Para saber mais sobre a história da Dama da Segunda-feira é só ler a primeira aparição dela em Contos de Segunda #38.
Um ser místico. A personificação das fantasias humanas. A encarnação de algo intangível. Qualquer uma dessas definições poderiam ser usadas para definir uma Dama. Desde tempos ancestrais elas se manifestam no plano terreno e escolhem entre os mortais os seus Cavaleiros. Uma forma de evitar a degeneração da sua consciência e o descontrole de seus poderes. Porém encontrar um Cavaleiro nem sempre é algo fácil, principalmente se você é a Dama da Segunda-feira.
Segunda estava triste desde seu último encontro com a Mãe-de-Todas. A Dama da Lua havia determinado que ela precisava conseguir um Cavaleiro e que todas as outras Damas teriam o dever de ajudá-la. Semanas se passaram desde então e Segunda não tinha movido uma palha para atender às ordens da Mãe. Pelo menos até aquele momento. O celular começou a tocar. Era Terça-feira, a segunda Dama da Semana começou a falar antes do “alô” da irmã.
— A Mãe-de-Todas te dá uma prensa e você não me conta nada?
— Boa tarde pra você também, Terça-feira. Eu vou muito bem, obrigada por perguntar.
— Nem tente me enrolar com suas ironias. Se a Mãe te chamou pra falar disso as coisas devem estar sérias. Tá sentindo alguma coisa? Lapsos de memória? Alguém perto de você começou a agir estranho do nada?
— Não, não e não. Não tem nada sério acontecendo, Terça… Só que… Sei lá, eu não queria ninguém no meu pé. Você sabe como isso é complicado.
— Guarda o choro pra quando estivermos as cinco juntas. Quarta-feira vai te buscar em dois minutos
Quarta apareceu em um minuto. A irmã do meio era o puro estereótipo da mulher de negócios. Roupas formais, aspecto impecável e cara de que o tempo dela valia ouro.
— Sabe que não precisamos fazer tudo que ela manda, né?
— Ela é a Mãe, Segunda-feira. Você pode comandar nós quatro, mas ela comanda todas as outras.
Segunda deu ombros. A irmã abriu novamente a passagem dimensional por onde tinha vindo e instantes depois elas estavam na casa de Terça-feira. Tanto a casa quanto a dona pareciam ter sido transportadas direto dos anos sessenta. Terça tinha uma capacidade de clarividência forte o suficiente para fazer dela uma das videntes mais requisitadas da cidade.
— Finalmente, estava ficando preocupada. Quinta, Sexta, elas chegaram.
As gêmeas pareciam ter vindo de uma festa de música eletrônica. Quinta tinha os cabelos pretos, usava maquiagem pesada e roupas escuras, Sexta era loira, usava roupas multicoloridas e maquiagem extravagante. Apesar da aparência diferente, as duas pareciam quase sincronizadas, principalmente no quesito empolgação.
— É só me dizer uma balada legal, Segunda. A gente entra lá e só sai com seu Cavaleiro — disse Quinta.
— Quem sabe a gente não arruma mais de um, tô meio enjoada do meu Cavaleiro — falou Sexta.
— O assunto é sério, meninas — Começou Terça-feira. — Nossa Mãe colocou Segunda contra a parede e disse que ela precisava arrumar um Cavaleiro já e de quebra ainda ordenou que toda e qualquer Dama ajudasse nessa empreitada. Sentem-se que eu preciso fazer uma coisa antes de continuar — as Damas se sentaram nas almofadas do chão. Terça revelou uma bola de cristal e colocou entre ela e Segunda. — Primeiro precisamos saber o quanto você está perto de ficar pirada.
— Eu não vou ficar pirada.
— Calada. Coloque as mãos na bola.
Segunda-feira obedeceu. Colocou suas mãos sobre o globo e esperou. A esfera começou a brilhar. A luz foi aumentando aos poucos. Mudando de cor, oscilando, piscando. Em alguns momentos parecia bater como um coração. A luz diminuiu até se apagar, depois disso a bola de cristal ficou completamente escura e opaca.
— E aí? — Disse Quinta.
— E aí que temos um problema — respondeu Terça. — O nível de energia dela está bem acima do normal. Próxima segunda é feriado, isso deve te descarregar um pouco, mas não podemos demorar muito com isso.
— O que você sugere, Terça? — Disse Segunda externando toda a raiva que sentia com aquela situação. — O que sugerem irmãs? Que eu enlouqueça por causa de um mortal? Que eu conceda uma dádiva a um ser humano indigno?
— Não precisa levar tudo tão a sério. Um Cavaleiro é só uma ferramenta, uma ajuda na manutenção dos nossos poderes — Interrompeu Sexta.
— Isso é pra você, Sexta — rebateu Segunda. — Antigamente as Damas escolhiam seus Cavaleiros como se escolhe um filho e os amavam como se fossem seus irmãos. Quinta, não é muito diferente disso. Para os mortais ela é casada com o Cavaleiro dela.
— Casos como o meu são cada vez mais raros, irmã. Veja Terça, que trocou o último Cavaleiro por cinco.
— Cinco? — Disse Quarta. — Que obscenidade é essa? Nosso poder não pode ser distribuído desse jeito.
— É um time de MOBA, não tem como agraciar apenas um deles com minha dádiva.
— O que é MOBA? — Perguntou Sexta.
— Deve ser algum tipo de seita — respondeu Quarta.
— Ah, esquece — interrompeu Terça. — Não estamos aqui pra discutir as nossas escolhas. Precisamos ajudar nossa irmã e se alguém não tiver algo útil pra dizer é melhor não dizer nada.
— Na verdade tem uma forma de conseguir um Cavaleiro — Quinta falou essas palavras com cuidado, como se quisesse garantir que as irmãs saberiam o que ela falaria em seguida.— Existe uma Dama que pode ajudar, mas se a Mãe-de-Todas sonhar que encontramos com ela…
— Não, não podemos — interrompeu Quarta. — Ela foi banida, é uma Dama renegada, por pouco não foi executada pela Mãe. Se você ousou entrar em contato com ela, Quinta-feira…
— Não sou tão transgressora quanto pareço, Quarta-feira. Ela e eu… Nos conhecemos muito antes de tudo acontecer. Antes dos crimes, antes de toda aquela confusão.
— O que acha, Segunda? — Perguntou Terça.
— O que eu acho? Eu acho que vamos precisar colocar um ou dois biquínis na mala, meninas.
Quinta não conseguiu segurar o sorriso. Sexta bateu palmas de satisfação. Quarta fez uma careta de reprovação e Terça cobriu o rosto com as mãos.
— Vamos atrás da Dama Renegada. Eu quero aprender o canto de sereia da Dama do Mar.