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Contos de Segunda #49

Vocal, Guitarra, Baixo e Bateria.  Na opinião de muitos, apenas isso é suficiente para fazer o bom e velho Rock n’ Roll. Como os quatro elementos da natureza eram as quatro meninas que formavam o 4Ladies, provavelmente a banda de rock composta apenas por garotas mais desconhecida da face do planeta Terra. Mas isso estava prestes a mudar.

— Vamos ver o que temos aqui — disse o delegado. — Quatro menores de idade invadiram um prédio desocupado, fizeram uma ligação clandestina de energia, provocaram a interrupção das aulas de uma faculdade, dois cursos pré-vestibulares e uma escola técnica e…

— A gente só tava fazendo nosso som, esse pessoal parou porque quis — interrompeu Bateria.

— Cala a boca, Bateria! — Gritou Guitarra. — Quer ser presa de verdade?

— Quietas, meninas — disse Vocal. — Desculpa, seu delegado. A gente não quer causar mais problema.

— Fico comovido com a sua consideração… — o delegado olhou para os documentos da mesa — Ivone, não é? E as outras são Bárbara, Agnes e Laila, certo?

— Isso mesmo delegado… Gostamos mais de Vocal, Bateria, Guitarra e Baixo, mas pode nos chamar como quiser.

— Ótimo, sou péssimo com nomes — o delegado olhou para as meninas por alguns segundos antes de continuar. — Podem me dizer o que diabos aconteceu?

— A gente só queria tocar, delegado, só isso — adiantou-se Bateria.

— Para de falar desse jeito ou a gente vai acabar se dando mal de verdade — repreendeu Guitarra, ela respirou fundo e continuou. — A gente começou a banda tem pouco tempo, delegado. Ninguém conhece a gente aí… A gente pensou em… Tipo, sei lá… Fazer alguma coisa pra ficar conhecida.

— Então vocês invadiram um prédio desocupado, fizeram uma ligação de energia clandestina até o telhado, armaram os equipamentos e fizeram uma apresentação que foi ouvida num raio de no mínimo duzentos metros.

— Não foi bem assim que aconteceu — explicou Vocal. — A gente meio que tinha a chave, então na prática não foi bem uma invasão.

— O prédio é meu, delegado — interrompeu Baixo. — Meu avô comprou e colocou em meu nome, por isso eu tenho a chave.

— Olha aí, a gente não fez nada de errado — cortou Bateria. — Acho que é melhor soltar a gente por causa das coisas de criança e adolescente.

— Para de falar, Bateria, tá piorando tudo — rosnou Guitarra entre os dentes cerrados. — Se for prender alguém prende ela, delegado. A gente tá colaborando aqui, ela que tá de desacato.

A paciência do delegado estava por um fio. Vocal notou a fúria crescente do homem e decidiu intervir.

— A gente teve essa ideia, mas não sabia bem o que estava fazendo, delegado — começou Vocal. — A gente usou energia de uma… Como se diz mesmo? Instalação provisória feita pelo pessoal que tá reformando o prédio. A gente arrumou um sistema de som, mas não sabia que ele era tão potente… A gente só queria chamar a atenção da galera da faculdade… O plano era tocar num dos intervalos entre as aulas e como o prédio da faculdade é bem mais alto, muita gente ia ver…

Que nem os Beatles — interrompeu Bateria. — Ou a banda do Homer Simpson.

— Eu vou dar na cara dessa menina — explodiu Guitarra. — Para de interromper os outros, a gente vai se complicar por sua causa.

— Cala a boca, Guitarra — desdenhou Bateria. — Essa raiva toda é só por que na hora do solo saiu tudo errado.

Guitarra não respondeu, partiu pra cima da amiga com tudo e se não fosse por Vocal e Baixo a briga teria começado ali mesmo.

— CHEGA! VOCÊ DA BATERIA PRA FORA! CANTORA, FORA TAMBÉM! AQUI DENTRO SÓ A DONA DO PRÉDIO E A DA GUITARRA, NÃO QUERO NINGUÉM BRIGANDO NA MINHA DELEGACIA! FORA!

O delegado bufava de raiva e estava mudando de cor algumas vezes por segundo. Ele buscou dentro de si o último traço de tranquilidade e agarrou-se nele. Quando a cor do delegado parecia normal novamente Guitarra começou a falar.

— Foi mal, delegado, é que quando eu erro…

— Você, — ele apontou o dedo para guitarra — quieta. Agora, dona do prédio, me convença a liberar vocês.

— Senhor delegado, o senhor tem que concordar que não cometemos nenhum crime de fato — explicou Baixo. — O proprietário do prédio autorizou a entrada e se a ligação de energia é irregular quem deve ser notificada é a empresa responsável pela reforma. Somos culpadas pelo barulho, mas entenda nosso lado, delegado, apenas queremos fazer nossa banda dar certo. Imagine o tanto de divulgação gratuita e espontânea nós estamos tendo neste momento com vídeos e fotos nossas sendo compartilhadas na internet. Acredito que a melhor saída é apreender nosso equipamento e liberá-lo mediante pagamento de multa, além de obviamente comunicar os nossos responsáveis.

Tanto o delegado quanto Guitarra estavam boquiabertos. Até Guitarra que conhecia Baixo desde criança estava surpresa como a amiga tinha conseguido tão facilmente pensar numa solução.

— Bem… Não é todo dia que aparece uma pessoa detida que apresenta uma solução razoável para sua situação — o delegado fez uma pausa para olhar os documentos. — Aguardem aqui enquanto falo com os responsáveis de vocês e vejo a questão da multa.

O delegado saiu e informou às duas meninas que aguardavam do lado de fora o que fora resolvido. Obviamente nenhuma das duas ficou muito feliz em saber que os seus pais seriam informados.

— Mandou bem, Baixo — disse Guitarra. — A gente vai se lascar um pouco, mas melhor que ser presa.

— Sem falatório, Guitarra — disse Baixo sacou o celular. — Aproveita enquanto o delegado não volta e sai procurando qualquer vídeo ou foto da gente na internet — Guitarra entendeu o recado, deu um sorriso e puxou o celular do bolso. — A gente vai dizer a todo mundo que essa bagunça toda é culpa nossa. Todo mundo tem que saber que é culpa das 4Ladies.

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  1. Mariah

    ADOREI!!!
    Digno de uma segunda-feira no Cachorros de Bikini

  2. Bernardete

    Interessante.

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