Não é um blog sobre cachorros e bikinis

Contos de Segunda #64

Erick caçava dragões. Depois de uma orientação profissional relativamente ineficiente, ele virou vendedor ambulante na fila do desemprego. O Caldo do Dragão ficou tão famoso que Erick tinha funcionários vendendo o ensopado em mais três pontos da cidade. Erick finalmente havia encontrado uma profissão menos mortal e os negócios estavam crescendo. Tudo parecia bem… Até um certo dia em que o passado bateu na porta do caçador.

Asas negras fizeram sombra sobre a cidade. Jatos de fogo lambiam os telhados das casas e uma cauda açoitava o alto das muralhas. Com uma frase a apresentação foi encerrada.

— Tragam-me Erick, o caçador — a poderosa voz do dragão podia ser ouvida em toda a cidade.

Ninguém precisou dizer a Erick o que ele precisava fazer. Mesmo longe da profissão, o escudo revestido de couro de dragão e a espada sempre estavam com ele. O elmo, a placa do peito e as manoplas da armadura estavam disfarçadas entre os ingredientes do caldo. O selo mágico dado pelo sindicato foi rompido. Mesmo um caçador aposentado tinha um juramento a cumprir. Seguindo o selo quebrado outros chegariam logo, mas ele precisava ganhar tempo. Precisava tirar o dragão da cidade.

Erick subiu na construção mais alta que encontrou. Não precisou nem se esforçar, o dragão chegou antes que ele pudesse pensar em uma forma de chamar atenção. Negro e cinza tingiam as escamas da fera. Um dos olhos fora arrancado. As inúmeras cicatrizes eram lembranças vivas das inúmeras batalhas travadas pela besta alada.

— Ah, caçador. Pensaste que teu novo disfarce te esconderia de mim?

— Jamais, nobre Cicatriz. Apenas acreditei que meus colegas seriam um pouco mais eficientes ao tratar contigo.

Um jato de fogo que teria largado a carne de Erick dos ossos foi segurado pelo escudo. Aproveitando a distração, Erick saiu do alcance do fogo pelo lado do olho cego do dragão e deu uma estocada entre os dedos da criatura. Saltou para o próximo telhado e depois para a rua na direção do portão principal.

— Foges de mim, caçador? — Debochou Cicatriz. — Das outras vezes te mostraste um combatente mais digno.

A serpente alada saiu no encalço de Erick por cima dos telhados. O escudo de Erick já estava nas costas para prevenir qualquer sopro de fogo que viesse por trás. O portão estava perto, logo ele atrairia o dragão para longe da cidade. O plano daria certo se o dragão não tivesse se colocado entre Erick e o portão.

— Não escaparás agora, caçador.

Espada de volta na bainha e escudo de volta no braço esquerdo. Erick não queria ferir o dragão, só precisava de uma abertura para passar. Correu para o lado cego da fera, forçando o maldito a se virar para enxergá-lo. Tudo para tirar a cauda da besta do portão. Correu com o escudo na frente. As chamas banharam a investida, mas o dragão não soprou chamas por muito tempo, ele precisava localizar o alvo que já estava quase passando por ele. Tentou acertar Erick com a garra das asas, mas com um salto e um rolamento o caçador se livrou do ataque. Quando Cicatriz se deu conta o caçador já tinha passado pelos portões. Em uma investida mal planejada ele se lançou contra o homem de armadura, mas não terminou o ataque. O corpo do dragão ficou preso no portão.

— Muito esperto, caçador. Mas muito te enganas se achas que estou derrotado.

— Infelizmente, Cicatriz, não há escapatória para ti hoje. Os caçadores logo chegarão para te dar o fim que mereces. Eu poderia te oferecer uma refeição enquanto esperas, mas meu caldeirão de ensopado ficou do lado de dentro dos muros.

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  1. Bernardete

    Queria mais,muito curto esse conto de segunda, que pena.

  2. Rodrigo Cerveira Cittadino

    Muito bom! Tá muito bem escrito. Vai ter continuação?
    Eu gosto do Erick, especialmente porque ele é um caçador de dragões atípico. Espero que ele não sucumba à pressão das histórias de fantasia de capa e espada, heim! 😛

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