Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Tag: Mafia

Contos de Segunda #91

    Horácio era um assassino da máfia. Sem a menor sombra de dúvida o pior de todos os assassinos que qualquer organização criminosa já viu. Extorquir, ameaçar, torturar, espancar eram coisas que ele fazia com maestria, ele também era ótimo com uma pistola na mão… A menos que ele precisasse fazer uma execução. Acertar uma bala em um cara com quem você está trocando tiros é uma coisa bem diferente de enfiar uma bala na nuca ou na testa de alguém que está pedindo por clemência, falando que tem família e todas essas coisas. Horácio preferia ser mais diplomático, gostava de dizer que a violência poderia ser utilizada de forma pedagógica em adultos com muito mais eficiência do que com crianças. Justamente por isso que ele recebeu uma ligação naquela segunda-feira.

    — Horácio, preciso que cuide de uma coisa pra mim — disse a voz do outro lado.

    — Pode dizer, chefe — respondeu Horácio.

    — Tem um cara novo, Giovani o nome dele, começou com a gente tem um tempo e leva jeito pras coisas. Queria que ele fizesse um serviço junto contigo. Sabe como é, ele ainda não tem manha.

    — Não sou muito bom trabalhando em equipe, chefe. Normalmente quem faz esse tipo de serviço são os caras da fila de aposentadoria, não tem ninguém disponível?

    — Esses dias foram meio complicados, Horácio…

    — Deixe que eu adivinho… Fim de semana movimentado e o pessoal pediu uma folga.

    — Vivemos em dias difíceis, meu velho.

    — Qual é o serviço?

    — O Joalheiro está com os trabalhos atrasados e me parece que ele não vai poder tirar o atraso nos próximos dias. Infelizmente não vamos poder mais esperar pra cobrar a dívida dele.

    — Considere o trabalho feito.

    Horácio pegou o carro e foi para o armazém que servia como base de operações, Giovani já estava parado na entrada esperando por ele. O jovem tinha cara de tudo, menos de criminoso, Horácio suspeitava que não era só a cara que ele não tinha.

    — Entra aí, rapaz — disse ele abrindo a porta do carro.

    — Pra onde vamos, senhor? — Questionou Giovani entrando no veículo.

    — Corta essa de “senhor”, garoto, eu não sou seu superior… E respondendo à sua pergunta hoje nós vamos falar com o Joalheiro.

— Qual é o lance com ele?

— Ele nos ajuda a limpar uma parte do nosso lucro. Normalmente ele faz tudo direitinho, mas tem um tempo que ele não tá cumprindo a parte dele, a nossa remessa de pedras e jóias tá atrasada, por isso vamos lá cobrar os juros de uma dívida que fica congelada enquanto ele estiver fazendo a parte dele.

— Então eu vou só te observar cobrando?

— Não. Eu vou observar, a cobrança é contigo.

— Comigo?

— O Joalheiro é tranquilo, costuma colaborar e quase não precisa ser ameaçado. É só chegar com jeito e tudo vai dar certo.

Alguns minutos depois os dois estavam parados na entrada da loja. Giovani respirou fundo e entrou. Um homem idoso estava do outro lado do balcão, ele atendia uma cliente que estava procurando por um anel.

— Com licença — interrompeu Giovani. — Preciso falar com o senhor, não vai demorar.

— Só um instante, rapaz, estou terminando uma venda.

— Acho que o senhor não entendeu — rebateu o rapaz aumentando a seriedade do tom. — Preciso falar com o senhor agora.

— Não costumo alterar as prioridades de atendimento, meu jovem. Se precisa falar comigo, também precisa esperar.

Giovani sacou a pistola, a moça gritou. Horácio se aproximou dela rapidamente e conduziu os passos trêmulos dela até a saída.

— Ele teve um fim de semana difícil — enganou Horácio. — Ele comprou uma aliança aqui e a namorada não quis virar noiva. Melhor voltar amanhã.

A moça concordou enquanto engolia as lágrimas pela porta.

— Ficou doido Giovani? Eu avisei que o Joalheiro é tranquilo.

— Ele não deve ter sacado o que eu vim fazer aqui. Resolvi encurtar a conversa.

— Eu ainda não sei o que você veio fazer aqui — respondeu o Joalheiro com as mãos levantadas. — Neste momento eu creio que veio me assaltar, coisa que eu não recomendo porque eu pago muito pra ter proteção.

— Baixa essa arma, garoto

— Horácio, que surpresa. Quase não o reconheci. Imagino que foi você quem trouxe esse aprendiz de cobrador.

    — Aprendiz? Me respeite, seu velho. Você não está em posição de falar desse jeito.

    — Cuidado com essa arma, Giovani — alertou Horácio. — Viemos buscar o pagamento dos juros, Joalheiro. Só isso.

    — Mas a minha dívida foi congelada, pensei que teria mais tempo.

    — O tempo acabou, coroa. Cadê a grana do chefe?

    — Ficou doido? Tá pensando que ele é um marginal qualquer? Estamos cobrando de um associado e não apontamos armas pros associados.

    — Me parece uma regra razoável — ponderou o Joalheiro.

    — Quieto! — Cortou Giovani. — Só queria terminar o serviço logo.

    — Hoje vocês não vão terminar serviço algum — disse o Joalheiro. — Ativei o alarme no minuto em que essa arma foi puxada.

    — Você o QUÊ? — gritou o rapaz.

    — Se você tivesse pelo menos se apresentado, imediatamente pensei que era um assalto.

    — Seu filho da… BAM.

    Um tiro acertou a perna do velho.

    — Agora eu sei que você é doido. Como você atira no joelho do associado?

    — Sei lá, fiquei nervoso.

    Horácio levou as mãos à cabeça, respirou fundo três vezes.

    — Pra fora! Vamos sair daqui agora — ordenou Horácio. — Pelo menos a história do assalto vai bater com o tiro.

    — Você vai me deixar aqui?

    — A polícia te leva pro hospital, Joalheiro. Lugar pra onde a gente não vai se ficar por aqui. Volto outro dia.

    Os dois capangas saíram apressados pela porta, entraram no carro e deixaram a rua poucos instantes antes da viatura da polícia chegar. Naquela hora Horácio tinha certeza que podia matar Giovani. Coisa que ele teria feito se não tivesse certeza que, de alguma forma, ele não ia conseguir assassinar aquele rapaz.

Contos de Segunda #72

    Horácio era um assassino da máfia. Até um tempo desses ele era o pior assassino da história da máfia, mas depois de dois alvos eliminados (ou quase) ele começou a ser considerado apenas um assassino muito ruim. Tanto que normalmente Horácio era a última opção dos chefes para apagar alguém, mas isso não era garantia de nada.

    A tarde da segunda-feira estava no final. Horácio tinha acabado de fazer a cobrança de um empréstimo. Infelizmente o pobre devedor não tinha o dinheiro… Pelo menos até Horácio quebrar dois ou três dedos dele. A quantia apareceu miraculosamente e Horácio pôde ir embora. Ele estava chegando perto do local combinado para entregar o dinheiro quando o celular tocou.

    — Horácio, preciso que você resolva um problema pra mim — disse a voz do outro lado da linha.

    — Pode dizer, chefe — respondeu Horácio se apegando à esperança de não precisar matar ninguém.

    — Pegaram um dos nossos hoje de manhã e parece que ele vai ser interrogado hoje de noite.

    — Nossos rapazes estão acostumados com esse tipo de pressão, chefe. A polícia não vai conseguir nada.

    — Não é um dos rapazes, Horácio. Pegaram um dos nossos banqueiros… Você sabe que esse pessoal de escritório não tem a fibra do pessoal de campo. Ele vai cantar que nem um passarinho.

    — Nenhum dos nossos policiais pode ajudar?

    — Ele foi pego pela equipe de uma delegacia que não está na nossa folha de pagamento. Não conte com ajuda da lei… Esse cara não pode ser interrogado, preciso que dê um jeito nele.

    — Pensei que os advogados resolviam esse tipo de problema, chefe.

    — Nossos advogados estão marcados, Horácio. Depois do fiasco do mês passado a polícia ficou esperta com eles.

    — Nenhum dos nossos foi detido recentemente?

    — Sempre tem alguém, mas nosso pessoal é esperto o suficiente pra ser preso pelos policiais certos.

    — Tem alguém pra entrar nessa comigo?

    — Fim de semana movimentado, Horácio, precisei dar uma folga pros meninos. Não te preocupa que vai ser coisa simples: entrar, apagar o cara e sair. Se precisar de ajuda pra sair é só ligar, mas a parte de entrar é contigo.

— Considere o trabalho feito — disse Horácio antes de desligar.

Imediatamente ele procurou por um contato da agenda. Felizmente os dedos que Horácio quebrou não impediram o pobre homem de atender o telefone.

— Vou falar apenas uma vez, por isso escute com atenção — disse Horácio assim que a ligação foi atendida. — Você vai ligar pra polícia dizendo que um assaltante chegou aí, quebrou os teus dedos e levou uma quantia em dinheiro. Quando te perguntarem como era o ladrão você descreve alguém parecido comigo. Depois a gente resolve a questão do teu dinheiro.

    Tudo aconteceu exatamente como Horácio planejou. Em menos de meia hora ele estava sendo conduzido para a cela da delegacia. A mesma cela onde estava o banqueiro.

    — Esses policiais andam trabalhando bem até demais — resmungou Horácio da forma mais amigável que pôde.

    O banqueiro era um homem de meia idade, magro e cheio de cabelos grisalhos. Ele parecia nervoso. Nervoso até demais.

    — Eles só estão tentando fazer o trabalho deles — respondeu ele acanhado.

    — Eu também estava tentando fazer o meu… Não que eu estivesse realmente assaltando, mas o cara que me deu o dinheiro não achou isso. E você, amigo? Tá aqui por que?

    — Mexo com dinheiro… Algumas vezes com o tipo errado de dinheiro.

    — Entendi… Olha — Horácio olhou para fora da cela, quando teve certeza que não tinha nenhum guarda por perto continuou. — Acho que posso te ajudar a sair daqui.

    — Não tem  como… Pelo menos não antes do meu interrogatório.

    — Você só precisa ir pra um lugar onde o pessoal dono do “tipo errado de dinheiro” que você mexeu possa te ajudar. A gente finge uma briga, eu te acerto nos lugares certos e eles vão precisar te levar pro hospital.

    — Não tô gostando muito dessa…

    A frase terminou com o punho fechado de Horácio acertando o rosto do banqueiro. Ele só precisava acertar mais alguns daqueles e quando o alvo estivesse desmaiado seria mais fácil. No terceiro soco um policial invadiu a cela e jogou Horácio no chão. O pobre banqueiro estava meio acordado, com o nariz quebrado e cheio de sangue. A viatura saiu com ele dentro alguns minutos depois. Mais ou menos na hora que Horácio conseguiu convencer o guarda a deixá-lo fazer o telefonema ao qual tinha direito.

    — Aqui é Horácio.

    — Espero que tenha resolvido tudo — disse o chefe do outro lado da linha.

    — Quase… Eu tentei simular uma briga e dar um jeito no cara sem parecer que estava tentando dar um jeito no cara, mas…

    — Mas o quê, Horácio? O banqueiro ficou vivo?

    — Sim, mas levaram ele pro hospital. Tem alguém lá pra terminar o serviço?

    — Deve ter, Horácio, alguém bem mais competente que você — o chefe deu um suspiro. — Quer saber, Horácio? Aproveita a chance e tira umas férias na cadeia. Tem um pessoal nosso na penitenciária, eles vão cuidar de você. Depois que você sair a gente conversa.

    O banqueiro permaneceu no hospital durante alguns dias, o suficiente para receber diversas orientações, e algumas ameaças. O interrogatório não deu em muita coisa e ele pôde aguardar em liberdade pelo julgamento. Já Horácio não teve tanta sorte. Ganhou alguns meses de estadia na penitenciária estadual.

Contos de Segunda #57

    Horácio era um assassino da máfia, provavelmente o pior de todos os assassinos da máfia. Tanto que ele só conseguiu matar um cara… Indiretamente, mas conseguiu. É verdade que Horácio ainda estava no último lugar do ranking de matadores da máfia, mas a diferença entre ele e o penúltimo colocado estava menor… E diminuiria mais um pouco depois daquela noite.

    O telefone tocou na hora do jantar. Horácio tinha acabado de pegar o segundo cachorro quente das mãos do dono da carrocinha quando sacou o aparelho do bolso.

    — Horácio, preciso que você resolva um problema — disse o homem do outro lado da linha.

    — Pode dizer, chefe — respondeu Horácio. Algo dizia que as palavras a seguir tirariam seu apetite.

    — Um dos nossos meninos precisa ser aposentado.

Horácio teria engasgado caso estivesse comendo.

— É só dizer quem vai se aposentar.

— Lorenzo — a voz no outro lado da linha suspirou antes de continuar. — O rapaz perdeu o rumo quando o pai morreu, atualmente mais atrapalha do que ajuda e a polícia já está de olho nele.

— Entendi… Só acho que não sou a pessoa indicada pro serviço, chefe, normalmente eu não cuido dos assuntos internos. Não tem ninguém do RH disponível?

— Final de semana agitado, Horácio, os meninos pediram uma folga e eu não tive como negar.

— Tudo bem, chefe, considere o trabalho feito.

Horácio abriu a lista de contatos e procurou pelo nome de Lorenzo. O telefone chamou três vezes e ele atendeu.

— Oi, Horácio — disse Lorenzo.

— Lorenzo, estou precisando de ajuda pra fazer um trabalho, posso passar na tua casa daqui a quanto tempo?

— Me dá quinze minutos.

— Dez. Chego aí em dez. — sem ouvir a resposta Horácio desligou o telefone.

Dez minutos depois Lorenzo estava parado na frente do prédio onde vivia. Com trinta segundos de atraso o carro de Horácio virou a esquina. Lorenzo entrou no carro sem dizer nada, prendeu o cinto de segurança e só começou a falar depois do carro virar a esquina.

— Qual o serviço, Horácio?

— É só um cara que a gente tem que tirar da jogada.

— Eu não sou muito chegado nessa de tirar gente da jogada, Horácio.

— Só preciso de alguém pra dirigir o carro. Nem sangue você vai ver.

Horácio parou o carro em uma ladeira. A rua descia, cruzava uma avenida movimentada e terminava em outra rua que margeava o rio. Ele puxou a arma do coldre embaixo do braço e verificou se estava carregada antes de guardá-la novamente.

— Vem pro banco do motorista, Lorenzo, eu vou pro banco de trás — disse Horácio saindo do carro e entrando pela porta de trás. Lorenzo obedeceu. — Sabe, Lorenzo, essa nossa profissão é bem arriscada, mas eu nunca senti medo durante o trabalho. Sabe porquê?

— Tem que ser muito doido pra não ter medo, não vejo motivos pra não ter.

— Por que eu ando na linha, faço meu trabalho e não chamo a atenção da polícia. Não dou motivo pro meu chefe se aborrecer comigo… Nada que acontece ou aconteceu comigo durante o trabalho é pior do que nossos empregadores fazem quando estão aborrecidos com alguém.

— Por favor, Horácio — disse Lorenzo tremendo só de imaginar o rumo daquela conversa.

— Não te faltaram avisos, Lorenzo — disse Horácio destravando a arma e colocando na nuca do pobre ocupante do banco da frente.

— Eu tenho família.

— Teus pais falecidos e aquele teu filho que você não assumiu não contam como família.

— O que eu fiz pra merecer isso?

— Além de ter colocado a carga daqueles teus amigos traficantes dentro dos nossos caminhões? Além de ter perdido o nosso último carregamento de armas e ter dado provas pra polícia acabar com a nossa operação na zona portuária? Acredito que fora isso… É, não tem mais nada.

— Por favor, cara — Lorenzo estava chorando. — Quem vai ficar com o meu cachorro? E o orfanato que eu ajudo?

— Por causa deles eu vou te dar uma colher de chá. Eu vou te dar uma coronhada, tirar o freio de mão do carro, você vai cruzar aquela avenida movimentada, vai chegar ao fim da rua e o carro vai cair no rio… Então você vai desaparecer e nunca mais ninguém vai ouvir falar no teu nome.

— Tá falando sério?

— Claro, você só precisa colaborar. Mantenha o volante reto, desça a rua, jogue o carro no rio e ninguém nunca mais vai ouvir falar de você —  a coronhada veio logo depois do final da frase. Lorenzo quase bateu a cabeça no volante, mas o golpe foi fraco o suficiente para fazê-lo suspeitar de algo.

Horácio puxou o freio de mão e pulou pra fora do carro. No dia seguinte os noticiários só falavam do carro que atravessou uma avenida, uma rua e se atirou no rio. Não se sabia a quantidades de ocupantes do veículo, mas não foi achado o corpo de nenhum deles. A suspeita é de que o carro já estava vazio quando caiu no rio.

Contos de Segunda #47

   Horácio era um assassino da máfia. Era assim que ele se enxergava, apenas um assassino da máfia. A máfia enxergava Horácio como o pior assassino de todos os tempos. Não que ele fosse um capanga incompetente, muito pelo contrário. Horácio era excelente em intimidação, cobrava dinheiro como ninguém, era treinado em todas as modalidades de briga de rua, dirigia como um verdadeiro piloto e tinha contatos em todos os lugares… Só não servia para matar os outros. Tanto que ele era sempre a última opção para esse tipo de serviço. Quando todos os matadores estavam impossibilitados de matar ligavam para Horácio.

    — Horácio, preciso que você faça um serviço — disse a voz do outro lado do telefone.

    — Pode dizer, chefe — respondeu Horácio.

    — Sabe o cara da alfandega? Ele pisou feio na bola, preciso que você garanta que essa foi a última vez que ele nos deixou na mão.

    — Não seria melhor só dar um susto no cara?

    — Ele já levou susto demais. Acabou a festa pra ele. Serviço limpo e discreto, Horácio, você é meu único homem na rua hoje.

    — E o resto do pessoal, chefe?

    — O fim de semana foi movimentado, Horácio, precisei dar uma folga pros meninos. Essa demanda apareceu de última hora, se não fosse urgente eu não te pedia. Só resolve isso, ok?

    A ligação foi encerrada antes que o pobre capanga pudesse argumentar. Pelo menos esse alvo seria mais fácil de eliminar do que os outros, o alvo em questão se chamava Carlos, tinha 58 anos e um problema na perna que o impedia de correr. Horácio entrou no carro e partiu para o porto.

    O escritório da alfandega ficava em uma das partes menos movimentadas do porto e como Carlos gostava de fazer hora extra, não seria difícil pegá-lo sozinho. O relógio marcava nove da noite quando o alvo finalmente saiu do escritório em direção ao carro. Horácio estava encostado na porta esperando por ele.

    — Boa noite, Carlos.

    — É… Boa noite… Horácio, não é? Transmita meus cumprimentos ao seu empregador e diga que já estou trabalhando para resolver o imprevisto de hoje.

    — Isso é ótimo, Carlos, mas meu empregador resolveu adotar medidas mais, digamos, permanentes.

    Horácio sacou a pistola. Um serviço limpo e discreto, foi o que o chefe solicitou. Normalmente isso significa um tiro na testa com uma pistola silenciada ou a simulação de um acidente, nenhuma testemunha. O capanga era um péssimo atirador, mas normalmente não errava a uma distancia tão curta. Fez mira e puxou o gatilho… Nada. Carlos olhou incrédulo para seu algoz. Outra tentativa… Nada. Depois da terceira Horácio lembrou de destravar a pistola. A essa altura Carlos já estava correndo o máximo que sua perna defeituosa permitia, bem mais do que Horácio esperava.

    O pobre funcionário da alfandega corria sem saber bem para onde. Os galpões estavam fechados, assim como os escritórios, a única saída era se jogar no mar e esperar que o assassino se contentasse com sua possível morte. Um tiro passou zunindo pela orelha de Carlos, ele começou a correr mais rápido. Outro disparo, o tiro passou raspando no ombro do futuro defunto, ele começou a chorar. A água não estava tão longe, o assassino estava cada vez mais perto.

    Então viu-se uma luz. Ouviu-se um barulho de freio e uma batida. O motorista do caminhão de presunto não esperava um senhor meio manco cruzando seu caminho naquela noite. Não conseguiu evitar, acertou o pobre Carlos em cheio, arremessando o pobre coitado algumas dezenas de metros na frente. Quando a ambulância chegou o coitado já tinha parado de respirar fazia um bom tempo.

    Horácio esperou até a ambulância chegar. Ele ligou para o contato no IML, dez minutos depois o contato ligou informando que um carro já estava a caminho do local. Finalmente Horácio podia comemorar a eliminação de um alvo e o melhor de tudo: ele não precisou matar ninguém.

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