monte de coisa obrigatória, deixa pelo menos o gosto, seu, meu e dos outros, ser facultativo.

Pelo Menos Você Não É Um Macaco Coberto De Cocô

Um ano e pouco atrás eu falei aqui no blog sobre como não devemos nos sentir culpados ao admitir que tudo está uma bela bosta. Também comentei que normalmente era uma pessoa otimista e de fato eu costumo sempre achar o lado positivo das coisas, principalmente quando não sou eu que estou achando tudo uma merda. Mas esses dias eu vi no meu feed do Instagram essa foto aqui:

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Essa imagem espetacular foi publicada por uma cantora que eu gosto muito e que está na turnê do seu álbum recém lançado. Na legenda da foto ela diz: “nós ajudamos uns aos outros na turnê”. Não fica claro quem é o autor da mensagem ou do desenho, mas dá pra perceber que alguma coisa de ruim aconteceu e que alguém está bem desanimado com isso. Agora se imagine nessa situação: você está triste, meio desanimado com a vida e recebe um bilhete com a seguinte mensagem:

“Se isso te faz sentir um pouco melhor… Pelo menos você não é um macaco coberto de cocô”

Logo abaixo da mensagem está um desenho horroroso de um macaco com um cocô na cabeça. Não sei vocês, mas se eu recebesse isso a minha vida melhoraria 300% em um instante. Muito provavelmente eu também tiraria uma foto do bilhete e colocaria no Instagram. Com certeza a minha tristeza iria embora e eu encararia a vida com as forças renovadas. Os pássaros começariam a cantar e o mundo seria bom de novo.

Não sei se você, querida pessoa que está lendo esse texto, está passando por um momento ruim. Não sei se você conhece alguém que está passando por um momento ruim. Independente da sua situação a mensagem que eu deixo é: tudo pode estar uma bosta, mas se isso te faz sentir melhor… Pelo menos você não é um macaco coberto de cocô.

Contos de Segunda #55

    Vocal se mudou para uma casa nova. Na prática não existia a “casa velha” já que ela morava no mesmo apartamento de cinquenta metros quadrados desde sempre e pela primeira vez ela moraria em um lugar onde arrastar os móveis não acordava o bebê do vizinho ou que ouvir música sem fones de ouvido era uma espécie de crime, mas a melhor parte dessa mudança tinha relação com a banda. Finalmente as 4 Ladies teriam um lugar para ensaiar.

O antigo dono da casa era uma espécie de artista plástico e o local do antigo ateliê receberia um revestimento acústico e seria transformado em um estúdio. Custaria um ano de mesada de cada uma das integrantes da banda, seriam cinco anos, mas Baixo tinha uma mesada bem mais gorda do que as amigas. Amigas que não demoraram a chegar. O revestimento acústico só estaria instalado na semana seguinte, mas elas já estavam levando os equipamentos.

— Tu devia trazer tuas coisas sozinha, Bateria — reclamou Guitarra. — Minha guitarra e meu cubo já são muito pesados.

— A culpa não é minha — rosnou Bateria. — E para de reclamar que teu cubo tem rodinhas e tu nem pegasse nada muito pesado.

Guitarra estava com sua guitarra presa nas costas, o amplificador era puxado pela mão esquerda e a direita levava uma das peças menores da bateria.

— Cada uma devia cuidar do seu equipamento — rebateu Guitarra.

— Ela é quinze centimetros mais baixa e pelo menos dez quilos mais leve que a gente, Guitarra, ela ia demorar muito pra levar tudo sozinha — argumentou Baixo, ela levava o baixo nas costas e o bumbo da bateria. — Ainda demos sorte de arrumar uma kombi pra trazer as coisas pra cá.

— Isso mesmo, cala a boca e ajuda — completou Bateria. — Ou pelo menos para de atrapalhar.

— Vocês mal chegaram e já estão brigando? — Perguntou Vocal saindo do portão da frente.

— Gostei da casa, Vocal, parece que o tempo de morar num ovo acabou — elogiou Guitarra.

— Agora o plano de ter um cachorro vai sair do papel? — Perguntou Baixo.

— Só não vai rolar de chamar de Elvis — respondeu Vocal fazendo uma expressão desapontada. — É o nome do cachorro da vizinha.

— Tá, Tá. Casa bonita, muito legal, parabéns pros teus pais, mas vai ali pegar as coisas que o dono da kombi quer ir embora — interrompeu Bateria.

— Já vou, já vou. Tem uma porta lá nos fundos da casa, é só entrar por lá e armar as coisas — instruiu Vocal.

Meia hora depois o equipamento estava ligado. A bateria estava montada e uma gambiarra pouco confiável garantiu a eletricidade para os amplificadores.

— Acho que ninguém vai se incomodar se a gente tocar agora, né? — Perguntou Vocal já sabendo da resposta das amigas.

— A gente carregou tudo isso em uma kombi velha que fedia a ração de cachorro e não tinha os bancos — explicou Guitarra. — Não existe essa dúvida sobre tocar ou não.

— Eu quero dar o meu “oi” pros vizinhos — disse Bateria com uma piscadela. — E muito se engana quem pensa que eu coloquei um short só pra desfilar minhas pernas na rua.

— Vamos tocar a música nova — disse Baixo. — Guitarra, lembra de entrar depois que eu fizer a introdução uma vez, Vocal se liga de entrar depois do solo. Beleza? Bateria, conta quatro.

Uma, duas, três, quatro vezes as baquetas se bateram e a música começou. Rápida e agressiva. Os quatro corações acelerados batiam no ritmo da música, na sintonia perfeita que as quatro só tinham quando estavam juntas. Pelo menos até a poesia do momento ser interrompida. Do nada um cachorro atravessou a janela do antigo ateliê e caiu bem no meio do ensaio.

— O que foi isso? — Gritou Guitarra.

— Foi um cachorro, olha lá — disse bateria apontando para o pobre animal.

— Elvis! — Exclamou Vocal.

O pobre cachorro da vizinha parecia apenas parcialmente consciente. Ele corria em círculos furiosamente, rosnando e latindo. Ele estava quase lembrado do desejo destruidor de rasgar alguém com os dentes quando ele ouviu uma melodia que o fez parar. Baixo estava executando uma linha melódica de uma beleza que deixou até suas companheiras de banda surpresas. Poucos segundos depois Elvis estava paralisado, não demorou muito e ele caiu desacordado. Baixo colocou o seu baixo de lado, pegou o cachorro no colo e disse:

–Vou levar ele em casa e já volto.

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