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Tag: Vida Adulta

Maisa Abandona a Infância

Outro dia eu estava na página de notícias que eu visito automaticamente toda vez que eu saio do meu email. Normalmente eu só dou uma olhada nas manchetes, algumas vezes elas são melhores do que as próprias noticias, sendo as noticias sobre famosos as que possuem as melhores dentre as melhores manchetes, principalmente por elas não serem 100% condizentes com o conteúdo das matérias. Eu estou fazendo essa volta enorme só pra dizer que eu estava de bobeira nesse site quando eu vi uma chamada que dizia “Maisa Abandona a Infância”.

Se você leu a matéria deve ter percebido que ela não fala de nenhum abandono da infância de ninguém, muito menos da infância de Maisa. Lembro de ter imaginado como seria uma cena de abandono de infância. Diante do absurdo da cena, percebi que não rola de abandonar a infância.

Crescer demora. Mesmo que passemos a menor parte da nossa vida crescendo, não é uma parada que acontece do dia pra noite, a menos que você seja um personagem de filme da Disney ou um Pokémon. A infância também não é algo que você consegue abandonar, pelo menos não como sugeria a chamada da matéria. Não é como se você pudesse dizer “Já deu, Infância, cansei de você, considere-se abandonada”.

Infância é etapa, pedaço da vida, caminho. Não é algo que você carrega, é o primeiro lugar onde encontramos coisas que valem a pena ser carregadas por toda a vida. Só somos adultos hoje por que antes fomos crianças. Inexperientes, inaptos, infantes. Por mais que alguns queiram esquecer, é impossível não lembrar quando olhamos pra trás. Sem isso seriamos como árvores sem raízes, não teríamos de onde tirar forças para continuar crescendo.

Contos de Segunda #5

O despertador tocou de novo. Era o terceiro alarme. Foi quando Marcelo acordou. Ele sabia que estava atrasado, também sabia que só pessoas desempregadas podem fazer festa até tarde no domingo de noite sem sofrer nenhum prejuízo. Mas Marcelo não estava nem aí. Pela primeira vez na história seu time do coração levantou a taça de campeão da segunda divisão do campeonato estadual. Isso merecia uma comemoração. Mas comemorar tanto quanto Marcelo comemorou era um pouco de exagero. Principalmente por que aquela era a sua segunda semana no novo estágio.

Ele caminhou até o espelho, olhou atentamente para o reflexo e se sentiu reprovado no teste do espelho. Sua semelhança atual com um paciente terminal de seriado médico o fez desistir totalmente de aparecer no escritório. Mas a pergunta era: como faltar sem queimar o filme?

A primeira opção era o bom e velho atestado médico, mas Marcelo tinha “RESSACA” escrito na testa e a segunda era um dia difícil pra conseguir atestados do jeito tradicional.

Marcelo tinha um amigo médico. Normalmente ele não ajudava com atestados fraudulentos, mas ele também estava feliz com o título de campeão da segunda divisão do estadual. Talvez ele abrisse uma exceção. Talvez, se ele não estivesse tão acabado quanto Marcelo, a diferença entre os dois é que o médico não precisava acordar cedo, tanto é que não acordou. Na quinta ligação o atestado médico foi riscado da lista de soluções possíveis. A segunda opção era que alguma catástrofe urbana estivesse acontecendo no caminho até o estágio. Depois de uma rápida busca em sites de notícia a possibilidade de ter um protesto, acidente ou greve interrompendo o transito foi descartada. O jeito era chegar lá e tentar convencer os outros de que a ressaca, a falta de sono e a cara de de desastre eram um tipo novo de virose.

Marcelo se arrumou o melhor que pôde, meteu os óculos escuros no rosto, respirou fundo e partiu. Durante todo o caminho ele rezou para todos os deuses e santos que ele conhecia. Refletiu sobre como o fanatismo pelo seu time estava atrapalhando sua vida e que não seria uma boa idéia adicionar um estágio de uma semana ao currículo. Mas ao descer do ônibus a primeira coisa que ele viu foi o cordão de isolamento dos bombeiros. O prédio onde ele trabalhava estava sendo evacuado. Segundo o corpo de bombeiros uma máquina de fotocópias explodiu ao tentar ser operada por um dos coordenadores da empresa. Testemunhas afirmam que o estagiário que fazia as cópias estava atrasado, o que levou a uma operação errada da máquina, resultando no acidente. Ninguém ficou ferido, fato que fez Marcelo permitir que um sorriso brotasse em seus lábios. Diante daquela situação ele só podia dar meia volta e partir pra casa.

 

Mandamentos de um Adulto Feliz

Outro dia passeando por um site de notícias me deparei com um link bem interessante: “Os 9 Mandamentos de um Adulto Feliz”. Prontamente cliquei no link, não por ser um adulto infeliz, mas eu queria saber quais eram os tais mandamentos. Fui bater num daqueles sites que falam de moda, life style, e todas essas coisas que estão tão inseridas na minha vida quanto a migração das baleias jubarte. Mas como eu li a postagem antes de perceber qual era a do site consegui ler o texto sem preconceitos.

Antes de continuar recomendo que leia o texto nesse link aqui. Só pra nivelar o papo, mas se essa não for a sua vontade, caro leitor, não vai ter prejuízo algum. Agora voltemos ao tema.

Particularmente eu gostei dos mandamentos. O texto é bem escrito e alguns dos mandamentos são relacionados com filmes, o que ajuda a justificar o ponto da autora. Mas uma coisa me veio à mente quando terminei de ler: eu li esse texto por que eu sou um adulto.

Quando a maior parte da sua vida é composta por infância e adolescência não é tão fácil se imaginar como um ser humano adulto. Eu devo ter começado a me ver como tal lá nos meus 20 anos, quando eu comecei o meu estágio. De fato a vida profissional é a forja da vida adulta, tanto é que ao longo da história da humanidade os adultos se tornaram adultos cada vez mais tarde conforme o tempo passava, com isso foram aparecendo cada vez mais períodos de transição. Adolescência não existia até um dia desses e o termo Jovens Adultos já começa a aparecer. Como eu nunca consegui me sentir mais velho do que eu de fato era, imediatamente me enquadrei como um jovem adulto. Por que pra mim um jovem adulto é uma espécie de Pinóquio. Ele só quer ser um adulto de verdade.

Pode parecer exagero, mas ao atingir a maior idade nos tornamos adultos… só que não. Continuando com a analogia do Pinóquio podemos comparar o nosso aniversário de 18 anos com a noite em que o Pinóquio ganha vida.  Ele fica lá todo serelepe por que ficou vivo, que não tem mais cordões nele (sim, eu sei desse lance dos cordões por que assisti Vingadores, não por lembrar do filme do Pinóquio). Mas ele começa a notar que ser um boneco não é suficiente. Então ele corre atrás pra tentar virar um ser vivo de verdade.

Eu nunca fiz questão de correr atrás de coisa alguma pra virar um adulto de verdade, eu estava muito ocupado tentando me acostumar a ser um um adulto de madeira, talvez por isso eu fiquei tão surpreso com meus próprios pensamentos quando terminei o texto dos 9 mandamentos. Durante todo esse tempo eu devia estar tão distraído com o fato de ser um boneco que ganhou vida que não notei que estava me transformando em um menino de verdade. Tanto é que quando eu finalmente comecei a perceber eu já era de carne e osso.

Por não me enxergar como adulto nunca havia parado pra pensar em ser um adulto feliz. Por não ter alimentado meus momentos de infelicidade nunca havia parado pra pensar na felicidade como um objetivo de vida. E talvez por isso eu tenha gostado tanto do ultimo mandamento: crie seus próprios mandamentos. Como eu não poderia deixar de exercitar minha criatividade aqui vai um mandamento meu:

Não persiga a felicidade como se ela fosse a coisa mais importante, não transforme satisfação em obrigação. Deixe pra lá o que te faz infeliz, o que te faz feliz aparece por consequência.

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