Moacir deu um pulo da cama quando ouviu o despertador. Ao contrário de boa parte dos dias, hoje ele estava estranhamente bem humorado. O zumbido do ar condicionado passara despercebido, assim como o raio de sol que sempre entrava pelo buraco na cortina. Ele sentia como se nada pudesse estragar seu dia, e ele se esforçaria para tal.

    Quando foi para o chuveiro decidiu que não ouviria rádio. A única estação sintonizável do banheiro sempre tocava músicas bem irritantes e propagandas com os jingles mais chicletes que se tem noticia. Saiu do banho se perguntando por que ele se torturava todas as manhãs ouvindo àquela rádio? Depois de se vestir decidiu que não usaria relógio naquele dia, o relógio era antigo e Moacir sempre esquecia de dar corda. Tal fato era notado bastante tempo depois e gerava uma irritação tremenda no pobre homem. Saiu do quarto se perguntado por que ainda insistia em usar um relógio que sempre o deixava na mão.

    Saindo do apartamento errou o caminho do elevador e foi direto para a escada, quatro andares de escada o separavam do térreo. Com isso deixou de ouvir o barulho produzido pela porta do elevador, que sempre o fazia trincar os dentes de agonia. Enquanto descia as escadas não parou de se perguntar por que não fizera isso antes. Chegou ao térreo e foi direto para a rua, resolveu que não usaria o carro hoje. Em vez de passar mais de uma hora no transito pesado, caminharia por cinco minutos até a rua de trás, pegaria um táxi até o bairro onde trabalhava. Da rua de trás o taxista podia ir pelo sentido que não engarrafava. Ele não se incomodou de caminhar dez minutos até o escritório para que o taxista não precisasse pegar uma rua engarrafada. Tal solução nunca antes tinha passado pela sua cabeça, mas o fato dela ter passado naquele momento acabou deixando o dia um pouco melhor.

    Moacir não precisou se esforçar muito para que o trabalho não estragasse seu dia. Bastaram fones de ouvido e algumas músicas do tempo de adolescente para que nada de ruim entrasse e nada de bom saísse. As queixas dos colegas passaram despercebidas, os gritos do chefe com os fornecedores no telefone foram ignorados. Na volta para casa o plano de usar o táxi funcionou novamente, assim como ir pela escada para não ouvir o elevador. Ao chegar em casa percebeu que o jornal não fora recolhido pela manhã, ao observar a data percebeu que aquele dia maravilhoso tinha sido uma segunda-feira. Diante disso acabou decidindo que não deixaria os dias seguintes serem estragados por nada. Principalmente por ele mesmo.

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