Erick caçava dragões. Oficio bastante perigoso, tendo em vista que normalmente ele só dispunha de um escudo feito com couro de dragão, sua espada e uma catapulta. Apesar de não parecer, matar dragões era algo bastante sistemático e bem monótono em alguns casos. Mas não havia nada mais incômodo do que as exigências do sindicato: um dragão por semana, a carcaça devia ser entregue todas as segundas-feiras ao meio-dia em uma das sedes do sindicato espalhadas pelo reino. Era segunda-feira e Erick não caçara nenhum dragão.
Vontade de abandonar o emprego não era algo raro. O perigo do trabalho não estava compensando, o salário não era essas coisas todas e estava cada vez mais difícil caçar um dragão por semana e essa não era a primeira vez que Erick chegava ao primeiro dia útil da semana com as mãos vazias. Enquanto quebrava o jejum na estalagem ouviu dois viajantes conversando. Eles falavam de um dragão que aparecia toda segunda-feira no topo da colina e de como todos os caçadores de dragões que tentaram caçá-lo nunca mais foram vistos novamente por ninguém do sindicato. Caçar um dragão era sempre perigoso, caçar um que era impossível de ser caçado talvez garantisse uma aposentadoria precoce.
O caçador chegou ao topo da colina. O dragão estava lá. Grande e vermelho, dormindo aninhado sob a sombra de uma árvore tão velha quanto ele. Parecia uma presa fácil. Uma manobra padrão vinte e dois resolveria, contanto que ele se mantivesse no chão. Erick se aproximou silenciosamente, posicionou-se contra o vento para que a fera não sentisse o seu cheiro, a exatos vinte metros do alvo ele correu, sacou a espada e se preparou para saltar e desferir um golpe certeiro no olho esquerdo, mas uma voz o interrompeu.
– Tem certeza que quer fazer isso?
– Claro que sim, Dragão – as palavras saíam em tom de desdém.
– Hoje é só o começo da semana, Caçador. Não percebes que o dia já é ruim por si só? Não basta o tormento rotineiro de toda semana? Ainda queres me matar?
– Nada pessoal, Dragão, mas tua morte tornará meu começo de semana um pouco menos penoso.
– Teu ofício já é penoso o suficiente, estando eu vivo ou morto. Ainda terás de matar outro dragão nessa semana, do contrário te acharás na mesma desgraça daqui a sete dias.
– Detesto admitir, serpente desgraçada, mas a razão te cobre como a sombra desta árvore. O que sugeres que eu faça?
– Assenta-te recostado nesta árvore, dizem que o aroma de suas folhas esclarece os pensamentos e atrai pensamentos sensatos. Caso tenha desistido de me matar, obviamente.
– Desisti, Dragão. Creio que esta é uma boa hora para repensar a minha vida.
Erick se sentou recostado no tronco da velha árvore. Viu a luz do sol através das folhas e sentiu o aroma que preenchia o topo da colina. Em nenhuma outra segunda-feira Erick foi visto no sindicato dos caçadores de dragões.