Os fatos narrados a seguir tem relação direta com os eventos do Contos de Segunda #27, leia aqui a Parte 01 e a Parte 02.
O celular tocou de novo. Já era a quarta vez. O zumbido baixinho que o aparelho fazia não era suficiente para fazer Roberta acordar. Luciana sabia disso. Também sabia que Ned, o cachorro de Roberta, detestava o som do celular vibrando. Caso o celular passasse muito tempo vibrando, ele ficava com vontade de fazer xixi. Ned só fazia xixi na rua, então nesses momentos de desespero ele pedia ajuda à sua dona. Roberta não pôde negar o pedido do cachorro. Desceu vestindo as roupas de dormir, com uma cara amassada e os olhos ainda se acostumando com a claridade. Na frente do prédio uma moça a esperava encostada em um carro.
— Até que enfim, faz um tempão que eu tô tentando falar contigo.
— São cinco e meia da manhã, Luciana — respondeu Roberta. O sono ainda não tinha permitido que o cérebro da moça percebesse cem por cento do absurdo daquele momento.
— Se você tivesse respondido minhas mensagens ou atendido minhas ligações, nenhuma de nós estaria aqui.
— Eu só vim trazer Ned pra fazer xixi e… Ei, pera aí — finalmente ela tinha acordado. — Você deixou ele nervoso com a vibração do celular de novo?
— Você podia ter atendido — disse Luciana de um jeito que pareceu mais um “não teve outro jeito”. — Preciso de ajuda.
— Luciana, qualquer tipo de ajuda pode esperar até o horário comercial.
— Que horror, Roberta. Eu aqui precisando e você me trata desse jeito?
Roberta respirou fundo. Olhou para Ned que alegremente marcava o pneu do carro de Luciana. Olhou para o céu como se procurasse um sinal. Olhou para os próprios pés pra tentar criar coragem.
— Vai, diz o que é.
Luciana não conseguiu conter o sorriso.
— Sabe que dia é hoje?
— Segunda.
— Sério, Roberta — disse ela fingindo estar ofendida. — Cristina entra de férias hoje.
— E daí?
— E daí que nós temos trinta dias para: número um, descobrir o que rolou com ela e o boy no fim do ano e número dois, ajeitar as coisas pra juntar os dois assim que ela voltar.
— Ah, não. Nem venha, Luciana — Roberta sacudia as mãos. — Essa história já tá me deixando maluca. Deixa os dois se detestarem em paz.
— Que exagero, amiga. Eu conheço Cristina, ela quer o boy dela… Só não se ligou nisso ainda.
— E o que Jorge quer não conta?
— Ele é homem, Roberta. Não interessa o que ele quer.
— Ignorando essa parte. Qual o plano pra descolar a informação?
— Cristina não vai me contar nada. Já tentei de todo jeito, até soro caseiro da verdade ela tomou e não soltou a língua. A esperança é saber por Jorge, é aí que você entra.
— Ihhhhhhhh, nem invente. Jorge anda de péssimo humor e cada dia ele gosta menos dessa historinha que você espalha dele com Cristina.
— Não espalhei nada.
— Luciana, o estagiário que chegou semana passada entrou na sua sala por engano e voltou comentando o que tinha rolado entre Cristina e Jorge.
— Detalhes, detalhes. Eu tenho um plano perfeito pra conseguir matar dois coelhos de uma vez.
— Lá vem.
— Jorge e Cristina são muito parecidos. Cristina não consegue guardar tudo que acontece só pra ela. Ela sempre me conta tudo… Exceto o que aconteceu entre ela e o boy, mas isso é diferente. A gente precisa encontrar a pessoa pra quem ele conta as coisas e chegar no cara.
— Defina “chegar no cara”.
— Isso é comigo, sua parte é me mostrar o alvo.
— Como não deve ter outro jeito, eu vou te ajudar, mas agora me deixa voltar pra cama. Só ajudo os outros em horário comercial.
Luciana deu um pulo de alegria e abraçou a amiga. Entrou no carro e partiu. Deixando para trás a amiga sonolenta e seu cachorro mijão.
Aline Vasconcelos
Monster ansiosa para saber o que aconteceu entre/com eles.