Aderbal desapareceu. Carnaval, segunda-feira. Os planos de viajar foram frustrados por uma série de infortúnios e imprevistos. Mas nenhum dos imprevistos era maior do que a visita da sobrinha. O irmão de Aderbal morava em um cidade onde a diferença entre o carnaval e o dia de finados era o tamanho do feriado. Não seria estranho que em algum momento Adriana, sobrinha de Aderbal, resolvesse passar o carnaval em um canto onde ele de fato existe.

    Ela chegou no sábado de manhã, mas Aderbal só precisaria se preocupar com ela a partir da segunda. O combinado era encontrá-la perto do centro, onde ficava o apartamento de um dos amigos da moça. Como algumas ruas estavam fechadas, Aderbal precisou estacionar um pouco longe. Ele estava com o nome da rua, Adriana ficou de confirmar o prédio assim que o tio chegasse à rua… E teria confirmado caso atendesse o celular. Diante disso Aderbal resolveu voltar para o carro. Chegando lá ele percebeu que um bloco estava se concentrando exatamente na rua onde o carro estava estacionado. O porta estandarte do bloco tinha caído e quebrado o braço. Os demais presentes estavam tentando resolver quem tomaria seu lugar. Com medo de não conseguir sair com o carro por causa do bloco, Aderbal se ofereceu para levar o estandarte do bloco, talvez assim eles saíssem de lá mais rápido.

    O final do percurso do bloco era um encontro de blocos. Aparentemente todas as agremiações da redondeza se encontravam na segunda-feira de carnaval. Ao perceber que aquilo demoraria mais do que o previsto, Aderbal resolveu ligar para Adriana ou para casa. Ao colocar a mão no bolso não encontrou nada. O celular havia sido furtado. Ele estava pronto para pedir o celular de alguém quando alguém espirrou um spray de espuma no seu rosto. Imediatamente começou uma reação alérgica que fez o rosto e a língua do pobre homem ficarem inchados, ninguém conseguia entender o que ele estava falando.

    Ainda na metade do encontro de blocos outra pessoa resolveu assumir o estandarte. Aderbal voltou correndo para o carro. Quando ele tentou destravar as portas, o controle do alarme entrou em curto e o veículo começou a apitar. Isso ocorreu justamente quando uma viatura da polícia militar passava pela área. Os policiais não acreditaram na história de Aderbal, pelo menos na parte que eles conseguiram entender. O inchaço do rosto o deixara muito diferente das fotos que estavam nos documentos. Os policiais chegaram à conclusão de que aqueles documentos e aquelas chaves haviam sido roubados e o suspeito seria levado à delegacia.

    Adriana não conseguiu uma carona. Ao chegar de táxi na casa dos tios informou a família sobre o sumiço de Aderbal. Resolveram esperar mais algumas horas até que ele aparecesse. Tal fato só ocorreria na metade da madrugada. Quando o rosto de Aderbal finalmente voltou a ter alguma semelhança com as fotos dos documentos. Para tentar minimizar os transtornos, os policiais deixaram Aderbal em casa. Mas a família toda tinha resolvido ir procurá-lo nos hospitais, delegacias e no IML. Infelizmente ele precisava esperar alguém voltar antes de entrar em casa. As chaves ficaram no carro.

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